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Padrão 05: Número de colisões efetuados nos níveis do jogo digital

5 METODOLOGIA

5.9 A ANÁLISE DE CONTEÚDO

5.9.1 A organização da análise de conteúdo

Segundo Bardin (2011), a análise de conteúdo perpassa por três fases de organização: a pré-análise; a exploração do material; o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. Vamos apresentá-las de modo consecutivo.

5.9.1.1 A pré-análise

A pré-análise conta com subfases as quais o pesquisador as delimitará conforme seus objetivos. Bardin (2011) as descreve como sendo:

a) A leitura “flutuante”; b) A escolha dos documentos;

 Regra da exaustividade;  Regra da representatividade;  Regra da homogeneidade;  Regra de pertinência;

c) A formulação das hipóteses e dos objetivos;

d) A referenciação dos índices e a elaboração de indicadores; e) A preparação do material.

Diante dos dados coletados, estruturamos as diferentes fases da análise de conteúdo, iniciando com a pré-análise, “[...] esta primeira fase possui três dimensões: a escolha dos

documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a

elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final” (BARDIN, 2011, p. 125, grifo da autora).

Na pré-análise, o objetivo é organizar os dados (BARDIN, 2011). Portanto, primeiramente, recorrendo a um computador e impressora com escâner, convertemos na íntegra todos os desenhos construídos pelos participantes no início das entrevistas semiestruturadas para a forma digital. Depois, transcrevemos na íntegra, todos os dados coletados nas entrevistas semiestruturadas e no questionário participante da pesquisa.

Após os dados serem transcritos no computador, imprimimos para realizar a primeira subfase, ou seja, uma leitura “flutuante”, para estabelecer o contato, analisar e conhecer o texto, a fim de se deixar invadir por impressões e orientações (BARDIN, 2011).

Com a segunda subfase demarcada, ou seja, a escolha dos documentos como os desenhos, falas obtidas dos participantes nas entrevistas semiestruturadas e respostas ao questionário, procedemos à constituição do corpus, que é “[...] o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos” (BARDIN, 2011, p. 126).

De outro modo, Bauer e Gaskell (2002, p. 192) citam que o corpus “é a representação e a expressão de uma comunidade que escreve. Sob esta luz, o resultado de uma AC é a variável dependente, a coisa a ser explicada”.

A constituição do “corpus” foi orientada por algumas das principais regras descritas por Bardin (2011). Por exemplo, na regra da exaustividade, “[...] é preciso ter-se em conta todos os elementos desse corpus. Em outras palavras, não se pode deixar de fora qualquer um dos elementos por esta ou aquela razão [...]” (BARDIN, 2011, p. 126-127).

Sendo assim, esgotamos a totalidade dos desenhos, das falas obtidas nas entrevistas, não omitindo nada, bem como das respostas ao questionário - participante da pesquisa.

Na regra da homogeneidade, “[...] os documentos retidos devem ser homogêneos, isto é, devem obedecer a critérios precisos de escolha e não apresentar demasiada singularidade fora desses critérios” (BARDIN, 2011, p. 128). Na regra de pertinência, “[...] os documentos retidos devem ser adequados, enquanto fonte de informação, de modo a corresponderem ao objetivo que suscita a análise” (BARDIN, 2011, p. 128).

Nestas duas regras, o “corpus” foi constituído seguindo os critérios conforme o objetivo e questões de pesquisa. Portanto, todos os desenhos obtidos foram digitalizados integralmente; as falas também foram transcritas na íntegra, sem recortes.

Diante da constituição e finalização do “corpus”, iniciamos a segunda fase, que foi a exploração do material.

5.9.1.2 A exploração do material

Na exploração do material, realizamos várias leituras a fim de tratar o material (“corpus” constituído) para fazer os recortes, categorizar e codificar (BARDIN, 2011). A autora elucida que “a codificação corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão [...]” (BARDIN, 2011, p. 133, grifo da autora). E, “a categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos” (BARDIN, 2011, p. 147, grifo da autora).

No questionário referente aos participantes da pesquisa, apresentamos individualmente alguns dados, como idade, gênero, etc., não havendo, por isso, categorias ou subcategorias.

Para análise e discussão dos desenhos construídos pelos participantes, construímos um padrão a partir de cada etapa; consequentemente não há subcategorias.

