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A organização e atuação da classe empresarial nos anos de

No documento monicadiasmedeirospires (páginas 61-70)

2 A FORMAÇÃO SOCIAL E A NATUREZA DO CAPITALISMO NO BRASIL

2.2 A FORMAÇÃO DA CLASSE EMPRESARIAL BRASILEIRA E SEU O PROJETO DE EDUCAÇÃO

2.2.3 A organização e atuação da classe empresarial nos anos de

A instalação do governo Collor de Melo em 1990, integrado por forças políticas que estiveram alinhadas nos anos de ditadura e de abertura, marcou o início de contrarreformas neoliberais no país com significativos impactos na educação. Esse processo ocorreu em meio

14 Nos anos de abertura política a Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi a principal entidade

autônoma representativa do sindicalismo dos trabalhadores, sendo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE) o braço científico desta entidade.

ao contexto de reordenamento do capitalismo mundial. A partir de Filgueiras (1997), podemos sintetizar esse quadro em quatro planos.

A nova reorganização produtiva deflagrada em nível mundial inseriu o país no processo de modernização conservadora, consolidado pelas políticas públicas implementadas a partir de 1990 com a reestruturação do Estado brasileiro e a implementação do neoliberalismo.

Especificamente no plano da produção material, as medidas anticrise resultaram na reestruturação produtiva cujo fundamento foi composto por mecanismos gerenciais inovadores que intensificaram os processos de trabalho e por novas bases científico- tecnológicas vinculadas aos processos de produção e circulação de mercadorias, criando o paradigma flexível de produção.

No plano das relações de poder, o neoliberalismo foi afirmado como referência para o ordenamento das condutas humanas; a organização da economia; o funcionamento dos governos; e a reorganização das funções do Estado, com destaque para a redução de direitos sociais e incorporação de preceitos gerenciais na condução das políticas.

No plano das relações internacionais, as medidas buscaram intensificar a integração da produção e circulação de mercadorias, serviços e de capital especulativo em nível global, reafirmando, sob novas bases, a histórica posição dos países centrais e dependentes.

Em conjunto, tais medidas buscaram redefinir também os fundamentos das relações políticas, exigindo um padrão de sociabilidade compatível com as mudanças projetadas.

As medidas de reordenamento do capitalismo foram incorporadas e implementadas pelas forças políticas que integraram o governo Collor de Melo (1990-1992), o governo Itamar Franco (1992-1994) e governos Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002) como sinônimo de modernização do país e de integração na comunidade internacional.

As medidas encaminhadas pelos governos citados, que contou com significativo apoio de muitos setores da sociedade, tornaram-se obstáculos para a efetivação das conquistas do campo progressista na Constituição de 1988 e ainda influenciaram o processo político e educacional, produzindo alterações no padrão de sociabilidade.

De acordo com Filgueiras (1997) e Saviani (2013), o pensamento hegemônico nos anos de 1990 apresentou o Estado como responsável pela crise do capital e advogou o retorno do Estado liberal clássico, propugnando a diminuição de suas funções administrativas nos recursos públicos, intensas reduções em gastos sociais e a gestão regulada pelo mercado, com propostas de privatizações dos serviços públicos e abertura comercial. O ponto central é que

essas medidas representaram a liberação do fundo público para ampliar o financiamento da reprodução do capital.

Ainda que tardiamente em relação aos países de capitalismo central, as forças políticas neoliberais iniciaram o processo de redefinição da função do Estado e de contrarreformas políticas buscando organizar o Brasil para atender as novas demandas do sistema capitalista. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado cumpriu uma função importante para tal redefinição16.

Contudo, Behring (2003) revela que tal iniciativa significou a contrarreforma do Estado brasileiro na década de 1990 pela adoção do modelo de Estado gerencial e de administração pública gerencial. Segundo a autora, a contrarreforma é caracterizada por estratégias conservadoras de natureza destrutiva e regressiva do desenvolvimento nacional e das condições de vidas da ampla parcela da sociedade, confirmando o caráter autocrático da classe burguesa no Brasil. Behring (2003) afirma que:

[...] esta opção implicou, por exemplo, uma forte destruição dos avanços, mesmo que limitados, sobretudo se vistos pela ótica do trabalho, dos processos de modernização conservadora que marcaram a história do Brasil (BEHRING, 2003, p. 198).

