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CHURCH IN CONNECTION E SISTEMA MULTIMÍDIA

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CAPÍTULO II – CHURCH IN CONNECTION: A NOVIDADE DE UMA RELIGIÃO DE

2.8. CHURCH IN CONNECTION E SISTEMA MULTIMÍDIA

A Church se firmou no aspecto religioso conceitual e teológico através de muitas imagens – como a da missão da igreja - e sem grande esforço intelectual ou formas rebuscadas de conceitos, teorias e teologias. O canal de comunicação é feito por meio de citações bíblicas e aforismos do Novo e do Velho Testamento bíblico, e também de citações de pessoas consideradas autoridades cristãs. Tais passagens, aforismos e reflexões chegam durante toda a semana pelo smartphone via WhatsApp,

Facebook, Instagram e App da igreja, em frases escritas ou em gravações de viva-

voz enviadas pelo pastor Thiago e sua equipe:

- Pensem nisso, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz comete pecado. Tiago 4:17 (Frase recebida pelo smartphone via WhatsApp). - Nossas orações são fracas e pobres, entretanto o que importa não é que nossas orações sejam fortes, mas que Deus as ouça, Karl Barth (frase do dia 21 de outubro de 2016, no App).

- Boa noite. As pessoas podem recusar o nosso amor ou rejeitar nossas palavras, mas não tem defesas contra as nossas orações. Rick Warren (frase do dia 22 de outubro de 2016, no App).

- Antes de me invocarem, eu já lhes terei respondido; enquanto estiverem falando, eu já os terei atendido. Isaías: 65:24 (frase do dia 04 de novembro de 2016).

- Tudo posso naquele que me fortalece. Filipenses 4:13 (frase do dia 07 de novembro de 2016, no App).

- O choro pode durar uma noite mas a alegria vem pela manhã. Salmos 30:6 (frase proferida pelo pastor com meditação de 2 minutos pelo WhatsApp) As mensagens seguem um padrão temático determinado pelos cultos do domingo e são mudadas logo que o tema e a estética da Church são transformados para acolher novos temas e novas performances.

A marca da Church acompanha essas “gotas de sabedoria bíblica” ou cristã, que são facilmente apreendidas e tem aplicação prática na vida, ou servem para consolar quem está passando por problemas ou precisando de ânimo para continuar nos trabalhos da vida. Essas gotas de sabedoria se fortalecem com um tipo de “grife autoral”, pois são citações com indicação dos autores/pensadores. Dos autores que assinam esses pensamentos podemos citar: Lutero, Calvino, Larry Crabb, Max Lucado, John Maxwell, Abraham Kuyper, John Stott, John Piper, John Bunyan, Soren Kierkegaard, C. S. Lewis, Agostinho de Hipona, A. W. Tozer, Eugene Peterson, Archibal Alexander, M. L. King Jr., Blaise Pascal, Leonard Ravenhill e muitos outros. Os assuntos trazidos para a meditação, através das frases desses autores e de outros, são de toda ordem, ou seja, assuntos sobre: oração, jejum, reconciliação, amor incondicional de Deus, santidade na vida, fé, importância de controlar a língua, importância de dar o dízimo na igreja etc. A grife autoral aumenta a importância intelectual das frases. Todos são autores cristãos, reconhecidos historicamente e/ou escritores famosos do mundo cristão.

Esse trabalho diário estabelecido pela Church se repete, às vezes, por mais de uma vez ao dia, e proporciona uma avalanche de pensamentos estruturados sobre a fé cristã, a Bíblia (Novo e Velho Testamento), Jesus Cristo, salvação, perdição, redenção, perdão e outros temas caros ao mundo religioso cristão. Com o sinal do celular avisando que mais uma mensagem chegou, o fiel da Church terá, a qualquer hora do dia ou da noite, uma “gota de sabedoria”. Bem ao padrão moderno de

mensagens curtas, a igreja se adaptou ao padrão atual de informação e “comunicação sem pausa”.

Maximizado o sistema midiático, a Church segue levantando adeptos e preparando-os com ensinamentos virtuais, curtos, condensados e com referência bíblica ou de cristãos proeminentes. É uma catequese de “escola dominical” fora dos domingos, em todos os dias e horários, de forma não presencial, virtual e em rede.

Para entendermos a importância do sistema multimídia49 implantado pela Church e seu impacto no crescimento da igreja entre a parcela jovem da sociedade

Anapolina, é importante levar em conta e analisar a nova cultura da virtualidade que se instalou em nossas sociedades desde o final da década de 1990.

Segundo Castells (2007), esse “sistema multimídia” é novo, data da segunda metade da década de 1990 e se caracteriza pela integração de diferentes veículos de comunicação e “seu potencial interativo”.

