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2. DOCÊNCIA E APRENDIZAGEM ESCOLAR: PROCESSOS DIALÓGICOS DE

2.4. Aprendizagem escolar, desenvolvimento de currículo e formação de professores na

Neste subcapítulo, apresento estudos realizados em Dissertações e Teses que abordam processos que tangem o ensino, considerando que todos esses trabalhos envolvem um processo de reconfiguração curricular com base na SE (HALMENSCHLAGER, 2010; BOFF, 2011, VIANNA, 2013; FRISON, 2013; MACHADO, 2013). Entre diversos trabalhos

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encontrados no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, a escolha dos que serão aqui apresentados teve como critério ter sido desenvolvido no período 2010-2015, utilizando as palavras-chaves: situação de estudo, formação de professores, ensino de química, reformas curriculares. Dentre os trabalhos encontrados na busca, selecionei aqueles que contemplassem pressupostos como: estudos que trazem a SE como proposta de reconfiguração dos currículos de CN; como são apresentados e desenvolvidos os conceitos/conteúdos específicos, como ocorre o envolvimento na elaboração e desenvolvimento da proposta em sala de aula pelos professores em formação inicial e continuada, como esta proposta está inserida no processo de formação docente nos cursos de licenciatura da UNIJUÍ, e de que forma esta proposta auxilia no aprendizado de CN.

A pesquisa de Halmenschlager (2010) sistematiza o processo de reconfiguração curricular do Ensino de Física, Química e Biologia do Centro de Educação Básica Francisco de Assis (EFA), vinculada à UNIJUÍ. Discute a escolha dos temas para contemplar a elaboração e desenvolvimento de SE, através de entrevistas semiestruturadas e conversas informais com professores da área e questionários para professores da Educação Básica, Ensino Superior e alunos da graduação e pós-graduação. A partir desta pesquisa foi possível afirmar que a SE permite uma abordagem contextualizada e interdisciplinar dos conceitos escolares, sendo muito importante para que ocorra a significação conceitual, pelo fato de que os temas abordados relacionarem os conceitos a um determinado contexto, ao mesmo tempo possibilitando o envolvimento de diferentes disciplinas que ajudam os alunos a ampliarem os conceitos estudados.

Portanto, a partir do estudo feito Halmenschlager (2010) concluiu que “o principal critério para a escolha dos temas para a elaboração das SE desenvolvidas no Ensino Médio é a questão conceitual. Em outras palavras, no caso das SE desenvolvida na escola inserida nesse estudo, os conceitos orientaram a escolha das temáticas” (p. 128). Desta forma, quando se articulam os conceitos científico-escolares de forma interdisciplinar e a um determinado contexto, “os mesmos não se apresentam de forma linear e fragmentada, o que favorece a significação conceitual no decorrer de uma SE, ou em sucessivas SEs” (Idem).

A pesquisa de Boff (2011), parte do pressuposto de que as interlocuções no processo formativo dos professores tendem a superar as ideias simplistas em que somente a universidade deve transmitir conhecimentos para o preparo dos futuros professores, sendo que esta, nem sempre conhece a realidade das escolas. Deste modo, acaba não preparando efetivamente para a docência. Neste sentido a pesquisa de Boff (2011), defende o

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desenvolvimento de trabalhos que reconheçam o papel formador da escola, na produção de saberes específicos aos futuros professores através da prática cotidiana em sala de aula. Porém, a pesquisadora afirma que há a necessidade inovar propostas que articulem a integração de conhecimentos teóricos e experienciais, destaca também a importância da constituição do professor-pesquisador, na perspectiva de transformar as práticas pedagógicas. Partindo do pressuposto, de que a SE é vista como um eixo articulador de uma formação docente interativa, Boff (2011) discute sobre a organização de um currículo baseado na SE, que além de ser um processo coletivo que estimula a interlocução de diversos saberes de áreas diferentes. A autora, também valoriza espaços de interação proporcionados pelo diálogo e refere que através das experiências cotidianas é possibilitada a constituição de um ensino transformador, pela interação de temas de relevância social aos conceitos das Ciências. A pesquisadora faz menção a formação docente na área das Ciências da Unijuí, a qual tem como propósito preparar os professores para o “enfrentamento dos problemas reais e a busca de alternativas que permitam superar as carências, revertendo em mudanças no processo educativo” (BOFF, 2011, p. 26). A universidade em questão proporciona aos licenciandos participarem mais efetivamente do cotidiano escolar através de parcerias colaborativas entre escola e universidade, assim consegue estabelecer uma articulação entre a formação teórica e prática. Ao mesmo tempo em que estimula o educar pela pesquisa e o trabalho coletivo como uma elaboração sociocultural, potencializando os processos de aprendizagem e reflexão das práticas em sala de aula.

