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A trajetória do expatriado de negócios

CAPÍTULO 3. REFLEXÕES SOBRE A INSERÇÃO DO EXPATRIADO

3.1 A trajetória do expatriado de negócios

3.1.1 Identificação de certas características comuns na trajetória de um expatriado

A presente pesquisa, tem o objetivo principal de traçar do executivo sul-coreano, o imigrante transnacional – também conhecidos como expatriados. Transnacional porque é um sujeito no contexto transnacional dos fluxos migratórios contemporâneos que cruzam fronteiras para trabalhar em organizações transnacionais em várias partes do mundo, como já foi apontado anteriormente. E reforçado:

“O termo expatriado denomina aquele que sai do seu país, ou seja, aquele que vive fora de sua pátria por vontade própria ou por imposição. No entanto, esta palavra também é utilizada no mundo corporativo, que, com o crescimento econômico, procurou ampliar suas unidades de negócios e, para isso, desloca seus funcionários para viver e trabalhar em outros países” (RAMOS, 2017).

Ou, de acordo com o Dicionário Houaiss online55:

EXPATRIADO

s.m. Indivíduo que foi alvo de expatriação; quem se expatriou; pessoa que foi obrigada ou não a viver fora de

55 HOUAISS, A. Dicionário Online de Português. Disponível em: <www.dicio.com.br/houaiss/>. Acesso em: 13 maio de 2019.

seu país. adj. Que foi alvo de expatriação; que se conseguiu expatriar. (Etm. Part. de expatriar)

EXPATRIAÇÃO

s.f. Ação ou efeito de expatriar ou expatriar-se; que ou quem está em exílio.

A palavra expatriado carrega muitas conotações, preconceitos e suposições sobre classe, educação e privilégio - assim como os termos trabalhador estrangeiro, imigrante e migrante lembram um conjunto diferente de suposições. Mas o que define um expatriado? “A definição técnica de um expatriado é alguém que mora e trabalha no exterior por um período temporário, mas planeja voltar para seu país de origem", disse Sophie Cranston, professora de geografia humana na Universidade de Loughborough (Nash, 2017). Ao contrário de um imigrante, que se muda para outro país com a intenção de permanecer permanentemente, ser expatriado é definido, em parte, pela falta de permanência - se um expatriado viveu no exterior por 10 meses ou 10 anos, ele ainda tem intenção de voltar para casa. Além de viver fora do seu país de origem de forma não permanente, um expatriado também deve ser legalmente empregado para morar e trabalhar no país em que está sediado de acordo com Yvonne McNulty, especialista nos estudos em gestão de recursos humanos e expatriação na Universidade de Ciências Sociais de Cingapura, quem desenvolveu uma definição da palavra expatriado em 2016 com seu colega Chris Brewster(2019).

No século passado, o termo "expatriado" foi historicamente usado para descrever ocidentais que viveram no exterior por períodos variáveis de tempo, incluindo artistas, músicos, colonos, escritores (por exemplo, Hemingway, Fitzgerald, Stein) e geralmente qualquer outra pessoa (por exemplo, empreendedores de pequena escala, professores, pessoas que trabalham para pequenas organizações não-governamentais locais, estudantes, estagiários, jornalistas e voluntários). Se, no emprego remunerado, eles são tipicamente classificados como "contratações locais" e recebem salários locais. Recentemente, o termo "expatriado" também tem sido amplamente usado para descrever todas as categorias de migrantes, incluindo migrantes. Isso sugere que o número de expatriados no mundo é extremamente grande, talvez mais de

200 milhões (MCNULTY e SELMER, 2017, p. 22). O número de expatriados no mundo é difícil de determinar, já que não há censo governamental. A empresa de pesquisa e consultoria de mercado internacional Finaccord estimou que o número seria de 56,8 milhões em 201756, isso se assemelharia à população da Tanzânia (55,4 milhões57). Com base nos números de 2017 fornecidos pelas Nações Unidas pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (UN DESA58), o número de migrantes internacionais em 2017 é de 257,7 milhões, resultando em 22% de expatriado.

