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A ordenação do Estado-Nação desafiada pelo fenômeno de

1.1. Contexto Internacional e imigração

1.1.2. Nova ordem global: o imaginário social como fato social no mundo

1.1.2.2. A ordenação do Estado-Nação desafiada pelo fenômeno de

Outra abordagem no contexto da globalização é o conceito de Estado-nação e como este vem absorvendo os efeitos dos meios de comunicação e as migrações que estão sendo amplamente globalizados, categorizados como transnacionais, pois operam além dos limites de uma nação e adotam a supremacia do Estado-nação. De tal maneira, conforme Appadurai, a globalização foi além de mídia e fluxo de pessoas, “[...] estreitou a distância entre elites, deslocou relações essenciais entre produtores e consumidores, quebrou

muitos laços entre o trabalho e a vida familiar, obscureceu as linhagens entre locais temporários e vínculos nacionais imaginários” (1996, p. 22).

Estado-Nação, segundo UNESCO, “é aquele em que a grande maioria está ciente de uma indentidade comum e compartilha a mesma cultura16”, ou seja é uma área onde as fronteiras culturais correspondem às fronteiras políticas. Isto implica que o Estado incorpore pessoas de uma única etnia e tradições culturais (KAZANCIGIL, A. AND DOGAN, M. 1986, p. 188). No entanto, a maioria dos estados contemporâneos é poliétnica, e não cabe no ideal do Estado-nação que todos os membros de uma nação fossem organizados em um único estado, sem que outras comunidades nacionais estivessem presentes. Algumas das principais questões das ciências sociais e humanas acerca do mundo moderno perpassam pelas ideias do Estado-nação, sua história, sua crise e projeções futuras. Em relação ao Estado-nação, ainda que inserido em um sistema, possui variações, principalmente no que diz respeito ao imaginário nacional. No mundo globalizado, a ideia de soberania territorial se torna insustentável devido ao movimento migratório e fluxos globais do capital, uma vez que os Estados-nação dependem dos próprios meios na unidade étnica e cultural que constitui entidades política e geopolítica soberanas.

A soberania e o poder regulador do Estado-nação têm sido enfraquecido pelo transnacionalismo na forma de movimentos de pessoas, bens e capital (SASSEN, 1998). Acima foi exposto o argumento das condições transnacionais que evidenciam a emergência de formações sociais não-nacionais e mesmo pós-nacionais e a perspectiva da produção globalizada da localidade no mundo contemporâneo (Appadurai, 1996). Não se pretende repetir estas observações anteriores, mas as parafraseio pois estas constituem o pano de fundo dos argumentos que se desenvolve aqui.

O filósofo alemão Jürgen Habermas no livro Era das Transformações (2003) prevê a construção de novos espaços a partir da perspectiva de ampliação da esfera da influência da experiência das sociedades democráticas para além das fronteiras nacionais. No entender de Habermas, tal processo de

16 Tradução pessoal, citação encontra-se no site da UNESCO

http://www.unesco.org/new/en/social-and-human-sciences/themes/international-migration/glossary/nation-state/

democratização pode ser reproduzido no que chama de constelação pós-nacional pelos caminhos de uma política interna voltada para o mundo em geral, ou seja, aberta a uma ordem cultural cosmopolita, capaz de funcionar sem a estrutura de um governo mundial (HABERMAS, 2003, p. 37-74).

As relações sociais e as suas redes globais promovem maior dispersão do que o Estado-nação suporta. Também, a identidade e a ligação que o sujeito tem a seu país e a territorialidade está cada vez escasso no mundo que é caracterizado pelas diferentes formas de circulação de pessoas no mundo contemporâneo, que seja pelas oportunidades econômicas, pessoas fugindo dos governos corruptos, refugiados de guerra e entre outros. Entres estes diversos migrantes, o executivo coreano - expatriado que foi transferido temporariamente para outro país pela empresa com quem tem o vínculo trabalhista - é uma figura que ameaça a ordenação do Estado-nação, uma vez que está ‘refém’ de mudanças constantes, implicando mais de um país a serem transferidos segundo a necessidade da empresa. Posto isto, pensar em identificar com uma nação e a uma cultura é limitada quando estudamos o indivíduo expatriado, sendo que o próprio termo culturalismo17 é definido pela mobilização política de direitos ou, como afirma Appadurai (1996, p. 30), é “o serviço de uma política nacional ou transnacional” que tende a ser ampliada, ir além das fronteiras territoriais, na era das comunicações de massas, migração e globalização18.

Já os fluxos migratórios, ao contrário dos meios de comunicação eletrônica, são antigos na história da humanidade. E se intensificou no último

17 Culturalismo é definido como uma construção consciente das identidades e defende a importância central da cultura como uma força organizadora nos assuntos humanos.