Para analisar as falas obtidas nas entrevistas semiestruturadas, utilizamos a análise categorial, porque “esta pretende tomar em consideração a totalidade de um “texto”, passando- -o pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a frequência de presença (ou de ausência) de itens de sentido” (BARDIN, 2011, p. 43).

A análise categorial é “[...] um método taxonômico bem concebido para satisfazer os colecionadores preocupados em introduzir uma ordem, segundo certos critérios [...]” (BARDIN, 2011, p. 43).

Conforme o objetivo da pesquisa e o referencial teórico da cinética dos gases, duas categorias foram definidas a priori: conceito de aleatoriedade e conceito de irreversibilidade.

Com o método das categorias definidas, buscamos, durante a exploração do “corpus” constituído, encontrar expressões ou palavras significativas no conteúdo das falas dos (as) participantes que reportassem aos conceitos científicos investigados. Para isso, utilizamos como critério para recortar, codificar e organizar as subcategorias, o do tipo “[...] léxico (classificação das palavras segundo o seu sentido, com emparelhamento dos sinônimos e dos sentidos próximos) [...]” (BARDIN, 2011, p. 147).

Os recortes e agrupamentos das subcategorias (falas/respostas dos participantes – “corpus”) foram feitas de acordo com as unidades de registro que “é a unidade de significação

codificada e corresponde ao segmento de conteúdo considerado unidade de base, visando a categorização e a contagem frequencial” (BARDIN, 2011, p. 134).

Durante a exploração do “corpus”, realizamos os recortes e agrupamos as subcategorias a partir da combinação de dois tipos de unidade de registro: “o personagem” e “a palavra”. A unidade de registro “o personagem” trata das falas dos participantes da pesquisa e a unidade “a

palavra” refere as palavras-chave utilizadas pelos participantes as quais remetem às categorias

estabelecidas “a priori” (BARDIN, 2011).

O primeiro critério para constituir as categorias “a priori” foi fornecido a partir do objetivo da pesquisa, tendo como fundamentação teórica o conceito científico de aleatoriedade e irreversibilidade segundo a teoria cinética dos gases. Depois, as subcategorias foram emergidas na exploração do “corpus” constituído que encontramos nas falas dos participantes, o emprego de palavras, tais como: movimento aleatório, choque elástico, meio aleatório, sem ordem, mistura, bagunça, desordenado, espalhado.

Verificamos que as palavras emitidas pelos participantes remetem a discursos distintos. Então, a fim de recortar, organizar e denominar as subcategorias, primeiramente fizemos a leitura de alguns trabalhos desenvolvidos por Mortimer (1995, 2000, 2010).

Segundo Mortimer (2010, p. 181), “a maioria dos conceitos científicos faz parte de um perfil conceitual. A abordagem dos perfis conceituais é baseada, precisamente, na ideia de que as pessoas exibem diferentes maneiras de ver e conceitualizar o mundo [...]”.

Vimos que a preocupação central da epistemologia genética de Piaget é estudar as origens do conhecimento; nesse sentido, o perfil conceitual de Mortimer (2010) corrobora com as ideias de Piaget, pois na citação de Mortimer entendemos que os “modos de pensar são tratados como zonas de estabilidade no pensamento conceitual dos indivíduos, intimamente relacionados a significados socialmente construídos que podem ser atribuídos aos conceitos” (MORTIMER, 2010, p. 182). O autor explicita:

Inúmeros “termos científicos” são também aplicados nas experiências cotidianas, seja

porque são palavras da linguagem comum das quais a ciência se apropriou, como

“adaptação”, seja porque são palavras da ciência que foram tomadas para si pela linguagem comum, como “gene”. Nestes casos, os perfis conceituais são ainda mais

ricos e a distinção entre significados diferentes e os domínios apropriados de sua aplicação se torna ainda mais complicada (MORTIMER, 2010, p. 182).

Nesse contexto, segundo o objetivo da pesquisa, a partir dos conceitos científicos de aleatoriedade e irreversibilidade presentes na teoria cinética dos gases, pudemos, a partir da classificação do tipo léxico proposto por Bardin (2011), classificar as palavras enunciadas pelos

participantes segundo o seu sentido, com emparelhamento dos sinônimos e dos sentidos próximos. Desse modo, optamos por denominar as subcategorias como: discurso de gênero científico (palavras que aludem ao conceito científico das categorias investigadas), discurso próximo do gênero científico (palavras que se aproximam do conceito científico investigado), discurso de senso comum (palavras que podem ser utilizadas no dia a dia para explicar outros acontecimentos) e discurso não elucidativo (palavras que não explicam os conceitos investigados).

