• Nenhum resultado encontrado

71 RADIALISTA EXERCÍCIO CONCOMITANTE DE FUNÇÕES PERTENCENTES A SETORES DISTINTOS JORNADAS COM LIMITES DIFERENTES APURAÇÃO DE HORAS EXTRAS.

4.3 Direitos autorais

4.3.3 O titular do direito

Verificada a questão do objeto tutelado pelo sistema jurídico autoral vigente, a questão que se impõe, ao analisar o direito autoral nas relações de emprego, diz com a titularidade dos mesmos, ou seja, se as obras produzidas pelo empregado no curso do contrato de emprego e no exercício da função contratada pertencem a ele ou a sua empregadora.

Sob este aspecto, primeiramente, estabelecer o conceito de autor que, em conformidade com o artigo 11 da Lei 9610/98 é “pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica”. Estabelece, ainda, referida legislação que “a proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas”.

O autor é, portanto, o criador da obra intelectual, “é aquele de quem nasce, procede a obra, a sua causa eficiente, é seu criador”90.

Sobre os sujeitos de direitos autorais, aliás, Bittar91 refere que:

Embasada no fenômeno da criação, a teoria do sujeito consagra fato da natureza, reconhecendo aquele que plasma a obra no mundo material os direitos correspondentes. Portanto, sujeito de direitos é o criador, ou seja, aquele que introduz no cenário fático obra estética não existente antes.

90 HAMMES, Bruno Jorge. Curso de direito autoral. Coordenador: Alberto André. Porto Alegre, Ed. da Universidade, UFRGS, 1984, p. 53.

Considera-se também, ex vi legis, como criadora a pessoa que coordena e dirige diferentes trabalhos intelectuais de outrem, unidos em uma mesma concepção final incindível. Nesse caso, pelo caráter intelectual do trabalho de direção, pode pessoa jurídica vir a ser titular de direitos, na denominada obra coletiva, restringindo-se à condição de elaboradores materiais os participantes, a menos que o resultado da colaboração individual constitua obra estética autônoma (como em música que integre um filme). (...)

Verifica-se, pois, que o sistema autoral vigente confere, inclusive, à pessoa jurídica a titularidade destes direitos, especialmente ao atribuir-lhe a possibilidade de criação de obra coletiva, em que se lhe atribuem os direitos autorais morais e patrimoniais.

Estabelece, ainda, a legislação a possibilidade de o direito patrimonial de autor ser cedido, total ou parcialmente, a terceiros. Assim, também poderão ser titulares de direitos autorais patrimoniais os terceiros beneficiários desta transferência. A titularidade dos direitos autorais, em caso de morte do autor, será transmitida, no âmbito autoral e patrimonial, a seus sucessores.

Cumpre assinalar, portanto, neste aspecto, que a criação da obra confere ao seu autor a titularidade originária, mas que essa também pode ser de cunho derivado, ao ser transferida a terceiro por força de contrato ou a herdeiros em razão de direitos sucessórios.

Com relação aos jornais e revistas propriamente ditos, a doutrina, em geral, classifica-os como obras coletivas. Portanto, em relação à titularidade das obras intelectuais insertas em periódicos, há de se observar o conceito legal de obra coletiva: “a criação por iniciativa, organização ou responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que a publica sob o seu nome ou marca e que é constituída pela participação de diferentes autores, cujas contribuições se fundem numa criação autônoma” (art. 5, VIII, h).92

Em análise ao conceito atribuído pela legislação à obra coletiva, não restam dúvidas que jornais e revistas podem ser assim enquadrados. Portanto, neste caso, a titularidade de direitos autorais morais e patrimoniais é atribuída ao empregador.

92 ASCENSÃO, José de Oliveira. Op.cit., 1997, p. 88. “Exemplo acabado de norma coletiva é um jornal. Uma pluralidade de obras, cada uma com o respectivo autor, é reduzida a uma unidade de orientação, de tratamento dos temas, de significado, através de uma entidade central – a empresa jornalística”.

Em consonância com o art. 5º, XXVIII, da Constituição Federal, a legislação específica estabelece que a titularidade dos direitos autorais de obra coletiva cabe a seu organizador, porém, ao mesmo tempo, assegura sejam protegidas as participações individuais.

Bittar Filho93, ao discorrer sobre a proteção às participações individuais em

obras coletivas, ressalta:

Cuida-se de orientação legal de grande relevo, pois que, além da tutela dispensada ao conjunto da obra, fica sob o pálio protetor do Direito Autoral toda e qualquer “parte descartável” veiculada por meio da criação maior. Ora, é por meio da imprensa diária e periódica que são publicadas inúmeras criações do espírito, tais como obras fotográficas, desenhos, gravuras, charges e artigos científicos.

