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A presença do tema bullying nos projetos pedagógicos e planejamento anual

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.5 A política da escola

3.5.1 A presença do tema bullying nos projetos pedagógicos e planejamento anual

Planejar a orientação educacional implica delinear o seu sentido, os rumos, a sua abrangência e as perspectivas de atuação do orientador educacional. Este planejamento envolve uma visão global sobre a natureza da educação, da orientação educacional e de suas possibilidades de ação na escola (LÜCK, 1991).

São atribuídos ao planejamento significados diversos, segundo o enfoque e a ênfase com que o orientador abordar esses assuntos. Surgem diferentes temas a serem abordados pelo profissional de orientação educacional de acordo com a demanda de cada escola. E a partir desses temas é que se expressam os conceitos e utilidades do planejamento, tais como, levantar a situação atual, estabelecer o que se deseja mudar e organizar, quais ações futuras focalizar com o objetivo de ter uma maior eficiência, maior exatidão e melhores resultados e maximinizar esforços e gastos. A partir dos objetivos propostos é que surgem propriamente o planejamento e projetos de cada escola (LÜCK, 1991).

O planejamento e a elaboração do plano escolar, bem como o planejamento anual, costumam ocorrer no final do ano letivo anterior ou no início do ano em questão, dependendo do calendário de cada escola e conta com a participação de todos os profissionais que nela atua. Cabe ao orientador educacional, junto aos demais profissionais da escola, participar desse planejamento, em todas as fases e aspectos. Como membro desta equipe técnica, o orientador educacional participa da formulação dos objetivos, indicando questões importantes a serem discutidas, com embasamento teórico recebido ao longo de sua formação em pedagogia.

Este conhecimento técnico o ajudará na escolha das estratégias e dos recursos mais adequados para a consecução dos objetivos propostos e, dessa forma, poderá contribuir, significativamente, para tomadas de decisões, no que se refere ao processo educativo, tais

como um todo como o currículo da escola, a inclusão de disciplinas, as atividades extraclasse, a problemática da disciplina, os critérios de avaliação entre outros.

Ao serem solicitados a descrever o projeto político da escola onde trabalham, os orientadores educacionais observaram como os projetos não possuíam o tema bullying, especificamente como mostra a transcrição:

Na realidade no projeto político da escola não existe especificamente o assunto bullying. A gente procura dentro das aulas de filosofia abordar a questão do

bullying Como a gente trabalha a filosofia desde 1ª até a 4ª série, então é nesse

momento que a gente trabalha o bullying. Levamos os alunos a refletirem sobre o bullying, sobre as atitudes que indiretamente são bullying, a questão da violência, questão da discriminação, das provocações. Então se existe um momento específico para isso, é dentro mesmo das aulas de filosofia. (OE 2)

A metade dos entrevistados, num total de cinco, afirmou que no projeto político de sua escola não constava nenhuma atividade relacionada ao bullying e nem à violência escolar. Nessas escolas eles trabalhavam esse tipo de assunto conforme a demanda, muitas vezes junto com os professores, em sala de aula, dependendo de cada caso conforme mostra a transcrição:

O bullying apareceu há pouco tempo e fizemos cursos e capacitação e palestras. O bullying não está no projeto. Trabalhamos de acordo com a demanda. Quem trabalha? Na maioria das vezes a orientadora educacional, às vezes junto com os professores de português; depende do ocorrido, do caso. (OE 8)

Diretamente não temos o tema em nosso Projeto Político aqui na escola. Em alguns aspectos colocam-se o tema da violência. Temos a Pastoral, que faz parte da filosofia da escola onde é feita uma acolhida todas as manhãs antes das aulas pelo professor que ministrará a 1ª aula, depois é feita uma oração. A pastoral é formada por uma freira e uma leiga e trabalha junto com todos os professores orientando-os a respeito do tema do dia. A Pastoral possui reuniões com os demais profissionais dos colégios da nossa rede de ensino. (OE 9)

Em duas entrevistas, por outro lado, observamos um posicionamento mais periférico por parte das orientadoras educacionais, como mostra a transcrição:

No nosso projeto não tem nada sobre violência escolar ou bullying. Trabalhamos de acordo com a demanda. Pequenos grupos, individualmente e a família. O professor encaminha o aluno até o serviço de orientação educacional, daí trabalhamos o aluno e, se necessário, a família. (OE 6)

“Não trabalhamos diretamente o assunto. Especificamente não. Trabalhamos quando somos solicitadas. Daí trabalhamos junto ao professor, à direção e, claro, aos alunos.” (OE 10)

As observações realizadas nas escolas permitem afirmar que os temas desenvolvidos nos projetos pedagógicos das escolas dessas orientadoras educacionais relacionam-se à orientação sexual, à drogadição, ao trânsito e ao meio ambiente.

Por outro lado, as outras cinco orientadoras educacionais afirmam que no Projeto Pedagógico o bullying entra como assunto a ser trabalhado no decorrer do ano letivo:

No planejamento do SOE, nós colocamos o assunto bullying. Primeiro porque ele já existia na escola, na vida das pessoas, só que não tinha nome. Depois, porque com o aparecimento dos estudos a respeito do tema, a televisão e as próprias ações dos alunos no cotidiano escolar, faz-se necessária uma medida preventiva contra a violência na escola. (OE 01)

A OE 7 relata que na sua escola se trabalha dois projetos, com a participação de todos os profissionais da unidade de ensino. A participação da orientadora consiste em entrar na sala de aula e trabalhar os temas pré-determinados, como mostra a transcrição abaixo:

