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Estabelece o artigo 7º, inciso XXX, da vigente Constituição Federal, o princípio da isonomia salarial para aqueles que exercerem as mesmas funções.

A legislação específica dos jornalistas nada refere a este respeito, caso em que aplica-se subsidiariamente a Consolidação das Leis do Trabalho.

Pelo que, em primeira análise, conclui-se que, aos jornalistas, por força do artigo 8º, parágrafo único, da CLT, neste particular, é atraída a incidência do artigo 461 do mesmo diploma legal, que exige pagamento de igual salário aos profissionais que exercem, para o mesmo empregador e na mesma localidade, funções idênticas, com a mesma produtividade e perfeição técnica, com diferença de tempo de serviço não superior a dois anos.

A questão que se impõe em relação ao princípio da isonomia salarial é a da (im)possibilidade de sua aplicação para aqueles que exercem atividades tipicamente intelectuais ou artísticas48.

A situação parecia estar superada com a edição da Orientação Jurisprudencial n.º 298 da SDI -1 do TST49, porém, pelos seus próprios termos, ao

atrelá-la a comprovação de requisitos objetivos, permaneceu em aberto.

Fato é que o jornalista, conforme, inclusive, seu conceito legal (art. 302, § único da CLT), indubitavelmente, é enquadrado como trabalhador intelectual, razão pela qual se traz a tona esta discussão. Isto porque as atividades desempenhadas por jornalistas não são essencialmente técnicas, já envolvem também criatividade e imaginação.

Em análise ao artigo 461 do diploma consolidado verifica-se que o mesmo não despende tratamento diferenciado à atividade intelectual, portanto, em tese, também é aplicado a estes trabalhadores.

Ocorre que um dos requisitos para a imposição da isonomia salarial é o trabalho de igual valor, que impõe igual produtividade e perfeição técnica. Entende-

48 Categoria especial de empregados é constituída pelos trabalhadores intelectuais, que se denominam, também, profissionais. São aqueles empregados cujo trabalho supõe uma especial cultura científica ou artística. (in Curso de Direito do Trabalho, Orlando Gomes e Edson Gottschalk, p. 97)

49 Equiparação salarial. Trabalho intelectual. Possibilidade. Desde que atendidos os requisitos do art. 461 da CLT, é possível a equiparação de trabalho intelectual, que pode ser avaliado por sua perfeição técnica, cuja aferição terá critérios objetivos.

se, entretanto, que não há como aferir igualdade de valor nas atividades intelectuais, vez que estritamente vinculado a critérios subjetivos.

No entender de Arnaldo Süssekind50:

Não obstante de aplicação geral, certo que, na prática, a regra de salário igual para trabalho de igual valor dificilmente poderá determinar a equiparação salarial entre empregados cujo trabalho seja de natureza intelectual ou artística. É que o valor da prestação de serviços intelectuais ou artísticos não pode ser aferido por critérios objetivos, dificultando, senão impossibilitando, a afirmação de que dois profissionais empreendem suas tarefas com igual produtividade e a mesma perfeição técnica. Entre dois advogados de uma empresa, dois cantores de uma emissora radiofônica, dois atletas profissionais de uma equipe de futebol poder-se-á verificar se o trabalho realizado é de igual valor? Cremos que não.

Não restam dúvidas de que a capacidade de criação, de imaginação e de execução de matérias e conteúdos por parte dos jornalistas é analisada para efeitos de atribuição de maior ou menor remuneração ao profissional. Certo é também que referidos critérios são de difícil mensuração, vez que não possuem traços objetivos.

A quantidade de matérias produzidas, por exemplo, não pode ser fator determinante para impor salário de igual valor aos jornalistas empregados, haja vista, muitas vezes, não ser este o critério decisivo para a fixação de sua remuneração.

Assim, considerando que a equiparação salarial só tem lugar com ocorrência de todos os requisitos estabelecidos no art. 461 da CLT e considerando que um deles refere-se à valoração qualitativa do trabalho desempenhado, tem-se por inviável a sua aplicação àqueles que prestam serviços de natureza intelectual ou artística, como é o caso dos jornalistas, na medida em que sua aferição depende de critérios subjetivos51.

