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4) A Ordem Carmelita dos Descalços Seculares – Ordo Carmelitarum Discalceatorum Seculorum – equivale à Ordem Terceira do Carmo dos

1.3 OS CARMELITAS EM SÃO PAULO: O CONVENTO E A IGREJA DO CARMO

1.3.1 Descrição do antigo Conjunto do Carmo: Convento e Igreja dos Frades

Após a grande reforma, citada em carta pelo Morgado de Mateus, nas décadas de 1760 e 1770, o Convento do Carmo adquiriu as características que podem ser vistas nas figuras 23, 24, 28 e 29. Também por meio das plantas da cidade ao longo do século XIX (figuras 25, 26 e 27) pode se observar que o mosteiro tinha planta em formato quadrangular, com um pátio interno, o que seguia a disposição dos demais conventos construídos no Brasil no período colonial.

O conjunto do Carmo dava frente para um grande largo, a Esplanada do Carmo. Esse largo, que no século XVI servia de pátio de execução – onde encontrava-se a forca –, chegou até a ter um canhão estrategicamente nele instalado para defesa da cidade, caso esta viesse a ser invadida a partir da ladeira, que era uma de suas entradas. Em meados do século XIX foram realizadas as primeiras feiras livres da cidade na esplanada, motivo que levou a prefeitura a cogitar instalar ali na Rua do Carmo, defronte ao largo, o Mercado Municipal, ideia que não chegou a se concretizar. No final do século XIX várias árvores foram plantadas no local, que foi calçado e tornou-se estacionamento a céu aberto para os novos veículos automotivos que surgiram pela cidade. A partir do largo, um grande muro de contenção chegou a separar a esplanada da Ladeira do Carmo, que descia

em direção à várzea do Tamanduateí e à ponte do Carmo – hoje início da Avenida Rangel Pestana (figuras 36 e 37).

Figura 36 e 37. Vistas do paredão da Ladeira do Carmo em 1914 (e) e em 1927 (d).

O convento tinha dois pavimentos, com fachada que dava vista para o Largo do Carmo e a ladeira. Era de arquitetura simples, bem ao estilo das construções paulistanas do século XVIII. Edificada em taipa de pilão, possuía onze janelas altas com varandas gradeadas no pavimento superior. No pavimento térreo, uma porta (abaixo da quarta janela a partir da esquerda) e dez janelas menores, alinhadas com as janelas do pavimento superior. Era visível o telhado, cuja caída das águas, na parte frontal, dava para um largo beiral que se projetava ao longo de todo corpo do convento. Provavelmente o prédio todo tinha as paredes brancas, conforme as ilustrações de Debret e Miguel Dutra. Em um cartão postal colorido artificialmente, do início do século XX, os batentes e gradis das portas e janelas são marrons, indicando também uma faixa, de aproximadamente um metro, pintada a partir do chão. No pavimento superior ficavam as celas dos frades.

A igreja conventual ficava anexa ao convento. Também de taipa, em linhas retas, possuía fachada em duas faixas, sendo que a cimalha do pavimento superior coincidia, em altura, com os largos beirais do convento. No pavimento térreo ficava o acesso à igreja. Esta se dava por meio de uma galilé de três arcos, com gradil, e a partir dela, a entrada da igreja, com uma porta centralizada. Na faixa do primeiro pavimento, por sobre a galilé, três janelas altas com cornijas simples, que provavelmente iluminavam o coro e o interior do templo. Arrematava a fachada um frontão triangular retilíneo, com uma pequena envasadura quadrangular inscrita

numa forma arredondada. Encimava o frontão uma cruz e nas extremidades laterais do triângulo, pequenos pináculos.

Provavelmente entre a fotografia tomada por Militão Augusto de Azevedo em 1862 (figura 29) e as fotografias tiradas no início do século XX, houve acréscimos ao frontão triangular da igreja conventual. Um alteamento do frontão, posterior e mais alto do que o primeiro, foi acrescentado, e escondeu a vista que se tinha do telhado da igreja. Pela mesma imagem de Militão, percebe-se que havia também uma porta que ligava o mosteiro à entrada da igreja.

Anexo à igreja conventual uma robusta torre segmentada em quatro partes. Na primeira parte, alinhada à galilé, apenas um pequeno orifício. Na segunda e terceira faixas, janelas do mesmo tamanho e forma das janelas do pavimento superior da fachada da igreja. Na última parte da torre, pavimento dos sinos, duas janelas em cada uma das quatro faces da torre. Encimando a torre, uma balaustrada com pináculos e o coruchéu de formato sextavado ou octogonal, seccionado horizontalmente em quatro faixas, encimado por uma ponteira.

Sobre o interior do convento e da igreja, como dito anteriormente, não há nenhum registro iconográfico. Nenhuma ilustração ou fotografia foi encontrada até hoje do interior desses edifícios carmelitas. O que restou da igreja foram os altares, imagens, tribunas e algumas talhas, transferidos para a nova Basílica do Carmo. Mas não se tem nenhuma ideia da disposição interna desses altares e talhas, e nem da qualidade das pinturas que adornavam o templo. É lastimável a perda do primeiro trabalho paulistano do padre pintor Jesuíno do Monte Carmelo no teto dessa igreja, executado em 1795. Não há descrições sobre o tema das pinturas que decoravam o teto, e com a demolição, em 1928, não se sabe o que foi feito dos painéis. Provavelmente, foram totalmente destruídos. Nenhuma atenção foi dada a esse tesouro artístico do nosso período colonial naquela ocasião.

Em dezembro de 1943, o fotógrafo Germano Graeser, acompanhante de Mário de Andrade nos levantamentos e catalogações de monumentos do patrimônio paulistas para o SPHAN, registrou imagens da lateral da Capela da VOT do Carmo ainda com os resquícios da demolição da igreja conventual. Percebeu-se, na ocasião, que o teto pintado de uma capela lateral do templo dos frades ainda se encontrava visível entre as ruínas. Suspeitou-se que a pintura poderia ser aquela executada por Jesuíno no final do século XVIII, e seria, portanto, a única referência sobrevivente ao primeiro trabalho do artista em São Paulo.

Todavia, retirada as pranchas de madeira dos escombros, verificou tratar-se de uma pintura mais recente, representando Cristo, onde se podia ler, aos Seus pés, a assinatura Carlo Mancini – ano de execução da pintura: 1926. A imagem do painel era uma combinação do Sagrado Coração de Jesus (devoção que surge no Brasil no final do século XIX) com o culto da Eucaristia.

Este painel e outras pequenas pranchas pintadas, também datadas como executadas no século XX, salvas pelo IPHAN, constituem a chamada “Capela Esquecida”. Essa informação foi fornecida por Carlos Cerqueira, que também permitiu acesso às fotos da Carmo paulistana tiradas por Graeser e pertencentes ao arquivo do IPHAN de São Paulo.