Tal como os migrantes, os expatriados foram concebidos como vivendo noutro local que não o seu país de origem - a "casa" sendo determinada pelo seu passaporte e cidadania - assumindo assim uma "mudança no seu local de residência dominante". Há um argumento feito pelo MCNULTY e SELMER, no entanto, sobre se a cidadania ou o status de residência legal que é importante. Os filhos de expatriados, apesar de possuírem um passaporte dos pais de origem, podem nunca ter vivido lá. Por outro lado, essas mesmas crianças podem considerar um país em que nasceram e viveram a maior parte de sua vida como "lar", embora tecnicamente sua falta de cidadania desse país as considere expatriadas. Essas crianças, como adultos, podem muito bem ser vistas como cidadãos globais para os quais "lar" pode estar em qualquer lugar, e "expatriados" pode ser um estado constante de ser, não importa onde eles estejam; por exemplo, mesmo que sejam repatriados para o país do passaporte para frequentar a universidade, provavelmente se sentirão mais como um expatriado lá do que no país de onde vieram (2017, p. 23).

Segundo McNulty, embora o termo seja frequentemente usado para descrever imigrantes de alto status, os quais ela definiu como altamente remunerados e altamente qualificados, raramente é aplicado a trabalhadores estrangeiros que não são. Em vez disso, esses trabalhadores tendem a ser referidos como migrantes econômicos, pessoas que deixaram seu país de

56 "Press Release_2014_Global Expatriates: Size, Segmentation and Forecast for the Worldwide Market". Disponível em: https://www.finaccord.com.

57 O livro de fatos do mundo.CIA.2016.Acessado em 8 de dezembro de 2016.(Inglês). Disponível em: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/tz.html.

58 De acordo com a segunda edição do relatório “Estimativas Globais sobre Trabalhadores Migrantes Internacionais” https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—dgreports/—dcomm/— publ/documents/publication/wcms_652029.pdf

origem para um lugar com melhores condições de vida e de trabalho. "Eles atendem a todas as condições de ser um expatriado - todos eles", disse McNulty em uma entrevista (SERHAN, 2018), ainda, “ninguém pensa neles como expatriados, porque no tipo de linguagem coloquial nos referimos a eles como trabalhadores migrantes”, disse McNulty, acrescentando: “Essas pessoas são, de todas as maneiras, expatriados da mesma forma que ocidentais brancos. O fato de terem uma cor diferente ou o fato de virem de um país em desenvolvimento pobre é, em grande parte, irrelevante quando olhamos para as condições de contorno ”. Posto isto, o termo expatriado foi e é associado em uma imagem estereotipado, com altos salários e generosos pacotes de benefícios que inclue moradia e escolaridade para as crianças. Esse rótulo que foi posto ao termo expatriado fez com que muitos imigrantes, dentro de critérios a de ser um expatriado, sentem desconfortáveis em se identificar com ele.

Para os nossos propósitos aqui, estamos interessados em business expatriates – expatriados de negócio, os funcionários de empresas transnacioanis59 enviados para subsidiárias de uma empresa para trabalhar e viver em outro país entre seis meses e cinco anos -, e isso nos leva à definição dos executivos das corporações multinacionais. Antes, é importante destacar que muitos estudos de business expatriates usam uma terminologia diferente para se referirem à mesma coisa: por exemplo, expatriados corporativos, executivos corporativos, gerentes corporativos, gerentes de expatriados, expatriados gerenciais, candidatos a gerentes, gerentes internacionais, cessionários internacionais, e entre outros. Há exemplos de onde os significados foram mal definidos e os termos são usados de maneira intercambiável ("internacional", "expatriado" e "estrangeiro") no único artigo, qual fortemente criticado pela McNulty. Outros exemplos preocupantes do uso do termo "expatriados" para excluir outros grupos que já foram conceituados como expatriados de negócios; usam 'expatriados auto-iniciados' (self-iniciated expatriates) - os próprios indivíduos organizam um contrato para trabalhar no exterior, em vez de serem enviados por uma empresa controladora para uma subsidiária - em contraste com 'expatriados designados' (assigned expatriates) -

59 Entende-se neste trabalho as empresas transnacionais como organizações econômicas que desenvolvem suas atividades em mais de dois países

transferência de um profissional de um país para outro, para exercer determinada função, por um período previamente acordado com a organização a ser representada no exterior - quando na realidade todos são expatriados de negócios segundo a definição de McNulty e Selmer (2017, p.26).

