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1. A MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

1.2 A mulher no mercado de trabalho brasileiro

A situação da mulher no mercado de trabalho brasileiro, para Santos et al. (2015) ainda é superficial a abordagem do tema da mulher apesar de ser discutida pelo senso comum. Faz-se necessário compreender a realidade histórica no Brasil e da mesma forma a mulher possuía apenas um papel de mãe e esposa no início do Brasil Colônia.

Oliveira (1992) apresenta que no princípio da Revolução Industrial, as mulheres ainda continuavam a ocupar um lugar secundário na sociedade. A miséria as obrigou a ir para as fábricas, para desempenhar funções com maior grau de dificuldade e pesar. Este acesso ao mercado de trabalho remunerado não promoveu o maior bem- estar e independência da mulher na época. Comenta ainda que o paradigma se rompe

na diferenciação de mundos entre homens e mulheres, separando o trabalho da casa e colocando os dois em mesmas condições e exigências nos ritmos da produção fabril. No final do século XIX ampliam-se as possibilidades de atuação. Abrem-se novos horizontes com o surgimento das primeiras escolas normais no Brasil, e inicia- se a capacitação das moças para o exercício do magistério, sendo na época a única profissão aceita, em partes, para as mulheres de melhores classes (média e alta). Outra alternativa para as solteiras, eram os conventos e casas de reclusão. A mulher não possuía meios para se manter e não poderia buscar sua independência, sendo assim não casar era economicamente inviável, acarretando total desprestígio social, o casamento era praticamente a única alternativa de “carreira” para as mulheres (ROCHA-COUTINHO, 1994).

Santos et al. (2015) enfatizam que tanto a Igreja quanto o Estado enalteciam a imagem da mulher com o objetivo secundário de tentar submetê-la ao domínio do homem. Com um discurso moralista sobre a vida das mulheres estas duas instituições afetaram diretamente quando se tratava o assunto “moral” da mulher, mantendo a dominação masculina, com apoio das instituições religiosas e legais.

A mulher passa para uma nova função definida pela sociedade com a vinda da corte portuguesa ao Brasil. Essa nova função das mulheres de classe alta é a de ser colaboradora e incentivadora dos homens, sendo responsáveis agora não apenas pelo sucesso dos filhos, mas sim pelo do seu esposo também. Com o início da agricultura, por meio do cultivo da terra, a família passa a ganhar importância no Brasil. A economia latifundiária e monocultura era dominada pelo “pater famílias autoritário”, assim com a política, além do poder exercido sobre sua esposa, filhos e parentes (ROCHA-COUTINHO, 1994).

Com as necessidades de mão de obra da industrialização, no século XIX aumentou a demanda de mulheres solteiras de famílias economicamente mais desfavorecidas para trabalhar nas fábricas. Além dessas atividades, elas começaram a trabalhar no comércio e nos escritórios (ROCHA-COUTINHO,1994; BERTOLINI, 2002).

As mulheres vão sendo retiradas gradualmente das fábricas, a partir do momento que o processo industrial avança e opta-se pela mão-de-obra masculina. Entretanto, o número de trabalhadoras nas empresas fabris é ainda elevado. A falta de capacitação, instrução, acontecimentos relacionados ao assédio sexual,

divergências salariais e intimidação física foram obstáculos que as mulheres enfrentaram para fazerem parte do mundo das empresas na época ( RAGO, 2001).

O mercado opta pela mão-de-obra feminina não pela sua realização profissional ou desenvolvimento na carreira, mas apenas por uma necessidade econômica e sua urgência (SANTOS ET AL, 2015).

A Revolução de 1930 foi um marco no processo de urbanização do Brasil, o que provocou também a mudança comportamental da sociedade. A vida urbana se faz presente e se fortalece, enfraquecendo em contrapartida o modelo de família patriarcal rural. Perde o sentido da dependência da mulher com relação ao esposo, passando então a realizar atividade fora do lar. Residindo na cidade a mulher na vida urbana passa a tomar consciência dos seus direitos. Com a Constituição de 1934 ocorre a oficialização do direito da mulher na política, por meio do voto (AZZI, 1993). As mulheres não tinham ainda o direito de trabalhar fora e muito menos o direito de participar das decisões sociais, isso foi conquistado no Brasil pela Constituição de 1934 quando passaram a ter direito ao voto direto e secreto. A partir disso a capacidade produtiva da mulher passa a ser percebida, pelo homem. Dar início com mais afinco a sua vida fora dos limites que a cercam no lar passando a atuar no trabalho que antes era exclusivamente masculino (SCHILICKMANN; PIZARRO, 2013).