Segundo Bardin (2011), um conjunto de boas categorias deve possuir algumas qualidades; nesse caso, reportamos as subcategorias, as quais foram organizadas, conforme as unidades de registro, seguindo estas qualidades:

 A exclusão mútua: esta condição estipula que cada elemento não pode existir em mais de uma

divisão.

A homogeneidade: [...]. Num mesmo conjunto categorial só se pode funcionar com um registro

e com uma dimensão da análise.

 A pertinência: uma categoria é considerada pertinente quanto está adaptada ao material de

análise escolhido, e quando pertence ao quadro teórico definido.

A objetividade e a fidelidade: [...]. As diferentes partes de um mesmo material, ao qual se aplica

a mesma grade categorial, devem ser codificadas da mesma maneira, mesmo quando submetidas às várias análises.

 A produtividade: [...]. Um conjunto de categorias é produtivo se fornece resultados férteis: em

índices de inferências, em hipóteses novas e em dados exatos (BARDIN, 2011, p. 149- 150, grifo da autora).

Diante a conclusão das duas primeiras fases de organização dos dados, a pré-análise e a exploração do material, seguimos com o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

5.9.1.3 O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação

A terceira fase, diz respeito ao tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. É destinada ao tratamento dos dados obtidos a fim de sintetizar e destacar as informações para análise, o momento da intuição, da análise reflexiva e da crítica (BARDIN, 2011).

Com a finalidade de encontrar e tornar significativos e válidos os dados obtidos nas falas dos entrevistados selecionados na exploração do material, realizamos a inferência que “[...] é aquele processo mediante o qual o analista obtém informações suplementares, resultantes de sua visão crítica de uma mensagem. [...]. A partir dos trechos que foram selecionados, ao fazer a inferência o pesquisador expressa sua visão particular do objeto de estudo [...]” (GOULART, 2006, p. 169).

Segundo Bardin (2011, p. 44, grifo da autora), “a intenção da análise de conteúdo é a

inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de

recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)”.

Além disso, para a autora, “[...] pode dizer-se que o que caracteriza a análise qualitativa é o fato de a “inferência – sempre que é realizada – ser fundada na presença do índice (tema, palavra, personagem etc.!), e não sobre a frequência da sua aparição, em cada comunicação individual” (BARDIN, 2011, p. 146).

Dado o exposto, no tratamento das mensagens/falas dos participantes durante as entrevistas semiestruturadas, realizamos a inferência a partir das categorias “a priori”, ou seja, investigamos a presença (ou ausência) de palavras emitidas que pudessem descrever o conhecimento científico investigado, a fim de responder as questões de pesquisa fundamentais.

A partir das inferências obtidas, partimos para as interpretações, que “[...] consiste no estabelecimento de uma relação entre a análise de resultados que foi feita pelo pesquisador, com base na sua leitura da realidade, e a teoria que fundamenta sua pesquisa” (GOULART, 2006, p. 170-171). Sempre houve como foco a fundamentação teórica, para interpretar, analisar e discutir os resultados obtidos.

Para melhor apresentação da organização dos dados descritos até o momento, primeiro apresentamos como foi elaborado o padrão de análise de desenhos a partir da figura 05 (etapas 1A, 1B, 1C e 1D), para, posteriormente, utilizar o padrão a fim de analisar e discutir os desenhos construídos pelos participantes nas etapas construídas do jogo digital.

Em segundo, apresentamos em quadros, as categorias referentes aos conceitos investigados, as subcategorias emergidas das falas dos (as) participantes e as unidades de registro, quantitativamente. É importante ressaltar que, logo em seguida, trazemos as unidades de registro individualmente para cada participante, identificado por códigos.

Em terceiro, apresentamos como foi elaborado o padrão de análise de desenhos a partir dos níveis 1, 2, 3, 4 e 5 (figuras 07, 08, 09, 10 e 11, consecutivamente), para posteriormente utilizar o padrão a fim de analisar e discutir os desenhos construídos pelos participantes na aplicação dos níveis do jogo digital.