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A MÍDIA AMPLIADA AGREGANDO O GLOBAL E O LOCAL

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CAPÍTULO III – CHURCH IN CONNECTION A CONVERGÊNCIA ENTRE A MÍDIA E A

3.3. A MÍDIA AMPLIADA AGREGANDO O GLOBAL E O LOCAL

As programações semanais da Church oferecem material para ser reproduzido e espalhado ao eletrônico “vento semeador” de novos fiéis e buscadores de novidades no campo religioso. A ampliação midiática é instrumento de agregação e de identificação, e não apenas de informação. Todos se reúnem em torno dos inputs eletrônicos dos novos aparelhos, sempre mais novos, que encantam e trazem renovado frisson.

As mensagens escritas também chegam sem cessar, mais de uma vez ao dia, trazendo aforismos como os que seguem abaixo e que foram coletados do WhatsApp da Church entre os meses de novembro e dezembro de 2016:

- Tudo posso naquele que me fortalece. (08/11/2016) Filipenses 4:13 - Oração com fé não significa que tudo o que pedimos acontecerá. Significa que confiamos que Deus nos escutará e ajudará da melhor forma. (24/11/2016). John Piper

- Se você permanecer em silêncio porque suas palavras podem ser interpretadas de forma errada, você nunca falará. (24/11/2016) John Piper - Permita que a fé tenha espaço para crescer. (16/12/2016) Thomas Brooks

- Boa noite! Orgulhar-se no que os olhos veem não é fé, mas confiar no que a Palavra revela. (16/12/2016) Lutero

- A fé não é a crença de que Deus fará o que você quer. A fé é a crença de que Deus fará o que é certo. (20/12/2016) Max Lucado

Nos estudos de Bosi (2009), sobre cultura de massa e cultura popular, ela aponta na cultura de massa63 uma formulação de “padrões-modelos” do espírito

humano para ordenar sonhos e atitudes. Nesse caso, “a fórmula substitui a forma” (filmes de15’ até 30’ de duração; happy end; cenas de alegria e amor; teor e ideologia subjacente à mensagem), então as histórias, fotos, filmes, ângulos, caminhos e etc. são montados sob a visão de uma “fórmula” midiática que homogeneíza sentimentos, visões e atitudes. Tudo precisa ser contado sob um “padrão”, com um tipo de linguagem que será facilmente decodificada. A fórmula aforística, como vista nas mensagens acima, é preciosa para uma sociedade do “tudo resumido” e substituível rapidamente.

O objetivo é a venda – sob suas diversas formas – e para isso as produções devem se compor "do maior número de “iscas” (sincretismo), mas com uma linguagem acessível ao maior número de consumidores (homogeneização)" (BOSI, 2009, p. 66). O "consumidor ideal" é capitaneado por idade, sexo, classe, cosmopolitismo etc.

As ideias da autora se orientam por questões teóricas maiores, como as ideias do “fetichismo da mercadoria”64 de Marx, que ela inclusive cita. O uso e a ampliação

63 Numa tentativa de resumo, assim se expressa Bosi (2009), em relação à indústria cultural: “[...] a indústria cultural, como toda indústria, é um sistema que não se articula a partir do consumidor (no caso, a partir das relações concretas entre os homens na sociedade), mas em função de um público-

massa, abstrato, porque homogêneo, nivelado a priori pelas instituições que produzem e difundem as

mensagens” (BOSI, 2009, p. 72). A realidade cultural pode se dar numa estruturação "de cima para baixo", imposta dos "produtores para os consumidores" e também pode se estruturar a partir das relações internas da própria sociedade, dá-se o nome neste segundo caso de cultura popular, uma "cultura criada pelo povo, que articula uma concepção do mundo e da vida em contraposição aos esquemas sociais" (idem p.78). Bosi (2009) acrescenta que após a Revolução Industrial do século XVIII começam os debates sobre a "cultura de massa" e a "cultura de elite", daí a lembrança do escritor Goethe que “profetizou”: "O teatro - diz o grande escritor - como o mundo, em geral, está praguejado de amorosas modas, e a moda consiste em adorar algo com grande abandono tão-somente para bani- lo depois para todo o sempre" (BOSI, 2009, p. 86). Começa então uma era "abertamente organizada por empresários da indústria do lazer; fortemente estruturada em função de um certo público-massa; e necessariamente distinta das experiências da "alta cultura"" (BOSI, 2009, p. 89-90).

64 Para a autora, os meios de comunicação e sua evolução se dão num contexto de desenvolvimento do sistema social e econômico capitalista, com marcas mercantis, mentalidade atomizadora,

midiática na Church in Connection podem ser vistos sob esse prisma. O global (modelo copiado da igreja nos EUA Church By the Glades) se impõe e encontra abertura no meio dos jovens fiéis da Church. Contudo, podemos ampliar essa questão, afinal, a Church in Connection também contextualiza esse modelo e atende a outras demandas. Como citado anteriormente, existe uma demanda por parte dos fiéis que é a do acolhimento sem distinção dos jovens que chegam à igreja.

Como já observara Thompson (2014), existe uma outra vertente de análise que não a vertente do “imperialismo cultural”, ou da “formação de uma cultura consumista”. A vertente que se apresenta é a de um mundo global, muito mais complexo do que uma teoria que propõe a visão do domínio permanente de uma nação, ou de “uma dominação cultural transnacional e corporativa”. Há que se considerar as culturas locais, mesmo que em choque com valores trazidos de fora, com as novas mídias eletrônicas e aprender com a história, como diz Thompson (2014, p. 223): “[...] a recepção e a apropriação dos produtos da mídia são processos sociais complexos em que indivíduos – interagindo com outros e também com os personagens retratados nos programas – dão sentido às mensagens de uma forma ativa, as adotam com atitudes diversas e as usam diferentemente no curso de suas vidas.

