• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.5 Violência na forma de bullying

Os estudos sobre bullying tiveram início no começo dos anos 70 com o professor Dan Olweus na Universidade de Bergen na Noruega. Esse fenômeno passou a ser o objeto de estudo do professor, uma vez que esse fato tornou-se freqüente e sistemático segundo relatos de suas pesquisas, segundo as quais crianças e adultos sofriam desse tipo de violência diariamente na escola. O interesse pelo estudo centralizou-se primeiramente sobre os problemas em relação aos autores/agressores e seus alvos na escola e a sua relação com o suicídio. Procurou, primeiramente, estabelecer uma conexão entre os alvos e o suicídio (OLWEUS, 1997).

A década de 80, na Noruega, foi marcada por muitos casos de suicídios entre adolescentes. O fato despertou a atenção de Olweus que deu início às investigações das causas de morte entre adolescentes. Acreditou e constatou que as vítimas teriam sofrido bullying e por causa deste episódio teriam cometido suicídio. Também na década de 80 e começo dos anos 90, episódios semelhantes chamaram a atenção de outros pesquisadores em outros países, como Japão, Austrália, Suécia, Canadá e Estados Unidos (OLWEUS, 1994).

Essas graves situações de violências despertaram a atenção das instituições de ensino para a prevenção do bullying e para a avaliação de suas origens. Os primeiros resultados e os diagnósticos de bullying foram publicados por Olweus (2001), tendo sido verificado que em cada sete estudantes noruegueses envolvidos com violência escolar, um estava envolvido com sérios problemas de bullying, pelo menos apresentando episódios uma vez na semana. A partir desse estudo, Olweus considerou que o problema de bullying em escolas norueguesas não era exclusividade dessas escolas e, sim, que o fenômeno já estaria aparecendo em outros países, como Suécia, Finlândia, Grã-Bretanha, Canadá, Japão, Espanha e Austrália

O pioneiro deste estudo defendeu ainda a idéia de que todos os envolvidos no âmbito escolar, começando pelo funcionário da escola, pais, responsáveis, professores, orientadores, alunos, enfim, toda a comunidade deveria estar alerta a esse fenômeno, não somente o professor que já tinha a nobre tarefa de ensinar. Ele acreditava que se podia fazer mais por esses alunos do que encaminhá-los para a psicoterapia, rotulá-los e expulsá-los da escola

(SPIVAK, 2003).

A partir desse instante, várias campanhas foram realizadas no ambiente escolar, principalmente na Europa e na América do Norte. No ano de 2001, a “Network Projet: Nature

and Prevention of Bullying,” mantida pela Comissão Européia, englobava as campanhas do

Reino Unido, Portugal, Itália, Alemanha, Grécia e Espanha e tinha como objetivo diagnosticar as causas e a natureza do bullying e a exclusão social.

Recentemente, na Itália, a pesquisadora Ada Fonzi e seu grupo de trabalho começaram uma pesquisa sobre bullying envolvendo estudantes de seis a 14 anos, freqüentadores das chamadas escolas elementari e media inferori. As pesquisas identificaram o aparecimento do

bullying desde o maternal até os primeiros anos das escolas superiori, entre alunos de 15 a 20

anos (COSTANTINI, 2004).

Em Portugal, no ano de 2004, foi feita uma pesquisa nas escolas de Braga e de Lisboa por Guimarães e Pereira et al, respectivamente, na qual confirmaram os resultados registrados por Olweus em pesquisas anteriores quanto à existência de bullying nessas escolas em diversos níveis (SOUZA NETO, 2006).

No Brasil, o interesse pelo estudo começou a partir dos anos 80 e ainda é pouco investigado. No Rio Grande do Sul, Canfield (1997) usando uma forma adaptada dos trabalhos de Olweus, procurou observar os comportamentos agressivos apresentados por crianças. Os professores Israel Figueira e Carlos Neto tentaram em 2000 diagnosticar o

bulliyng no Rio de Janeiro, usando uma forma adaptada do modelo Training and Mobility of Research (TMR) contido no questionário do NetWork Projet mantido pela Comissão

Européia (ABRAPIA, 2005).