18 Tendo em vista que o livro trata das dimensões culturais da globalização, o autor atenta-se, igualmente, à discussão cultural acerca da globalização. Primeiramente, busca ressaltar que a globalização não se trata de homogeneização cultural. “A globalização da cultura não é o mesmo que sua homogeneização, mas a globalização requer o uso de uma série de instrumentos de homogeneização.” (APPADURAI, 1996, p. 63).Por outro lado, o termo cultural remete à relação entre culturas e, desta forma, valoriza a pluralidade. As diferenças culturais são marcadas em diferentes grupos e o estilo de vida. Considerando que cada área possui suas peculiaridades, suas formações culturais, sua história e etc., sugere “que consideremos culturais apenas as diferenças que exprimem, ou servem de fundamento, à mobilização de identidades de grupo.” (APPADURAI, 1996, p. 27). Assim, o que é cultural é aberto e estabelece trocas entre as diferentes culturas. Portanto, as teorias de modernidade não atendem as fragmentações nos processos culturais da sociedade no meio global, como a do culto global do hiper-realista: o exemplo dado sobre a afinidade filipina pela música popular americana. O conceito de americanização, segundo o antropólogo não é o termo correto, pois há culturalismo envolvido e, além disso, “o resto de suas vidas não está em completa sincronia com o mundo de referência de onde são originárias as canções” (APPADURAI, 1996, p. 46).

século segundo os teóricos sociais Scott Last e John Urry, quem dizem que as sociedades do final de século XX se caracterizam por fluxos de capital, trabalho, mercadorias, informações e imagens; e por isso, economistas, demógrafos, pesquisadores da mídia, geógrafos e outros profissionais, todas lidam com fluxos nos seus estudos (1994, p.4, 12). E Appadurai (1996), um desses que propôs um olhar uma vez alinhado à midiatização, os fluxos migratórios passam a ter uma nova caracterização do mundo moderno no qual há um “encurtamento” nas distâncias, tendo em vista que os espectadores passam a observar imagens advindas de outros territórios do mundo. Desta forma, tanto os meios de comunicação eletrônica quanto as migrações no mundo globalizado e moderno, são marcas do presente como artifícios que impulsionam a obra da imaginação.

Neste sentido, tanto pessoas como imagens encontram-se muitas vezes por acaso, fora das certezas do lar e do cordão sanitário de efeitos mediáticos locais e nacionais. Esta relação amovível e imprevisível entre acontecimentos mediatizados e audiências migratórias define o âmago da ligação entre a globalização e o moderno. (APPADURAI, 1996, p. 14)

Isto acontece pois, como foi discutido anteriormente, as redes de relações eletrônicos, caracterizado pela horizontalidade e sua descentralização, proporcionam uma nova organização e mobilização social. A comunicação mediada pela internet permitiu que os indivíduos não apenas informassem sobre os acontecimentos à escala internacional, mas compartilhamento de conhecimentos e interesses em busca de objetivos comuns. Pode-se então refletir que as redes sociais online possibilitam maior participação e fortalecimento da Sociedade Civil. Porém outra característica que deve considerar é que os indivíduos da sociedade midiática não são imediatamente discerníveis, uma vez que cada indivíduo cria uma identidade própria na internet como bem se entende. Assim, a criação de identidade com seus aspectos pessoais e profissionais faz parte da sociedade em ciberespaço (RECUERO, 2011).

Não se sabe ainda a relação direta entre redes sociais e os fluxos migratórios, a influência do primeiro sobre o segundo, mas sem dúvida, a relevância da interação social no espaço virtual vem ganhando atenção dos que

estudam sociedade e suas redes sociais no mundo contemporâneo. O relacionamento de um indivíduo na rede online não deixa de ser concreto pela sua natureza virtual, que apenas tem a comunicação mediada por computador ou outros dispositivos eletrônicos portáteis, conhecidos como gadgets. E isso não quer dizer que os laços mantidos e criados pelo ciberespaço são necessariamente exclusivos no mundo virtual (Idem, p. 143-144).

Através das entrevistas dos expatriados não sul-coreanos, houve indicação que os profissionais da área de TI, o francês e o indiano, imigraram para o Brasil devido às plataformas de emprego virtuais e aos contatos estabelecidos nas redes sociais. O expatriado francês havia visitado o Brasil como turista anos anteriores à sua vinda para o trabalho, e seguiu uma página do Facebook chamada “Expats São Paulo – Brasil”19, na qual ele recebe sugestões e compartilhamentos desde dicas de restaurantes até ofertas de emprego.