Multimídia, como o novo sistema logo foi chamado estende o âmbito da comunicação eletrônica para todo o domínio de vida: de casa a trabalho, de escolas a hospitais, de entretenimento a viagens. Em meados dos anos 90, governos e empresas do mundo inteiro empenhavam-se em uma corrida frenética para a instalação do novo sistema considerado uma ferramenta de poder, fonte potencial de altos lucros e símbolo de hipermodernidade (CASTELLS, 2007, p. 450).

Castells (2007) chama a atenção para o fato de que a rede montada para a operação do sistema multimídia foi amplamente feita por empresas privadas e não por governos, e mobilizou recursos que no lançamento da chamada Infovia50 chegaram à

49 Castells (2007) salientou que redes eletrônicas virtuais que surgiram de forma instrumental e especializada acabaram por oferecer apoio pessoal, tanto material quanto afetivo. Isso quer dizer que o sistema multimídia pode se ligar a “comunidades físicas” e atender pessoas e grupos da sociedade que vivem suas especificidades. E mais, grupos on-line se ligam a grupos off-line numa interação que pode sim ser solidária. No caso da Church pudemos perceber tal fato quando no App Church, na página do Facebook e do WhatsApp membros da igreja foram convocados a se ajuntarem para arrecadar água mineral para doação às vítimas do rompimento da barragem de Fundão em Mariana, MG em novembro de 2015. Toda a operação de arrecadação e entrega in loco foi realizada pela Church com o acompanhamento dos membros através das mensagens postadas no Facebook e WhatsApp.

50 De acordo com Castells, as infovias são estradas de Informação e de Comunicação que envolvem um emaranhado de companhias telefônicas, operadoras de TV a cabo, operadoras de transmissão de TV por satélite, estúdios de cinema, estúdios de gravação de discos, editoras, jornais, empresas de computadores e provedores de serviços de Internet.

ordem de US$ 400 bilhões. Esse montante se equiparou àquilo que o complexo industrial voltado para o automóvel representou na primeira metade do século XX, somados os investimentos em petróleo, borracha e estradas (CASTELLS, 2007, v. 1, p. 451).

A nova estrutura social emergente, segundo Castells (1999), é capitalista, informacional e global. A comunicação visual se tornou a “ala de frente” da instituição, aquela que leva o nome da marca e busca agregar valores, mobilizar as massas, identificar desejos etc. Não é por acaso que Martins (2016) salienta que algumas empresas conseguem fazer que uma marca valha mais do que aquilo que suas fábricas têm capacidade de produzir.

A Church está construindo sua marca, impulsionada pela linguagem virtual e imagética sempre que lança um novo programa, uma nova atividade, uma nova ação social, uma nova mobilização dos jovens, um novo show. Na apresentação dos departamentos da igreja, ilustrado na figura n. 6, e que apresentam de forma “retrô” os departamentos da igreja, com fotos das décadas de 1950 e 1960, somos remetidos a uma série de cenas sociais bem-definidas e equilibradas, com a família nuclear toda sorridente e feliz dentro do carro, e os garotos brincando com um cachorro e demonstrando amizade e equilíbrio familiar; um casal com olhar apaixonado manifestando atenção e encanto um pelo outro; um homem sentado, possivelmente na sala de sua casa, degustando uma refeição, dando ar de “dever cumprido e satisfação consigo”; outra foto de uma família nuclear desfrutando de uma atividade agradável e divertida no que parece ser o quintal da casa; um jovem cumprindo feliz sua missão ou papel de escolar, correndo e sorridente. Todas as cenas ambientadas na cultura norte-americana das décadas de 1950-60, dando um ar de segurança social, harmonia familiar e de grupo. Nessa comunicação, a Church se mostra “diferente”.

Ao adotar imagens de outra época, a igreja transmite a ideia de que “não é igual às demais igrejas”, que está aberta às novidades, ainda que isso represente se vestir e se portar como pessoas da década de 1950-60. Como aponta Atkin (2007) ao estudar o culto às marcas, a demonstração de pessoas diferentes em convívio harmonioso aprova os que não se sentem à vontade num mundo de iguais. É um

reforço da individualidade, ainda que isso pareça paradoxal: pertencer a um grupo e, ao mesmo tempo, afirmar e ter reforçado a individualidade.

Na verdade o paradoxo é algo que quase todo mundo já experimentou em algum momento. Uma comunidade de pessoas afins implicitamente – e por vezes explicitamente – reforça a individualidade. Trata-se de um ingrediente vital do sentimento de pertencimento pelo qual a maioria anseia quando afirma buscar um lugar onde “se sinta em casa”. O grupo pode proporcionar um ambiente onde não se façam críticas e até se façam elogios, em que o indivíduo possa sentir-se confiante o bastante para se encontrar e se expressar. Existe um “espaço seguro”, como me revelou o seguidor de um culto [seita], onde se removem as inibições que normalmente nos tolhem quando estamos entre estranhos e rompem-se impunemente as barreiras que nos impedem de ser. Você pode mudar de emprego, de bairro, de clube social [de igreja] e até de amigos para encontrar um lugar onde seja mais possível

ser você mesmo, junto de pessoas que considera mais parecidas com você

(ATKIN, 2007, p. 25).