No mesmo ano, Fante, começou seus estudos em São Paulo. O seu objetivo, primeiramente, foi detectar o fenômeno e os tipos de violência que os alunos sofriam em uma escola particular da cidade de Barretos. O estudo contou com a participação de 430 alunos da 5ª série do Ensino Fundamental à 2ª série do Ensino Médio. Os resultados indicaram que 81% dos alunos do grupo se envolveram em algum tipo de conduta violenta naquele ano letivo. Desses, 41% foram considerados casos de bulliyng; 18% vítimas; 14% agressores e 9%vítimas e agressores (FANTE, 2005).

No ano seguinte, a autora, usando uma metodologia diferente, identificou a existência do fenômeno bullying em escolas de dois municípios de pequeno porte, quantificou seus índices e comparou-os a estudos anteriores. Nessa pesquisa, deparou-se com uma amostragem de 431 alunos, na faixa etária entre 7 a 16 anos, na qual 87% do total dos alunos participantes haviam se envolvido em condutas violentas no decorrer do ano letivo. Desses, 47% se envolveram em condutas bullying, sendo que 21,38% dos alunos foram identificados como vítimas, 15,61% como agressores e 10,1% vítimas/ agressoras.

O seu terceiro estudo, realizado no ano de 2002, no interior paulista, centrou-se em apenas uma escola da rede pública municipal de ensino e teve como objetivo desenhar o quadro geral da escola, detectando o número de alunos envolvidos, sua localização e identificação, bem como, a visão que os professores e demais profissionais da escola possuíam sobre a problemática. Concluiu no estudo que somente no primeiro semestre daquele ano, 66,92% dos alunos haviam se envolvido em condutas bullying, sendo que 25,56% foram considerados vítimas, 22,04% agressores e 19,32% vítimas agressoras. Outro dado importante diz respeito à opinião dos professores; 95% deles acreditavam que o fenômeno devia ser considerado um problema para a convivência escolar, 65% responderam que notavam a incidência de maus tratos entre os alunos e 47% responderam ainda que dedicavam parte do seu tempo escolar aos problemas de indisciplina e de conflitos entre os alunos.

O quarto estudo da autora foi realizado no ano de 2003, numa pacata cidade do interior de São Paulo. Participaram desse estudo 450 alunos de 5ª a 8ª séries de uma escola pública estadual, sendo todos provenientes da zona rural. Constatou-se que 45% dos alunos estavam envolvidos em comportamentos de bullying; desses 24% foram vítimas, 8% agressores e 13%

vítimas agressores (FANTE, 2005).

A Associação Brasileira Multiprofissional para Proteção da Infância e Adolescência (ABRAPIA, 2005), realizou em 2002 um levantamento, envolvendo 5875 estudantes de 5ª a 8ª séries, de onze escolas, localizadas no município do Rio de Janeiro. A pesquisa revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying. A partir desse momento, a ABRAPIA realiza um programa que visa diagnosticar e implementar ações efetivas para a redução do comportamento agressivo entre estudantes, sensibilizando educadores, familiares e sociedade para a existência do problema e suas conseqüências, despertando assim o reconhecimento do direito de toda criança e adolescente a freqüentar uma escola segura, solidária e capaz de gerar cidadãos conscientes do respeito à pessoa humana e

O que se percebe hoje em dia é uma preocupação internacional, crescente dos pais, dos psicólogos, da escola, a respeito desse fenômeno. Estudiosos tentam, através de uma cultura de paz, prevenir o bullying nas escolas e assim diminuir a violência dentro do ambiente

educacional (OLWEUS, 1997; GREENE, 2006).

O Bullying é visto como uma forma específica de agressão. O termo ainda não tem tradução e fica a cargo de cada país colocar a nomenclatura que melhor se adaptar ao lugar. No Brasil ainda é utilizada a nomenclatura bullying. Distintas definições sobre o termo

bullying foram propostas por diversos autores atuantes em diferentes campos do saber.

Sugerem que, independentemente das definições, o fenômeno possui dois elementos essenciais: o deliberado uso da agressão que causa dor física e o estresse emocional, ocasionando uma relação de desigualdade de forças entre o agressor e a vítima (PEARCE;

THOMPSON, 1998).

Outro ponto comum entre os estudiosos da área, segundo Olweus (1994) e Lopes Neto (2005), refere-se ao fato do fenômeno não se tratar de um episódio esporádico ou de brincadeiras próprias de crianças e, sim, de atos violentos, repetitivos e negativos que acontecem em todas as escolas, e que propiciam uma vida de sofrimento para uns e de conformismo para outros.