Comparando-se a realidade brasileira na época da Segunda Guerra Mundial com a de outras regiões do mundo, as mulheres também realizam tarefas consideradas tipicamente masculinas, além de ocupar espaços que antes não tinham acesso. Atividades como dirigir bondes e taxis, ajuste de peças e adentrar as usinas, mas ao fim da guerra elas sofrem pressões para retornar a sua posição anterior. Sofrem pressões para o retorno ao lar, colocado como ideal e papel da mulher (PERROT, 1998).

Após a Segunda Guerra Mundial vários fatores auxiliaram para a emancipação da mulher brasileira. Nas décadas de 50 e 60 ter uma carreira ainda era inaceitável para a mulher brasileira, a educação era um luxo ou percebida apenas para formação de uma mãe e esposa melhores (ROCHA-COUTINHO, 1994).

Para Lisboa (2012) o mercado de trabalho era exclusivamente dos homens e as mulheres ficavam limitadas, sem um horizonte de atuação profissional ou a participação na vida pública, sendo assim não participavam significativamente na população economicamente ativa até a metade do século XX. Com a possibilidade de

ser apenas mãe e esposa a situação vivenciada pela mulher era de absoluta dependência, a princípio com o pai e, posteriormente, com o marido.

A casa e a rua são modos de ler e falar do Brasil, ou seja, não são apenas espaços geográficos. Se a mulher é da rua, ela é vista e tratada de um modo. Se ela é de casa, o tratamento é outro (DaMATTA, 1986; 1991).

Andrade e Barbosa (2015) defendem que a mulher vem galgando novos postos e conquistas significativas no mercado de trabalho ampliando sua participação, a partir dos anos 50 também se abre o campo para discutir a carreira feminina em posições gerenciais e maior nível profissional.

Por meio da literatura e do cinema chega ao Brasil um novo modelo da mulher, advindo dos países afetados pela guerra, e começam a aparecer as fragilidades no modelo brasileiro, isso na década de 1960. Influenciado pelos movimentos feministas mundiais e pelo liberalismo francês, o modelo patriarcal brasileiro, perde força e uma nova forma de se portar e se vestir mais liberal está presente (BERTOLINI, 2002).

De 1950 até os anos de 1980, ela deixa de atuar como força de trabalho secundária e passa a conquistar empregos mais qualificados. Hoje, ainda mais presentes no mercado de trabalho, as mulheres estão voltadas para o lar e para a carreira, em busca de conciliar tempo para a dupla jornada de trabalho (SANTOS et al., 2015, p.5). Enfrentando barreiras profissionais (em que anteriormente apenas existia a presença masculina) e se apropriando da responsabilidade de suas carreiras. Importante ainda atentar para o fato de que a evolução contínua da participação feminina resulta da luta feminista no mercado de trabalho almejando-se a igualdade entre os sexos. A necessidade de contribuição econômica familiar voltada ao orçamento financeiro impacta diretamente neste quadro. A mulher busca alavancar o seu nível de escolaridade e a sociedade ameniza as barreiras para o ingresso da mulher em diversas áreas.

Dessa forma, as mulheres brasileiras adentram os espaços antes ocupados predominantemente por homens e refletem em sua escolaridade e alteração na estrutura familiar brasileira. A redução do número de filhos teve aumento de renda e o crescimento de mulheres como chefes de família também são apontados por Bruschini (2007).

Com o surgimento das técnicas contraceptivas nos anos 70 e 80 como já comentando anteriormente, a taxa de fecundidade no Brasil, segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cai significativamente, conforme Gráfico 2, e a mulher passa a ter mais liberdade, independência, e tempo livre para investir em seus próprios objetivos. A taxa de fecundidade total segundo definição do indicador (IBGE) refere-se ao número médio de filhos nascidos vivos, por mulheres hipoteticamente na faixa de 15 a 49 anos de idade, ao término de seu período reprodutivo.

