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1. A PESQUISA E SEUS PROCESSOS: INTERLOCUÇÕES ENTRE E COM

1.6. A organização dos dados considerando a opção metodológica

Os dados produzidos foram analisados a partir de leitura crítica/analítica dos mesmos e, posteriormente, organizados considerando os pressupostos teóricos da ATD (MORAES, 2003; MORAES, GALIAZZI, 2006, 2007). Essa metodologia qualitativa de análise dos textos favorece uma leitura crítica dos mesmos e também aproxima o pesquisador do corpus da pesquisa, pois:

o processo de desconstrução, seguido de reconstrução, de um conjunto de materiais linguísticos e discursivos, produzindo-se a partir novos entendimentos sobre os fenômenos e discursos investigados. Envolve identificar e isolar enunciados dos materiais submetidos à análise, categorizar esses enunciados e produzir textos, integrando nestes a descrição e interpretação, utilizando como base de sua construção o sistema de categorias construído. (MORAES e GALIAZZI, 2007, p.112).

A ATD possui uma abordagem de análise de dados que consiste em evidenciar dois polos distintos: o conteúdo e o discurso, porém ambos “se apoiam de um lado na interpretação do significado atribuído pelo autor e de outro nas condições de produção de um determinado texto” (MORAES e GALIAZZI, 2006, p.119). Este tipo de análise tem como início a unitarização dos conceitos, ou seja, os textos são separados em unidades de significado. Que de acordo Moraes e Galiazzi (2006):

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Estas unidades por si mesmas podem gerar outros conjuntos de unidades oriundas da interlocução empírica, da interlocução teórica e das interpretações feitas pelo pesquisador. Neste movimento de interpretação do significado atribuído pelo autor exercita-se a apropriação das palavras de outras vozes para compreender melhor o texto (p.119).

Moraes e Galiazzi (2006) salientam que a ATD é uma metodologia que possui um paradigma emergente, considerada como uma metodologia aberta, pois não tem um conjunto de procedimentos para seguir metodicamente. E, portanto, é um processo de contínua construção e (re)construção dos caminhos que devem ser constantemente redirecionado, isso cria “espaços inseguros de criação constituem ao mesmo tempo possibilidade de o pesquisador movimentar-se com liberdade” (p.122). Essa metodologia permite a autonomia e dá possibilidade de um trabalho original, pois a escolha de um assunto para categorização e ser explorado nos textos é livre, isto implica que o pesquisador tenha organização, disciplina, criatividade para que o trabalho tenha êxito. Em relação à ATD Moraes e Galiazzi (2006, p. 118) referem que:

É uma abordagem de análise de dados que transita entre duas formas consagradas de análise na pesquisa qualitativa que são a análise de conteúdo e a análise de discurso. Existem inúmeras abordagens entre estes dois polos, que se apoiam de um lado na interpretação do significado atribuído pelo autor e de outro nas condições de produção de um determinado texto.

Ela é constituída por etapas que consistem na unitarização: com a fragmentação dos textos que compõem o corpus, ou seja, o conjunto de informações, a partir da qual se obtêm as unidades de significado. Depois é o processo de categorização para a organização das unidades de significado de acordo com as características em comum, e por último a produção de metatextos. Usando seus próprios argumentos o pesquisador introduz os teóricos para ajudar na discussão dos dados. A ATD pode ser sistematizada em etapas, como Moraes e Galliazi (2007) descrevem que se trata de um “processo auto-organizado no qual emergem novas compreensões” (p.12) a partir de uma sequência de três componentes: a desconstrução do texto, a unitarização; e captar o emergente. Tais processos são comparados a uma tempestade de luz, pois nesse momento o pesquisador precisa buscar novos entendimentos para os fenômenos. Segundo Moraes e Galiazzi (2007), a ATD apresenta as etapas:

a) Desconstrução e unitarização dos textos: esta etapa “implica examinar os textos em seus detalhes, fragmentando-os no sentido de atingir unidades constituintes” (p.11). Nesse momento o pesquisador destaca os elementos constituintes, através da leitura e construção de múltiplos significados inicia-se o “ciclo de construção de Unidades de Análises que permite a caracterização ou categorização dos significados de forma a unir os elementos textuais que

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apresentam proximidades de sentidos e significação, todo esse processo gera os metatextos analíticos” (p.19 -20).

b) Estabelecimento de relações que é o processo de categorização, este é o aspecto central de uma ATD. Se compara unidades definidas no momento inicial da análise, levando a agrupamentos de elementos semelhantes por intermédio de diferentes metodologias: “o método dedutivo implica construir categorias antes mesmo de examinar o ‘corpus’”; o “método indutivo implica produzir as categorias a partir das unidades de análises construídas a partir do “corpus” por um processo de comparar e constatar” (Ibidem, p.23); o “método intuitivo pretende superar a racionalidade linear que está implícita tanto no método dedutivo quanto no intuitivo” (Ibidem, p.24)

c) Captando o novo emergente, que faz o esforço de explicitar a compreensão atingida mediante a análise dos textos, que resulta em metatextos que podem ser mais descritivos, mantendo-se mais fiéis aos textos analisados, ou então podem ser mais interpretativos em um sentido de abstração e teorização mais profundo (Ibidem, p.32). Segundo os autores a produção textual requer uma retomada periódica das produções, submeter a críticas e reformulações para uma produção de qualidade, é também um momento de aprofundar a aprendizagem sobre os fenômenos investigados (Ibidem, p.34).

Para poder compreender os fenômenos investigados a ATD exige do pesquisador muita interpretação e produção de argumentos próprios, dando liberdade para o pesquisador para (re)estruturar seus argumentos sempre que preciso, para atingir um conhecimento mais complexo o que segundo Moraes e Galiazzi (2006, p. 122) “implica mover-se por espaços mais inseguros. Não é sentir-se inseguro por não ter aprendido. É ter aprendido a estar inseguro”. A dinâmica da ATD favorece a reflexão e sistematização dos resultados obtidos e também a interpretação dos sujeitos envolvidos, explicitando uma concepção diferente na construção dos metatextos. Neste sentido, na ATD as hipóteses não são testadas a fim de comprová-las ou refutá-las. Seu objetivo é, portanto, o aprofundamento e a compreensão dos dados (MORAES, GALIAZZI, 2007).

Neste processo de estudo de caso as falas das professoras e alunos foram decompostas em unidades de significado para a produção de textos, que ajudou na compreensão e interpretação dos fenômenos observados, os quais serão expostos no capítulo 3, por meio de categorias e proposições.

Neste capítulo abordei os aspectos metodológicos da pesquisa, bem como a descrição detalhada dos instrumentos e os momentos vivenciados neste Estudo de Caso. Na sequência,

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apresento o segundo capítulo, cujo foco de análise esteve direcionado para a docência e para a aprendizagem escolar, como processos que exigem diálogo e abertura para mudanças de pensamentos e ações.

2. DOCÊNCIA E APRENDIZAGEM ESCOLAR: PROCESSOS DIALÓGICOS