Essa observação coloca em destaque a ação da marca Church e atesta a quebra da crença comum de que as pessoas adotam um culto para se adequarem “à sociedade”. Como salienta Atkin (2007), no seu estudo sobre semelhanças entre estratégias de empresas e de religiões, as pessoas fazem suas escolhas para “se tornarem mais individuais”.

A atração de jovens para o grupo religioso Church in Connection recebe um reforço de diversos instrumentos da mídia. Mara Einstein (2012) destaca o uso que a religião faz das mídias e enfatiza que: “a ‘construção de si mesmo religiosa’ tem sido tradicionalmente uma forma de comunicação e atualmente está cada vez mais perpassada pela tecnologia da mídia” (EINSTEIN, 2012, p. 19). Na Church é frequente o uso de clipes de filmes durante o período de cânticos nos cultos e na publicidade feita por toda a rede da Internet.

A comunicação visual trabalhada com elementos da mídia é um ponto-forte da igreja e reforça em muito a comunicação das mensagens realizadas pelo pastor Thiago. Como no caso do culto de domingo, 05 de maio de 2016, registrado pela pesquisa (Cf. Anexo 5 C6), em que cenas do filme “A paixão de Cristo” do ator e cineasta Mel Gibson são projetadas na grande tela que ocupa toda a frente do palco, mostrando o sofrimento de Cristo durante sua Paixão. Enquanto as cenas são projetadas, o pastor completa sua fala dizendo: “O chamado de Jesus tem cruz. Sua vida terá problemas, mas Deus te ama. O próprio Jesus sofreu por você”.

A experiência de ouvir uma prédica sobre o texto bíblico de Marcos 15: 16-20, que relata o momento em que Jesus é entregue aos soldados e a narrativa sobre o escárnio e sofrimento físico de Jesus, é duplicada potencialmente com as cenas do filme Hollywoodiano “A paixão de Cristo”. Conquanto, o texto bíblico seja muito convincente e detalhista, criando a cena de violência e dor de Jesus Cristo, ao usar das imagens do filme, o processo de comoção e envolvimento dos fiéis com a realidade descrita ganha uma força excepcional. Nas observações para a pesquisa feitas nesse dia, foi possível anotar e sentir a força dessas imagens do filme que esteve em cartaz no ano de 2005.

Figura 17 – Cenas projetadas durante a pregação

Fonte: Adoro Cinema51

Outra maneira pela qual a imagem da Church está sendo construída é através do bom uso da Internet na interligação de diversos instrumentos: WhatsApp,

Facebook, Instagram e App para celular. Com a maior possibilidade do uso de smartphones pela parcela jovem, majoritária frequentadora dos cultos e do rol de

membros da Church, as comunidades física e virtual se aproximam. Membros da igreja ganham espaço para a autoexpressão e também para a comunicação. Caso específico de um jovem casal de missionários que, da Bolívia, participa do culto do dia 08 de março de 2015, registrado pela transcrição C2, em que projetadas suas imagens no telão da igreja eles saúdam os membros da Church e dizem estar trabalhando para

51 Imagens disponíveis em:

<https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=a+paixao+de+cristo+mel+gibson&*>. Acesso em: 01 mar. 2017.

“conectar a Church ao mundo”. Na mesma data, os membros da igreja foram convocados a fazer uma self (autorretrato) e enviar para “um amigo” que “não está presente”, dizendo o quanto está bom o culto na Church.

É frequente os membros da igreja postarem suas fotos no Facebook da Church

in Connection, mostrando suas “performances” na hora do louvor, no momento de

pregação ou de qualquer atividade na igreja (batismo, casamento, palestras, reuniões de jovens etc.). Essas fotos são mostradas geralmente com frases que expressam o sentimento do membro que colocou a foto. É comum encontrarmos frases, tais como: “Um dos dias mais felizes da minha vida”; “uma bênção”; “Louvarei ao Senhor”; “juntos somos mais fortes” etc.

A importância da comunicação visual e do uso do sistema multimídia como instrumento de ação religiosa privilegiada estão no estímulo que a igreja dá para que os membros façam download do App para o celular. Uma técnica de marketing antiga que é de sortear produtos, no caso da Church, em 2016, foi sorteado um Iphone 6 para quem fizesse o download do aplicativo (App) da igreja. A propaganda instando as pessoas a participarem do sorteio de um Iphone 6, ao se conectarem à Church, foi amplamente divulgada, além da própria rede, através de panfletos (como ilustra a foto abaixo) entregues na igreja durante as programações.

Figura 18 – Propaganda de uma rifa a ser realizada na igreja em 2016

Fonte: Panfleto52

O uso de mídia eletrônica não dispensa a propaganda realizada por folders e outros formatos de folhetos entregues ao público ao final das programações. O caso do folheto acima é um caso do uso material de propaganda.

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