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4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.4 Os instrumentos de coleta de dados

4.4.2 As entrevistas

A entrevista foi pensada como um instrumento necessário para realização desta pesquisa pelo seu poder de revelar fatos que pertencem à subjetividade dos sujeitos pesquisados, assim como um instrumento que permitiu ao pesquisador elucidar e aprofundar questões.

Foram realizados dois tipos de entrevistas em dois momentos distintos: 1 – Entrevista Narrativa;

2 – Entrevista de Explicitação.

A entrevista narrativa é iniciada por uma questão geradora que se refere diretamente ao aspecto que se deseja explicitar, por isso a questão precisa ser formulada com clareza, deve ser ainda “específica o suficiente para que o domínio experimental interessante seja seguido como tema central” (FLICK, 2004, p. 38).

Acreditamos que os professores constroem suas práticas com base em diversas referências como: a trajetória escolar, acadêmica e o ambiente de trabalho, por isso mesmo, instigar para

[...] que ele organize narrativas destas referências é fazê-lo viver um processo profundamente pedagógico, onde sua condição existencial é o ponto de partida para a construção de seu desempenho na vida e na profissão. Através da narrativa ele vai descobrindo os significados que tem atribuído aos fatos que viveu e, assim, vai reconstruindo a compreensão que tem de si mesmo. (CUNHA, 1997, p. 12).

Ao falar sobre sua prática, narrar sobre suas escolhas, os caminhos e as motivações que o conduziram ao exercício profissional em uma turma do primeiro ano do ensino fundamental, as professoras revelaram em seus enunciados fatos importantes e elementos que fundamentam suas concepções de ensino e a percepção que possuem a respeito das diferenças que enfrentam diariamente ao lidar com as crianças em sala de aula, manifestaram suas representações a respeito da questão. Para Cunha (op. cit.),

Trabalhar com narrativas na pesquisa e/ou no ensino é partir para a desconstrução/construção das próprias experiências tanto do professor/pesquisador como dos sujeitos da pesquisa e/ou do ensino. Exige que a relação dialógica se instale criando uma cumplicidade de dupla descoberta. Ao mesmo tempo que se descobre no outro, os fenômenos revelam-se em nós. (grifos do autor).

Desta forma, informações que compuseram o passado apresentam-se num todo na narrativa do presente. Ao buscar na memória o que dizer, quais elementos narrar sobre sua história, é comum o caráter de seletividade, desta forma, as professoras podem trazer à tona determinados aspectos de suas vidas e omitir outros; é a forma como se reconstroem e como pretendem ser compreendidas. Entendemos que, nesse processo, as professoras também buscam ajustar suas falas às expectativas do interlocutor e em muitos momentos pode escolher falar sobre aquilo que acredita que o pesquisador deseja ouvir.

Para chegar às narrativas, foi preciso considerar alguns aspectos conforme designação de Flick (2004):

 Deixar claro para o entrevistado quais os desígnios da questão, deixando que ele fale pelo tempo que achar necessário;

 Esperar o entrevistado concluir completamente sua fala para que sejam realizadas intervenções ou perguntas mais diretas se necessário;

 A questão gerativa deve ser capaz de manter o foco no aspecto biográfico relevante para o problema de pesquisa.

A entrevista narrativa foi realizada após a aproximação com as professoras e antes da observação em sala. As falas foram registradas por meio de gravação de áudio. Os enunciados colhidos serviram de base para análise da relação entre as concepções e as práticas pedagógicas, considerando que “as apreensões que constituem as narrativas dos sujeitos são a

sua representação da realidade e, como tal, estão prenhes de significados e reinterpretações” (CUNHA, 2009, p.15).

As narrativas produziram relatos biográficos sobre as memórias enquanto estudantes, as escolhas que conduziram à profissão de docente, o processo de formação, as concepções pedagógicas, a percepção de si enquanto profissional, as dificuldades da carreira e da sala de aula, entre outros aspectos. Ao proceder à análise do conteúdo das narrativas utilizamos como referencial a proposta teórico-metodológica desenvolvida por Poirier, Valadon e Raybaut (1999), que sugerem seis etapas que vão da classificação até a compreensão dos dados quando se trabalha na perspectiva da história de vida.

A entrevista de explicitação foi realizada com os cinco sujeitos que participaram do momento de observação em sala. O modelo de entrevista de explicitação foi concebido para produzir uma verbalização introspectiva detalhada da ação, inclusive ações mentais, a

posteriori de uma vivência específica (VERMESCH, 1994). As questões abordadas pelo

entrevistador ajudam o sujeito entrevistado a entrar em contato consigo mesmo, acessar conhecimentos implícitos, promover sua verbalização e tomar de consciência de algumas situações.

Este tipo de entrevista possibilita uma flexibilização em seu roteiro e à medida que as informações forem sendo emitidas pelo entrevistado, o entrevistador pode intervir no sentido de ampliar o esclarecimento sobre a questão. Por isso mesmo, foi realizada ao final de cada período de observação, pois nesse tempo já havia dados suficientes que favoreceram maiores intervenções por parte da pesquisadora.

Apoiamo-nos em alguns dados da observação, correlacionando-os com a intenção descrita no planejamento e a prática realizada em sala no período de observação para subsidiar a elaboração do roteiro das entrevistas de explicitação (Anexo F), possibilitando ao professor esclarecer, explicar determinadas situações que eram pertinentes para esse estudo.

O objetivo da aplicação deste tipo de entrevista neste estudo é elucidar a relação que as professoras pensam estabelecer entre suas concepções de ensino da linguagem escrita e suas práticas para atender às necessidades das diferentes crianças que possuem em sala.

Para todos os momentos de entrevista, tentamos criar situações nas quais os professores sentissem-se à vontade para falar, para isso, o professor escolheu na escola o ambiente onde se sentissem mais confortáveis. Para quatro delas, esse ambiente foi a própria sala de aula. Apenas uma escolheu a biblioteca.