Para estabelecer uma definição específica de teoria sobre expatriados de negócios60:

business expatriate – Legally working individual who resides

temporarily in a country of which they are not a citizen in order to accomplish a career-related goal, being relocated abroad by an organization, or by self-initiation, or directly employed within the host country.

O expatriado de negócios, portanto, é um sujeito legalmente empregado cuja estada é temporária, pois tem a intenção de voltar para o seu país, não necessariamente tem pretensão a obtenção de cidadania (diferente do imigrante), e pode tanto ser auto organizado ou enviado com subsídio de uma empresa. Em seguida, expatriados de negócios têm como seus principais propósitos (MCNULTY e SELMER 2017, p.27): (1) controle gerencial do subidário estrangeiro e coordenação com a sede; (2) transferência de conhecimento, habilidades e cultura específicos da firma; (3) desenvolver gestores para posições internacionais; e (4) exercer posições quando não estiver nenhum funcionário qualificado para executar.

Os definidos como expatriados auto-iniciados (profissionais e gestores que sem apoio de uma organização) expatriam para procurar trabalho em um país anfitrião por um período indefinido, geralmente acima de um ano, não são uma alternativa adequada aos expatriados designados corporativamente para fins de controle, transferência, operação estrangeira e desenvolvimento gerencial que exigem competências específicas da firma.

No entanto, ambos dos expatriados auto iniciais e designados costumam ser mais caros que os funcionários locais. Os salários dos expatriados são geralmente aumentados com subsídios para compensar um custo de vida mais alto ou dificuldades associadas a um destacamento estrangeiro. Outras

60 McNulty e Selmer (2017, P. 55 a 56).

despesas podem precisar ser pagas, como cuidados de saúde, moradia ou taxas em uma escola internacional dos filhos. Há também o custo de mudar uma família e seus pertences. Além da questão do salário, requer competências interculturais tais como aspecto linguístico e cultural específicas do país de acolhimento (GOMEZ-MEJIA; BALKIN; CARDY, 2017).

Os entendidos sobre a questão mobilidade global, Lauring e Selmer (2010), trazem a preocupação em relação a inserção destes e da sua família. Estes podem ter problemas para se adaptar devido ao choque cultural, à perda de sua rede social habitual, às interrupções de sua própria carreira (no caso do cônjugue) e ao lidar com a adaptação das crianças em uma nova escola. Nas famílias com crianças, o cônjuge desempenha um papel fundamental no equilíbrio da integração das famílias na cultura, principalmente a dos filhos. Algumas corporações começaram a incluir os cônjuges mais cedo ao tomar decisões sobre um destacamento estrangeiro e oferecer treinamento preparatório antes de uma família partir. De acordo com o Relatório Global de Tendências de Deslocamento 2012, 88% dos cônjuges resistem a um movimento proposto . As razões mais comuns para recusar uma tarefa são as preocupações familiares e a carreira do cônjuge (THOMAS e LAZAROVA, 2014, pp. 190–193).

3.1.2 O expatriado no Brasil

A história da imigração brasileira teve o início no século XIX, quando o Brasil ainda era uma das colônias portuguesas. E ao longo da história de escravidão, pós-abolição da escravatura e, então, a troca de mão de obra escrava pela dos imigrantes oriundos principalmente da Europa, recebeu milhões de imigrantes de país de origem diversos. Em anos recentes, começou o incentivo à imigração de mão de obra qualificada pois há uma reconfiguração no fluxo migratório no mundo global (discutida no capítulo 1) e, consequentemente no Brasil.

