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A Lei 6.615/78, em seu art. 31, exclui a Administração Pública, direta e indireta, da obrigação de ter visados, pelo sindicato profissional, os contratos por prazo determinado, e também lhe retira a exigência de contribuição assistencial prévia em decorrência de contratação de estrangeiro domiciliado no exterior.

O Decreto 84.134/79, por sua vez, além das duas situações acima referidas, estabelece que, quando sujeitos às normas que regulam a acumulação de cargos, empregos e funções na Administração Pública, aos empregados radialistas não se aplica a regra que prescreve o pagamento de adicional salarial pelo exercício acumulado de função.

Inova, pois, o Decreto regulamentador, ao negar a aplicabilidade da Lei, quanto aos adicionais por acúmulos, aos radialistas servidores da Administração Pública, direta ou indireta.

A primeira crítica que se impõe diante dessa restrição reside no fato de que o decreto regulamentador deveria estar subordinado à Lei que o regulamenta. Inexistindo, na lei, qualquer óbice ao pagamento de adicional por acúmulo de função a servidores públicos radialistas, não poderia o Decreto dispor de modo diverso.

Porém, a situação agrava-se na medida em que o inciso I, do art. 37, da vigente Constituição Federal estabelece que somente por meio de aprovação prévia em concurso público será admitida a investidura em cargo ou emprego público. E mais, o inciso XVI, do mesmo dispositivo, assim disciplina:

É vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI;

a) a de dois cargos de professor;

b) a de um cargo de professor com outro, técnico ou científico;

c) a de dois cargos privativos de médico; (Redação dada ao inciso pela Emenda Constitucional n.º 19/98).

Ora, em sendo expressa a Lei Maior no sentido de vedar a acumulação remunerada de cargos públicos, entende-se, da mesma forma, não ser permitida a acumulação de funções previstas na legislação específica, mediante pagamento de adicional.

Estar-se-ia, novamente, diante do princípio da recepção das leis vigentes antes da promulgação da Constituição, pelo qual, em razão da contradição existente entre as normas, não teria aplicabilidade o dispositivo que determina a remuneração pelo exercício acumulado de funções, não constasse essa proibição da Lei Maior vigente à época em que editada a legislação específica.

Assim, entende-se que, desde sempre, o dispositivo em questão mostrou-se contrário aos princípios da administração pública, sendo, pois, inexigível.

Por esta razão, sustenta-se que o Decreto regulamentador, ao estabelecer nova exceção relativamente aos profissionais radialistas atuantes na Administração Pública, sem submissão à norma regulamentada, agiu bem, no intuito de respeitar a hierarquia das normas e de evitar a subversão de princípios constitucionais.

Logo, além do art. 13 da Lei 6615/778, tem-se por inaplicável, aos profissionais vinculados à Administração Pública, também o seu art. 14, que, na mesma linha, exige a dupla contratação em razão de acúmulo de funções em setores distintos.

Este é o procedimento que vem sendo adotado pela Administração Pública relativamente à matéria em apreço. Entretanto, a matéria não apresenta pacífico entendimento perante o Poder Judiciário.

Há, neste âmbito, quem defenda estar correto o modo de proceder dos órgãos estatais, no sentido de que, havendo expressa vedação constitucional quanto à acumulação de cargos na Administração Pública (art. 37, XVI, CF/88) e expressa exclusão de aplicação do dispositivo (art. 35, do Decreto n.º 84.134/79), ainda que

demonstrado o acúmulo de funções, o adicional respectivo não alcança os profissionais radialistas servidores públicos.2021

Em contrapartida, existem decisões que, embora declarem antijurídica e ilegal a prática de exercício acumulado de funções na administração pública, inclusive por parte dos radialistas a ela vinculados, por afrontar os incisos I e XVI do artigo 37, da Constituição Federal, declarando-a nula, defendem, ainda assim, ser devido o adicional por acúmulo de função ao trabalhador, a título de indenização, com fundamento nos princípios da primazia da realidade e de proteção ao hipossuficiente, norteadores do direito do trabalho.

Assim, entendem não ser possível admitir que, por força da má condução do gestor público, permissiva de prática ilegal, seja o empregado prejudicado. 22

Analisando ambos os entendimentos, conclui-se pela melhor adequação do primeiro, não só à regra constitucional, mas ao artigo 8º da Consolidação das Leis do Trabalho, que prevê a prevalência do interesse público sobre o particular.

Ressalta-se, ainda, que a acumulação de funções regulada pela legislação específica dos radialistas, em mesmo ou diferente setor, não importa em maior exigência e esforço por parte do trabalhador, uma vez que realizada com simultaneidade de horário e local de trabalho, não se constitui, pois, em prejuízo ao trabalhador.

Poderá residir aí, a resistência oferecida à revisão legislativa que se impõe, na medida em que o Poder Público não se acha afetado pelo debate acerca da dicotomia entre a norma e a realidade que aquela pretende regular.

20 Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso Ordinário - processo n.º 01243.2001.012.04.00.2. Recorrentes: Edgar Alves Martins e Fundação Cultural Piratini – Rádio e Televisão. Rel. Ana Luiza Heineck Kruse. Porto Alegre, RS, 04 de maio de 2005.

21 Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso Ordinário - processo n.º 00444.017/99-2. Recorrentes: Luiz Carlos Tomaz. Rel. Nelson Júlio Martini Ribas. Porto Alegre, RS, 07 de outubro de 2002.

22Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso Ordinário - processo n.º 01538.2002.261.04.00.6. Recorrentes: Município de Taquari e Maria Cleci Müller. Rel. João Alfredo Borges Antunes de Miranda. Porto Alegre, RS, 07 de novembro de 2005.