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CAPÍTULO 3 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.7 O conhecimento sobre o bullying

3.7.1 Conhecimento do profissional a respeito do tema.

As entrevistadas apresentaram conhecimento do tema e opiniões diversas.

Acho que dentro da escola, é uma brincadeira repetitiva entre os adolescentes pegar no pé, o aluno não percebe o que vai acontecer como conseqüência. Não sabe como o outro reage. Tipos de bullying seriam gozações, brincadeiras de péssimo gosto. (OE 8)

“Para mim é uma violência. Deixa estressada a pessoa. É uma forma de aniquilar o outro. Seja por gestos e às vezes não precisa fazer nada, só olhar. São brincadeiras pejorativas.” (OE 4)

Alguns autores, como Olweus (1994) e Lopes Neto (2005), conceituam o fenômeno não como um episódio esporádico ou como brincadeiras próprias de crianças e sim como atos violentos, repetitivos e negativos que acontecem em todas as escolas, e que tendem a gerar sofrimento para uns e conformismo para outros. Trata-se de um processo no qual se

desenvolve uma desigualdade de poder.

O que observamos nas entrevistas é que algumas profissionais confundem o conceito com temas correlatos, como podemos observar no relato abaixo onde se confunde-o com

qualquer tipo de violência, como por exemplo OE2 que afirmou: “para mim, bullying é todo e qualquer tipo de violência; no caso da escola, seria com o aluno que vai desde a violência verbal até a física, indireta ou não.”

O espectro da violência é amplo e cheio de matizes, pois existem vários tipos de violência como, por exemplo, a brutal, normalmente sangrenta e assustadora, e a sutil, que se encobre sob uma aparência de legalidade e de pacifismo. A violência escolar tem sido um assunto obscuro, de difícil compreensão, sendo comum o fato de ainda não saberem ao certo como administrar este tipo de evento.

Abramovay e Rua (2004) sugerem que o bullying é uma das formas de violência escolar que tem sido demonstrada através da violência simbólica sob forma de gozações, piadas, apelidos e outras formas inadequadas de comportamento. Parece-nos, portanto, inapropriado conceituar bullying dentro do exemplo acima supracitado, como revela a OE2.

O próximo relato, do OE9, por sua vez, demonstra que a orientadora confunde o tema com o conceito de indisciplina: “Bullying é a indisciplina, postura inadequada. A falta de compromisso com os estudos.”.

Esse exemplo foi típico da confusão das orientadoras educacionais com tema. Para muitas, o bullying era algo que não estava no contexto, era errado e atrapalhava o desenvolvimento do aluno de várias formas assim como a indisciplina o faz. É difícil falar da indisciplina escolar sem relacioná-la à violência social que permeia a sociedade e outros tipos de violências como aqueles ligados ao tráfico, aquelas dirigidas socialmente aos excluídos e outras mais. A indisciplina de alunos é um comportamento que perturba o processo de ensino, interrompe as aulas, desafia os professores e compromete a qualidade da aula.

A literatura que versa sobre a indisciplina a aponta como um comportamento anti- social e inadequado como um dos fatores que mais compromete a prática pedagógica (OLIVEIRA, 2003). Emerge de nossas análises que, embora os conceitos de indisciplina e de bullying sejam distintos, eles são facilmente confundidos nas entrevistadas.

Por outro lado, observamos em outros relatos que, de uma forma ou de outra, as orientadoras conhecem parte da conceituação e atitudes de bullying como seguem os relatos abaixo:

a) em relação aos tipos de ações, identificadas nas agressões, nos incômodos, gozações, apelidos entre outras ações:

É um conhecimento que tem uma nomenclatura atual, mas o bullying sempre existiu como sendo agressão. Grosseiramente, o bullying é bulir, mexer; seria incomodar as pessoas de várias formas, com a postura, com palavras e até com a agressão física. (OE 1)

“É qualquer forma de violência que aconteça de forma repetitiva como: gozação, agressão física, apelidos etc.” (OE 6)

b) no sentido de discriminação, relacionado a alguns aspectos como a parte física da pessoa (gorda, magra, usa aparelho, óculos, etc.), ao desenvolvimento intelectual (melhor e pior aluno da turma), etnia e descendência:

Não é uma coisa nova. O estudo é novo aqui no Brasil. O primeiro livro aqui no Brasil é da Cléo Fante. É o ato de você humilhar, através de ações de grupos ou individualmente. É um tratamento que tende a humilhar, que tende a segregar, deixar um aluno ou outro isolado, seja porque é gordo, magro, ou qualquer outro aspecto; diz respeito a algum tipo de preconceito mesmo. Discriminação. (OE 3)

c) no sentido de exclusão social, relacionada ao fato do indivíduo não ser aceito nos variados grupos que se formam na escola, por não apresentar o “perfil” que os alunos esperam. Muitas vezes por serem tímidos, bagunceiros, estudiosos entre outras características. Como exemplo esta fala do OE10: “Bullying é exclusão, por não pertencer a um determinado grupo”.

d) no sentido de um dano psicológico, pois o bullying pode causar alguns problemas psicológicos, como: comportamentos psicossomáticos (dores de cabeça e no corpo, enjôos, náuseas, etc.), depressão, manias, entre outros aspectos:

Bullying é o comportamento que tende a menosprezar o outro. Atinge o aluno

psicologicamente.” (OE 5)