Em que pese este entendimento, a aplicação do instituto da equiparação salarial aos exercentes de funções tipicamente intelectuais não se mostra pacífica entre os Tribunais Regionais do Trabalho52.

50 SÜSSEKIND, Arnaldo, Op, cit., p. 431.

51 TRABALHADOR INTELECTUAL E ARTÍSTICO. EQUIPARAÇÃO IMPOSSÍVEL. A equiparação entre empregados que prestam serviços de natureza intelectual ou artística torna-se impossível, visto que a aferição acaba permanecendo na esfera subjetiva de quem avalia. Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região – Recurso Ordinário – processo n.º 6679/96. Recorrente: Francisco Nogueira de Carvalho Neto. Rel. Maria Aparecida Caitano. Florianópolis, SC, 29 de agosto de 1997.

52 EQUIPARAÇÃO SALARIAL. ADVOGADO. POSSIBILIDADE. Não obstante a dificuldade de mensuração das atividades de advogado, porque eminentemente intelectual, uma vez comprovada a identidade de funções entre autor e paradigma, com a mesma produtividade e perfeição técnica,

Assim, especificamente em relação aos jornalistas, se considerada a possibilidade de incidência da isonomia salarial aqueles que desempenham atividades de caráter intelectual, faz-se necessário estabelecer-se a distinção funcional entre profissionais que atuam em diferentes editorias.

Isto porque, a grande maioria dos veículos de comunicação tem sua redação dividida em várias editorias (política, economia, esportes, polícia, geral, variedades, etc.), que contam com profissionais de diferentes níveis de qualificação e especialização, de acordo com a sua complexidade.

É cediço que na estrutura de uma empresa jornalística existem áreas de maior e menor relevância para o editorial do jornal, o que conduz a um desnivelamento remuneratório entre os profissionais vinculados a uma ou outra editoria, em que pese contratados para o exercício da mesma função.

A jurista Alice Monteiro de Barros53 traz à tona a questão, ao analisar a

possibilidade de equiparação dos profissionais jornalistas:

Acontece que, quando o desempenho da função exige predicados pessoais que não sejam apenas técnicos ou também um elevado grau de intelectualidade, mais difícil se torna a avaliação da igualdade qualitativa dos trabalhos, capaz de autorizar o nivelamento remuneratório. É que o trabalho intelectual poderá conter fatores insuscetíveis de equiparação, como estilo literário, imaginação e diferenças culturais que caracterizam o autor. Por outro lado, a atividade intelectual possui outros elementos que são suscetíveis de parâmetro, como os trabalhos acadêmicos, cuja perfeição técnica poderá ser aferida, daí a dificuldade para se deferir a equiparação entre jornalistas, por exemplo. (...) Se, contudo, não obstante a identidade de nomenclatura do cargo (repórter), restar comprovado que as funções inerentes a ele eram diversas, sendo um empregado repórter esportivo e o outro responsável por matéria de editoria geral, a equiparação salarial não poderá prevalecer.

Portanto, ainda que se julgue viável a incidência da isonomia entre profissionais jornalistas, para que a mesma se configure indispensável que a aferição de seus requisitos somente se dê em relação aos profissionais integrantes da mesma editoria da qual fazem parte. Sustenta-se, pois, ser inaplicável o princípio da isonomia salarial, na hipótese de empregados jornalistas contratados para o

cabível o pedido de diferenças salariais. Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região – Recurso Ordinário – processo n.º 4320/2000. Recorrentes: Rycharde Farah e IAB – Assessoria Tributária Ltda. Rel. Telmo Joaquim Nunes. Florianópolis, SC, 9 de novembro de 2000.

53 In Contratos e regulamentações especiais de trabalho: peculiaridades, aspectos controvertidos e tendências. São Paulo: LTr Editora, 2001, p. 198.

exercício da mesma função pela mesma empregadora, mas integrantes de editorias distintas. 54

54 EQUIPARAÇÃO SALARIAL. REPÓRTER ESPORTIVO – REPÓRTER DE EDITORIA GERAL. É