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1.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTITUIÇÃO DA PM

1.1.2 A mulher na PM do Brasil Algumas considerações

Situar a mulher policial historicamente é algo bastante difícil, visto que não se conhece o registro espaço-temporal oficial do surgimento da primeira polícia feminina. O não conhecimento oficial desses dados leva autores a divergências quanto ao primeiro país e a época em que a mulher adentrou esse espaço considerado, durante muitos anos, exclusivamente masculino.

Segundo Stefan (1986), alguns registros apontam que o surgimento das primeiras mulheres policiais ocorreu em 1951. Tratava-se, segundo o autor, de jovens que foram admitidas como estagiárias pela Escola de Polícia da URSS. No entanto, outros registros afirmam que na China Popular já havia ocorrido à presença de mulheres em corporações policiais, embora não oficialmente.

Em meio às diversas datas e locais que situam o engajamento da mulher no serviço policial, encontra-se também aquela que aponta o Reino Unido, em 1820, como o pioneiro a agregar unidades de polícia feminina, e aquela que aponta os Estados Unidos, na década de 60 como o agregador do primeiro Corpo Policial Feminino.

No Brasil, o ingresso da primeira mulher no serviço policial data de 1953, em São Paulo e está relacionado ao I Congresso Brasileiro de Medicina Legal e Criminologia, quando foi criada a Polícia Militar Feminina com as missões assistencial e preventiva, nos moldes da experiência européia. As mulheres tinham a função (não remunerada) de auxiliar e colaborar com a polícia, passando-lhe as informações sobre tudo o que ocorresse no quarteirão pelo qual eram responsáveis.

Em 1955 foi criado, dentro da estrutura da Guarda Civil paulista, o Corpo de policiamento Feminino, que passou a fazer parte da Secretaria de Segurança Pública quatro anos depois.

Essa mesma época (década de 50) marcou oficialmente o ingresso das mulheres na polícia baiana. Segundo Carvalho Neto (1991, p.65), o acesso à mulher na corporação policial se deu para fins de assistência social, quando da necessidade do “outro sexo” para auxílio às autoridades públicas. Acesso que culminou com a instituição do Decreto 16.639 de 07/11/1956 que oficializou a presença das mulheres.

Em 1959 a Corporação Feminina tornou-se corporação autônoma, com a alteração do regulamento da Guarda Civil e a consequente criação do Corpo da Divisão de Policiamento Especial Feminino, diretamente subordinado à Secretaria de Segurança Pública.

O corpo de Policiamento Feminino era composto unicamente por mulheres, dirigido por uma comandante e uma subcomandante. Tinha como competência a ação destinada à proteção de mulheres e menores. O policiamento ostensivo relativo aos locais frequentados por mulheres e menores, a revista a estes, o combate à falsa mendicância destes por meios de convencimento, a orientação às mulheres abandonadas e dissolutas, além do trabalho burocrático, constituíam atividades relativas à Divisão de Policiamento Especial Feminino.

Vê-se que era da competência dessa Divisão o trato de questões relacionadas a mulheres e menores. A interferência das mulheres em casos que necessitavam de policiamento ostensivo só era permitida quando mulheres e menores estivessem envolvidos. Conforme assinala Carvalho Neto (1991, p. 70), a presença da mulher na polícia

“(...) era muito mais de melhoria da imagem de instituição perante o público, do que um fator de eficiência, posto que a mulher não tinha acesso às

atividades típicas de investigação de delitos, diligências e operações policiais de risco.”

Em 1968, com a extinção da Guarda Civil, operada a partir do Decreto-Lei de nº667/69, que atribuía às polícias militares estaduais a execução do “policiamento ostensivo” fardado, surge o Corpo Especial de Assistentes Policiais Femininos, que desapareceu completamente em 1976. Com a extinção da Guarda Civil, os homens foram incorporados à Polícia Militar, mas o mesmo não aconteceu com as mulheres, sob a justificativa de que a Corporação Militar não tinha tradição feminina nos seus quadros, fazendo desaparecer, então, a Polícia Feminina.

Em 1990, a mulher policial ressurge - depois de longos estudos sobre a necessidade de incluir mulheres no quadro da centenária PM - com a criação da Companhia de Polícia Feminina, pautada no Decreto de nº 2905, de 19 de outubro de 1989 e direcionada às atividades policiais envolvendo o trato com mulheres, crianças e idosos. Uma Companhia que ressurgiu trazendo consigo o seu objetivo original, qual seja o atendimento social exclusivo a essa clientela. Perfazendo, porém, um total de 97 policiais femininas, entre soldados e sargentos, a Companhia foi crescendo em efetivo e abrangência.

A experiência “positiva” obtida em outros Estados como São Paulo, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina, serviu de argumento para que as portas fossem abertas às mulheres baianas na PM. O então comandante da Polícia Militar, José Luiz Ventura Mesquita foi o primeiro a tomar a decisão de trazer as mulheres para esse contingente na Bahia. Em 1990, formou-se, então, a primeira turma de policiais femininas na PM/BA, após 165 anos da existência da Corporação Policial Militar no Brasil.

Em 1992, as mulheres iniciam, então, a sua participação em outras atividades, antes estritamente masculina. Passam a atuar em parceria com policiais masculinos, formando a chamada dupla “Romeu e Julieta” e passam, também, a atuar no “policiamento ostensivo” com motocicletas e na condução de viaturas operacionais. Subordinada ao Comando de Policiamento da Capital, a execução do policiamento ostensivo e de trânsito e atividades auxiliares, passaram a ser também da Competência Feminina, cuja atuação se abre para todo o território nacional. Carvalho Neto (1991, p.71) assinala como competência da Companhia Feminina:

1) policiamento ostensivo geral, com ênfase à proteção de crianças, mulheres e idosos, orientação às pessoas e preservação contra as ações de ladras e menores, suplementando ou complementando a atuação dos policiais militares masculinos;

2) policiamento ostensivo de trânsito, em locais ou eventos especiais; 3) atividade de apoio em operações de defesa civil, assuntos civis ou não cívico-social;

4) participação em solenidades e desfiles cívicos.

Em 1996, a Companhia Feminina - comandada pelo tenente-coronel Antônio Jorge Ferreira Melo - foi extinta para evitar, segundo a instituição militar, uma segregação dentro da corporação; e porque pelo menos 70% de suas integrantes já estavam em outras unidades mistas. (CARVALHO NETO, 1991). E as mulheres pertencentes a esta Companhia foram distribuídas em diversas unidades masculinas.