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Sistema de Negociação Permanente para a Eficiência na Prestação dos

No documento Negociação coletiva no setor público (páginas 145-148)

5 PERSPECTIVAS DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA NO SETOR PÚBLICO

5.2 Experiências da Administração Pública brasileira em relação à negociação

5.2.2 Sistema de Negociação Permanente para a Eficiência na Prestação dos

Outra valiosa experiência nacional em relação à negociação coletiva de trabalho entre os servidores públicos vem a ser a implementada através da Prefeitura de São Paulo, que criou, em 2002, o Sistema de Negociação Permanente (SINP) para a Eficiência na Prestação dos Serviços Públicos Municipais de São Paulo.

O sistema parece ser mais avançado que o modelo que ora se desenha no plano federal, pois além de representantes do Governo Municipal e do funcionalismo público, introduz um

terceiro ator, um Conselho Consultivo, composto por representantes da sociedade civil, como

DIEESE, Conselho Municipal da Saúde e Câmara Municipal. Outra inovação é a figura de um

ombudsman, mediador, que pode, em momentos de impasse, ajudar a recompor as negociações. 252

No âmbito do SINP, Prefeitura e trinta e uma entidades que representam o funcionalismo paulistano já realizaram Acordos Coletivos de Serviço, demonstrando o quanto é possível e desejável firmar um novo compromisso entre a Administração, os servidores e a sociedade. Além de avançar nas relações público-trabalhistas, tais medidas aprimoram a qualidade dos serviços públicos de forma integrada. 253

Quanto à sua estrutura, o Sinp possui uma representação interna constituída por duas bancadas, uma da Administração e outra sindical, sendo a Administração representada na Mesa Central por cinco secretarias (Gestão Pública, Finanças, Governo, Educação e Saúde); e o funcionalismo público representado por vinte e seis entidades de classe, distribuídas entre o Fórum Sindical, a Mesa Central e as Mesas Regionais e Locais de Negociação. As representações externas constituem instâncias consultivas e mediadoras do Sinp, compostas pela Câmara dos Vereadores, Conselhos Municipais de Saúde, de Educação e de Assistência Social, e da Ouvidoria Geral do Município.

251 MENDONÇA, op. cit., p. 53. 252

RAPASSI, op. cit., p. 89.

Quanto à formalização dos resultados, as decisões emanadas do Sinp são registradas em protocolos, encaminhadas e implementadas, pela Administração, segundo as normas legais administrativas.254

Desta feita, verifica-se que não são tratados temas referentes a aumentos salariais e reajustes, que deveriam necessariamente ser convertidas em lei, através do processo legislativo próprio, em respeito ao princípio da reserva legal. Mesmo assim, tal experiência não deixa de ser enriquecedora e um exemplo de que a negociação coletiva no setor público é possível.

Ora, a experiência levada a efeito pelo Sinp demonstra claramente a possibilidade de promover a negociação coletiva no setor público, sem deixar de lado ou desobedecer aos princípios e normas que informam a Administração Pública, admitindo-se a bilateralidade da relação jurídica existente, bem como, a convivência democrática do Estado em face dos direitos assegurados aos servidores públicos.

Conceitualmente, o Sinp apresenta-se enquanto leitura da tese do Contrato Coletivo de Trabalho para o setor público, adotada pela Administração Municipal e pelas entidades sindicais do funcionalismo para regulamentar suas relações. Em princípio, pode parecer que conceitos como os empregados na formulação do sistema pertenceriam, exclusivamente, aos institutos do Direito do Trabalho, típicos do setor privado. Contudo, a Constituição Federal, a doutrina e o arcabouço jurídico-administrativo oferecem elementos consistentes ao administrador público para a produção de ferramentas destinadas ao tratamento de conflitos do trabalho nesse setor. Destarte, diante das diversas leituras possíveis sobre o tema, adotou-se determinada formulação que compatibiliza, plenamente, a essência dos processos de negociação coletiva de conflitos com princípios e normas que informam e regem a administração pública, superando-se, dessa forma, eventuais entraves de caráter jurídico.255

O sistema implantado pelo Sinp tem por pressupostos a liberdade de organização, especialmente nos locais de trabalho, e os direitos à negociação coletiva e à greve, inserindo-se no contexto histórico das lutas sindicais pela democratização das relações de trabalho, e pela conquista do contrato coletivo de trabalho.

