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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.6 A orientação educacional e o orientador educacional

Dentre todos os especialistas da escola, o orientador educacional é aquele que tem suas funções diretamente ligadas ao pleno desenvolvimento do aluno, uma vez que irá se preocupar, não somente com o intelecto, mas também com as condições que possam estar interferindo na aprendizagem, favorecendo assim o bem estar do discente, que aprende e se socializa na escola. Ao ser observado qualquer fato relacionado ao aluno, este é encaminhado para o orientador educacional, que irá investigar e verificar quais os fatores que estão comprometendo a sua aprendizagem e socialização, ajudando, dessa forma, no seu desenvolvimento e na formação de sua cidadania.

O bullying e as questões relacionadas à indisciplina e à violência, não raro, tornam-se o centro da discussão. À medida que esses fenômenos aumentam, o orientador educacional tem a tarefa de neutralizar os conflitos e fortalecer o ânimo juvenil, no sentido de vencer ressentimentos, decepções e temores e, ainda, fazer do educando uma pessoa segura e satisfeita consigo mesma e com o seu grupo. Nesse sentido, será estudado o papel do orientador educacional e o seu histórico.

Desde os tempos mais remotos, a orientação de um modo geral tem funções muito semelhantes com as de hoje, tais como: a preocupação com o homem, seus problemas, a transmissão de costumes, valores e a sua cultura. As atividades da orientação educacional são dirigidas por pressupostos filosóficos variáveis com um contexto histórico e social.

Carlos Magno admitiu a existência de indivíduos mais capazes intelectualmente, os quais teriam recebido o dom de Deus a fim de dirigirem a sociedade. Esses indivíduos, mediante educação adequada, desenvolveriam suas capacidades em escolas paroquiais, onde o pároco desempenhava a função de orientador, selecionando os jovens que deveriam cursá-las, segundo suas capacidades (MARTINS J, 1992).

Ao se buscar o conceito de educação, depara-se com os objetivos da orientação educacional relacionados com o guiar, nortear e orientar o indivíduo, bem como, fazer vir à tona as suas potencialidades (GRINSPUN, 2002).

A educação, considerando o homem como prioritário em todo o processo educativo, está relacionada diretamente ao meio em que ele vive, levando-se em conta os aspectos de desenvolvimento psicofisiológico, vida afetiva e intelectual, relacionamento social, aspirações profissionais e desenvolvimento de suas potencialidades. No fim do século XIX, conforme Martins J. (1992), uma série de eventos, ocorridos nos Estados Unidos, exerceu notável influência na educação, transformando-a num processo bem mais complexo, exigindo-se uma assistência ao educando que não podia ser feita apenas pelo professor.

Por volta de 1895, a orientação educacional surgiu na esfera profissional, em São Francisco e, em 1908, em Boston, por obra de Frank Parsons, considerado o precursor do movimento. Seu objetivo estava ligado à área vocacional, na qual o maior serviço seria guiar o indivíduo na escolha do seu lugar social pela profissão. Era constituído por três passos: conhecimento do educando, conhecimento do mundo do trabalho e o ajustamento do homem ao emprego (NÉRICI, 1986).

No Brasil, a orientação educacional iniciou-se nos anos 20, em São Paulo, sob grande influência da orientação americana e da francesa, transformando-se em um processo bem mais complexo que exigia uma assistência ao educando feita pelo orientador e não pelo professor, como era antes e, em especial, com o uso de aconselhamento (MARTINS J, 1992; GRINSPUN, 2002).

Segundo Nérici (1986), a primeira tentativa de fato de orientação educacional, no Brasil, deve-se ao educador Lourenço Filho que, em 1931, quando diretor do Departamento de Educação do Estado de São Paulo criou o Serviço de Orientação Profissional e Educacional, o qual tinha como objetivo dar aos alunos informações sobre as profissões e, ainda, aconselhamento no momento da escolha. Dessa forma, naquela época, a orientação apareceu timidamente associada aos trabalhos de seleção e escolha profissional.

No ano de 1934, surge a orientação educacional nas escolas, nos moldes europeus e americanos e teve como pioneiras as orientadoras educacionais Aracy Muniz Freire e Maria Junqueira Schimidth, ambas da prefeitura do Rio de Janeiro (MARTINS J, 1992; GRINSPUN, 2003).

