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4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.4 Os instrumentos de coleta de dados

4.4.1 A observação

A observação possibilita ao pesquisador alcançar determinadas feições da realidade, por esse motivo foi escolhida como um dos instrumentos desta investigação. Para LAKATOS (1996, p. 190), “[...] a observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar”.

A observação ocorreu em duas situações da dinâmica escolar: nos momentos de planejamento pedagógico e na sala de aula acompanhando a prática pedagógica das professoras escolhidas em situação de ensino da linguagem escrita.

Esta pesquisa tem a intenção de conhecer concepções e formas de organização do trabalho pedagógico com a linguagem escrita no contexto das diferenças. No momento do planejamento, os professores se reúnem para fazer escolhas. Essas escolhas estão baseadas em suas crenças pedagógicas norteando o delineamento do plano de aula. Por isso mesmo, este pode ser um momento revelador para o pesquisador.

O planejamento pedagógico é um momento privilegiado que “reflete a capacidade que o professor possui para planejar situações de ensino e aprendizagem” (MAURI e SOLÉ, 1996, p. ??). Pode ser considerada a situação escolar em que o professor realizará a seleção, organização e definição das rotinas que serão postas em prática no momento da aula. Destas escolhas decorrerá a atuação e as interações estabelecidas em sala com os alunos.

Por isso, a necessidade de observar o planejamento que antecedeu aos dias de inserção da pesquisadora em sala de aula com os sujeitos escolhidos. Foi observado um planejamento de cada professor. Estes ocorriam de modo parecido em todas as escolas. Era dividido em dois momentos: no primeiro, os professores tinham um período com o coordenador e/ou diretor para informes, tomadas de decisões quanto a eventos e a leitura de algum texto pedagógico.

No segundo momento, os professores podiam seguir para as suas salas ou permanecer na mesma para a seleção das atividades da quinzena. As atividades, nesta pesquisa, são entendidas como os recursos e dispositivos didáticos utilizados pelos professores para construir as habilidades em linguagem escrita, podem ser compreendidas quanto a forma: atividades digitadas, atividades do livro, jogos pedagógicos etc.; ou quanto a organização: individual, em duplas, em grupo.

Alguns professores preferiam permanecerem sozinhos em suas salas para planejar, outros se agrupavam em duplas ou trios. Essa reunião se dava mais por afinidade, não era algo planejado em função da proximidade das turmas ou por interesses pedagógicos em comum.

Como atualmente as escolas fazem parte do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, ao planejar as atividades de linguagem escrita, os professores utilizam como principal recurso as diretrizes do programa, os livros destinados ao professor e o caderno de atividades dos alunos. Baseavam-se ainda nas habilidades selecionadas para serem trabalhadas no trimestre. Estas habilidades estão descritas numa caderneta fornecida pela Secretaria Municipal de Educação. Nela, além das habilidades exigidas para trabalhar em cada ano/ciclo, os professores contam com um espaço para realizar os registros dos processos e evolução de cada aluno.

É nesta caderneta também que são elaborados três relatórios anuais: o primeiro é um diagnóstico com informações sobre como o aluno chegou ao professor, seu nível de desenvolvimento inicial. Os outros dois relatórios são elaborados ao final de cada semestre com o indicativo da evolução dos alunos.

A observação neste momento teve como base o Quadro de Observação do Planejamento (Anexo E). Tal quadro inspira-se nos critérios de “metas do planejamento” do grupo Ceale (Centro de alfabetização, leitura e escrita FaE/UFMG). As metas foram publicadas nos cadernos 6, “Planejamento da Alfabetização”, que compõem a coleção “Instrumentos de Alfabetização”. A coleção é formada ainda por outros sete cadernos que objetivam colaborar para a organização do trabalho pedagógico focando nos três primeiros anos do ensino fundamental. O cadernos 6 propõe a discussão sobre como preparar o trabalho na escola e em sala de aula visando a alfabetização e letramento.

Pela orientação do quadro, foi possível perceber se havia uma escolha intencional do professor ao decidir sobre cada atividade e sua finalidade. A Tabela 01 resume a finalidade das atividades planejadas no período de observação. São 25 atividades, sendo 5 de cada professor.

Tabela 01 – Critério para seleção das atividades/habilidades

CRITÉRIOS 25 ATIVIDADES OBSERVADAS

Introduzir 0%

Retomar/ Trabalhar sistematicamente 88%

Consolidar 12%

As atividades escolhidas para desenvolver as habilidades selecionadas para o trimestre visavam em sua maioria retomar/trabalhar sistematicamente. A justificativa das professoras para a não introdução de novas habilidades foi por estar em fase de finalização do ano letivo. As professoras identificaram a necessidade de retomada do trabalho com algumas habilidades.