Vianna (2013) discutiu em seu trabalho a formação de professores no contexto da Licenciatura em Química da Unijuí, a qual tem como base de proposta de abordagem curricular a elaboração da SE nos componentes curriculares de Estágio Supervisionado. Sua pesquisa teve o intuito de investigar, analisar e compreender se as disciplinas ofertadas pelo curso em questão contribuíram para o desenvolvimento de competências básicas para que os licenciandos produzissem o material da SE. A autora analisou também o nível de qualidade dessas produções. Para isso, realizou um mapeamento de conteúdos/conceitos mais escolhidos pelos licenciandos para desenvolverem a SE, de forma que contemple os conteúdos escolares, bem como levantamento de problemas encontrados em algumas SEs.

A autora evidenciou como princípios norteadores da SE os seguintes itens: ensino contextualizado; contempla conteúdos de forma interdisciplinar e intercomplementar; parte de uma situação concreta da vivencia dos alunos; significação coletiva; recontextualização de conteúdos e conceitos científicos; desenvolvimento mental dos estudantes; ensino reflexivo e

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participativo, propiciando a tomada de decisões diante de questões relativas à química e à tecnologia; formar para a cidadania; desenvolvimento do conhecimento do professor na sua área e em outras áreas do saber, para que possa ser agente da transformação curricular; rompe com a forma tradicional, fragmentada e linear de desenvolver os conteúdos escolares.

Vianna (2013, p.20- 25) argumenta que nos últimos anos a pauta das discussões sobre formação de professores está relacionada à pesquisa, ou seja, um professor que além de ensinar também aprende através da sua capacidade de reflexão e reconstrução de suas práticas, que a pesquisa pode proporcionar. No entanto, os cursos de formação docente, ainda não proporcionam uma base sólida para que licenciandos consigam enfrentar os desafios que a escola irá exigir. O estudo de Vianna (2013) mostrou que os licenciandos apresentaram grandes dificuldades para produzirem SEs, embora tenha sido proporcionado a eles “uma formação que os possibilite assumir uma atitude reflexiva em relação ao seu ensino e as condições sociais que o influencia” (p. 113).

Entre as SEs já produzidas e que foram analisadas por Vianna, a maioria era para 3ª série do Ensino Médio. De acordo com a autora, tal escolha pode estar relacionada “à imagem que os acadêmicos têm que os conteúdos de Química Orgânica são mais simples, pois foi lhes exigido, apenas, a memorizar fórmulas, nome e identificação de funções orgânicas, classificações e nomenclatura dos compostos orgânicos” (Idem). Embora muitos obstáculos tenham sido transpostos, foi observado a dificuldade em articular a temática aos conhecimentos científicos e também cotidianos.

Os estudos de Frison (2013, p. 11), os quais abordam a formação inicial de professores, apontam dificuldades nos cursos, em superar a racionalidade técnica, além disso, a prática docente é muitas vezes encarada pelos licenciandos como algo simples. Tal concepção distorce o significado de “ser professor”, levando a pensar que se trata de reprodução de aulas sem a preocupação de possuir conhecimentos mais amplos. Apoiada nas ideias de Pérez-Gomez (1992), Frison (2013) destacou que “ao final de seus cursos de Licenciatura os professores sentem-se frustrados quando tentam enfrentar problemas recorrendo aos conhecimentos, às estratégias e às técnicas que lhes foram ensinadas na academia” (p. 11-12).

