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71 RADIALISTA EXERCÍCIO CONCOMITANTE DE FUNÇÕES PERTENCENTES A SETORES DISTINTOS JORNADAS COM LIMITES DIFERENTES APURAÇÃO DE HORAS EXTRAS.

5.2 As organizações comunicacionais

A transformação da tecnologia utilizada pelos veículos de comunicação, que fez com que as legislações se tornassem obsoletas ao descreverem funções eminentemente técnicas e vinculadas aos equipamentos do momento. Implicou, também, alteração da estrutura administrativa e societária das empresas de comunicação, o que irá afetar diretamente os profissionais radialistas e jornalistas, em razão das mudanças de padrões da relação de emprego. 111

As empresas de comunicação, em sua grande maioria, atuam sob a forma de grupos econômicos112 e/ou de atuação em redes.

Não raro se observa que proprietários de jornais também tenham domínio sobre rádios e televisões.

Em que pese as regras acerca do limite de concentração de propriedade de meios de comunicação, no Brasil, por força do Decreto-lei 236/67, é possível que uma mesma pessoa física ou jurídica113, direta ou indiretamente, detenha, no 111 TEIXEIRA, Sérgio Torres. O novo modelo de relação de emprego – repercussões das inovações tecnológicas sobre os elementos estruturais do vínculo empregatício. In: Revista LTr, São Paulo, v. 60, n. 10, p. 1309-1312, out. 1996. “...a adoção da automação e outras inovações tecnológicas, se revela imprescindível ao desenvolvimento da moderna empresa, sendo essencial à sobrevivência da entidade empregadora dentro de um mercado econômico global cada dia mais competitivo.”

112 Para efeitos deste estudo, considera-se o mais amplo conceito de grupo econômico de empresas, ou seja, quando há uma relação de subordinação entre empresa controladora (na forma de holding, por exemplo) e subordinadas, quando há apenas relação de coordenação entre empresas, formal ou informal, ou, ainda, quando as empresas contam com acionistas em comum.

113 SANTOS, Lourival, NASCIMENTO, Amauri Mascaro Op. cit., p. 412-418. (1) A partir da Emenda Constitucional n.º 36, de 28 de maio de 2002, permitiu-se que o capital das empresas jornalísticas ou de radiodifusão, seja de titularidade de pessoa jurídica brasileira (o que autorizou a criação de

holdings e o agrupamento de várias empresas) e seja indiretamente, já que por intermédio de pessoa

jurídica brasileira, detido por estrangeiros, observado o limite máximo de 30% do capital social. Referida emenda constitucional alterou o artigo 222 da Constituição Federal que, anteriormente, determinava que a propriedade de referidas empresas fosse exclusiva de pessoas físicas brasileiras, autorizando-se apenas a participação de pessoas jurídicas também brasileiras no limite de 30% do capital social por meio de ações preferenciais e, portanto, sem direto a voto. (2) Em severa crítica às restrições anteriormente impostas pela Constituição Federal, quanto à abertura ao capital estrangeiro, Santos e Nascimento assim pronunciam-se: “As restrições à livre capitalização de empresas jornalísticas e de radiodifusão, inseridas por Vargas no texto constitucional de 34 em relação às antigas agências noticiosas, e que até hoje persistem no art. 222 da atual Constituição, embaladas por xenofobias insustentáveis, são fatores de enorme prejuízo à expansão e ao desenvolvimento dessas atividades dentro do cenário atual, no qual a globalização, o grande avanço tecnológico e dos meios de comunicação não dão mais lugar a isolamentos retrógrados”.

máximo, cinco televisões no país (no máximo duas em cada Estado e uma por localidade), duas rádios AM no país (sendo que uma em cada localidade) e, ainda, seis rádios FM (uma em cada localidade).

Não há restrição numérica ou geográfica quanto à propriedade de empresas jornalísticas. E, da mesma forma, não vigora a regra de proibição de propriedade cruzada, ou seja, é possível possuir vários tipos de veículos de comunicação, dentro dos limites legalmente estabelecidos, em uma mesma localidade.

Diante desta possibilidade, ainda que restrita, verifica-se uma concentração cada vez maior da indústria da mídia nas mãos de grandes organizações.

