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42 Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso ordinário – processo n.º 00175.2004.028.04.00.2. Recorrentes: Ivan José Andrade e Empresa Jornalística Pampa Ltda.. Rel. Eurídice Josefina Bazo Torres. Porto Alegre, RS, 15 de julho de 2005

43 JORNALISTA. ACÚMULO DAS FUNÇÕES DE REPÓRTER, REDATOR E EDITOR. À falta de previsão legal, não cabem diferenças salariais pelo acúmulo de funções próprias do jornalista. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso ordinário – processo n.º 00111.901/99-5. Recorrente: Maria Teresa Daunis Cunha. Rel. Vânia Cunha Mattos. Porto Alegre, RS, 19 de março de 2001.

Conforme referido anteriormente, o diploma consolidado reserva seção especial aos jornalistas profissionais (arts. 302 a 316). Em decorrência da multiplicidade de legislações ordinárias posteriores, muitos de seus artigos já se encontram revogados.

A especial atenção que deve ser dada à CLT, neste trabalho, diz com a questão da jornada de trabalho dos jornalistas e, especialmente, com o exercício de cargo de confiança por parte de destes profissionais.

Largas são as discussões travadas quando se questiona o exercício de cargo de confiança por parte de jornalistas profissionais.

Isto porque, a Consolidação das Leis do Trabalho, ao tratar da duração normal do trabalho dos jornalistas e contraprestação pelo labor extraordinário refere, expressamente, não estarem abrangidos por estas normas aqueles que desempenharem as seguintes funções: redator-chefe, secretário, subsecretário, chefe e subchefe de revisão, chefe de oficina, de ilustração e chefe de portaria.

Pretendeu o legislador, diante de tal dispositivo, despender aos jornalistas que exercem tais funções, tratamento semelhante àquele dado aos demais profissionais que desempenham atividades de confiança, conforme consta do artigo 62, inciso II, da CLT, pelo que, estariam excluídos do controle de jornada e, por conseqüência, não estariam abrangidos pelo privilégio da jornada reduzida concedido à categoria.

Entretanto, de modo diverso da norma geral (art. 62, II, da CLT), a norma específica arrola as funções que estão excluídas do regime de controle horário, o que leva a concluir que, para se configurar necessário se faz tão-somente o desempenho efetivo da função, prescindido qualquer questionamento quanto ao poder de gestão de referidos empregados.

Assim, em havendo predomínio da norma especial sobre a norma geral, entende-se que a exigência contida no artigo 62, inciso II, do diploma consolidado, que diz com o exercício de poderes amplos de gestão por parte de empregados lotados em cargos de confiança, em princípio, não se aplica aos jornalistas que desempenham as funções arroladas no art. 306. O princípio da primazia da realidade, neste caso, impõe investigar o exercício efetivo das atividades vinculadas

às funções declaradas como de confiança e não o fato de possuir ou não poderes de gestão.

Certo é, pois, que se trata de exceção à norma geral, na medida em que declara, expressamente, a necessidade de tratamento diferenciado aos profissionais que exercem funções sem poder de mando, porém com autonomia técnica. Tratam- se, pois, de cargos de confiança de ordem técnica.

Neste sentido, aliás, manifesta-se o insigne jurista José Prunes44:

Inquestionavelmente a lei mencionou os empregados que exercem cargos de confiança técnica. Tais trabalhadores, mesmo não possuindo diretamente poderes para alterar os rumos da empresa (sob o ponto de vista trabalhista, unicamente), são de suma importância para a vida do próprio jornal, que é a razão da existência da empresa.

A natureza do trabalho determina que o empregador delegue poderes a diversos empregados. Se numa empresa comercial ou industrial o empregador delega poderes para um empregado entrar em contato com terceiros, fora ou dentro dos limites do estabelecimento, a ação desta pessoa somente em raras ocasiões será frente a muitas pessoas. Em se tratando de um jornal, a confiança que o proprietário confere ao redator chefe é imensa, eis que as palavras que lançar em letra de forma no periódico chegará a verdadeiras multidões. Em qualquer comunidade o jornal tem hoje uma posição política, social, econômica, moral, de grande responsabilidade. As tiragens chegam a dar oportunidade de comunicação com milhares e milhares de leitores todos os dias; o volume de cada edição, chegando freqüentemente a centenas de páginas em cada número, impede de forma absoluta, que o proprietário do jornal (empregador) seja o autor dos escritos veiculados ou mesmo tenha exercido o seu poder de mando. Socorre-se, pois, de elementos de confiança que, tendo a ele se vinculado por um pacto laboral, passam a exercer cargo de confiança regido pela legislação do trabalho.

