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2 ENTRE PESQUISA E FORMAÇÃO: TECITURAS METODOLÓGICAS PELO RECONHECIMENTO DO CAMPO E PRODUÇÃO DE MOVIMENTOS

2.1 A PESQUISA-FORMAÇÃO EM DIÁLOGO COM A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

2.2.1 A Observação Participante na produção dos dados

A pesquisa a que fizemos com os professores da/na educação infantil visou, na íntegra, perceber, reconhecer, estabelecer e estimular vínculos daquilo que é produzido no CMEI, como ações formativas instituídas, com aquilo que pode ser instituído no espaço da escola como formação continuada.

Para tanto, a observação participante como produção de dados foi alternativa por se tratar de um meio para a produção com intervenção ativa do pesquisador, que se preocupa e assume a possibilidade de transformação do meio pesquisado, sendo ele mesmo transformado, pois está diretamente envolvido com o sentimento do grupo, agindo no tempo dos acontecimentos, em contato direto com os sujeitos, sem indicar instrumentos específicos para o seu direcionamento (HAGETTE, 1987).

É nessa perspectiva que enveredamos pela observação participante como instrumento importante para a nossa pesquisa-formação. Desse modo, a compreendemos, corroborando com Richardson (2012), como aquela na qual

[...] o observador não é apenas um espectador do fato que está sendo estudado, ele se coloca na posição e ao nível dos outros elementos humanos que compõe o fenômeno a ser observado [...]. O observador participante tem mais condições de compreender os hábitos, atitudes, interesses, relações pessoais e características da vida diária da comunidade do que o observador não-participante (RICHARDSON, 2012, p. 260).

Pesquisar com professores, sendo professor, vinculado diretamente à pós- graduação, nos moveu em direção colaborativa, sem respostas prontas, fazendo apontamentos de trajetos, com inquietações que podem ou não ser respondidas, que se juntaram, assim esperamos, a outras tantas inquietações, a outros tantos apontamentos e meios, com os quais procuraremos evidenciar, problematizar, colaborar, mediar com os sujeitos e na produção desse campo de pesquisa, para conduzirmos, coletivamente, processos colaborativos, elencando pistas, percebendo movimentos, fazendo escolhas e refletindo sobre os movimentos, vigilantes para que nos distanciemos dos ideais positivistas de pesquisa e sem cair em armadilhas que podem trazer prejuízos ao rigor necessário do pesquisador.

É nessa direção que Santos (2007, 2009), ao discutir acerca da neutralidade e da objetividade da ciência, coloca como um dos desafios da pesquisa para se

reinventar o conhecimento emancipação que, para o autor, é de suma importância na perspectiva de rompermos com a arrogância da ciência moderna na produção de conhecimento que sempre visou afastar as pessoas comuns, desvalorizando, desse modo, as suas experiências, perdendo-as.

Assim, ao discutir acerca da neutralidade e da objetividade como desafios a serem enfrentados pela produção científica para que se reinvente o conhecimento emancipação23, pela via das universidades, que têm um papel importante e que, por muitas razões, historicamente justificadas, produziram um fechamento dos conhecimentos construídos dentro de si em si mesma, separando o pesquisador da coisa pesquisada, Santos (2007) argumentou que um dos desafios da pesquisa científica é ter objetividade fora do discurso da neutralidade. Assim, trata-se de:

Distinguir entre objetividade e neutralidade. É a ideia de que devemos ter uma distância crítica em relação à realidade, mas, ao mesmo tempo, não podemos nos isolar totalmente das consequências e da natureza do nosso saber, porque ele está contextualizado culturalmente (SANTOS, 2007, p.57).