No contexto do modelo de Estado gerencial, o bloco no poder e seus intelectuais orgânicos apontaram que as dificuldades enfrentadas pela escola pública decorriam da suposta ineficiência da gestão democrática e dos processos pedagógicos existentes. Apontaram também que a saída seria a privatização da educação.

Essas ideias difundidas no plano local encontraram ressonância na Declaração Mundial sobre Educação para Todos, aprovada na conferência de mesmo nome, ocorrida em Jomtiem, na Tailândia (1990). Associando cidadania com competitividade, como proposto por Guiomar Namo de Mello (1994) e ancorada na referida declaração, a classe burguesa assumiu o projeto neoliberal de educação.

16 Bresser Pereira foi o intelectual orgânico responsável por coordenar a equipe de formulação do

Plano Diretor da Reforma do Estado que deu sustentação às medidas e estratégias neoliberalizantes no país. Cumpre assinalar que Claudia Costin integrou a equipe liderada por Bresser Pereira no Ministério da Administração e Reforma do Estado, chegando a ocupar o cargo de Ministra, sucedendo Bresser Pereira no governo FHC. Ela é graduada em administração pública com mestrado em economia e doutorado também em administração pública. Nos anos 2000, passou a ganhar destaque na mídia como especialista em educação, depois de ter ocupado o cargo de Secretária de Educação do Município do Rio de Janeiro, no governo Eduardo Paes (PMDB), no período de 2009 a 2014. Atualmente integra o organismo empresarial MBNC, objeto de nosso estudo.

Nesse contexto, os organismos da classe empresarial assumiram maior protagonismo no estabelecimento das políticas econômicas e sociais a fim de consolidar a nova fase do capitalismo e assegurar o padrão de sociabilidade requerido pelo capital mundial, difundindo a “crise” na educação pública e reivindicando a qualidade na educação pública.

O discurso da CNI passou a propugnar a necessidade de universalização da educação básica, que outrora qualificava como “utopia nefasta”, defendendo a ampliação do seu conceito, incorporando o segundo grau, correspondente atualmente ao segundo ciclo do ensino fundamental.

Entretanto, Rodrigues (1998) demonstra que apesar desta reivindicação, o que defendia na essência, era uma formação restrita, pois se baseava no eixo pedagógico que, atualmente, qualificamos como “noção do aprender a aprender”. Assim, para a classe trabalhadora, defendia a difusão de conhecimentos pragmáticos, aplicáveis na vida e no mundo produtivo: “a educação recebida pelos jovens deve ter uma base sólida, que facilite constantemente aquisições e atualizações de conhecimento para o resto de sua vida produtiva” (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 1993, p. 7 apud RODRIGUES, 1998, p. 107).

Apesar da centralidade da burguesia na condução das políticas públicas e da incorporação das formulações neoliberais por seus aparelhos de hegemonia, Martins (2009a) demonstra que foi a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva que o empresariado obteve maior presença no direcionamento do conteúdo e da forma da educação escolar.

A partir da redemocratização do país, os aparelhos de hegemonia da classe empresarial buscaram aprofundar as propostas neoliberais para a definição de um projeto de país apontando a educação como prioridade para o alcance do padrão de sociabilidade pretendido. Assim, apresentaram metas e diretrizes educacionais que traduziam as propostas empresariais que possibilitariam a inserção da nação no cenário competitivo internacional. De acordo com Martins (2009a, p. 123):

[...] o objetivo central era garantir que a escola assegurasse a aquisição de um patamar mínimo de conhecimentos gerais e elementares para a inserção no mundo do trabalho ou mesmo em cursos profissionalizantes de preparação oferecidos pelos organismos empresariais montados para tal fim.

