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A Mesa Nacional de Negociação Permanente na Administração Pública

No documento Negociação coletiva no setor público (páginas 142-145)

5 PERSPECTIVAS DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA NO SETOR PÚBLICO

5.2 Experiências da Administração Pública brasileira em relação à negociação

5.2.1 A Mesa Nacional de Negociação Permanente na Administração Pública

A Administração Pública no Brasil passou, no período de 1988 a 2002, por mudanças profundas em sua estrutura, buscando um modelo mais eficiente de atuação do Estado brasileiro, sendo que o atual governo vem tentando recompor a capacidade de atuação do Estado,

245 FIGUEIREDO, op. cit., p. 163-164.

especialmente na Administração Direta, promovendo experiências de democratização das relações de trabalho na Administração Pública Federal desde 2003.

A preocupação do governo relaciona-se com a melhoria da qualidade do serviço prestado ao cidadão e das condições para concretizar a atuação do Estado. Para atingir os objetivos de transparência e controle social, o governo brasileiro vem implantando um programa de democratização das relações de trabalho no serviço público, tendo como principal ação a implantação de um Sistema de Negociação Permanente, voltado para assegurar uma interlocução institucional dos representantes do governo e dos servidores públicos federais. 246

Assim, o atual governo, de tradição sindicalista, possibilitou a concretização da democratização das relações de trabalho no âmbito da Administração Pública Federal, fomentando abertamente a negociação coletiva de trabalho entre os seus membros, como resultado da liderança nascida no seio das lutas dos trabalhadores, que vem a ser a do Presidente da República.

A Mesa Nacional de Negociação Permanente formalizou-se oficialmente em dezesseis de junho de 2003, com a presença de oito ministros de Estado, de doze entidades de classe ligadas ao funcionalismo público, do Vice-Presidente do Congresso Nacional e parlamentares. 247

A MNNP é composta de duas Bancadas: a bancada de Governo, composta por oito Ministérios e a Bancada Sindical, composta por dezoito entidades sindicais de representação nacional. É coordenada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, por intermédio da Secretaria de Recursos Humanos. Existem ainda dez Mesas Setoriais implantadas em dez Ministérios, com as mesmas características da Mesa Nacional, com a diferença de que estas Mesas estão autorizadas a negociar assuntos que não dizem respeito a questões econômicas, e qualquer proposta neste sentido, deve ser levada para apreciação da Mesa Nacional. Para agilizar a discussão de temas estratégicos, a Mesa Nacional constituiu quatro Comissões Temáticas: Política Sindical, Seguridade Social, Diretrizes de Planos de Carreira e Política Salarial.248

Podem ser objeto de negociação coletiva na Administração Pública, segundo a

agenda positiva estabelecida na MNNP, principais pontos (16.6.2003): recomposição da força de

trabalho do setor público; redesenho dos sistemas de remuneração, cargos, carreiras, benefícios e concursos; realinhamento dos salários de carreiras, posições e condições gerenciais da alta burocracia; capacitação técnica e gerencial permanente de servidores; promoção da saúde

246 MENDONÇA, Sérgio Eduardo A . A experiência recente da negociação coletiva na administração pública no Brasil. Disponível em: <http://clad.org.ve>. Acesso em 04.02.2006.

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RAPASSI, op. cit., p. 87

ocupacional e melhoria da qualidade de vida; redesenho da estrutura de processos de trabalho; novas concepções institucionais; redimensionamento de recursos logísticos e de tecnologias informacionais; simplificação administrativa; definição e divulgação de resultados a partir de indicadores objetivos de desempenho organizacional; contratualização efetiva de resultados e avaliação do custo efetividade; interlocução, participação e atendimento ao cidadão e conduta ética transparente. 249

Conforme já destacado anteriormente, a negociação coletiva não se restringe à questão de valores remuneratórios, envolvendo questões ligadas às condições dos trabalhadores e da prestação dos serviços públicos. Os temas apontados pela agenda positiva da MNNP corroboram nossa afirmação a esse respeito, uma vez que podem ser objeto de negociação a forma de desempenho das funções, as condições nas quais elas se dão, a atuação das pessoas políticas na prestação dos serviços, dentre outros.

Cabe lembrar, ainda, que não há óbices a impedir a discussão referente à remuneração dos servidores públicos em condições normais de sanidade do erário. A MNNP admite redesenho dos sistemas de remuneração, cargos, carreiras, benefícios e concursos e o realinhamento dos salários de carreiras, posições e condições gerenciais da alta burocracia.

Se tais assuntos implicarem diretamente em aumentos salariais, certamente deverão ser observadas as normas concernentes ao aumento de remuneração, conforme os artigos 37, caput, incisos X, XI, XII e XIII, 39, § 1º, 61, § 1º, inciso II, alínea a, e 169, caput e § 1º, incisos I e II, da CF/88, bem assim na Lei complementar n. 101/2001.

Desta feita, verifica-se que o tema ligado à remuneração não foi totalmente excluído pela MNNP, pois até mesmo o Regimento Institucional estabelece o funcionamento de Mesas Setoriais em que são discutidos temas específicos, que são depois levados à Mesa Nacional, para tomada de decisão, sendo que uma das Mesas Setoriais vem a ser a de Política Salarial.

Como resultados da MNNP entre 2003 e 2004, a dinâmica do processo de negociação com os sindicatos que representam os servidores públicos federais alcançaram resultados expressivos, tendo sido apresentados mais de vinte e seis atos normativos, todos aprovados por consenso de todos os Partidos Políticos, a exemplo dos seguintes: 47 negociações concluídas; 9 negociações concluídas dependendo de encaminhamento; 112 tabelas remuneratórias reestruturadas; 5 planos especiais de cargos criados; 1.116.138 servidores que tiveram seus cargos, carreiras e tabelas remuneratórias reestruturadas. 250

249

RAPASSI, op. cit., p. 88.

Com relação à observância do princípio da reserva legal e eficácia jurídica para o resultado das negociações coletivas no setor público federal através da MNNP, não há dúvida de que devem ser observados intactos e de forma expressa, devendo os acordos celebrados nas Mesas de Negociação serem necessariamente submetidos à ratificação do Poder Legislativo. 251

5.2.2 Sistema de Negociação Permanente para a Eficiência na Prestação dos Serviços Públicos

No documento Negociação coletiva no setor público (páginas 142-145)