O conceito é compreendido como um comportamento de assédio moral ocorrido entre estudantes, como também de agressão física, e, a partir de então passa a ter uma conotação mais ampla, podendo o termo ser determinado como comportamento agressivo (LOPES NETO, 2005). Esse comportamento entre estudantes tende a apresentar um desequilíbrio de poder entre as partes, caracterizando-se assim como uma forma de intimidação à vítima,

acentua Carvalho (2005).

Segundo Orte (2005) e Fante (2005), o bullying escolar apresenta-se como um mal- estar do aluno a partir de uma perspectiva oculta do desconhecimento, da indiferença ou da ausência de valorização de si mesmo e da própria existência e gera, como conseqüência, problemas no desenvolvimento social, emocional e intelectual. O bullying tem origem na erupção e falta de controle do sentimento de intolerância nos primeiros anos de vida, sendo que as conseqüências aparecem nas faixas etárias seguintes quando ausentes as reações educativas. Trata-se de um comportamento ligado à agressividade física, verbal e psicológica, sendo uma transgressão individual ou de grupo, e exercida de maneira contínua por um indivíduo ou pelo grupo (CONSTANTINI, 2004).

Alguns fatores associados à origem do bullying estão relacionados ao ano escolar da criança; ano de reprovação ou números de reprovações que ela possui. Segundo estudo de

Pereira (2004, apud SOUZA NETO, 2002) quantas mais reprovações tiver uma criança, maior será a probabilidade dela se tornar agressora, uma vez que não consegue alcançar seus objetivos.

O conceito mais utilizado pelos estudiosos e que será adotado neste trabalho é o do pesquisador Olweus, como já foi dito anteriormente, o qual define o termo como todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executado dentro de uma relação desigual de poder (OLWEUS, 1997). O autor ainda acrescenta que o

bullying é considerado uma forma de abuso e é um fenômeno de âmbito internacional de

práticas agressivas nas escolas (CARLSON; HORNE 2004). Corresponde a um fenômeno que ocorre, com maior ou menor incidência, em todas as escolas do mundo, sejam elas da periferia, do meio rural, pública ou particular, independentemente das características culturais, econômicas ou sociais dos alunos e que deve ser encarado como fonte geradora de outras inúmeras formas de violência entre escolares (FANTE, 2005).

A ABRAPIA relacionou algumas ações que podem estar presentes em um comportamento de bullying: colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar e quebrar pertences. Fante (2005) também evidenciou os comportamentos mais freqüentes que os alunos apresentaram em suas pesquisa: maus-tratos psicológicos, castigos, intimidações, chantagens, depreciação da imagem e impedimentos, além de maus-tratos físicos e verbais. Dessa forma, as ações agressivas entre estudantes e das pessoas em geral podem estar, tanto nos contatos físicos, quanto nas palavras, em gestos obscenos, exclusão e rejeição do indivíduo Nesse sentido, torna-se necessária e possível uma tipologia do termo.

O bullying pode apresentar-se de duas maneiras: direto e indireto. O primeiro ocorre quando as vítimas são atacadas diretamente. Por exemplo, o uso de apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais, expressões e gestos que possam gerar mal estar aos alvos. Esse tipo de ação constitui-se em um fator de risco maior no sentido de que o comportamento do agressor tende a se tornar um comportamento delinqüente (WAL, WIT; HIRASING, 2003). Para Simmons (2004), o bullying indireto envolve outros tipos de comportamentos marcados pelo silêncio, onde existe uma oculta cultura de agressividade, na qual o bullying é epidêmico, característico e destrutivo. De acordo com Lopes Neto (2005), a forma indireta apresenta-se com atitudes como ignorar, excluir socialmente, denegrir a imagem do outro, indiferença, isolamento, difamação e negação dos desejos das vítimas. Um outro exemplo de

bullying indireto, segundo Greene (2006), refere-se ao uso da internet pelos estudantes que

espalham fofocas, falam mal de suas vítimas, tentam ridicularizá-las em sites de conversação. Essas maneiras de comportamentos supracitadas são mais freqüentes em meninas do que em

meninos (OLWEUS, 1994).