Algumas das funções desempenhadas por jornalistas (à época entendeu o legislador como sendo aquelas que arrolou) impõem-lhes responsabilidades superiores às do proprietário da empresa jornalística. Isto porque, no mais das vezes, a decisão quanto às matérias a serem publicadas, que, indubitavelmente, pode por em risco o empreendimento, é atribuída aos próprios jornalistas.

E neste sentido45:

44 PRUNES, José Luiz Ferreira. Cargos de confiança no direito brasileiro do trabalho. São Paulo, LTr, 1975.

45 BOHÈRE, G. Profissão: jornalista – um estudo dos jornalistas como trabalhadores. Tradução Dario Luis Borelli. São Paulo: LTr, 1994, p. 87.

Velocidade e economia são dois benefícios óbvios, mas não todos. O passo para a automação deu ao pessoal intermediário – redatores e editores de nível médio – uma única e muitas vezes decisiva influência na forma como o jornal publica as matérias noticiosas e de opinião. São eles que realmente fazem o jornal. O que determinam na hora do fechamento da edição dificilmente pode ser previsto pela direção, pelo menos algumas vezes. Em nenhuma outra profissão a administração superior fica em tão grande dependência dos administradores intermediários para a definição do produto final e sua apresentação. E se assim não for, um jornal não poderá ser feito de maneira diferente.

Diante de tal depoimento, resta claro que agiu bem o legislador ao atribuir a determinadas funções o caráter de confiança técnica, despendendo-lhes tratamento diferenciado.

O problema surge com a edição do Decreto-lei 972/69 que revogou especificamente alguns artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (arts. 310 a 314), porém silenciou em relação aos demais, inclusive, aqueles que regulam a jornada de trabalho e suas exceções, pelo que se entende que, implicitamente, tenha-lhes reconhecido validade. Portanto, mantém-se em vigor o art. 306 do diploma consolidado.

Ocorre que, não há em indigitada norma referência à jornada de trabalho dos jornalistas, porém, ao arrolar as funções dos jornalistas, declara expressamente como de confiança as seguintes: editor, secretário, subsecretário, chefe de reportagem e chefe de revisão.

Diante disto, questiona-se: as funções consideradas como “de confiança” pelo Decreto-lei podem ser enquadradas na exceção prevista no artigo 306 da CLT?

Alguns julgadores, em interpretação literal à lei, entendem que não46, sob o

fundamento de o Decreto-lei não se presta a tratar especificamente da jornada de trabalho dos jornalistas e, portanto, a utilização da expressão “funções de confiança”

46 JORNALISTA. EDITOR. JORNADA DE TRABALHO. O empregado ocupante do cargo de editor de jornal está inserido nas disposições do art. 303 da CLT, sujeitando-se à jornada de 5 horas, e não está incluído nas exceções previstas no art. 306 do mesmo diploma legal. Assim, não há fundamento a amparar a tese da recorrente de excluir o autor da jornada reduzida por exercer cargo de confiança. Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região - Recurso ordinário – processo n.º 01138.2003.002.12.00.4. Recorrentes: Zero Hora – Editora Jornalística S.A. e Robinson dos Santos Pereira. Rel. Lília Leonor Abreu. Florianópolis, SC, 29 de setembro de 2004.

não tem por escopo equipará-las, em tratamento diferenciado quanto à jornada de trabalho, àquelas constantes da Consolidação das Leis do Trabalho. Afirmam, nesta senda, que, segundo a hierarquia das normas, não poderia o Decreto-lei ampliar o disposto em lei superior, razão pela qual concluem não ter sido este o propósito da norma. Assim, segundo esta corrente, estariam excepcionados da jornada reduzida dos jornalistas apenas aqueles que exercem funções expressas no art. 306 da CLT, aos demais se aplica a jornada de cinco horas diárias.