Gráfico 2. Taxa de fecundidade total IBGE (décadas de 1940 a 2000)

Fonte: IBGE – elaborado pela autora (2015)

http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?no=10&op=0&vcodigo=POP263&t=taxa-fecundidade-total

Acesso em 24/3/2015

Em análise do Gráfico 2, podemos observar que nas décadas de 40, 50 e 60 o indicador de taxa de fecundidade total se mantém nos patamares entre 6,16 e 6,28 filhos por mulher. Na década de 70 inicia-se um movimento retroativo significativamente nos anos 80, saindo de 5,76 para 4,35 filhos por mulher. Nas duas próximas décadas o indicador permanece em queda chegando a 2,38 filhos, por mulher, nos anos 2000.

6,16 6,21 6,28 5,76 4,35 2,85 2,38 0 1 2 3 4 5 6 7 Decada 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000

O Gráfico 3 apresenta o índice de fecundidade total no século XXI:

Gráfico 3. Taxa de fecundidade total IBGE (anual de 2000 a 2014)

Fonte: IBGE - elaborado pela autora (2015)

http://brasilemsintese.ibge.gov.br/populacao/taxas-de-fecundidade-total em 24/03/2015

Acesso em 24/3/2015

Observando o Gráfico 3, nota-se que o indicador apresenta queda progressiva com redução de 0,64 em 2014, comparativamente ao início do século no ano 2000, passando o índice de 2,38 a 1,74 filhos por mulher.

A partir da década de 70 a participação da mulher no mercado de trabalho se intensifica devido a crescente urbanização, aceleração do processo industrial e consequente expansão da economia.

Desde os anos 80 está sendo traçado um novo perfil referente à força de trabalho feminina em que as mulheres mais velhas, casadas e mães trabalham mesmo com dificuldade conciliando todas as responsabilidades que lhe cabem (BRUSCHINI, 2007). 2,38 2,32 2,26 2,2 2,14 2,09 2,04 1,99 1,95 1,91 1,87 1,83 1,8 1,77 1,74 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Qtde 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Nos anos 80 e primeira metade dos anos 90 essa participação continua em crescimento devido ao processo de abertura econômica iniciada no governo Collor (LEONE, 2000).

Segundo Abramo (2007), constata-se que a participação da mulher na força de trabalho, bem como o tempo de trabalho (quantidade de anos) dedicados tem se alavancado constantemente. Parece estar ocorrendo uma reconstrução da ideia de gênero devido ao aumento de sua presença no mercado de trabalho e a grande importância dos rendimentos gerados para a economia doméstica.

Nesta nova realidade com sua efetiva participação no mercado de trabalho a mulher passa a lidar agora com um novo dificultador que se trata da dupla jornada, gerando uma sobrecarga de responsabilidades, trabalhar nas empresas versus os cuidados com a casa e filhos.

Para Bertolini (2002) mesmo com dificuldades houve no Brasil uma grande diversificação de papéis e o campo da atuação da mulher sofreu durante o último século, uma ampliação relevante. Buscando sua realização pessoal e na carreira, com consequente independência financeira sem deixar de lado seu papel de mãe e esposa. Integrar papéis distintos que, em certos momentos, podem gerar conflitos, mas, por outro lado, pode trazer status e fortalecimento da autoestima(BERTOLINI, 2002).

Conforme Engels (1995) na atualidade a mulher lida com o que o autor achava uma realidade impossível que se tratava de conciliar as tarefas domésticas e trabalho fora do lar, porém pode-se notar que apesar de ser uma sobrecarga, é possível conciliar essas duas realidades simultaneamente.

Lisboa (2012) afirma que apesar do cenário ter se alterado através do tempo com a presença relevante da mulher no mercado de trabalho as discriminações ainda prevalecem no reconhecimento do trabalho executado, inclusive nas diferenças salariais para as mesmas atividades desenvolvidas.