É uma forma de violência, não necessariamente física, mas psicológica, tanto o agressor como a vítima são prejudicados e todo o grupo em si. Pode causar sérios danos, sociais, psicológicos e físicos, conseqüências graves. Tem a questão da repetição e as pessoas confundem muito um fato como bullying. Existe todo um processo. (OE 7)

ABRAPIA (2005) relacionou como já foi dita algumas ações que podem estar presentes em um comportamento de bullying, algumas delas verbalizadas pelas entrevistadas: colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar,

agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar e quebrar pertences. Observamos que algumas dessas formas de bullying apresentadas pela ABRAPIA (2005) foram identificadas pelas orientadoras educacionais em relação aos alunos das escolas, como o mexer, o incomodar, colocar apelidos, humilhações, exclusão, além de algumas agressões, como bater, empurrar, ferir, chutar.

3.7.2 A percepção de existência do bullying na escola.

Apenas duas entrevistadas relataram não existir bullying em suas escolas, o que provoca uma primeira reflexão em relação aos aspectos que foram apresentados por elas. Será que essas profissionais realmente sabem o significado do termo bullying e quais suas ações? De acordo com a pergunta anterior sobre o conhecimento de bullying, todas as orientadoras acreditavam saber falar sobre o tema. Algumas, como já foi explicitado, tendiam a confundir o tema com vários tipos de violência e também com o conceito de indisciplina. Outras focalizavam apenas um dos aspectos deste comportamento, como a exclusão, os apelidos, a violência física, entre outros. Daí a hipótese da negação da existência deste comportamento na escola por parte de algumas OE(s), uma vez que não conheciam de fato o comportamento em si, como podemos observar os relatos abaixo transcritos.

O bullying quase não existe. Quer dizer, não vivenciei nenhuma prática aqui na escola. O que percebo é a indisciplina, uma postura inadequada. A falta de compromisso com os estudos, vindo de alguns alunos.” (OE 9)

A nossa escola não está focaliza a violência. Não vivenciamos nada aqui na escola, pelo menos durante o tempo que estou aqui. O que vimos é aqueles jogos infantis onde a criança apelida o outro coleguinha, por esse ter algum problema físico ou somente para assustá-lo. (OE 10)

O estudo de Fante (2005), feito em escolas públicas e privadas a respeito da existência de bullying relatam que este é um fenômeno que ocorre, com maior ou menor incidência, em todas as escolas do mundo, sejam elas da periferia, do meio rural, pública ou particular, independentemente das características culturais, econômicas ou sociais dos alunos. O bullying pode ser entendido como fonte geradora de outras inúmeras formas de violência entre escolares.

As demais orientadoras afirmam a existência do bullying e relatam que os comportamentos se diferenciam, em suas opiniões, de acordo com a realidade escolar.

O bullying existe, sim, em todo e qualquer tipo de escola. Aqui ele se apresenta sob forma de fofocas, apelidos pejorativos e de exclusão social. (OE6)

As formas mais comuns de bullying aqui na escola são apelidos e brigas; que são poucas: uma por ano. (OE 5)

Aqui na escola o bullying se apresenta na colocação de apelidos e ameaças vindas de meninos e a exclusão por parte das meninas. (OE4)

Na nossa escola a forma mais comum de bullying é a forma física. Não digo que é aquela violência cruel, mas sim uma forma que os alunos encontraram para lidar com seus conflitos, não sabendo lidar com o diálogo. Às vezes eles reagem verbalmente, por exemplo: eu tinha um aluno que tinha cabelos compridos; eles o chamavam de mulherzinha. Certo dia, esse garoto não agüentou mais e partiu para a agressão física. Os meninos são assim aqui. E as meninas agridem de uma outra forma, através da fofoca. (OE3)

O que a gente mais percebe aqui na escola são as provocações de alunos. Agressões físicas, não. Eles têm limite e entendem que não podem ter este tipo de reação. Partem mesmo para a exclusão. (OE2)

Aqui acontecem todos os tipos de bullying, até os mais agressivos. Agressão verbal e agressão física têm poucos casos. Discriminação de poder é o que tem mais, aquele que tem maior poder aquisitivo e aquele que a família tem menor poder aquisitivo. Eles trazem isso de casa, pois estão vivendo isso na sociedade. (OE1)

Observamos em nossa escola brigas e discussões entre alunos. Principalmente entre os meninos. As meninas utilizam da fofoca. (OE7)

Aqui na escola tem bullying, sim. Observamos que os tipos mais comuns de

bullying aqui na escola são as aplicações de apelidos, principalmente orientados

aos meninos com jeito afeminados. (OE8)

Observamos, por meio das análises das entrevistas que as OEs percebem a existência de vários comportamentos de bullying nas escolas, em maior ou menor incidência, diferenciando-se apenas nos tipos dos mesmos em cada escola. Porém, registra- se também que há uma confusão a respeito das características do bullying por parte das entrevistadas como, por exemplo, a inadequação de comportamento em sala de aula apresentada pelos alunos, como conversas paralelas, aluno que levanta do lugar o tempo todo, brincadeiras fora de hora, entre outros, que não caracterizam o comportamento de

bullying.

Para desfazer esta confusão relacionada a mistura de conceito e características de

bullying acredita-se em um trabalho de caráter informativo, tanto para o corpo discente