No que diz respeito à diferença de gênero em relação à agressão, observa-se que os meninos dominam mais o confronto físico, enquanto as meninas colocam-se umas contra as outras com uma linguagem e uma justiça que só elas conseguem compreender, acrescida de uma raiva raramente explícita, negando-se o acesso aberto ao conflito. São formas não físicas, indiretas e dissimuladas. Usam a maledicência, a exclusão, a fofoca, apelidos maldosos e manipulações para infligir sofrimento psicológico às vítimas (SIMMONS, 2004). Em relação à freqüência dos comportamentos conflitantes dentro do âmbito escolar, conforme WAISELFISZ (apud SISTO, 2005), conclui-se que os meninos participam mais de situações de agressões físicas, discussões e ameaças ou intimidações no interior da escola do que as meninas.

Pesquisas, como as mencionadas, procuram investigar as razões, causas e fatores de riscos que tendem a provocar tais comportamentos. As causas do fenômeno se entrelaçam com as próprias relações de violência na escola, influências do meio social e familiar e de problemas disciplinares. Muitos autores, como Gomes et al. (2004) e Meneghel, Giugliani e Falceto (1998), relacionam a violência doméstica e a violência na escola, compreendendo as relações de afeto entre os pais e filhos, modelo de autoridade familiar, com ou sem uso de punição ou clima emocional.

Nos estudos desenvolvidos por Olweus (1997), verificou-se que a causa do bullying pode ser mais comum em escolas com classes superlotadas, onde há maior negligência dos profissionais e falta de conhecimento a respeito de situações de abuso e agressividade entre alunos. Um exemplo simples é a competitividade comum em sala de aula entre alunos e que pode causar frustração para alguns e, para outros, certa superioridade, e dessa forma originar comportamentos de bullying entre esses alunos. Outro tópico que o autor discute é a associação do aparecimento do bullying entre alunos de classe social mais pobre e alunos de classe social mais favorecida. Ele relata ainda que existem ainda os desvios externos nos quais o bullying aparece através de uma suposta brincadeira em que o aluno é perseguido, muitas vezes, por usar óculos, ser gordo, muito magro, ter cabelo de cor diferente, ter pronúncia diferenciada dos demais, ser mais baixo, entre outros.

No estudo de Fante (2005), a respeito das causas determinantes do comportamento de

que 56% dos professores acreditavam que o contexto familiar era responsável pelo comportamento agressivo dos alunos, enquanto que 34% acreditavam ser o contexto social.

Os meninos participam mais de situações de agressões físicas no interior da escola, como já foi dito por Waiselfisz (apud SISTO, 2005). Assim, acredita-se que tais manifestações agressivas são oriundas da violência familiar entre irmãos e procedentes de famílias de baixa renda e com rígida conduta.

A esse respeito ainda, Caliman (1998, p.132) afirma que:

No âmbito da família prevemos uma maior incidência de desvio entre os jovens que pertencem a famílias com problemas estruturais [...] que vivem dentro das famílias, num ambiente marcado por relações conflituosas [...] que demonstram escasso nível de participação nas tarefas domésticas [...] que demonstram insatisfação em relação à vida afetiva familiar [...] que apresentam incomunicabilidade com os pais. No âmbito da escola prevemos o incremento do desvio do comportamento entre os jovens que atribuem um significado negativo à escola [...] que experimentam insucessos [...] e que se sentem insatisfeitos com a escola.

Os fatores familiares interferem enfaticamente na legitimização dos referenciais de valores de uma pessoa em fase de formação. No âmbito familiar, a falta de tempo dos pais, que ao sair para o trabalho deixam a criança cada vez mais solitária e à mercê dos pares da rua, da escola e do apelo cultural e ajudam ainda a promover a desagregação familiar, é certamente um fator adicional na determinação do comportamento bullying.