Segundo o censo de IBGE 2010, o número total de coreanos residentes em São Paulo é próximo de 16.97961, menos de 1% da população total (12,2 milhões de habitantes). Na questão de trabalho, a maioria dos coreanos residentes do Brasil está no ramo de construção civil seguindo de serviços e indústria de transformação, segundo o IBGE Setor (2010). Isso é desvendável quando traçamos o perfil dos investimentos da República da Coreia no Brasil. De acordo com a pesquisa do Boletim de Economia e Política Internacional (2017), do período de fevereiro de 2003 até junho de 2014 revela 51 projetos, totalizando um montante de quase US$ 10 bilhões em investimentos e aproximadamente 31,5 mil empregos diretos gerados. Os investimentos classificados como

produção industrial representam quase 85% e às classificações por setor e

subsetor industrial mais detalhadas (tabela 3), o subsetor mais investido foi o de

metalurgia e siderurgia (40% do total investido) seguido do automotivo (17,42%)

e serviços financeiros (10,85%) com montante de recurso investido pela

República da Coreia (BRITTO; HOMSY; FILHO, 2017, pp.34-36).

Gráfico 2 - Distribuição nacional dos vínculos formais coreanos por Setor IBGE

Tabela 3

61 Fonte: SINCRE (Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros) / Polícia Federal, jun/2015. 2 258 3 682 155 305 14 1 1 - Extrativa mineral 2 - Indústria de transformação 3 - Servicos industriais de utilidade pública 4 - Construção Civil 5 - Comércio 6 - Serviços 7 - Administração Pública 8 - Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca

-200 0 200 400 600 800 1000

SETO

R

POPULAÇÃO

Fonte: Boletim de Economia e Política Internacional (2017)

Visto o que diz a nova Lei da Migração, de acordo com a Lei nº 13.445/2017, que entra em vigor em novembro deste ano, somente os portadores do visto de trabalho ou de autorização de trabalho podem exercer atividades laborais no Brasil. Enquanto o visto é concedido pelo Ministério das Relações Exteriores, compete à Coordenação-Geral de Imigração (CGIg), órgão do Ministério do Trabalho, autorizar o trabalho do estrangeiro. Ainda, a liberação para trabalhar não se aplica aos portadores de visto de visita e visto temporário, que não podem ser contratados pelas empresas do país. Já aqueles que obtiveram direito à residência no Brasil têm assegurados o direito de acesso ao

mercado de trabalho, bem como o direito ao uso dos serviços públicos de saúde, educação e previdência social (DOMINGUES E PINHO CONTADORES62; 2017).

O expatriado de negócios, uma vez empregado em uma empresa brasileira ou numa estrangeira que tem filial no Brasil, está sujeito à legislação brasileira somente a expatriação que tem um prazo superior a um ano (long-term assignment). Quanto aos expatriados de curto prazo, (short-term assignment), estes são juridicamente vinculados à legislação do país onde foi feito o seu contrato de trabalho. Àqueles sob a regência da legislação do Brasil, lhe são garantidos os direitos de pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), PIS/PASEP e da previdência social, além dos demais direitos comuns ao trabalhador brasileiro, como férias, 13º salário, entre outros. Assim como direitos, os mesmos possuem uma série de obrigações, como apresentar a Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda de Pessoa Física, documento que deve ser elaborado a partir de informações que devem ser prestadas pelas empresas, fontes pagadoras. “Vale lembrar que, se o expatriado tiver rendimentos no exterior, caberá ainda o pagamento do carnê-leão, imposto pago mensalmente, calculado a partir dos rendimentos recebidos, com base em tabela progressiva e regras para a conversão de moedas. Para evitar que indivíduos sejam duplamente tributados, existem tratados internacionais que podem beneficiar cidadãos oriundos de países signatários desses acordos” (DOMINGUES E PINHO CONTADORES; 2017).