• Nenhum resultado encontrado

71 RADIALISTA EXERCÍCIO CONCOMITANTE DE FUNÇÕES PERTENCENTES A SETORES DISTINTOS JORNADAS COM LIMITES DIFERENTES APURAÇÃO DE HORAS EXTRAS.

4.3 Direitos autorais

4.3.2 A obra intelectual tutelada

Para que uma criação intelectual seja objeto de proteção por parte do direito autoral, deve a mesma possuir conteúdo literário, artístico ou científico. Ficam, portanto, afastadas, de pronto, desta tutela, as obras de conteúdo técnico-industrial que são regidas pelo direito de propriedade industrial.

Considerando o amplo conceito atribuído às obras, limitado apenas pelo conteúdo, e considerando que a relação constante da legislação em vigor é apenas exemplificativa, discussões surgem acerca de quais deverão ser efetivamente consideradas para efeitos de tutela pelos direitos autorais.

Lourival Santos e Amauri Mascaro Nascimento85, em severa crítica à atual

regulamentação de direitos autorais, referem a ausência de critérios do novo sistema ao considerar como obra intelectual, todo e qualquer trabalho jornalístico.

face do veto sofrido pelo art. 111 da Lei n.º 9.610/98, que deixou em aberto o Capítulo III do Título VII que trata da prescrição da ação.

85SANTOS, Lourival J. dos, NASCIMENTO, Amauri Mascaro. O direito autoral do jornalista e o contrato de trabalho. In: Revista LTr: Legislação do Trabalho, v. 66, n. 4, p. 413, abr. 2002.

“A Lei antiga (n. 5.988/73), embora não tivesse descurado da proteção da obra jornalística, dera ao assunto menor latitude que a atual. Esta última enfrentou diretamente a questão e a mingua de qualquer rigor seletivo qualificou todo o trabalho jornalístico, de qualquer natureza e independente dos graus de originalidade e criatividade, como sendo obra intelectual ou criação de espírito (art. 17, cc, art. 5º, VIII, h e art. 7º XIII). Assim, desde o relato mais simples, realizado com urgência, até a crônica bem elaborada; desde a foto fortuita, captada pela exigência do improviso, até a pose fixada com esmero; todos, por força da norma em vigor, constituem-se expressões intelectivas legalmente amparadas, assim como são os textos de Guimarães Rosa ou as fotos de Salgado”.

Em contrapartida, Bittar86 sustenta que “se acham compreendidas no direito

de autor as obras de caráter estético, ou seja, destinadas à sensibilização ou à transmissão de conhecimento”.

Pelo que, nem todos os produtos do trabalho de jornalistas e radialistas podem ser considerados para efeitos de obras geradoras de direitos autorais. 87

Embora a legislação específica não faça referência expressa à artisticidade, à originalidade e à criatividade, coaduna-se do entendimento de que nem todo o trabalho intelectual deve ser objeto de proteção por parte da legislação específica.

Em verdade, a Lei dos Direitos Autorais contém dispositivo que arrola situações em que não há caracterização de afronta a direitos autorais88, justamente

por não serem consideradas obras sujeitas à proteção especial.

José de Oliveira Ascensão89 ao analisar o exato enquadramento da obra

intelectual protegida pelo sistema jurídico, assim preleciona:

Se não há criatividade na expressão, mínima que seja, não há obra literária. Por isso o art. 2/8 da Convenção de Berna exclui da proteção 86 BITTAR, Carlos Alberto. Op. cit. Ver., 1999. p. 27.

87 “A notícia jornalística, em si mesmo considerada, não constitui criação intelectual protegível pelo Direito de Autor, pois constitui mero fato, não se lhe podendo atribuir autoria” – BITTAR FILHO, Carlos Alberto. O direito de autor na obra jornalística. In: Repertório de Jurisprudência IOB: civil, processual, penal e comercial. São Paulo, n.6, p. 151-152, mar. 2002.

88 Art 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: I - a reprodução: a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos; b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas de qualquer natureza; c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem, feitos sob encomenda, quando realizada pelo proprietário do objeto encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles representada ou de seus herdeiros; d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários; II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro; III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra; IV - o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa de quem as ministrou; V - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas, fonogramas e transmissão de rádio e televisão em estabelecimentos comerciais, exclusivamente para demonstração à clientela, desde que esses estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que permitam a sua utilização; VI - a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso familiar ou, para fias exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro; VII - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas para produzir prova judiciária ou administrativa; VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores.

convencional “as notícias do dia e os relatos de acontecimentos diversos que tenham o caráter de simples informações de imprensa”.

Por isso, dissemos já também que, se alguém deixa uma câmara (sic) de filmar aberta sobre o público, o filme daí resultante não é uma obra, é a tradução servil da realidade, sem haver marca pessoal na sua captação.

Vê-se, pois, que a própria legislação regulamentadora dos direitos de autor opõe limites ao seu objeto protetivo, não se podendo afirmar que todo e qualquer trabalho intelectual esteja sob o seu amparo, vez que o mesmo necessita, ao menos, para tanto, de criatividade, e artisticidade (em especial na obra fotográfica), critérios subjetivos que deverão ser analisados frente ao caso concreto, com base em parecer técnico pericial.