Assim, em sendo possível individualizar a participação de um dos autores da obra coletiva, a esse são assegurados os direitos autorais.

Ainda em relação às obras jornalísticas, o artigo 36 da Lei 9.610/98, assim dispõe:

O direito de utilização econômica dos escritos publicados pela imprensa, diária ou periódica, com exceção dos assinados ou que apresentem sinal de reserva, pertence ao editor, salvo convenção em contrário.

Parágrafo único – A autorização para utilização econômica de artigos assinados, para a publicação em diários ou periódicos, não produz efeito além do prazo da periodicidade, acrescido de vinte dias, a contar da sua publicação, findo o qual recobra ao autor o seu direito.

A legislação mostra-se, portanto, confusa, pois, ao mesmo tempo em que afirma ser do editor da obra a titularidade dos direitos patrimoniais, quando coletiva, e garante ao autor da obra individual o direito de cessão plena dos direitos patrimoniais, intervém na liberdade de contratação, restringindo temporalmente a transferência de direitos em caso de artigos assinados a serem publicados pela imprensa.

Segundo Santos e Nascimento94 o dispositivo em questão afronta o sentido

maior da legislação específica, na medida em que trata de forma desigual as obras assinadas e as obras anônimas.

93 BITTAR FILHO, Carlos Alberto. Op. cit., p. 151-152, mar. 2002.

94 SANTOS, Lourival J. dos, NASCIMENTO, Amauri Mascaro. O direito autoral e o contrato de trabalho. Revista LTr: Legislação do Trabalho, v. 66, n. 4, p. 412-418, abr.2002

Ora, em sendo a identificação da matéria uma faculdade do autor, não se mostra viável que a opção entre assinatura ou anonimato interfira “na liberdade de futuras relações obrigacionais, desde que lícitas, pactuadas entre eles e terceiros”. Até porque, segundo a norma, poderá o autor reivindicar seja identificado a qualquer tempo, o que, segundo os mesmos juristas, “importaria em relevantes alterações das condições contratuais, em prejuízo ao terceiro e em afronta aos princípios constitucionais que protegem o direito adquirido e o ato jurídico perfeito”. Sustentam, ainda, que a distinção prevista em referido dispositivo legal somente deve ser aplicada aos casos de publicação, em obras coletivas, de obras individuais devidamente assinadas que não “tenham sido objeto de contratações explícitas quanto à sua utilização”. Situação em que o organizador ficará sujeito ao limite temporal de utilização estabelecido neste dispositivo legal.

Considerando-se, pois, a possibilidade de cessão plena de direitos autorais patrimoniais por parte do autor da obra, tem-se que não há possibilidade de tratamento diferenciado à obra jornalística em forma de artigos assinados.

Em relação à imprensa diária ou periódica, estabelece, ainda, a legislação, que não se constitui ofensa aos direitos autorais e, portanto, de livre utilização, a reprodução de notícias ou de artigos informativos, desde que informado o nome do autor, quando assinados, e de onde foram transcritos.

Com relação às empresas de radiodifusão, confere-lhes a legislação, ao tratar especificamente de direitos conexos, “o direito exclusivo de autorizar ou reproduzir a retransmissão, fixação e reprodução de suas emissões” (art. 88). Refere, ainda, na parte final deste dispositivo “sem prejuízo dos direitos dos titulares de bens intelectuais incluídos na programação”, donde se percebe a proteção dos direitos de autor propriamente ditos, inclusive direitos conexos, em criações intelectuais de profissionais radialistas, que, por ventura, estejam incluídas na programação.

Em relação à titularidade dos direitos autorais de criações caracterizadas como intelectuais insertas em programas de rádio e televisão, deve-se atentar também para situações em que caracterizada obra coletiva, hipótese em que os direitos autorais estarão sob o domínio de quem as produziu, assegurando-se, da mesma forma, a proteção às participações individuais.

Viu-se, pois, de acordo com a nova legislação, que, em princípio, todas as obras produzidas são de propriedade integral do autor, seja ele pessoa física ou pessoa jurídica, ressalvada a hipótese de obra coletiva antes tratada. E mais, a norma permite que o mesmo as disponibilize, facultando-lhe a cessão, total ou parcial, dos direitos autorais patrimoniais que lhe são incidentes.

4.3.4 Direito autoral nas legislações regulamentadoras dos profissionais jornalistas e