Aqui na escola trabalhamos o projeto VIDA que consiste em discutir questões como as drogas e a violência. Dentro da questão violência o bullying estaria inserido. E o outro projeto é o VIVE que trabalhamos os valores individuais. A minha participação é trabalhar junto com os alunos estes temas em sala de aula. Eu programo junto com os professores quais aulas poderei utilizar para trabalhar com os alunos. (OE7)

Na escola da OE 3 o tema bullying aparece no projeto da seguinte forma: a orientadora educacional faz um planejamento anual e agrega o tema no planejamento pedagógico feito pelos professores com os conteúdos abordados em sala de aula. São adotados livros que contenham textos sobre bullying, discriminação, segregação e humilhação. O projeto é flexível como relata essa orientadora:

Às vezes você detecta um problema e as pessoas falam ou pedem para executar um trabalho nessa área. Agora mesmo apareceu um na internet. A gente fala dos sites de relacionamentos, pois estão aparecendo muitos problemas de chantagem, trocas de agressões entre alunos. Trabalhamos então textos em comunicações e juntos vão trabalhando isso. Foi uma necessidade que surgiu e tivemos o apoio do professor de português. (OE3)

A OE4 trabalha de forma similar à OE 3, conforme a transcrição abaixo:

O projeto tem o tema sim. E também sobre violência. É trabalho nas aulas de OE. Vários tipos de violências. Interdisciplinar. A OE entra na sala de aula e fala a respeito de trabalho e auto-estima. O que é ser amigo e ser colega. Explica a respeito do respeito e como gostaria de ser tratado. Trabalha com textos, explicações verbais. Tem um planejamento, não tem horário certo para trabalhar, negocia com os professores. Participam deste projeto o SOE com a ajuda dos professores. (OE4)

O projeto educacional para o ano de 2007 da escola da OE 1 está voltado para o tema “conhecendo a gente se entende”. Nesse projeto são trabalhados temas como o conhecimento mútuo, o outro. A partir desse estudo o aluno pode conhecer o outro e conseguir respeitá-lo com as suas diferenças e entender como pode existir uma relação de felicidade, de paz e de harmonia com o outro.

Esse projeto está voltado para a descoberta de cada um sobre si mesmo, a sua constituição, suas características e o reconhecimento de cada um no grupo, com suas diferenças.

Percebendo como é esse projeto, como é essa proposta do SOE, são subentendidos nessa fala, nessa proposta o trabalho sobre violência, sobre indisciplina e sobre o bullying. Por quê? Porque a partir do momento que há um trabalho de formação pessoal, de caráter, de auto-conhecimento e de auto-estima elevada, você está automaticamente trabalhando a pessoa a não agredir o outro de qualquer forma. Daí esse trabalho é um trabalho que tem foco maior da proposta da orientação educacional. Esse projeto é uma proposta da escola e do SOE. É passada para os professores no início do ano. Na nossa reunião pedagógica, a gente fez o trabalho, a proposta e a passa aos professores e os professores sabem que a gente trabalha nesse sentido e recebem o projeto pronto; mas sabendo da proposta desde o início. A participação dos professores consiste em colocar em prática e valorizar esse tipo de trabalho. (OE1)

Outra orientadora educacional (OE5) relata que o projeto pedagógico de sua escola trabalha o tema bullying com o foco na formação humana. É baseado na forma do empreendedorismo, no qual se trabalha o autoconhecimento, a religião, o respeito, o relacionamento das pessoas com princípios da religião e também com os valores.

Aqui na escola o nosso projeto é baseado no empreendedorismo. Nele a gente trabalha o auto-conhecimento, o respeito, e como este influencia no relacionamento entre as pessoas. Como a nossa escola é religiosa todos os temas são embasados com Jesus e os seus valores. (OE5)

O projeto escolar requer um planejamento, um processo dinâmico e complexo que envolve, além de uma dimensão técnica, uma forma, e uma dimensão política, de fundo. Minimizar a importância do planejamento, vendo apenas a dimensão técnica, ou seja, o seu aspecto formal é vê-lo sob uma ótica limitada, atribuindo-lhe apenas uma perspectiva linear, e, de conseqüência, desvalorizando a outra dimensão correspondente, que por certo não se expressa sem a dimensão técnica e assim vice-versa (LUCK, 1991).

A partir das análises das entrevistas, observamos que ainda hoje a questão da violência não está inserida no planejamento escolar como acreditamos que deveria estar,

por se tratar de uma questão atualmente preocupante e que vem crescendo a cada dia e se tornando de fato um problema mundial.

Temas como a orientação sexual, drogas, trânsito e meio ambiente são considerados prioridade neste tipo de planejamento. Foi observado ainda que a justificativa de não conter este tema no planejamento se dá pelo fato dessas profissionais acreditarem não observarem o bullying como um comportamento problemático na escola e as vezes nem a questão da violência é problematizado dentro do âmbito escolar. Observamos que existe uma negação acerca desses temas. O mais interessante foi que relataram que trabalham este tipo de comportamento, motivados muito mais pela demanda. Mas que demanda é esta, uma vez que insistem a não reconhecer o bullying na escola a que pertencem?

Embora algumas orientadoras tenham observado que o tema bullying não se encontra no planejamento, mesmo assim elas afirmam que trabalham a temática de diversas formas, nas aulas de filosofia, na abordagem sobre o auto-conhecimento, e nos diversos trabalhos preventivos.

Por outro lado, há algumas profissionais que indicaram ter no seu planejamento escolar o tema bullying e a violência na escola, e que trabalham estes temas em projetos feitos por elas mesmas. Outras vezes acoplam seu projeto ao projeto político da escola para que seja desenvolvido ao longo do ano letivo.