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FENOMENOLÓGICA

Neste item apresento o modo de articulação intencional entre a tarefa investigativa e a tarefa cuidativa, com a pretensão de alcançar respostas às perguntas de pesquisa. Para mostrar esta vinculação, optei por seguir a dinâmica criada por Oliveira, Costa e Nóbrega (2006), já que essas autoras propõem uma pesquisa de campo com base na Teoria Humanista de Paterson e Zderad. Entretanto, fiz isso de forma criativa, procurando ultrapassar as propostas das autoras, com a finalidade de servir às minhas próprias inquietações e envolver os sujeitos que

fizeram parte da investigação.

A partir dessas considerações iniciais, mostro a interlocução entre o método da Enfermagem Fenomenológica (que é o processo de cuidado que foi desenvolvido com a família do recém-nascido submetido ao CCIP) e a trajetória da pesquisa (onde foram coletados e analisados os dados da investigação propriamente dita). É importante ressaltar que a Enfermagem Fenomenológica vai além de propor à enfermeira que desenvolva uma prática humanizada, a conceitualize e compartilhe; “a metodologia permite um avanço no processo de construção de um conhecimento originado do mundo vivido da Enfermagem” (OLIVEIRA; COSTA; NÓBREGA, 2006, p. 102, grifo nosso).

A seguir, apresento o esquema geral que elaborei para operacionalização da proposta e em seguida descrevo as partes componentes.

Quadro 1 – Representação da operacionalização da Pesquisa Convergente- Assistencial da enfermeira com os recém-nascidos submetidos ao Cateter Central de Inserção Periférica e suas famílias

Conforme se observa no quadro, o esquema foi representativo de como aconteceu o processo investigativo (três etapas), a partir da Enfermagem Fenomenológica (cinco fases). Com tal representação, minha intenção foi deixar claro que a PCA “se revela pelos movimentos de aproximação, de distanciamento e de convergência com a prática, de forma a criar espaços de superposição com a assistência” (TRENTINI; PAIM, 2004, p. 72).

A descrição que apresento a seguir inclui desde a forma como as etapas investigativas ocorreram em interconexão com as fases assistenciais – englobando a pré-inserção, a trans-inserção e a pós- inserção do CCIP – até a apresentação do modo como a técnica do

2ª) A enfermeira conhece o outro intuitivamente (relação EU-TU ou SUJEITO-SUJEITO) 3ª) A enfermeira conhece o outro cientificamente (relação EU-ISSO ou SUJEITO-OBJETO) 1ª) Preparação da capacidade da enfermeira vir a conhecer

1ª) AUTOCONHECIMENTO

(a enfermeira pesquisadora prepara-se para o encontro com os sujeitos pesquisados)

2ª) COLETA DE DADOS

Instrumento: diálogo vivido

4ª) A enfermeira sintetiza de forma complementar as realidades conhecidas (relação EU-ISSO ou SUJEITO-OBJETO) 5ª) Sucessão interna da enfermeira do múltiplo para

a unidade paradoxal

(relação EU-ISSO ou SUJEITO-OBJETO)

ENFERMAGEM FENOMENOLÓGICA

(pré, trans e pós-inserção do CCIP)

ETAPAS DE PERSCRUTAÇÃO E ANÁLISE DA PESQUISA

3ª) ANÁLISE DE DADOS

diálogo vivido foi operacionalizada com os sujeitos do estudo, a fim de obter informações que responderam às perguntas desta investigação. Também descrevo os procedimentos que segui para o registro das informações, bem como o processo de organização e análise dos dados da pesquisa.

A primeira etapa da pesquisa foi o Autoconhecimento e envolveu a primeira fase da Enfermagem Fenomenológica, onde aconteceu a preparação da capacidade da enfermeira para vir a

conhecer, que foi um momento prévio e necessário para que a

pesquisadora buscasse conhecer a si mesma, fazendo uma auto-análise, revendo seus valores, pensamentos e atitudes, tanto pessoais quanto profissionais, antes de iniciar sua prática de enfermagem. Esta preparação com seu mundo interior pôde ser feita através de atitudes contemplativas, leituras, filmes, participações em cursos ou palestras, ou mesmo por meio de conversas com profissionais das áreas ligadas à terapia mental, para ter um conhecimento mais aprofundado do ser humano − um requisito que é indispensável para se preparar para o encontro e o diálogo vivido com os sujeitos pesquisados, ou seja, as famílias cujos bebês se submetem ao CCIP.