Seu estudo buscou responder questões de quais os saberes docentes são mobilizados, articulados e produzidos por Licenciandos do curso de Química, durante a elaboração e o desenvolvimento de SEs, e quais as aprendizagens, saberes e conhecimentos profissionais são produzidos, de forma que ocorram mudanças em suas ações? Para isso, foram estabelecidos

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diálogos com professores em formação inicial e educadores em exercício, da escola e Universidade, estagiários e estudantes do Ensino Médio. A pesquisa de Frison (2013) mostra que a inserção da proposta de desenvolvimento curricular baseado na SE, e também a articulação à pesquisa oferece condições aos estagiários para refletirem e interagirem em suas práticas e assim proporcionando melhores condições de aprendizagem quanto aos conhecimentos específicos, pedagógicos e curriculares. A autora afirma também que ao participarem da elaboração das SEs, as estagiárias produziram um ensino mais contextualizado, com maior interação intra e interdisciplinar, por mais que em muitos momentos ficou clara a limitação de conhecimentos específicos de Química.

O trabalho de Machado (2013) se orientou nos pressupostos teóricos de autores que abordam a perspectiva histórico-cultural como Vigotski (2001), epistemológica de Bachelard (1996) e dos autores Maldaner (2007) e Zanon (2010) que foram articuladores da proposta da SE. A pesquisa em si, envolveu professores da universidade, professores da escola e licenciandos da área das CN, os quais formaram um grupo que se reuniam semanalmente para elaboração de uma SE, analisar as já existentes que já foram aplicadas em sala de aula, no intuito de avaliar a proposta e também avaliar como os conteúdos/conceitos específicos foram contemplados. Através dos encontros para planejamento, destacou a importância da problematização como um assunto decorrente que acarretava em concepções diferentes entre os professores, como também dificuldades e angustias em demarcar o seu conceito. Machado (2013) constatou em estudos das produções acadêmicas, que a problematização na SE está mais relacionado à teoria do que à prática (p. 27).

A problematização é, portanto, fundamental no processo de construção de conhecimentos dos estudantes, como também no seu processo de humanização, ou seja, embasado na teoria Vigostskiana, de que o homem é um ser histórico e cultural, tal teoria serve de referência para a SE. Portanto, Machado (2013) compreende a SE como “uma proposta que visa a reorganização do currículo escolar, tendo como base para isso o planejamento coletivo entre professores da escola, da universidade, e licenciandos, a partir de temas da vivência dos estudantes”. (p. 33), trabalhando “um currículo dinâmico e crítico, tomando-se por base o papel da escola na sociedade” (Ibidem,p.38).

Como percebido as investigações sobre a SE tem permeado aos aspectos metodológicos, conceituais e teóricos dessa proposta. Relacionando a formação inicial dos cursos de Química e Ciências Biológicas da Unijuí, e desta forma não atinge os currículos das escolas de modo geral, a não ser por projetos que a universidade fomenta. Considerando a

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riqueza da proposta, acho importante que a SE venha a fazer parte cada vez mais da educação básica, podendo ser desenvolvida também em outras áreas, sendo utilizada nas práticas cotidiana dos professores e não apenas no seu processo formativo.

Há um consenso entre os pesquisadores de que a SE propicia um ensino problematizador, contextualizado e interdisciplinar que supera a tradicionalidade do ensino no ensino básico na área das CN. No entanto, há de se investigar melhor sobre as condições reais oferecidas aos professores e estudantes para a significação e evolução conceitual dos conteúdos de CN, se realmente cria condições de aprendizagem para os estudantes e como ocorre o envolvimento dos alunos e como os professores conduzem o trabalho docente, a fim de criar a necessidade do estudo. Diante disso, há necessidade de explorar ainda mais o assunto, considerando também os aspectos externos a aplicação da proposta em sala de aula, considerando os processos de planejamento, de desenvolvimento e o envolvimento do professor, o qual é sujeito fundamental no trabalho educativo, pois este é um processo amplo e demanda empenho, estudo, planejamento, reflexão para que seus objetivos sejam alcançados. Considerando que os instrumentos e meios oferecidos aos estudantes e a forma de apresentação dos conteúdos escolares tem forte influência na apropriação dos conceitos trabalhados na SE busquei aprofundar esses aspectos durante este estudo. Resultados deste processo são apresentados no capítulo que segue.

3. O CONHECIMENTO CIENTÍFICO ESCOLAR E A CONSTITUIÇÃO DOS