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1.1 A ORDEM DO CARMO

1.1.1 A origem da Ordem do Carmo

A Ordem do Carmo é uma das ordens religiosas mais antigas da cristandade, e sua origem está intimamente relacionada ao culto mariano no Monte Carmelo e à lembrança do profeta bíblico Elias (980–918 a.C.).

Conforme dados obtidos nas páginas oficiais dos carmelitas1 e por meio do estudo de Raul Leme Monteiro2, o Monte Carmelo é uma cadeia de montanhas de formação rochosa calcária, situada no litoral israelense, próximo à Baía de São João d’Acre e do porto de Haifa. Possui cerca de 25 Km de comprimento por 12 Km de largura, com uma altitude máxima de 546 m. É limitada ao norte pela cidade marítima de Haifa; pelo sul com as terras de Cesaréia; pelo leste com as planícies de Esdrelon e Saron; e pelo oeste com o Mar Mediterrâneo (figura 1).

O nome “carmelo” origina-se de “karmel”, que significa jardim ou campo fértil. Segundo levantamento do historiador André Honor3, o conjunto de montanhas do Monte Carmelo possui uma coloração rósea que, dependendo da composição química da estrutura, adquire um aspecto rubro. É a partir desse aspecto geológico que se explica a cor utilizada pelos carmelitas em seu hábito: “carmelo” em grego pode significar púrpura ou carmesim, e esta será a cor adotada oficialmente pelos religiosos, a cor do hábito dos devotos do Carmelo.

1

Website oficial da Ordem do Carmo Internacional: <http://www.ocarm.org>; website oficial da Ordem do Carmo do Brasil: <http://www.carmelitas.org.br>; e website oficial da Província Carmelitana de Santo Elias: <http://www.pcse.org.br>. Último acesso em janeiro de 2010.

2

MONTEIRO, Raul Leme. Carmo: patrimônio da história, arte e fé, p.3.

3

HONOR, André Cabral. Memórias azuis: a formação da Ordem Carmelitana na azulejaria do Carmo em João Pessoa, p.1.

Figura 1. Mapa de Israel e a localização do Monte Carmelo

Segundo as Sagradas Escrituras, em episódios narrados no primeiro e segundo Livro dos Reis4, foi no Monte Carmelo que o profeta Elias teria realizado seu maior milagre contra os profetas de Baal, e de onde o personagem bíblico teria tido uma visão profética da futura mãe de Cristo – nela, a Virgem Maria aparecia sobre brancas nuvens que vinham do mar em direção ao Monte do Carmo –, passando a região a ser cultuada como o primeiro local onde, supostamente, Nossa Senhora teria se manifestado cerca de nove séculos antes do nascimento de Jesus. Posteriormente, esses fatos místicos transformaram o Monte Carmelo em lugar de peregrinação e ambiente sagrado de meditação e reflexão.

A partir dos milagres e das visões de Elias, e de seu sucessor, o profeta Eliseu, eremitas passaram a habitar pequenas grutas escavadas no monte Carmelo, a procura de uma vida de contemplação religiosa, seguindo o exemplo do próprio profeta que viveu em retiro no monte. No século V d.C., alguns eremitas teriam fundado um mosteiro próximo da gruta que o próprio Elias teria habitado, submetendo-se as regras de São Basílio (329 – 359), ou em outra versão, à regra escrita por João Silvano, Patriarca de Jerusalém, em 412, e chamada de Instituição dos primeiros monges. Todavia, embora existam indícios de que esse grupo de

4

BÍBLIA SAGRADA. Primeiro Livro dos Reis, capítulo 18: Elias e Acab; Elias e os Profetas de Baal; Segundo Livro dos Reis, capítulo 2: Elias é arrebatado ao céu.

eremitas tenha vivido de acordo com uma regra religiosa, a ordem carmelita ainda não teria se estruturado nesse período.

