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A memória na televisão: iniciativas

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O arquivo de televisão já foi identificado por emissoras como um elemento de valor e tem sido utilizado como produto reexibido a partir de diferentes iniciativas há algum tempo em diferentes fontes. Abaixo, estão listadas algumas dessas iniciativas, com destaque para o Canal Viva, objeto deste trabalho.

3.1 Panorama no Brasil e no mundo

Em 1980, a TV Globo criou uma faixa especial vespertina para reprises das suas telenovelas, o “Vale a Pena Ver de Novo”. A reexibição de telenovelas no horário sobrevive há décadas, de modo geral, com resultado positivo, como diz a reportagem “Tardes na TV somam 55 horas de reprises”, em que Keila Jimenez (2011a, p. E7) diz que a faixa vespertina da TV Globo (12h-18h), em setembro de 2011, alcançou 15,2 pontos de média nacional

(medição do IBOPE), mais do que o dobro das concorrentes Record (6,8 pontos) e SBT (6,1 pontos).

O critério de escolha das telenovelas a serem reexibidas é variado, visto que se incluíram tanto novelas apresentadas há mais de 20 anos como algumas com menos de cinco de sua exibição original.

A partir de maio de 2012, o programa “Vídeo Show” passou a apresentar o quadro “Novelão da Semana”, em que uma telenovela do arquivo da emissora era exibida em um compacto dividido em cinco ou dez miniepisódios de cinco minutos, guiados por uma narração explicativa. O quadro ficou no ar até julho de 2013.

Aliás, o “Vídeo Show” desde 1983 tem a proposta de divulgar programas da própria emissora e resgatar a memória da televisão. A ideia do programa surgiu de outro apresentado em 1967, o “VT Show”, que era exibido na TV Globo de São Paulo e apresentava as melhores cenas da programação da semana.

Em 2005, o canal fechado Multishow da Globosat, que é das Organizações Globo, criou duas faixas de horário para comemorar os 40 anos da Rede Globo, exibindo programas do arquivo da emissora. Em uma faixa eram exibidos programas humorísticos da TV Globo (“Sai de Baixo”, “TV Pirata” e “Armação Ilimitada”) e na outra, minisséries em versões compactas.

Além das Organizações Globo, a Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura de São Paulo, tem canais em que parte da programação é dedicada ao material de arquivo. Um exemplo é a TV Rá-Tim-Bum, que foi inaugurada em 2004. O canal que além de coproduzir programas com a TV Cultura18, exibe programas infantis do arquivo da TV Cultura como “Bambalalão” e “O Mundo da Lua”.

Outro caso na Fundação Padre Anchieta é o canal digital MultiCultura, em cuja descrição, na página do canal na internet (MULTICULTURA, on-line), quando inaugurado em 2009, consta que foram

exibidos programas, séries e especiais com o que há de melhor no rico acervo da TV Cultura, acumulado em seus 40 anos de atividade consagrada. Ciência, dramaturgia, musicais, documentários, entrevistas raras, juvenis e muitos outros temas fizeram e ainda fazem parte da grade de programação do canal.

Vale destacar um fato curioso que aconteceu com a reexibição da novela “Pantanal” em 2008: depois de dezoito anos de sua exibição original na TV Manchete, já extinta, a

18 Os programas coproduzidos não podiam ser exibidos simultaneamente de acordo com Jorge da Cunha Lima

(2008, p. 284): “Cada novidade do canal pago [TV Rá-Tim-Bum] tem de passar por uma ‘quarentena’ de até seis meses para ser disponibilizada ao público do canal gratuito [TV Cultura].”

novela alcançou altos índices de audiência, mas desta vez no SBT, mesmo com uma qualidade de imagem nem tão boa, pois as fitas com os capítulos não foram devidamente preservadas.

A volta dePantanalno SBT não foi tão retumbante, mas causou estrago. Antes, a emissora não alcançava mais que 8 pontos no ibope na faixa das 10 da noite. Na terça passada, com o primeiro banho de rio da mulher-onça Juma Marruá (Cristiana Oliveira), obteve 14. Foi um banho meio turvo, é verdade, já que a qualidade da imagem é sofrível – o SBT simplesmente tirou as fitas dePantanaldas velhas latas onde estavam guardadas e as pôs para rodar sem submetê-las a ajustes de cor e brilho (MARTHE, 2008, p. 131).

Outras telenovelas da TV Manchete também foram exibidas no SBT: “Xica da Silva”, “Dona Beija” e “A História de Ana Raio e Zé Trovão”, em 2005, 2009 e 2010, respectivamente.

É importante lembrar que outras emissoras brasileiras também reprisam programas que fazem parte do seu acervo, mas não há uma periodicidade ou a criação de uma faixa exclusiva na programação para tal.

Fora do Brasil, vale destacar o canal latino “Passiones”, que tem sua grade de programação composta somente por telenovelas de todo o mundo, inclusive as brasileiras. O canal é veiculado em países da América Latina (no Brasil não é exibido) e nos Estados Unidos, voltado para o público hispânico.

O grupo mexicano Televisa19 também tem canais com programação composta somente por telenovelas. Em espanhol, há os canais TL Novelas América e TL Novelas Europa. O grupo também tem o canal TLN Network, que foi criado em 2009 com o objetivo de exibir somente telenovelas dubladas em português. O público-alvo são o Brasil, Angola, Moçambique e Portugal.

3.2 O Canal Viva

Em 2010, foi criado o Canal Viva, do grupo de TV por assinatura Globosat, que tem boa parte de sua programação composta por programas de televisão exibidos originalmente na TV Globo. O objetivo inicial do canal era o de atingir mulheres acima dos 35 anos. Depois, a faixa de público-alvo foi ampliada para ambos os sexos a partir dos 25 anos.

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As telenovelas da rede Televisa ficaram famosas no Brasil por conta de suas exibições no SBT desde a década de 1980.

Além de teledramaturgia (telenovelas, minisséries e séries), o Canal Viva também exibe outros programas que fazem parte do arquivo da TV Globo, como humorísticos, programas de auditório, musicais e programas atuais em horários alternativos.

O Canal Viva conseguiu, em um ano de funcionamento, ficar em terceiro lugar no seu

target (mulheres com mais de 35 anos) e ocupou a quarta posição no público em geral, em

horário nobre (SACCHITIELLO, 2011). Antes de completar dois anos, o Canal Viva foi o 9º canal mais visto da TV paga (PADIGLIONE, 2012, p. D7).

Com pouco mais de dois anos no ar, o Canal Viva, ao exibir material de arquivo da TV Globo, estava entre os dez canais pagos mais vistos no Brasil (PADIGLIONE, 2012, p. D7).

Em um ranking geral de audiência em 2012, entre assinantes de TV paga, incluindo canais da TV aberta e canais de TV por assinatura, o Canal Viva ficou em 20º lugar se forem considerados os assinantes de 18 a 45 anos20 (MERMELSTEIN; LAUTERJUNG, 2013, p. 17).

O Canal Viva, objeto de estudo desta pesquisa, sua história, assim como um estudo da sua programação, são apresentados no terceiro capítulo desta dissertação. No entanto, primeiramente é preciso estudar as bases teóricas que fundamentam o estudo de caso, centrado nos conceitos de memória, identidade e cultura.

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Esta pesquisa publicada na reportagem tem como fonte o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) e contempla o horário das 6h da manhã até a 1h da madrugada do dia seguinte.

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