Nesse sentido, iniciou-se uma ênfase na aquisição de habilidades e competências que assegurasse a condição para ser competitivo, social e economicamente, levando a uma

secundarização do saber historicamente produzido e desenvolvendo uma formação humana minimalista e precarizada. A análise desse processo na história da educação demonstra que tal realidade vai se aprofundando à medida que as estratégias do capital para a dominação de classes também se aprofundam.

Em que pese a aposta no neoliberalismo como o modelo econômico e social capaz de promover o desenvolvimento das nações e garantir os benefícios das classes dominantes, a realidade que se apresentou no bloco hegemônico mundial demonstrou que esse modelo não havia conseguido recuperar as expansivas taxas de crescimento econômico, bem como obteve dificuldades de adquirir o consenso necessário das classes sociais para sua sólida afirmação.

De acordo com Martins (2009a) esse contexto propiciou a revisão do modelo societal vigente e, a partir do final do século XX buscou-se uma reconfiguração do neoliberalismo ortodoxo. Mantendo a prioridade no crescimento da economia, a nova proposta identificava a necessidade de se estabelecer bases políticas mais sólidas, em que não houvesse tantas resistências e abalos na coesão social. Segundo o autor, a identificação da ineficiência política e econômica do neoliberalismo ortodoxo17 foi fator decisivo para o desenvolvimento do

programa neoliberal da Terceira Via. O autor afirma que:

[...] o que o movimento revisionista apresentava era a reforma do aparelho de Estado, incluindo o movimento de reeducação política das massas – isto é, aprimoramento da sociabilidade neoliberal -, visando a consolidação de um suposto modelo capitalista de “face humana” e um conformismo capaz de assegurar a coesão social em torno desse modelo redefinido (MARTINS, 2009a, p. 61).

A realidade histórica de cada formação social fez com que o projeto neoliberal encontrasse diferentes obstáculos e resistências ao seu desenvolvimento. A particularidade de nação capitalista dependente e a correlação de forças, estabelecidas nos anos de 1990, fizeram com que o projeto neoliberal fosse adotado tardiamente no Brasil, implicando em resultados diferentes se considerarmos os países que implementaram essa doutrina por meio de ditadura – como foi o caso do Chile em 1973 – e por meio do voto nos anos iniciais da década de 1980.

17 Para Martins (2009a), a ineficiência foi detectada por intelectuais orgânicos da classe burguesa que

verificaram que o projeto neoliberal não promoveu o crescimento da economia e ainda agravou as tensões sociais em muitos países em decorrência do aprofundamento das desigualdades.

Foi com a vitória do candidato Fernando Henrique Cardoso nas eleições presidenciais de 1994 que o projeto neoliberal se consolidou, inserindo o país na fase mais recente do projeto hegemônico, a Terceira Via.

Nesse momento, eventos mundiais já haviam demarcado o redirecionamento do neoliberalismo. A adesão das propostas ligadas ao movimento “Novos Democratas” por meio da ascensão de Bill Clinton ao governo dos Estados Unidos, em 1992, e a consequente redefinição das estratégias do Banco Mundial (BM) apontavam para o redimensionamento das funções do Estado e sua relação com as políticas sociais e construção do padrão de sociabilidade (MARTINS, 2009a).

As ações do BM visavam aperfeiçoar as políticas desenvolvidas para a América Latina passando a divulgar princípios como participação e diálogo e a condicionar os empréstimos financeiros a políticas que se baseassem em parcerias entre o aparelho governamental e organizações da sociedade civil incentivando alianças entre capital e trabalho.

Para dar materialidade ao projeto societário para o século XXI, o bloco no poder brasileiro amparou-se nos parâmetros internacionais e buscou no plano econômico, estabilizar e aprofundar o País às determinações internacionais por meio de ajustes fiscais e estruturais. Politicamente promoveu a reestruturação do Estado em suas funções ético-políticas visando o consenso social (MARTINS, 2009a).

As ações desenvolvidas pelo governo FHC buscaram consolidar o projeto macroeconômico das agências internacionais nos diferentes setores do país. Além disso, impulsionaram as iniciativas do empresariado na sociedade civil que faziam parte do bloco no poder como forma de atualização da hegemonia burguesa. Nos primeiros anos de governo FHC, grupos empresariais reuniram-se e, em 1995 criaram a organização Grupo de Instituto, Fundações e Empresas (GIFE) com o objetivo de orientar a intervenção burguesa nas questões sociais e consequentemente na educação.