Assim, a Ordem do Carmo teria se originado oficialmente apenas no século XII, em data incerta, mas acredita-se que provavelmente por volta do ano de 1192, por um grupo de fiéis europeus que teria se dirigido ao Monte Carmelo após a Terceira Cruzada de conquista da Terra Santa. Nos anos seguintes, esses inúmeros fiéis se juntariam aos eremitas que já habitavam as grutas do monte, reunindo-se todos em torno do culto à figura da Virgem Maria e à lembrança do profeta Elias. Esses cristãos viviam na simplicidade, buscando a solidão e a oração, e com o passar do tempo, sentiram a necessidade de se organizar e de criar uma regra para sua convivência.

No final do século XII, São Bertoldo da Calábria (?-1187) se encaminha para o Monte Carmelo e lá constrói uma pequena capela – dedicada a memória da aparição de Nossa Senhora sobre o Monte do Carmo – e reúne os eremitas num novo mosteiro sobre as ruínas do antigo mosteiro dos primeiros seguidores do profeta Elias, próximo do local conhecido como Fonte de Elias. Elegeram um superior, São Brocardo (1150–1230), o primeiro superior Geral da Ordem recém criada, e pediram ao patriarca de Jerusalém, Santo Alberto (1150–1214), que lhes escrevesse uma regra que estivesse de acordo com o seu propósito de vida. Isso ocorreu entre 1206 e 1214. A Regra Albertina podia ser dividida em duas partes: a organização externa do Carmelo e a vida interior dos carmelitas. Substancialmente a regra era eremítica. Os religiosos viveriam em celas separadas, escavadas na rocha; haveria um lugar central para o oratório e nele se recitariam o Ofício Divino e a Missa Diária. O sentido da vida desses religiosos seria a contemplação, por meio da solidão, da mortificação e do trabalho manual, junto à meditação contínua da Bíblia e o exercício das virtudes monásticas. O guardião do eremitério seria o Prior, eleito por maioria dentre os ermitões.

Em 1226 o papa Honório III (1165–1227) aprova uma severa regra para os religiosos reunidos sob a invocação de Nossa Senhora do Monte do Carmo. Originalmente a Ordem do Carmo foi chamada de Ordem dos Irmãos da Bem- Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Todavia, a perseguição aos cristãos da Terra Santa pelos sarracenos e muçulmanos obriga os carmelitas a emigrarem para a Europa. A partir de 1238 se estabelecem no Chipre, Sicília, França e

Inglaterra, espalhando-se assim por toda a Europa, chegando a Portugal em meados do século XIII.

Desde a criação da Ordem do Carmo, entre o final do século XII e início do século XIII, a Virgem Maria, sob a invocação de Nossa Senhora do Monte do Carmo, foi escolhida como patrona da ordem, e o santo profeta Elias, como seu patriarca espiritual. A adoção do profeta Elias como patriarca da ordem carmelita é controversa, pois a fundação da ordem, com aprovação papal, ocorre cerca de dois mil anos após o período em que Elias peregrinou pelo Monte Carmelo. Assim, santo Elias pode não ser considerado o fundador da Ordem – já que São Bertoldo foi quem fundou o primeiro mosteiro no Monte Carmelo – mas é tido como “pai” espiritual, autêntico precursor da vida monástica, da vida de solidão e contemplação e inspirador dos eremitas e monges que no Monte do Carmo se reuniam.

A polêmica acerca da figuração de santo Elias como “fundador” da Ordem do Carmo foi encerrada em 1725–1727, com a colocação, na Basílica de São Pedro, em Roma, de uma escultura do profeta junto a de outros santos fundadores de ordens religiosas (figura 2).5

Figura 2. Santo Elias (1727), de Agostino Cornacchini,

na Basílica de São Pedro, Roma. O medalhão sob a estátua traz a seguinte inscrição:

UNIVERSUS / CARMELITARUM ORDO / FUNDATORI SUO S. ELIAE / PROPHETAE EREXIT / A.

MDCCXXVII

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