E por qual razão as inovações tecnológicas influem na estrutura organizacional das empresas de comunicação, especialmente no que diz com a formação de grupos econômicos ligados ao setor?

Ora, trata-se de uma via de mão dupla, pois ao mesmo tempo em que o avanço da tecnologia fez com que as empresas de mídia tradicionais se aproximassem uma das outras, na busca de maior qualidade e aperfeiçoamento em matéria de comunicação, essa aproximação estimulou a convergência tecnológica, pela qual todas as mídias (impressa114, eletrônica115 e interativa116) se fundem em um

ambiente multimídia, unindo áudio, vídeo e texto simultaneamente. Segundo Joseph Straubhaar117:

...a tendência de longo prazo parece não ser a proliferação de canais dedicados e especializados como esse, mas sim redes integradas de alta capacidade que combinem muitos canais e formatos de mídia – áudio, vídeo, texto e imagem. (...) Uma implicação importante é que muitos formatos híbridos de mídia, combinando áudio, vídeo, texto e imagem, devem emergir, ofuscando totalmente a antiga distinção entre rádio, televisão, imprensa, cabo e telefone.

114 Por mídia impressa entende-se a atividade de edição e publicação de conteúdo, na forma escrita em meio papel. Ex.: jornais e revistas.

115 Veiculação e disponibilização de conteúdo a ser distribuído por intermédio da radiodifusão sonora e de sons e imagens. Ex.: televisão e rádio.

116 Veiculação ou disponibilização de conteúdo através de redes em qualquer meio físico e, em especial, Internet, que permita a comunicação bidirecional e interativa com usuários através de telefones, televisores, telefones celulares e similares, excluídas a radiodifusão digital de televisão e a transmissão de sinais de televisão convencionada através de satélites e cabos.

Atentos à necessidade cada vez mais próxima de atuação multimídia, as empresas de comunicação não poupam esforços em atuar conjuntamente em todas as mídias, reunindo-se em grupos econômicos com atividades comuns que visam resultados operativos semelhantes e facilitam o acesso à nova tecnologia.

Antes mesmo da atuação sob forma de grupos econômicos, sob forte influência do regime militar, que pretendia irradiar as informações de forma centralizada e a um maior número possível de cidadãos, o rádio e a televisão, de forma independente, financiados pelo governo da época, foram estimulados a organizar-se em grandes redes118, com maior capacidade de difusão.

A transmissão em rede inicia-se por meio de linhas telefônicas, pelas quais se tornava possível a conexão com outras estações de rádio, o que à época importava em grandes investimentos e, portanto, não alavancou.

Foi somente na década de 80, com a criação de redes via satélite, que permitiam a captação da programação a ser retransmitida por meio de parabólicas, que o conceito de redes de rádio e televisão consolidou-se. Posteriormente, a Embratel lançou um sistema de microondas – Radiosat - também de retransmissão por satélite, que oferece um serviço de baixo custo e de maior qualidade. A partir de então várias redes surgiram no país, tanto nacionais como regionais.

As redes de rádio ou televisão podem valer-se, para efeito de retransmissão de programação, de estações próprias, com proprietários em comum, ou de emissoras afiliadas, sem qualquer vinculação societária.

Da visão das grandes redes, separadas por mídias específicas – rádio e televisão – de forma independente, surge o conceito das organizações comunicacionais, que permite a aproximação, ainda que não em forma de rede, das diversas formas de mídia, antevendo e contribuindo para grande revolução tecnológica, qual seja, a atuação em ambiente multimídia.

Viu-se, pois, que o telefone e, posteriormente, o satélite tornaram possível que rádios e televisões, de forma independente, atuassem em rede, alterando as estruturas das empresas de comunicação e permitindo a maior difusão de informações, em nível nacional ou regional.

118 Ibid., p. 61. “Redes eram o grupo de estações que centralizavam a produção e a distribuição de programas e transmitiam a maioria dos mesmos programas e anúncios”.

Das redes e da aproximação das mídias em função dos computadores surgem os grupos econômicos comunicacionais, que também irão influenciar na atividade desenvolvida pelos profissionais radialistas e jornalistas.

Inegáveis, portanto, as transformações que ocorreram nos meios de comunicação de massa (e também em todas as áreas da experiência humana) e, conseqüentemente, na própria sociedade, em especial após o surgimento e a convergência com novas tecnologias.