A segunda etapa consistiu na Coleta de dados e envolveu tanto a relação EU-TU (conhecer intuitivamente), quanto à relação EU-ISSO (conhecer cientificamente), uma vez que, segundo a PCA, a coleta das informações ocorre quando pesquisadores e participantes se envolvem na pesquisa (TRENTINI; PAIM, 2004).

Quanto à operacionalização da segunda fase da Enfermagem Fenomenológica, a enfermeira conhece o outro intuitivamente, que é a relação EU-TU, procurei, por meio do diálogo vivido, estabelecer encontros com as famílias através da relação sujeito-sujeito, com objetivo de conhecer e relacionar-me com cada uma delas, individualmente, para saber como elas eram, quais suas dúvidas, angústias, medos e temores sobre o procedimento do CCIP, antes, durante e depois de sua ocorrência, instrumentalizando-me das diferentes formas de comunicação verbal e não-verbal, com intuito de responder aos seus chamados, utilizando-me da presença autêntica. De igual modo, procurei operacionalizar a terceira fase da Enfermagem Fenomenológica, que foi a relação EU-ISSO, denominada de a

enfermeira conhece o outro cientificamente, sob o mesmo eixo do

diálogo vivido. No transcorrer desta fase utilizei principalmente meus conhecimentos profissionais, especializados, sem deixar de envolver-me com os sujeitos do estudo, de forma essencialmente humana. Contudo,

esta dimensão já aparece impregnada de decisões classificatórias, ancoradas na ciência e na tecnologia do cuidado.

A relação dialógica a ser estabelecida com cada uma das famílias permitiu ouvi-las narrar espontaneamente suas histórias relacionadas ao bebê e à necessidade que o mesmo possui de manter acesso venoso, como também seus temores, dúvidas, preocupações e desconhecimentos a respeito da instalação e manutenção do cateter. Ao surgirem os chamados, surgiram as respostas, que consistiram no meu cuidar das famílias, “através da atenção, da escuta e do toque, tentando transmitir segurança e apoio, expressando a minha solicitude” (OLIVEIRA; COSTA; NÓBREGA, 2006, p.103).

Nesta etapa, o diálogo vivido foi evocado, lembrando sempre que a enfermagem é uma experiência intersubjetiva em que ocorre um verdadeiro partilhar. O Encontro com as famílias se estabeleceu em todos os momentos que envolveram o processo de instalação do CCIP (antes, durante e depois), onde quer que as mesmas estivessem. Ocorreu sempre sob a expectativa humanística e fenomenológica de que havia uma enfermeira e uma família a ser percebida e cuidada em toda a sua complexidade. Estive permanentemente atenta aos sentimentos surgidos pela antecipação do encontro, aos meus sentimentos e à singularidade de cada uma das famílias, pois mesmo que estivessem passando por processos similares de necessidades e demandas, suas experiências frente aos fenômenos eram individuais e específicos. O Relacionar-se com as famílias implicou em estar com elas de modo genuíno e autêntico, sem máscaras ou dramatizações, procurando desempenhar o papel de enfermeira, sem perder de vista que todos os sujeitos, parceiros deste estudo, vivenciaram situações humanas (PATERSON; ZDERAD, 1988). A Presença foi colocada em prática com as famílias, tanto nos minutos horas ou dias que antecederam o procedimento, quanto na sua instalação, ou ainda no tempo que durou sua manutenção, até o momento da retirada. Consistiu em estar aberta, receptiva, pronta e disponível para as famílias. Os Chamados/Respostas foram vivenciados de forma transacional, seqüencial e simultânea, em todos os estágios que a família precisou passar para a manutenção do acesso venoso do recém- nascido. A família chamou (de modo verbal e não verbal) e a enfermeira respondeu (de modo verbal e não-verbal), e o contrário também ocorreu; não houve outra forma de encarar a situação humana em pauta.