Martins (1992) ressalta que o Brasil foi o primeiro país do mundo a ter a orientação educacional obrigatória, na década de 40, através de documento legal, chamado Lei Capanema, que traçava as diretrizes para a sua aplicação nas escolas secundárias, definindo as

funções do orientador. A partir de 1942, com a regulamentação da orientação educacional, o trabalho do orientador é assistencial, agindo como um “ajustador” do aluno à escola, à família e à sociedade (GRINSPUN, 2002).

A figura do orientador educacional aparece pela primeira vez na legislação federal nos Decretos-lei nº. 4073, de 30/01/42 (Lei orgânica do Ensino Industrial); nº. 4.424, de 09/04/42 (Lei Orgânica do Ensino Secundário) e depois, no de nº. 6.141, de 28/12/43 (Lei orgânica de Ensino), conforme consta na obra de Nérici (1986).

Nos anos 70, chamado de período transformador, surge a obrigatoriedade da orientação educacional nas escolas de 1º e 2º graus, conforme determina o artigo10 da Lei nº. 5692/71 - Diretrizes e bases para ensino de 1º e 2º grau (BRASIL, 1971). Sem o reconhecimento na legitimidade dos seus objetivos e propósitos por parte dos educadores, não se garantiu uma eficiência nos resultados. Em outras palavras, a diversidade de atribuições e funções, de acordo com as concepções e áreas do conhecimento, levou a identidade do profissional, algumas vezes, a ser vista como fora da esfera pedagógica, afirma Grinspun (2003).

Giacaglia e Penteado (2000) apontam a Lei nº. 5564, de 21/12/68, regulamentada pelo Decreto nº. 72846, de 26/09/73, a qual reconhece a profissão de orientador educacional nos 8º e 9º artigos, definindo, assim, especificamente, em âmbito nacional, as atribuições do orientador educacional.

A orientação educacional no Brasil teve sua trajetória direcionada pelos esforços dos orientadores, buscando definir e redefinir-se segundo as variações ocorridas na teoria de educação e das ciências humanas, adequando suas práticas às variações processadas na sociedade e na cultura brasileira, com repercussões nos sistemas educacionais, sobretudo nos ensinos de 1º e 2º graus (BRANDÃO apud GRINSPUN, 2003).

Com a evolução da profissão de orientador educacional, os profissionais procuraram visar não somente os bons resultados do aluno nos estudos, mas também, a realidade do educando como pessoa, o seu desenvolvimento, adequada integração na escola, no lar e sociedade (NÉRICI, 1986).

Na década de 80, o orientador educacional buscou um trabalho integrado com os demais profissionais da escola, comprometendo-se com a formação da cidadania dos alunos, considerando o caráter da formação da subjetividade. Naquela época, o orientador era visto como um agente de mudança que deveria atender aos alunos ditos “problemas” (GRINSPUN, 2002).

O sentido da educação e da orientação educacional foi questionado também naquela década, a ponto de grande parte das obras publicadas terem evidenciado um resultado maior pelo não reconhecimento do papel da escola, bem como, do estabelecimento de uma anti-

orientação2 educacional, do que propriamente explicitar sua natureza e configurar as

possibilidades de sua atuação (LÜCK, 1991).

Por seu movimento histórico, político e econômico, a década de 80 foi marcada por mudanças, avanços e contradições nas quais os orientadores buscavam respostas para suas indagações a partir de questionamentos sociais. Grinspun (2002) indica uma ampla produção acadêmica na área da orientação, em uma dimensão crítica e questionadora onde os profissionais assumem um papel político mais comprometido com as causas sociais.

Os últimos desenvolvimentos levaram o orientador educacional para um trabalho mais abrangente, no sentido da sua dimensão pedagógica e do seu o caráter mediador e, junto com os demais educadores, atua em todos os segmentos da escola, com ações efetivas e com uma educação de qualidade, dando ênfase à construção do coletivo junto à sociedade.

Atualmente, não se exige a obrigatoriedade do orientador educacional na escola. A Lei nº. 9394/96 das Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 20 de dezembro de 1996, traz a necessidade da figura do orientador, mas este também conseguiu o seu espaço no decorrer dos anos, mostrando a necessidade do seu trabalho junto aos demais elementos da escola.

Primeiramente é importante conceituar educação para posteriormente conceituar orientação educacional, uma vez que a pedagogia é essencialmente a ciência da educação e a orientação educacional está diretamente envolvida no seu contexto.

