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3   A CONSTITUIÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL SECUNDARISTA

3.2   CENTRO CULTURAL RUI BARBOSA (CCRB): “ENSAIOS” DE UM

entre eles um sentimento de pertença ao segmento estudantil, ou, em outras palavras, um sentimento de identidade estudantil.

3.2 CENTRO CULTURAL RUI BARBOSA (CCRB): “ENSAIOS” DE UM MOVIMENTO ESTUDANTIL

O Centro Cultural Rui Barbosa (CCRB) não era uma entidade que representava exclusivamente o segmento estudantil; todavia, em seu quadro de integrantes, além de professores, profissionais liberais e demais integrantes, havia um público significativo de estudantes da educação básica e superior. Desse modo, os “ensaios” a que nos referimos no subtítulo desta seção dizem respeito às atividades organizadas e coordenadas pela recém criada entidade, nas quais a participação dos estudantes foi significativa.

Seis anos após sua fundação, o CCRB recebeu uma homenagem do Jornal Folha

Diocesana que descreve, em parte, o cenário e as causas de seu surgimento, bem como sua

função e contribuições à juventude de Patos de Minas:

Corria o ano de 1954! A mocidade patense acamaradada ao comodismo e a inércia se assemelhava a um velho, quando já o passo vai se tornando hesitante e tardo, quando as esperanças se desfazem ao contato de um mero empecilho e os ideais se extinguem ao arrostar-se com um movimento, ainda que para benefício seu. A êste devido à sensibilidade, àquela a um baixo nível cultural, moral e espiritual.

Neste ínterim, parecia que um raio de luz iria se projetar no horizonte, a anunciar uma nova autora.

Efetivamente, uma plêiade de jovens, impregnada de nobres e sadios ideais, se propôs a fundar uma Entidade com o fim primordial de dar à juventude o de que necessitava, para o seu aprimoramento em todos os setores.

E eis que, aos 19 de julho daquele mesmo ano, viru-se vingados os seus desideratos, com a criação de um Centro Cultural, ao qual se deu o nome de Ruy Barbosa, em homenagem ao imortal baiano.

Desde então, vem o C.C.R.B. lutando contra o indiferentismo que envolve a classe estudiosa de Patos de Minas, esquivando-se e combatendo o mórbido torpor que acelera a marcha para a decreptude moral e, finalmente, propagando e cultivando as letras, incutindo nos jovens o gôsto pela leitura, havendo para isso, em sua sede, uma grande biblioteca, muito utilizada por seus associados. No entanto, sentiu-se com o elevar da classe a necessidade de fundar uma Entidade que viesse defender, mais amplamente, os seus direitos e interesses, que viesse lhe proporcionar maior união, que viesse, enfim, dar-lhe novo estímulo para as lutas do futuro.

E assim, no dia 26 de abril de 1958, foi criada a União dos Estudantes Patenses77, abrindo novas perspectivas para a classe estudantil. [sic] (O CENTRO..., Cultural 1960, p. 12)78.

No primeiro parágrafo do texto transcrito acima, é possível perceber a importância que foi atribuída ao CCRB como entidade redentora dos “fracos e inertes” jovens de Patos de Minas. Nessa perspectiva, sua origem serviu para aglutinar e fortalecer as forças juvenis da cidade, instruindo os jovens nos princípios da moral cristã.

O CCRB era uma entidade nacionalista e conservadora, pois primava pelo resgate e pela manutenção dos valores morais e éticos, dentro dos princípios religiosos do cristianismo. Para compreender melhor sua base doutrinária, basta observar os artigos 1º e 2º, do Capítulo I, do Estatuto da entidade.

Art. 1) Com a denominação de Centro Cultural Rui Barbosa e a cigla C.C.R.B., fica fundada nesta cidade de Patos de Minas, Estado de Minas Gerais, uma sociedade civil de duração ilimitada que objetiva os seguintes fins:

a) formação cultural, moral, cívica e física da juventude;

77 Note-se que esta data difere daquela existente na Ata de fundação da entidade, que registra o dia 28 de fevereiro de 1958, como a data de fundação da UEP.