É o caráter hermenêutico que se enfatiza aqui e que se faz presente na apropriação de leituras de livros, de programas de televisão e rádio, e outros. A tese de Thompson (2014), que é a alternativa para a “tese do imperialismo cultural”, se assenta na construção histórica dos caminhos que deram origem à globalização,

individualização, excessiva divisão social do trabalho, aburguesamento e burocratização. Para ela, os vários fatores que envolvem a comunicação (emissor, destinatário, mensagem, canal, código, contexto) trabalham interligados e formam um sistema - sistema da indústria cultural. Depois da colonização política e geográfica, a colonização "da alma humana" - dominando a inteligência, a vontade, o sentimento e a imaginação humana - é a cultura de massa (idem pp. 56-62). Bosi (2009) aponta para a validade da narrativa de Marx sobre o fetichismo da mercadoria e faz as seguintes citações: "Uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas"; "aí os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas que mantêm relações entre si e com os seres humanos", isso é o fetichismo (idem p. 75). A indústria cultural tem como objetivo único a dependência e a servidão dos homens, como se a alienação fosse o fim da angústia (idem p.74).

dando “mais atenção às múltiplas e mutáveis maneiras em que o poder simbólico se sobrepôs ao poder econômico, político e coercitivo no processo de globalização”. Mensagens são apropriadas de formas diferentes e criam um “eixo de difusão globalizada”, fazendo da apropriação um processo “intrinsecamente contextual e hermenêutico” (THOMPSON, 2014, p. 225).

A apropriação dos materiais simbólicos se dá num processo em que os receptores se distanciam dos seus contextos de vida diária e “podem conceber, ainda que parcialmente, maneiras de viver e condições de vida totalmente diferentes da que eles experimentam dia a dia” (THOMPSON, 2014, p. 227).

A religião, praticada na Church, propõe vivências baseadas em teologia cristã que propugna, em tese, aspectos da vida que não se coadunam com uma “coisificação humana” ou com a pura e simples competição entre os homens. Existe, como visto nas mensagens reproduzidas anteriormente, um tanto considerável de material de autoajuda misturado a conteúdos teológicos e cristão de ajuda ao próximo e de formação de comunidade. O que ocorre é que o formato das mensagens está completamente em harmonia com: a atualidade social e econômica de rapidez, fluidez, mudanças e sucateamento constante de ambiências e discursos. Não existe debate teológico ou de posições teológicas a tomar longos períodos de debate ou ensino. O que impera é o fluir pelas canções, apresentações, imagens e animações. Não que isso não traga conteúdo teológico e religioso, mas o meio de comunicação é o elemento agregador, o amálgama da construção comunitária.

A ampliação midiática do conteúdo religioso da Church potencializa a capacidade de atingir e manter coesos os fiéis, ao mesmo tempo, atraindo novos fiéis para a rede religiosa - ampliada - composta pelo capital midiático dos membros da igreja que estão conectados com diversos setores da sociedade, em função do trabalho, dos estudos, dos laços familiares e etc. em que eles estão inseridos ou conectados. A cultura global e midiática se adequa às notícias e culturas locais.

Um exemplo disso ocorreu na divulgação do acidente com o time de futebol da chapecoense. Na manhã do dia 29 de novembro de 2016, o acidente com o avião que levava os atletas do time de futebol brasileiro da cidade de Chapecó, para a cidade de Medelín na Colômbia, caiu matando 71 pessoas. A igreja Church In Connection

postou nas redes uma mensagem de luto com o símbolo do time. Essa solidariedade, logo expressada por todos os meios de comunicação do mundo, fez parte das notícias, orações e atenções da igreja. O que está na mídia mundial, regional ou local e gera audiência, ou replicações pela rede social, será capturado pela Church num movimento contínuo, e servirá de material de manifestação da igreja.

Figura 25 – Posts da Church in Connection na manhã do acidente com o avião do time da chapecoense de futebol

Fonte: Instagram: churchinconnection, prthiagoviniciuscunha e kesiadayanec 65

Ao atualizar o Instagram, na manhã do dia 29 de novembro de 2016, para colher dados para a pesquisa, me deparei com o post acima e fui alertado para o acidente e instado a participar de alguma forma numa “corrente de solidariedade” pelos sobreviventes e pelas famílias dos mortos. A mensagem acima, como muitas outras, é, no primeiro momento, autoexplicativa. O trabalho de arte nas propagandas obedece aos critérios de beleza e de comunicação.

Há que se valorizar, observando a mídia ampliada da Church, a forma atualizada, comunicativa e esteticamente organizada dos materiais produzidos. Não somente bonita, mas, também, despertando experiências de beleza, de “tirar o fôlego”, de entusiasmar, de animar – dar alma – às experiências religiosas. O estudo dos cultos de domingo à noite, principal atividade da igreja e seu “cartão de visita”, aponta para a importância da estetização da experiência religiosa com destaque ao mercado,

65 Imagens retiradas do Instagram: churchinconnection, prthiagoviniciuscunha e kesiadayanec. Acesso em: 23 dez. 2016.

enquanto espaço global de apresentações de produtos tanto materiais quanto simbólicos. Veremos um pouco disso a seguir.

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