Church in Connection mais do que um nome em inglês

Desde o surgimento da Church in Connection, do seu desligamento da IPRB e afirmação como ministério religioso independente, se percebem padrões de apresentação e ação muito bem estruturados e que não surgiram de forma totalmente original. Como apontado anteriormente, e afirmado pelo pastor Thiago Vinicius Cunha, a igreja norte- americana Church By the Glades (CBG) serviu e serve de modelo e de inspiração constante. A vontade de alcançar o público jovem também foi uma tônica inicial dos trabalhos desse pastor.

O corpo de jovens especialistas que atua na Church by the Glades (CBG) se amplia para funções espetaculares (vide o desempenho do pastor da igreja David Hughes19_{, mas também dos bailarinos e bailarinas, cantores, músicos, sonoplastas}

etc). Existe na CBG um funcionamento com performance avançada. Nas apresentações e cultos, acompanhados pelas mídias eletrônicas20_{, vemos uma forte}

presença de palco com representações, apresentações e comunicação direcionada de forma planejada e com performance apurada do pastor David Hughes.

Não é só do nome Church (“igreja” em inglês) que as duas igrejas compartilham, mas de uma visão de culto religioso em sintonia com a população jovem dos dois países. Iremos confirmar essa tendência de comunicação com a juventude no terceiro capítulo desse trabalho quando nos aprofundaremos nos detalhes de convergência entre sistema multimídia e religião.

19 _{O Pastor David Hughes é o Pastor principal da igreja Glades, que tinha no seu início menos de 500} membros e hoje (2016) tem mais de 9000 membros. Ele é apresentado como inovador, criativo e apaixonado em apontar Cristo para as pessoas. Formado pela Universidade de Baylor e pelo Seminário Teológico do Sudoeste nos EUA. O Pastor David é também apresentado como “um produto caseiro do Sul da Flórida, sensível à diversidade e oportunidades únicas na área”. Disponível em: <http://www.cbglades.com/>. Acesso em: 20 maio.2016.

20 _{Alguns programas e performances estão disponíveis no site <http://www.cbglades.com/> e também} pelos aplicativos: Instagram (acessados por cbgladessample, #churchbytheglades, cbglades, pastordhugles) no facebook <https://www.facebook.com/pg/cbglades/photos/?ref=page_internal> e no canal do You Tube<https://www.youtube.com/user/cbglades>.

A Church By the Glades se afirma no cenário religioso norte-americano (contando com mais de 9.000 membros) se beneficiando do sistema multimídia. Mais ainda, compondo um quadro da sociedade atual que se estrutura de forma Global, Informatizada e em Rede (trataremos dessa questão mais adiante usando o teórico Manuel Castells, que discorre sobre a mídia na sociedade informatizada e em Rede).

Figura 5 – Imagens do Pastor David Hughes, membros da igreja e momento de culto na Church

By the Glades

Fonte: Instagram, cbglades e pastordhugles21

Na primeira foto acima, vemos o pastor David Hughes, sua esposa e membros da igreja, numa série apresentada no culto temático “Spooktacular”. Os personagens que o pastor e seus líderes representam são tirados das histórias retratadas pelo cinema norte-americano e os super-heróis das histórias em quadrinhos que fazem sucesso na arte cinematográfica. As outras duas imagens são dos momentos de culto à noite no domingo. O padrão de manter as luzes apagadas durante o culto e os canhões de iluminação coloridas no louvor foram copiados pela Church in Connection. Apesar de não estar no mesmo padrão de sofisticação de espetáculo, a Church in

21 _{Fotos retiradas dos sites em 21 de dezembro de 2016, cujos endereços eletrônicos estão na nota de} rodapé 20.

Connection copia o esquema temático de culto e a caracterização do pastor com a

temática escolhida, como faz a Church By the Glades (CBG).

A reprodução pelas mídias eletrônicas também obedece ao mesmo padrão de imagens, de ação e de enquadramento da plateia. Tudo é um show porque esse show é uma linguagem, e linguagem eficiente para estabelecer contato com os jovens. Muito bem preparada e com alta tecnologia, as propagandas das duas marcas CBG e CC também seguem o mesmo padrão. Nas imagens é possível perceber a semelhança do templo da Church, no escuro em momento de culto, e com canhões de luzes que iluminam a programação, tornando-a animada.