78 O CENTRO Cultural Rui Barbosa e a União dos Estudantes Patenses. Folha Diocesana, 10 fev. 1960, nº 100. p. 12

b) propagar, pela palavra e escritos dos jovens, o culto das virtudes cristãs e da tradição nacional, a reforma dos costumes e a elevação do espírito popular no sentido de um sadio patriotismo.

Art. 2) Para atingir êsses objetivos, o C.C.R.B. promoverá: a) Conferências [...]

b) Cursos [...]

c) Comemorações solenes [...]

d) Formação e manutenção de uma biblioteca [...].[sic] (CENTRO..., 1957, p. 2)79

A redação do artigo 1º deixa claras as pretensões do CCRB, uma vez que advoga pela formação integral do ser humano, intelectual e física, passando pela moral e pelo civismo, valores bastante estimados na época. Os temas levantados no artigo 1º são retomados mais detalhadamente no artigo 3º, que aborda os princípios que consubstanciam a base doutrinária do CCRB. Podemos dizer, grosso modo, que as principais características dessa base doutrinária são a valorização dos ideais cristãos, da democracia, a conscientização para os direitos e deveres dos cidadãos, a restauração dos valores morais pautados na família e no trabalho, o fortalecimento do espírito nacionalista e a democratização do ensino, ou seja, na verdade, tais propósitos representavam a base da cultura ocidental cristã.

A postura nacionalista e conservadora evidente no Estatuto do CCRB é reflexo do contexto histórico em que a sociedade brasileira se encontrava na época. Vigorava então a Guerra Fria; o Brasil reforçava as fileiras do bloco capitalista e ainda sentia os efeitos de sua participação na Segunda Guerra Mundial. Assim, o espírito nacionalista continuava latente no país, principalmente entre os jovens estudantes, que, especialmente naquela época, pareciam tomados pela rebeldia, pelo ativismo político e pelos idealismos, como afirma Ventura (2008).

É necessário ressaltar que a Igreja Católica continuava sendo uma instituição bastante influente no Brasil nesse período, ditando normas e impondo valores, principalmente no interior do país. Em Patos de Minas, precisamente no dia 5 de abril de 1955, criou-se a nova Diocese, por bula de S. S. o Papa Pio XII. Os sentimentos decorrentes desse fato foram de entusiasmo e comoção, uma vez que os “destinos espirituais” das pessoas da região estariam, a partir daquele momento, “mais firmemente ancorados pelo poder secular da Igreja”, como acreditavam os fiéis católicos.

Não há como negar o conservadorismo flagrado no Estatuto do CCRB, tampouco a consonância com os propósitos defendidos pelo Pe. Almir Neves de Medeiros, especialmente no que diz respeito à conduta social predominante na sociedade patense de então. Tamanha sintonia e comunhão de ideais podem ser identificados na reportagem a seguir, em que há a seguinte referência ao sacerdote:

[...] Revmo. Pe. Almir Neves de Medeiros, incansável batalhador, que tem conseguido plasmar a mocidade dentro dos moldes cristãos e da Juventude Estudantil Católica. Alicerçada em princípios cristãos e embasada no Evangelho, tendo como dístico à sua frente a figura ímpar do Revmo. Pe. Almir, grande influência exerceu a JEC no meio estudantil, prestando meritórios serviços à classe. E o C.C.R.B., em reconhecimento ao trabalho dêsse digno sacerdote entre a mocidade, homenageou-lhe com o título de Presidente de Honra, demonstrando, assim, sua gratidão e simbolizando os frutos já sazonados, cujo campo fôra por êle semeado, através de seus conselhos e lições. [sic]. (O CENTRO..., 1960, p. 12)80 Em resumo, conforme excerto do Estatuto transcrito em nota divulgada na Folha

Diocesana, os objetivos do CCRB consistiam em: “incrementar a cultura entre a mocidade,

trabalhar para a formação dos jovens, desenvolvendo-lhes suas qualidades e dotes literários, pugnar e trabalhar para a criação de novos centros culturais” (CENTRO..., 1957, p. 2)81. No

entanto, para o cumprimento de tais metas, era necessária a observância e o respeito aos princípios norteadores da moral e da ética, na perspectiva dos valores defendidos pela Igreja Católica.