Em relação à classe social, verificou-se nos estudos de Whitney e Smith (1993, apud

SOUZA NETO, 2006) que fatores significativos estão associados à vitimização do bullying,

nos quais crianças oriundas das classes sociais extremas, como as mais elevadas e a mais baixa sofrem mais com este comportamento. A vitimização é menor nas duas classes sociais intermediárias. Dessa forma, no atual contexto social, é cada vez mais freqüente a família delegar à escola a formação de seus filhos, fazendo com que essa desestruturação familiar ocorra. Esse fato chama a atenção de estudiosos da área social para uma reflexão a respeito dessa realidade gerar realmente conflitos iminentes nas instituições escolares, fazendo originar a violência. A ausência de referenciais de valores éticos e morais na sociedade, a necessidade por parte dos jovens de legitimar sua própria identidade e a dificuldade em configurar projetos de vida podem levar a uma agressividade contida de revolta. Assim Olweus (1994) afirma que a causa do bullying pode estar relacionada ao comportamento agressivo como conseqüência da classe social do indivíduo e, também, ao fracasso escolar. O autor acredita também nos desvios externos (influência de amigos, aceitação ou rejeição do

grupo) oriundos do meio social ou familiar que, por menores que sejam, podem influenciar o comportamento do bullying. Seus estudos não descartam a combinação entre o tipo de personalidade do indivíduo e as reações típicas do grupo ao qual pertence, bem como, suas características físicas como, por exemplo, não ter um porte atlético ou um físico aceitável para o grupo. Olweus (apud FANTE, 2005) considera também que a existência de diversos tipos de conflitos e tensões com inúmeras interações agressivas podem ocorrer como simples diversão ou como forma de auto-afirmação, para comprovar as relações de força que os alunos estabelecem entre si, dependendo do temperamento do agressor, bem como, da necessidade em ameaçar, dominar e subjugar os outros de forma impositiva.

A multiplicidade dos fatores relacionados aos atos de violência torna difícil isolar uma ou mais causas, uma vez que cada uma se conjuga com várias outras na explicação de situações concretas. O aprender a conviver é o antídoto contra a violência na medida em que esta suprime a interação pacífica, o diálogo, transformando o grito, a briga e o enfrentamento em instrumentos que substituem o falar, o discutir, negociar, o escutar ou, simplesmente, o coexistir (ABRAMOVAY; RUA, 2004).

A partir de vários estudos, como os de Olweus (1994), Fante (2005), Moreira (2005), Spivak (2003), foram identificados comportamentos dos envolvidos com o bullying. E, a partir daí, foi feita uma classificação em relação ao tipo de papel que cada personagem desempenha dentro do contexto do fenômeno: do agressor/autor, da vítima/alvo, do agressor/vítima ou autor/alvo e do espectador/testemunha. O agressor é também conhecido como autor, ou seja, é aquele que pratica o bullying. Apresenta-se na maioria das vezes irritado, é impulsivo e intolerante e, na maioria das vezes, lida com as frustrações necessitando se impor mediante o poder e a ameaça. Envolve-se em discussões e desentendimentos e exterioriza comportamentos que demonstram certa autoridade (MOREIRA, 2005). São indivíduos que manifestam pouca empatia com os outros, freqüentemente pertencem a uma família com poucas manifestações afetivas, vitimizam os mais fracos e costumam ter necessidade de demonstrar serem mais fortes que seus companheiros, sejam em brincadeiras, no esporte ou em brigas e discussões (FANTE, 2005).

Segundo Olweus (1994), o agressor/autor de bullying apresenta características como insegurança e ansiedade e costuma ser popular perante os pares. A maioria das ações efetuadas é realizada no grupo e procuram atingir apenas um alvo com o objetivo de dominar e ter poder. Muitas vezes o seu comportamento é fruto da convivência familiar e da permissividade dos pais e da sua condição sócio-econômica. Outras vezes é fruto de uma falta

de controle do próprio autor que apresenta em relação à vítima sentimentos negativos, como raiva, desprezo, ódio e sentimentos neutros como a indiferença (VEIGA; FREIRE; FERREIRA, 2004). As conseqüências do bullying para os agressores não são boas, pois as situações de agressões não podem ser tratadas como um aprendizado ou treino para a vida. Segundo Olweus (apud PEREIRA, 2003), os comportamentos desviantes ou perturbações de conduta permanecem e tendem a agravar-se ao longo dos anos.

As vítimas ou alvos costumam apresentar segundo Pearce e Thompson (1998), baixa auto-estima, ansiedade, vulnerabilidade, inseguranças, passividade, são influenciáveis e possuem dificuldades para interagir e fazer amigos. Na maioria das vezes, reagem com choro às agressões, possuem uma auto-imagem negativa deles mesmos, sentem-se envergonhados e