Para operacionalizar esta etapa de Coleta de dados utilizei um instrumento especialmente criado para servir como roteiro para a obtenção dos dados, tanto no momento pré-inserção do CCIP, como durante a inserção propriamente dita e também após a inserção

(Apêndice A). Para o registro dos dados que foram coletados me servi de um diário de campo, com objetivo de descrever qualquer informação observada ou diálogo estabelecido com a família do RN, durante a condução da PCA. Como sugere Monticelli (2003), neste diário foram registradas as práticas, idéias, medos, falhas, equívocos, reflexões da enfermeira-pesquisadora, suas condutas, bem como as mudanças de metodologia surgidas no decorrer do estudo. Foi dada ênfase a particularidade de cada relato dos sujeitos da pesquisa e dos acontecimentos, bem como às impressões da pesquisadora, para que não se perdesse a riqueza de detalhes. Em suma, este diário contemplou todas as informações que se sucederam a partir do diálogo vivido, durante o transcorrer das etapas da Enfermagem Fenomenológica que foram vivenciadas com as famílias dos recém-nascidos submetidos ao CCIP.

Um exemplo de como operacionalizei a Enfermagem Fenomenológica com uma dessas famílias encontra-se no Apêndice B.

A terceira etapa da pesquisa consistiu na análise dos dados, que abrangeu desde o conhecimento intuitivo e científico (considerando cada RN e sua família individualmente), até as fases de síntese e busca da unidade paradoxal (considerando a comparação de todos os RNs e suas famílias). Portanto, o processo analítico dos dados tem uma interface inicial com a etapa de coleta de dados.

De um modo geral, o processo analítico foi desenvolvido em dois grandes movimentos classificatórios. O primeiro, englobando a segunda e a terceira fases da Enfermagem Fenomenológica e o segundo movimento, englobando a quarta e a quinta fases, respectivamente.

Em termos operacionais, no primeiro movimento classificatório procedi à leitura atenta de todas as situações humanas experienciadas nos momentos de pré, trans ou pós- inserção do CCIP, com cada um dos recém-nascidos e suas famílias, buscando as particularidades vividas no diálogo com objetivo de conceituar a experiência de cada um segundo o seu potencial humano. Para isto, foi necessário me distanciar de tudo que havia vivenciado juntamente com cada família do RN submetido ao CCIP, dando um novo significado a tal experiência, refletindo e expressando sua compreensão. Neste momento, começaram a surgir as primeiras unidades de significado, onde os dados foram interpretados, analisados e categorizados a partir do fenômeno estudado, incorporando as experiências de cada uma das famílias através do meu olhar, possibilitando a formação de uma síntese relacionada ao conhecimento novo obtido.

Um exemplo da primeira parte deste primeiro movimento classificatório pode ser acompanhado também no Apêndice B, onde o leitor tem a oportunidade de observar, na coluna direita do Diário de Campo, as primeiras aproximações interpretativas com a Teoria Humanística. Neste exemplo, a partir do diálogo vivido com a Família 3, eu estava realizando esboços iniciais de unidades de significado que respondessem à segunda pergunta de pesquisa.

No segundo movimento classificatório ocorreu a comparação entre as experiências de todas as famílias participantes. Neste movimento, a primeira decisão passou pela fase em que a enfermeira

sintetiza de forma complementar, as realidades conhecidas. Nela, foi

possível comparar e sintetizar as múltiplas realidades conhecidas na fase anterior (com cada uma das famílias), para então chegar a uma visão ampliada, ou seja, as similaridades e diferenças entre todas as famílias que tiveram seus filhos submetidos ao CCIP, buscando realizar uma síntese que respondesse à primeira pergunta de pesquisa. Neste processo “as diferenças descobertas nas realidades semelhantes não rivalizam, uma não nega a outra [...]. Diferenças só podem tornar visíveis as realidades maiores de cada uma” (PATERSON; ZDERAD, 1979, p. 123, tradução nossa).

Um exemplo desta etapa analítica encontra-se no Apêndice C. A partir disso, foi possível chegar à última fase, a sucessão

interna da enfermeira do múltiplo para a unidade paradoxal, onde,

através das reflexões e considerações sobre as relações entre as múltiplas visões, realizei uma revisão compreensiva, com a oportunidade de expandir minha própria visão sobre o fenômeno vivenciado. Como enfatizam Paterson e Zderad (1979, p. 125, tradução e grifos nossos), “a enfermeira vai além das multiplicidades e contradições e chega a uma concepção importante para a maioria ou para todos”.

Neste último movimento analítico, após extenuantes leituras, pude chegar às unidades de significados que respondem, então, aos dois objetivos desta PCA, conforme apresento no Apêndice D.