Buscando unificar e consolidar as ações empresariais na sociedade civil o GIFE se apresenta como uma organização pioneira nesse processo rompendo com as ações específicas da filantropia empresarial e apresentando estratégias mais sólidas e criativas de intervenções político-sociais18 em consonância com o programa neoliberal da Terceira Via. Em análise crítica sobre os efeitos dessa organização Martins (2009a. p. 143) argumenta:

18 De acordo com os estudos de Martins (2009) o GIFE foi o primeiro organismo que buscou redefinir

as ações sociais empresariais para além do conceito de filantropia empresarial. Assim, a partir de 1996 as intervenções empresariais deixaram de ser identificadas como filantropia empresarial e

[...] o GIFE existe para disseminar o modelo de gestão emanado de experiências e sistematizações da classe burguesa como referências para ordenar de maneira eficiente e produtiva a nova sociabilidade a partir do redirecionamento do trabalho das organizações da face popular da sociedade civil, educando-as para incorporar o preceito burguês da colaboração e da conciliação social.

As propostas do GIFE revelam uma nova posição do empresariado em relação à função do aparelho governamental relacionada às questões sociais e sobre os conceitos de cidadania e participação na realidade contemporânea. A defesa é de que o poder econômico dos grupos empresariais associado à melhoria de seus modelos de gestão seria a melhor alternativa para conduzir as questões sociais na sociedade. Assim, os intelectuais orgânicos da burguesia acreditavam que a classe empresarial deveria assumir a responsabilidade imposta pela modernidade e contribuir para o fortalecimento de ações sociais (MATTAR, 2000 apud MARTINS, 2009a).

Para Martins (2009a) a nova forma de enxergar a realidade proposta pela organização demonstra uma concepção de sociedade referenciada no bem-estar e de Estado como gerencialista para a afirmação da sociabilidade. Assim, a nova atuação empresarial por meio do “investimento social privado” pressupõe que as organizações que assumirem a responsabilidade com as questões sociais do país devem receber contribuições através de isenções fiscais, mantendo seu interesse no fundo público.

De forma sistematizada, mais uma vez as iniciativas privadas são beneficiadas com o acesso a este fundo, o que implica em redução de recursos para o investimento estatal nas áreas sociais, fortalecendo as estratégias neoliberalizantes.

O papel educativo do GIFE se aprofundou e em 1998 propiciou o surgimento de outro aparelho de hegemonia: Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. A força política da nova organização radicalizou as ações empresariais na sociedade e instituiu-se como um dos principais aparelhos da classe burguesa. Na ocasião de sua criação a denominação “filantropia empresarial” foi definitivamente substituída por “responsabilidade social empresarial”. A adesão ao novo termo por parte da burguesia revela mais que a

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passaram a ser nomeadas de “investimento social privado”. Esta, contudo, não era ainda a nomenclatura que correspondesse aos objetivos sociais da classe, e a partir dos anos 2000 o conceito de “responsabilidade social empresarial” ganhou força e conseguiu expressar as práticas empresariais no setor social. Para além do termo adequado, a “responsabilidade social” se consolidou como uma ideologia que traduz a organização coletiva da classe em busca de seus objetivos políticos- ideológicos.

inserção de uma nomenclatura às suas ações sociais e constitui a definição de uma ideologia que marca a redefinição das estratégias burguesas na sociabilidade atual.

O conceito de “responsabilidade social” marca a nova forma de atuação empresarial e é defendido pelo Instituto Ethos como:

A forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (INSTITUTO ETHOS, 2017, recurso online).

Assim, grupos empresariais colocam-se a disposição da sociedade para promover programas sociais que colaborem com o desenvolvimento do país, sobretudo nas áreas consideradas estruturais. A compreensão de que possuem estratégias mais eficazes denotam ao sistema público a ineficiência na gestão de seus recursos e fortalece a implementação de práticas sociais privadas, flexibilizando a garantia aos direitos sociais por meio das políticas públicas compensatórias de combate à desigualdade social.