Santos (2007) completa o pensamento ao enfatizar a dimensão emocional do conhecimento, apontando a necessidade de tratá-la com seriedade, sem a intenção, no entanto, de a eliminarmos. É necessário, segundo o autor, termos consciência dos obstáculos, os quais são referidos como correntes frias (as percepções sobre os problemas) e correntes quentes (desejos de superação dos obstáculos). Para Santos (2007), essa consciência é fundamental para que o conhecimento não se prenda ao estabelecido, ao excesso de presente solidificado pela razão cínica, que desiste do futuro como expectativa. Desse modo, o autor aponta que:

Há uma dimensão emocional no conhecimento que costumamos trabalhar muito mal, e então devemos ver o que distingue as duas correntes de nossa vida, tanto nas sociedades como nos indivíduos: a corrente fria e a corrente quente. Todos temos as duas: a corrente fria é a consciência dos obstáculos; a corrente quente é a vontade de ultrapassá-los. As culturas distinguem-se pela primazia que dão à corrente fria ou à corrente que acredito que corrente fria é absolutamente necessária para que não nos enganemos, e também a corrente quente é muito importante para não desistirmos facilmente. Hoje, temos a ideia de que é necessário encontrar quadros teóricos e políticos que continuem tentando não ser enganados,

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Quanto ao conhecimento emancipação, Santos (2009) aponta-o como ruptura com a ignorância, sendo ela é a expressão do colonialismo, pois, por ele, as relações sociais são mediadas pela ideia de sujeito objeto. A emancipação trata da elevação do outro de objeto a sujeito pelo conhecimento. O autor denomina esse processo de conhecimento-reconhecimento. É a solidariedade, visto que essa é tida como o enfraquecimento do princípio da ordem sobre as coisas e os outros.

mas ao mesmo tempo sem desistir, sem entrar no que chamamos a razão cínica, a celebração do que existe porque não há nada além (SANTOS, 2007, p. 57-58).

A nossa ideia, ao cruzar com a observação participante que se faz no bojo da intervenção e que se vale da dimensão emocional como corrente quente e do rigor como corrente fria do conhecimento, juntando pela construção da nossa proposta anúncios e denúncias que poderão constar nos dados produzidos por nós, nos movemos em direção à superação e à constatação de dados e fatos que colaborem com o alargamento e com a produção mais intensiva da profissionalidade na educação infantil.

Nesse sentido, pensamos a observação participante assumindo a premissa de que ela se fez imprescindível no momento do acontecimento, da ocorrência do fato considerado como indício da experiência. Assim, concordamos com Richardson (2012) ao afirmar que

Um dos pontos mais positivos da observação é a possibilidade de obter a informação no momento em que ocorre o fato. Esse aspecto é importante porque possibilita verificar detalhes da situação que, passado algum tempo, poderiam ser esquecidos pelos elementos que observaram ou vivenciaram o acontecimento (RICHARDSON, 2012, p. 261).

E o mesmo autor salienta ainda que a vantagem da observação participante consiste em

[...] sua própria natureza, isto é, ao fato de o pesquisador tornar-se membro do grupo sobre observação. Isso significa que as atividades do grupo serão desempenhadas naturalmente porque seus membros não apresentarão inibições diante do observador, nem tentarão influenciá-lo com procedimentos que fujam ao seu comportamento normal, já que deve apresentar um nível elevado de integração grupal pelo fato de os membros esquecerem o ignorarem que há um estranho entre eles (RICHARDSON, 2012, p. 260).

Reiteramos que, na perspectiva dessa pesquisa, observar não se encerrou no fato. Esse fato precisou ser lido através de muitas lentes, implicando, veementemente, nos processos formativos, visto que o percurso existencial dos professores, no ínterim da escola, quer seja no nível sistêmico ou in loco, no turno de trabalho ou fora dele, ou mesmo pelos acontecimentos pela profissão afora, foi considerado, nesta abordagem, de modo a somar, criando maiores possibilidades de intervenção ativa e respeitosa, inferindo, com propriedade, acerca dos processos formativos.

Nessa busca, apresentamos as entrevistas não estruturadas, como entrevista narrativa, e as oficinas reflexivas como nossos instrumentos de produção e de sensibilização dos sujeitos que são importantes para garantir nossas possibilidades reflexivas rumo aos nossos anúncios acerca da formação continuada da educação infantil no município da Serra, ES.

Os procedimentos se deram pelos registros fotográficos e sonoros, pelo diário de campo, pois acreditamos nas possibilidades desses movimentos na construção e na composição de movimentos reflexivos acerca da profissionalidade –, pela formação continuada e pela composição de narrativas orais acerca das experiências, estimulando a sensibilização aos acontecimentos, que nos permitiram as retomadas, se necessárias, dos fragmentos das processualidades formativas.

2.3 QUANTO AOS PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS QUE COMPÕEM OS