Figura 6 – Imagens da Church in Connection em dia de culto

Fonte: Instagram, churchinconnection22

As semelhanças das igrejas não são mera coincidência. Além das imagens, as mensagens que as acompanham sempre são muito diretas, como por exemplo, a da apresentação no site23_{, que diz ser a Church by the Glades “uma igreja que não quer}

se apresentar com comentário abreviado e ‘enlatado’ sobre várias doutrinas”, em vez

22 _{Endereços eletrônicos do Instagram e do site da churchinconnection já foram identificados neste} trabalho. Acesso em: 21 dez. 2016.

23 _{Todos os dados aqui apresentados estão disponíveis em <http://www.cbglades.com/>. Acesso em:} 22 dez. 2016

disso, ela diz “se valorizar por ser original criativa e honesta”. A apresentação religiosa, textual, é feita por pequenos textos, precedidos das seguintes frases do pastor e fundador da igreja David Hughes:

- “Meu Deus tem um hábito santo de escolher os perdedores”. - “Sua atitude sobre o seu problema é o seu problema”.

- “Somos uma casa simples, somos sobre Jesus e sua palavra”. - “Não deixe a dor de ontem dotar o futuro amanhã”.

- “Quando você diz SIM a Jesus, meu grande Rei o liberta”.

As explicações que se seguem são também bem sucintas. A narrativa central é a de que Jesus Cristo é o coração de tudo o que a igreja faz e de que “Jesus é uma presença extraordinária e excitante para se andar sempre em qualquer lugar do planeta”. Para explicar a Church By the Glades são abertas janelas no site com inscrições demonstrativas da igreja e do mundo, tais como:

- ÓRFÃOS CULTURAIS: Desiludido, desprotegido, cético e entediada, esta geração está espiritualmente com fome, mas muitas vezes intocada e impassível com o que experimenta em seu limitado encontro com a igreja. O mundo está cheio de pessoas quebradas. Órfãos cultivados. Céticos do "absoluto" ainda anseiam por um padrão. Os corações quebrados trilham contra a verdade, enquanto a buscam desesperadamente. Eles constantemente se esforçam para algo mais, esperando que apenas "mais uma coisa" será suficiente para seu desejo - não sabendo que sua fome é para Cristo ... O único que pode satisfazer.

- UMA NAÇÃO DE FÉ: Diversidade é uma palavra comumente usada para descrever as pessoas que frequentam nossos cultos. E nós adoramos! Somos um povo, mas profundamente diferentes. Uma família, mas culturalmente diversa. Todos com origens, encargos e bagagens únicos, mas com sonhos e desejos similares.

- AS PESSOAS SÃO IMPORTANTES: Todas as pessoas são feitas por

Deus, o que significa que todas as pessoas são valorizadas por Deus. Estamos cheios de potencial ilimitado, mas tragicamente falho. O Calvário (onde Jesus Cristo morreu na cruz) prova que as pessoas são importantes para Deus - elas também são importantes para nós24_.

Na campanha publicitária da Church in Connection, nos anos de 2014/15, figurou uma expressão que foi síntese desse terceiro aspecto da propaganda de apresentação da Church By the Glades – sobre serem importantes todas as pessoas com suas imperfeições – a expressão dizia que a Church in Connection “era um lugar perfeito para pessoas imperfeitas”. Uma última observação, ainda sobre a Church by

the Glades, fica por conta da liderança carismática do pastor David Hughes e da

ambiência carregada de emoções com as montagens cênicas e performances do corpo religioso. No site Yelp – redes sociais -, que é um guia urbano de serviços compartilhados por usuários sobre dicas de programas e lugares para serem frequentados nos EUA, são várias as informações dadas sobre a CBG, dentre elas uma que diz ser o culto da igreja um lugar de “amor absoluto e de desfrutar de pregações com a “melhor equipe de produção ao redor” e “ótima para todas as idades”25_.

Essa tônica na produção cinematográfica e na realização de shows, que deve variar com base nos temas adotados, aproxima o modus operandi das duas denominações, a dos EUA e a do Brasil. Com orçamento bem menor que sua inspiradora nos EUA, a Church in Connection tem, além do anglicismo (que será estudado mais à frente) um dirigente carismático e uma equipe engajada para tirar o melhor proveito das mídias e das técnicas para fixação da marca Church. A marca, em inglês, chama a atenção pelo efeito monossilábico e fácil de pronunciar, além de se associar a algo novo no mercado religioso de Anápolis, onde as variações dos nomes das igrejas giram sempre, ou, na maioria das vezes, em torno do nome “Assembleia de Deus”, ou alguma outra denominação do campo social tradicional das religiões, fazendo as pessoas associarem o nome a algo conhecido.