Com relação aos interesses da sociedade, levando-se em conta o princípio administrativo inerente à indisponibilidade do interesse público, a experiência do Sinp demonstra a possibilidade da convivência da negociação coletiva de trabalho, assegurada em um ambiente

254 BRAGA, Douglas Gerson. A democratização das relações de trabalho no setor público e os interesses da cidadania. Disponível em: <http://www.observatorio.nesc.ufrn.br/politic_t04.htm>. Acesso em:06 dez. 2005. 255BRAGA, op. cit., p. 5.

democrático, com a observância do princípio invocado, na medida em que as medidas objetivam não só atender as demandas e conflitos entre a Administração Pública e os servidores, mas também garantir a qualidade da prestação do serviço público.

Conforme abordamos no item 4.3.1.1 do Capítulo 4, o interesse a ser perseguido em uma negociação coletiva no setor público deve ser o benefício da coletividade, que nada mais é que o interesse público que o Estado visa resguardar, concernente á satisfatória prestação do serviço público.

Corroborando a nossa tese, além de servir de instrumento regulador das relações administração-sindicato, o Sinp propõe negociar conflitos e demandas estabelecendo os paradigmas da eficiência e da qualidade dos serviços. Os interesses corporativos estão, pois, amarrados à discussão dos interesses gerais dos usuários. Para que essa diretriz não integre apenas o mundo da retórica, entidades da sociedade civil e de outras esferas do Poder Público, em nome dos usuários, são chamadas para o centro das negociações, em condições previamente acordadas. 256

Também vem corroborar nossa opinião em relação à necessidade de se viabilizar a negociação coletiva no setor público como uma forma de minimizar ou até mesmo fazer cessar as manifestações grevistas, que são utilizadas como única forma de possibilitar a garantia de reivindicações do setor, gerando conseqüências sócias indesejáveis e até graves em se tratando de alguns setores (saúde, transporte público, etc.) quando deveria ser o último instrumento de coerção no sentido de solucionar os conflitos. Acrescente-se a isso que o funcionário insatisfeito não presta o serviço da forma como deveria, o que, novamente, afeta a coletividade.

Assim, a preocupação do Sinp se legitima também neste aspecto, na medida em que a eficiência administrativa está intimamente relacionada à capacidade de gerenciamento de conflitos de interesses, dentre os quais se situam os conflitos do trabalho. Faz-se necessário resolver a seguinte contradição: há consenso na sociedade de que a greve deve ser, na melhor das hipóteses, sempre o último recurso a ser empregado. Mas para ser, de fato, o último recurso, quais deveriam ser os primeiros? Que iniciativas deve adotar o gestor público para acolher e dar efetividade às garantias constitucionais? Ao se situar como alternativa entre o tudo ou nada, do nada ou da greve, o Sinp se coloca como instrumento indispensável da sociedade. Ou seja, o objeto de que se ocupa situa-se no campo dos interesses públicos indisponíveis da Administração, sobre os quais não pode haver omissão do administrador. 257

Mas uma vez, a experiência vem de encontro à nossa opinião.

256

BRAGA, op. cit., p. 2.

Destarte, conclui-se que, quanto aos princípios da indisponibilidade do interesse público e da reserva legal, verifica-se que a instituição desse instrumento significa estrita observância ao princípio da indisponibilidade do interesse público, e clara observância ao princípio constitucional da eficiência, nos termos estatuídos no artigo 37 da Constituição Federal. Não se faz necessário suporte legislativo, infra-constitucional, para a celebração de convênios dessa natureza, pois tal procedimento está expressamente amparado na Lei Municipal n. 13.303/02258, eliminando-se qualquer dúvida quanto à observância ao princípio constitucional da legalidade. 259

Não há como negar a importância de tal iniciativa no processo democrático de solução de conflitos no setor público, com base na negociação coletiva de trabalho.

No documento Negociação coletiva no setor público (páginas 145-148)