Há, em contrapartida, aqueles que têm entendido que sim47, sob o alicerce

de que em tendo o Decreto-lei regulamentado especificamente o exercício da profissão de jornalista, não se pode fazer dele letra morta.

Coaduna-se com esta segunda corrente, na medida em que, se à época, o Decreto-lei teve o poder, inclusive, de revogar uma série de dispositivos da CLT, poderia ele também agregar funções de confiança ao art. 306, que deve ser interpretado em conjunto com as demais disposições legais, mormente quando assim dispõe expressamente.

De mais a mais, parte-se da premissa de que a lei não traz palavras supérfluas e, portanto, não seria outro o intuito do legislador ao utilizar-se da expressão “funções de confiança” no âmbito do direito do trabalho que não o de atribuir-lhes tratamento diferenciado.

O Decreto n.º 83.284/79, regulamentador do Decreto-lei, por sua vez, ao descrever as funções atinentes à profissão de jornalista, suprime a expressão “funções de confiança” do dispositivo que as relaciona. Entende-se, entretanto, que, não houve revogação expressa do dispositivo anterior, pelo que permanece o mesmo em vigor.

Até porque, as novas funções descritas no Decreto-lei são de idêntica ou maior relevância do que aquelas que constam do rol da CLT. Por óbvio que, em decorrência da evolução da profissão de jornalismo, entre 1943, data em que editada a CLT, e 1969, quando passou a vigorar o Decreto-lei, novas funções foram

47 JORNALISTA. EDITOR-CHEFE. CARGA HORÁRIA SEM CONTROLE. As atividades exercidas pelo jornalista na condição de editor-chefe não se compatibilizam com carga horária controlada, aplicando-se-lhe a exceção do artigo 306 da CLT. Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região - Recurso ordinário – processo n.º 4436/2001. Recorrentes: RBS TV Florianópolis S.A.. Rel. Maria Aparecida Caitano. Florianópolis, SC, 31 de outubro de 2001.

criadas e, dentre elas, algumas que comportam alto grau de responsabilidade, como, por exemplo, a de editor.

Não há possibilidade, sob qualquer argumento, na estrutura de uma redação, de atribuir-se, por exemplo, ao subsecretário, função arrolada na CLT, nível hierárquico técnico superior ao do editor, função arrolada pelo Decreto-lei.

Tem-se, portanto, que o Decreto-lei, ao assim dispor, complementa o disposto no diploma consolidado, razão pela qual todos aqueles que desempenham as funções arroladas na CLT ou no Decreto-lei devem ser enquadrados como exercentes de cargos de confiança e, por conseguinte, atraem a incidência do art. 306 da CLT, que os excepciona da jornada legal dos jornalistas.

Superada esta questão, fundamental analisar-se o fato de serem as funções de confiança, arroladas, tanto na CLT como no Decreto-lei, taxativas ou exemplificativas.

Entende-se, em princípio, que o rol de funções constantes na CLT e no Decreto-lei é exaustivo e, portanto, não permite interpretações extensivas, ou seja, somente aqueles que desempenham efetivamente as funções arroladas não estão sujeitos à jornada de cinco horas.

Ocorre que, conforme referido acima, atualmente, em decorrência da modernidade da profissão e do próprio avanço tecnológico, mostra-se necessária a reavaliação das funções arroladas na legislação, inclusive, em relação as que se atribui o caráter de confiança.

Assim, revendo-se o entendimento da interpretação restritiva da norma, em razão da obsolescência da legislação e da remodelação da profissão, entende-se por viável o enquadramento de novas funções na exceção de cargo de confiança quando de relevância técnica semelhante ou superior àquelas arroladas em lei. Hipótese em que deverão ser analisadas a responsabilidade técnica da função e a liberdade com que o jornalista conduz o seu trabalho, o que, por sua vez, irá conduzir à verificação da confiança que o empregador deposita no profissional.