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O reconhecimento das centrais sindicais, a instituição do Conselho

No documento Negociação coletiva no setor público (páginas 99-103)

3 SOLUÇÃO DE CONFLITOS NO SETOR PÚBLICO

3.8 O reconhecimento das centrais sindicais, a instituição do Conselho

Por se tratar de temas conexos e que demonstram a tendência do atual Governo Federal em propiciar cada vez mais um ambiente de fomento à negociação coletiva no âmbito das relações de trabalho no Brasil, além de sua atualidade, não se poderia deixar de mencionar o reconhecimento das centrais sindicais e a instituição do Conselho Nacional de Relações do Trabalho.

Por meio da Medida Provisória n. 293, de 8 de maio de 2006172, finalmente foram reconhecidas as centrais sindicais no Brasil.

171 BORGES, Altamiro. Reforma sindical e Convenção 87. Disponível em:

<http://www.adial.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=16171>. Acesso em: 16 jun. 2006.

172 BRASIL. Medida Provisória n. 293, de 8 de maio de 2006. Dispõe sobre o reconhecimento das centrais

sindicais para os fins que especifica. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2006/Mpv/293.htm>. Acesso em: 24 maio 2006.

As centrais sindicais são organizações intercategoriais, numa linha horizontal, abrangentes de diversas categorias. Delas são aderentes não os trabalhadores diretamente, mas as entidades de primeiro grau que os representam ou as de segundo grau que integram os sindicatos. Portanto, representam sindicatos, federações e confederações de mais de uma categoria. Atuam numa base territorial ampla, quase sempre todo o país.173

Embora constituíssem uma realidade prática e de atuação efetiva, a Constituição Federal de 1988 não as contemplava especificamente, ou seja, não as autorizava e nem as proibia. Portanto, não eram reconhecidas pela legislação pátria.

As centrais sindicais existentes antes do advento da medida provisória eram a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Sindical Independente (USI), a Força Sindical (FS), a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a Coordenação Autônoma de Trabalhadores (CAT), a Central Social Democrática (CSD), a Coordenação Confederativa de Trabalhadores (CCT), e a Social Democracia Sindical (SDS).

Conforme o artigo primeiro da MP n. 293/2006, a central sindical, entidade de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito nacional, terá as seguintes atribuições e prerrogativas: I) exercer a representação dos trabalhadores, por meio das organizações sindicais a ela filiadas; e II) participar de negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social que possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores.

Doravante, para a participação de negociações e fóruns, a central sindical deverá cumprir os seguintes requisitos: I) participação de, no mínimo, cem sindicatos distribuídos nas cinco regiões do País; II) filiação em pelo menos três regiões do País de, no mínimo, vinte sindicatos em cada uma; III) filiação de sindicatos em, no mínimo, cinco setores de atividade econômica; e IV) filiação de trabalhadores aos sindicatos de sua estrutura organizativa de, no mínimo, dez por cento do total de empregados sindicalizados em âmbito nacional (art. 2º, MP n. 293/2006).

Em relação à negociação coletiva, o reconhecimento das centrais sindicais vem demonstrar o direcionamento atual em relação à ampliação dos mecanismos democráticos de solução de conflitos, com a participação efetiva dos órgãos de representação dos trabalhadores. Uma vez que as centrais sindicais são reconhecidamente organizações de representatividade abrangente, cuja força política e desempenho são evidentes, o seu reconhecimento já era mais que necessário, de fundamental importância para os trabalhadores.

173 NASCIMENTO, op. cit., p. 195.

Também foi instituído, no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego, o Conselho Nacional de Relações do Trabalho (CNRT), órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa, de composição tripartite e paritária, por meio da Medida Provisória n. 294, de 8 de maio de 2006.174

A criação do CNRT demonstra igualmente a preocupação cada vez maior, no Brasil, em elevar a negociação coletiva de trabalho como a forma prioritária de solução de conflitos, tendência que se alia à moderna concepção democrática.

Isso está claramente demonstrado quando se verificam as finalidades do CNRT elencadas no artigo 2º da MP 294/2006, que são: I) promover o entendimento entre trabalhadores, empregadores e Governo Federal, buscando soluções acordadas sobre temas relativos às relações de trabalho e à organização sindical; II) promover a democratização das relações de trabalho, o tripartismo e o primado da justiça social no âmbito das leis do trabalho e das garantias sindicais; e III) fomentar a negociação coletiva e o diálogo social.

Salienta-se que os representantes do trabalhadores serão indicados pelas próprias centrais sindicais, agora reconhecidas por lei.

A criação do CNRT é fruto do Fórum Nacional do Trabalho, conforme entendimentos entre o Governo, empresários e trabalhadores, e é criado com o objetivo de discutir e elaborar a proposta das Reformas Sindicais e Trabalhistas.

Na exposição de motivos de autoria do Ministro do Trabalho Luiz Marinho sobre a proposta da MP n. 294/2006, foi destacado que o Fórum Nacional do Trabalho alcançou inúmeros consensos relativos às reformas sindical e trabalhista, o que não pode desaparecer pela falta de normativo disciplinador da matéria. Esses entendimentos culminaram na elaboração da Proposta de Emenda à Constituição – PEC n. 369/05, do Anteprojeto de Lei das Relações Sindicais, do Anteprojeto de Lei de Negociação Coletiva e Direito de Greve no Serviço Público, dentre outros.175

O CNRT coaduna-se com as ações promovidas por este Governo com vistas à democratização das relações de trabalho no País. O referido Conselho terá atribuições de propor, na área de relações do trabalho, alterações legislativas e administrativas, de opinar em pareceres

174 BRASIL. Medida Provisória n. 294, de 8 de maio de 2006. Cria o Conselho Nacional de Relações do Trabalho -

CNRT e dá outras providências.Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2006/Mpv/294.htm>. Acesso em: 24 maio 2006.

175

MARINHO, Luiz. EM Nº 15/MTE. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2006/Exm/EM-15-MTE.htm>. Acesso em: 24 maio 2006.

referentes a projetos de lei e de propor diretrizes de políticas, dentre outras competências, que estão relacionadas em seu artigo dez. 176

Verifica-se desta forma a importância que a criação do CNRT possui em relação à negociação coletiva no setor público, como forma de demonstrar o empenho do atual Governo e sua política de democratização das relações do trabalho.

Acreditamos que o cenário nacional e a política do atual Governo indicam que o processo de reconhecimento do direito à negociação coletiva no setor público está em franco progresso. Basta que os interesses políticos e a natural morosidade do processo legislativo brasileiro não venham a constituir entraves intransponíveis.

Oxalá o Brasil alcance, o quanto antes, a regulamentação necessária ao exercício deste direito tão eficaz quando se trata de solucionar conflitos trabalhistas, agora auxiliado pela atuação do CNRT, que, esperamos, seja realmente efetivada.

176 MARINHO, op. cit., on-line.

No documento Negociação coletiva no setor público (páginas 99-103)