Enquanto aparelho de hegemonia comprometido com a “responsabilidade social” o Instituto Ethos atua nas mais diversas estruturas da sociedade civil buscando a obtenção do consenso para a consolidação do novo padrão de sociabilidade do neoliberalismo de Terceira Via. Nessa direção, a educação é compreendida como umas das áreas imprescindíveis de atuação e, intervenções empresariais no sistema educacional público, cada vez mais, buscam desenvolver um determinado projeto de formação para a classe trabalhadora.

Um marco dessa influência é a cartilha O que as empresas podem fazer pela educação elaborada pelo Instituto Ethos em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC) em 1999. O documento demonstra a clara preocupação dessa fração da classe burguesa no encaminhamento da educação pública brasileira e se revela como resultado do processo histórico em que o empresariado vem buscando a hegemonia nesse importante aparato social.

Diante do diagnóstico da situação da educação brasileira nos anos finais da década de 1990, os intelectuais orgânicos da burguesia apresentam no documento sugestões de como as diversas empresas brasileiras podem contribuir para melhoria da qualidade dos sistemas de ensino público e cumprir com a responsabilidade social exigida para o século XXI.

Referenciado nos avanços tecnológicos dos meios de produção, o documento defende a importância da educação para o progresso social, cultural e econômico de uma nação e aponta para a necessidade de repensar o conhecimento difundido nas escolas.

No contexto atual, não basta dominar um nível mínimo de informação que se resume a escrever frases ou executar operações matemáticas simples. Na era da informática, cada vez mais será necessário processar e comunicar informações eficientemente, ter espírito crítico e ser capaz de criar novas soluções a fim de participar da cultura humana (INSTITUTO ETHOS, 1999, p. 12).

A compreensão de que a educação é fator de desenvolvimento econômico e que, portanto, as práticas pedagógicas devem instrumentalizar o indivíduo para inserção econômica e social subordinada no projeto em curso no País é claramente expressa nas formulações do grupo dirigente. Segundo o Instituto Ethos, é uma exigência do setor empresarial “a elevação do nível educacional do país [...], pois é um dos principais fatores que determinam a qualidade profissional dos trabalhadores de diversos níveis nos vários segmentos produtivos” (INSTITUTO ETHOS, 1999, p. 19).

Como temos apontado esta estratégia não é novidade entre os grupos dominantes que hegemonizam a educação brasileira e vem transformando a formação humana numa variável econômica que torna funcional a reprodução ampliada do capital.

Assim, o Instituto Ethos incentivou o desenvolvimento de parcerias entre empresas e escolas e elaborou um Guia de estratégias de ação que visava orientar como as empresas podem se aproximar das instituições de ensino e desempenhar seu papel de colaboradora da escola pública contribuindo assim para o desenvolvimento de um país mais justo e solidário. Além disso, ao adotar a responsabilidade social como princípio ético-político de suas ações propõe um novo pacto social que requer a coparticipação do Estado, das empresas e da sociedade civil na resolução dos problemas socais.

Isto posto, é possível identificar que a função educativa do Instituto Ethos é a difusão de uma concepção de educação e de cidadania compatível com as propostas delineadas pelo programa da Terceira Via, implicando numa formação humana unilateral, comprometida com os interesses da classe burguesa.

Oliveira (2016), apropriando-se dos argumentos desenvolvidos por Prado Jr. (1987), afirma que a atuação política da burguesia brasileira, historicamente não se preocupou em desenvolver uma conciliação entre os interesses dominantes e sociais e romper, assim, com a

articulação internacional19. Segundo Prado Jr. (1987, p. 121) apud Oliveira (2016, p. 124)

“não há pois que esperar [...] a configuração de um setor burguês anti-imperialista capaz, em conjunto e como categoria social caracterizada, de fazer frente ao imperialismo e construir uma força revolucionária”. O período seguinte da história brasileira expressa, mais uma vez, o caráter conservador da burguesia brasileira.

No documento monicadiasmedeirospires (páginas 61-70)