A educação, a exemplo de outras profissões, é uma arte prática e uma ciência aplicada. No sentido amplo, a educação é um processo de atuação da sociedade sobre o desenvolvimento do indivíduo, visando engajá-lo no contexto social e direcioná-la para uma aceitação e busca de objetivos coletivos (MARTINS J, 1992). A educação envolve formar o homem integral, desenvolvendo todas as potencialidades do ser humano em função de um fim. Dessa forma, a amplitude da educação é vasta e se entrelaça com a orientação educacional, proporcionando ao aluno os recursos indispensáveis ao seu ajustamento pessoal e social, vivência dos verdadeiros valores e escolha adequada de uma profissão (NEVES, 1977).

2A anti-orientação é conceituada como sendo a construção de uma visão negativa e de uma generalizada atitude

de desconsideração a tudo o quanto o orientador educacional realizava na escola e a tudo que era definido na literatura.

A Pedagogia é um conjunto de teorias e regras destinadas a orientar os educadores no seu trabalho educativo. Pode-se dizer que ela engloba ao mesmo tempo algumas áreas como arte, técnica, teoria e filosofia, e leva em conta os fins, os agentes, os sujeitos e os meios de ação na educação (MARTINS J, 1992). A divisão desse curso em habilitações estanques, através do Parecer nº. 252/69, do Conselho Federal de Educação, segundo Sena (1993), reflete a divisão social do trabalho na escola, direcionando projetos educacionais voltados para os problemas que a escola enfrenta no seu dia-a-dia. Para tanto, ao sair da graduação de pedagogia, é exigido no mercado de trabalho que o pedagogo faça uma especialização em orientação educacional, pois o trabalho junto aos alunos na escola requer esse pré-requisito.

A orientação educacional assiste o educando nas suas escolhas, oferecendo condições de descobertas de si mesmo, facilitando escolhas concretas com amadurecimento que favorecem a integração social em todos os aspectos. É uma atividade que tem a finalidade de facilitar o desenvolvimento integral do educando dentro do processo educacional e sempre que necessário junto à família (MARTINS J, 1992). A Orientação Educacional representa um esforço para ajudar o aluno a ser capaz de fazer escolhas em níveis social, profissional e familiar e expressa essa ajuda, dentro da escola, na tomada de consciência de seus valores e dificuldades, concretizando-se através dos estudos as suas realizações (SCHMIDT; TULLY apud NÉRICI, 1986).

O orientador educacional é a pessoa responsável pelo Serviço de Orientação e a ele cabe planejar, organizar e implementar a orientação educacional na escola. Esse profissional precisa conscientizar os agentes educativos da escola a manterem um bom relacionamento com diretores, coordenadores, professores e funcionários e, evidentemente, com os alunos, sendo responsável pelo processo de relação de ajuda, através de relações interpessoais, visando o desenvolvimento integral dos mesmos (MARTINS J, 1992).

Por um lado, a educação tem características que acompanham o perfil de determinadas épocas e o profissional de orientação educacional, por outro lado, é identificado como parte desse processo. Quando observado o trabalho do orientador educacional nos vários tipos de educação no decorrer dos anos, constatamos que na educação tradicional, primeiramente, ele desempenhava o papel de terapeuta e psicólogo, destinando sua atenção aos alunos-problema, com o objetivo de ajustá-los aos modelos apresentados pela família, escola e pela sociedade.

Na educação renovada progressivista, o orientador buscava auxiliar o desenvolvimento cognitivo dos alunos, enquanto que, na educação não diretiva era o facilitador de mudanças, com o uso do aconselhamento vocacional. Na educação tecnicista, o orientador tinha uma

linha funcionalista, com técnicas que procuravam identificar as aptidões dos alunos para o mercado de trabalho. Já na libertária, seu papel era subsidiar e assessorar o professor, como catalisador do grupo junto aos alunos. Na libertadora, seu trabalho estava relacionado em captar o mundo real e concreto dos alunos, com enfoque no histórico dos alunos. E, finalmente, na educação crítico-social dos conteúdos, a atuação desse profissional consistia na preparação do aluno para o mundo do aluno e suas contradições, fornecendo instrumentos para ajudar em sua socialização (GRINSPUN, 2002).