Em se tratando de crianças do 1º ano que estão iniciando seu processo sistemático de alfabetização, algumas habilidades necessitarão serem retomadas nos anos subsequentes, por isso não serão consolidadas neste primeiro momento. Isso justificaria o baixo número de atividades/habilidades a serem consolidadas.

Entre as atividades/habilidades que foram retomadas e trabalhadas sistematicamente estavam: leitura de texto de diferentes gêneros, reconhecimento de alguns gêneros literários, localização de informações nos textos, reconhecimento de rimas, escrita de textos com auxílio ou autonomamente, reescrita de textos de memória. Entre as atividades/habilidades a serem consolidadas estavam aquelas relacionadas a: reconhecimento do alfabeto, reconhecimento e escrita do nome próprio, reconhecimento de alguns gêneros textuais, reescrita de alguns gêneros que se têm de memória, entre outras.

A segunda situação de observação ocorreu na sala de aula, logo após a observação do planejamento e somente durante as situações de ensino da linguagem escrita. Foram observadas cinco aulas com cada uma das professoras, totalizando vinte e cinco aulas observadas. As cinco aulas foram observadas num período de duas semanas para cada sujeito, totalizando oito semanas de observação em sala de aula.

As atividades de linguagem escrita eram realizadas sempre no primeiro momento do dia, e tomavam todo o tempo anterior ao recreio. Nesse período, as atividades eram distribuídas de acordo com os quatro tempos didáticos descrito no material do pacto: 1 – tempo para gostar de ler; 2 – tempo leitura e oralidade; 3 – tempo de aquisição da escrita; 4 – escrevendo do seu jeito.

Foto 01: Cartaz com os tempos didáticos.

Fonte: Dados da Pesquisa (2012).

Para Lakatos (1996), o procedimento de observação tem um caráter sistemático, logo, deve ser consciente, dirigido e ordenado para uma finalidade específica. Para dar a este momento de observação um caráter de maior rigor, foi utilizada como referência a Escala de observação de práticas pedagógicas diferenciadas (Anexo G), no contexto de realização das mediações do ensino da linguagem escrita.

Esta escala permitiu um maior embasamento no processo de avaliação das atividades diferenciadas desenvolvidas pelas professoras observadas. Foi criada a partir dos estudos realizados por Wang (1992), Perrenoud (1999), Poulin e Cleary-Bacon (2003). O GAD (Gestão da Aprendizagem na Diversidade - UFC) adaptou a escala à realidade das escolas e da educação brasileira.

A escala é constituída de quatro eixos: organizar e dinamizar situações de aprendizagem; gerir a progressão das aprendizagens; conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciação; implicar os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho. Em cada eixo, encontramos enunciados relativos a nove estratégias.

A escala utilizada nessa pesquisa teve como base ainda o trabalho desenvolvido por Soares (2011). No total foram investigadas 79 estratégias, aquelas mais relevantes aos objetivos dessa pesquisa.

Cada estratégia foi avaliada levando em consideração quatro conceitos: 1

Ausente: significa que o comportamento ou a atitude não se manifesta ou, ainda, o dispositivo

se manifesta raramente ou se manifesta de forma inadequada quando convém que esteja presente ou, ainda, o dispositivo de apresenta de forma inadequada ou incompleta; 3 –

Parcialmente: significa que a atitude ou comportamento se manifesta com uma frequência

irregular ou de forma parcialmente adequada quando convém que esteja presente ou, ainda, que o dispositivo se apresenta de forma parcialmente adequada ou parcialmente completa; 4 –

Presente: significa que o comportamento ou atitude se manifesta sempre ou quase sempre

quando convém que esteja presente ou, ainda, o dispositivo se apresenta de forma adequada ou completa.

Com a observação do planejamento e das cinco aulas, pudemos identificar os procedimentos didáticos elaborados pelas professoras para atender as diferenças. Permitiu ainda confrontar suas concepções com suas práticas.

As impressões, fatos e fenômenos observados, tanto no momento do planejamento quanto na sala de aula, foram registrados no diário de campo. Somente a escola 1 autorizou a pesquisadora a tirar fotos nos momentos de observação. As demais escolas alegaram que precisariam enviar um comunicado aos pais pedindo autorização, mas até o fim da realização da pesquisa a autorização não foi liberada.