A orientação educacional é uma atividade que ainda busca sua identidade e, atualmente, uma das grandes preocupações dos orientadores educacionais é definir suas funções dentro da instituição escolar e perante a sociedade.

Na realidade, muitas vezes, existe certa desproporção entre o que se deseja obter com o trabalho do orientador educacional e o que se obtém pela ação direta do profissional. O resultado do trabalho profícuo, quase anônimo da orientação, pode não ser acolhido de imediato, mas transcende a vida escolar do adolescente, projetando-se na sua vida de adulto (NEVES, 1977).

Nas regiões brasileiras e nas diferentes redes escolares, é comum não existir a figura desse profissional ou, então, receber denominações variadas e exercer outras atividades. Tal diversidade descaracteriza a real dimensão desse profissional da educação (GRINSPUN, 2003). Muitas escolas não têm o profissional denominado orientador educacional. Isso não significa que não exista algum outro profissional desempenhando suas funções. Muitas vezes, o coordenador pedagógico acaba sendo generalista e abarca todas as dimensões do ato educacional, fazendo o papel de super educador. É evidente que nenhum profissional tem condições de exercer todas essas funções e ainda realizar um trabalho de qualidade, por esse motivo, é necessário um mapeamento das funções atinentes ao orientador educacional. Assim, no momento em que se conseguir definir, especificar e delimitar as funções deste profissional da educação na escola, provavelmente, as causas de insatisfação profissional poderão ser sanadas.

O papel da orientação educacional, atualmente, é de ajudar o aluno na formação de uma cidadania e o da escola, em organizar e realizar o seu projeto pedagógico, ajudando o aluno por inteiro. Desvendar e trazer à tona o que está oculto no aluno; analisar, priorizando o que é essencial, particular; tentar relacioná-lo com seus pares; discutir, interrogar sobre as determinações e obrigações e, ao final, compreendê-lo, contextualizando a trama das relações que dele provêm são algumas das funções do orientador educacional (GRINSPUN, 2002).

Segundo Martins J. (1992), o papel do orientador educacional é o de assistir o aluno nas suas escolhas, oferecendo-lhe condições de descobertas e condições para o seu amadurecimento que permitam integrar-se socialmente. Por outro lado, Neves, (1977) sugere algumas práticas que os orientadores devem utilizar, tais como: proporcionar ao aluno o reconhecimento e a vivência dos verdadeiros valores, possibilitando condições para uma auto- realização em todos os planos de vida escolar, familiar, social e religiosa; auxiliar a resolver por si mesmo os problemas de natureza afetivo-emocional; contribuir para uma melhor integração do aluno à escola e conduzi-lo a um rendimento didático satisfatório; favorecer o relacionamento positivo entre alunos e professores; colaborar para um melhor ajustamento do aluno à família e à sociedade; possibilitar ao educando reconhecer suas reais aptidões, capacidades e limitações.

Ribeiro, Andrade e Pinto (1984) relacionam ainda ao papel do orientador educacional o aconselhamento de auto-ajuda, em relação a problemas de adaptação à escola, áreas intelectuais, emocionais e sociais. Deve assessorar o professor nos problemas de relacionamento com alunos e turma; auxiliar a família na compreensão de seus filhos, hábitos de estudo, orientação vocacional, problemas de relações interpessoais, avaliando também o processo de ensino-aprendizagem.

O papel do orientador educacional, segundo Lück (1991), é caracterizado como duas dimensões de um mesmo processo, em que uma não existe sem a outra e a ampliação de uma implica na outra. O primeiro grupo é o das funções de organizações que dizem respeito a todas àquelas desempenhadas com o objetivo de preparação, ordenação, provisão, sistematização e retro alimentação. A segunda diz respeito às funções de implementação, que são àquelas desempenhadas com a finalidade de promover uma transformação no contexto pedagógico ou de realizar uma relação de ajuda como aconselhamento, acompanhamento, coordenação, consultoria, encaminhamento e orientação em grupo.

O orientador educacional faz parte da equipe técnica da escola e participa da formulação dos objetivos educacionais gerais e específicos do planejamento escolar. Sua contribuição é muito importante durante a formulação dos mesmos, pois, as decisões se referem ao processo educativo como um todo. Como, por exemplo: o currículo da escola, inclusão de disciplina, atividades extraclasses e a problemática da indisciplina (GIACAGLIA; PENTEADO, 2000).