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4) A Ordem Carmelita dos Descalços Seculares – Ordo Carmelitarum Discalceatorum Seculorum – equivale à Ordem Terceira do Carmo dos

1.1.4 Iconografia Carmelita

Ao longo dos séculos a utilização de imagens foi um recurso muito utilizado pela Igreja na doutrinação dos fiéis. Dentro da arte das ordens religiosas sempre é freqüente encontrar exaltações que aludam às origens ou aos membros mais destacados da instituição. Sendo assim, o mesmo pode ser aplicado à Ordem Carmelita, que na ornamentação de suas capelas e mosteiros e nas ilustrações de suas publicações, se dedicou a representar os protagonistas de sua história, episódios da vida de seus membros de maior destaque, e principalmente, a apoteose da Virgem Maria e do Monte Carmelo.

Na iconografia carmelita são abundantes a ampla orla de santos, bispos, papas, beatos e beatas, além da representação da própria Virgem do Carmelo, cada qual com seus atributos9 característicos.

Dentre os personagens da Ordem, a mais importante e representada é a figura de Nossa Senhora do Carmo (figuras 7 e 8). A Virgem do Carmo sempre é representada como uma mulher branca, jovem, geralmente de pé e vestindo o hábito

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Podem ser considerados como atributos dos santos, papas, bispos e mártires as vestimentas tradicionais, os objetos típicos (livros, báculos, mitras, cruzes, coroas, espadas, lírios, etc.) e os animais de companhia, fazendo referência a posição hierárquica e passagens da vida desses religiosos. Difundida a partir da Idade Média, a inclusão dos atributos na arte religiosa tinha como objetivo tornar a imagem sacra acessível e identificável a maioria dos iletrados.

dos carmelitas, na cor marrom. Nas imagens devocionais, seus trajes podem ser mais simples, tal qual um hábito tradicional, ou como nos casos das santas de vestir, seu hábito pode ostentar inúmeros bordados e rendas ricamente trabalhados. Nas imagens barrocas, seu traje geralmente era todo trabalhado com estampas de motivos florais e rendados dourados. Pode trazer ao peito, também com detalhes dourados, o escudo da Ordem do Carmo por sobre a faixa central do escapulário que a veste. Por cima do hábito, um manto de cor branca ou creme, com ou sem motivos decorativos, barrados, filetes dourados, caindo por sobre os ombros. Um véu sobre a cabeça, encimada por uma coroa, arrematam a composição. Com o braço esquerdo segura o Menino Jesus ao colo. Este, com uma das mãos segura um escapulário, como se estivesse a oferecê-lo aos fiéis. Do mesmo modo, a Virgem do Carmo, com sua mão direita, também segura e oferece um escapulário.

Figura 7. (à esquerda) Nossa Senhora do Carmo de vestir. Imagem da igreja de Maipú, no Chile. Figura 8. (à direita) Nossa Senhora do Carmo Coroada. Santa de vestir da Igreja do Carmo de

San Fernando, Cádiz, Espanha.

Após a representação da Virgem do Carmelo, a segunda figura mais difundida pela iconografia carmelita é a do profeta Elias, o pai espiritual da ordem. O profeta Elias pode aparecer vestido como santo eremita do deserto, trajando um manto de

pele de cordeiro e acompanhado de um corvo – atributo que alude ao período no qual viveu no deserto e foi alimentado por esse animal –, ou como nas igrejas carmelitas, aparecer trajando o hábito da ordem, com manto sobre ele. Numa das mãos sempre empunha uma espada de fogo, representando o triunfo de Deus sobre os profetas de Baal. O fogo é sinal da aliança entre Deus e seu povo, e a espada flamejante de Elias também é uma alusão a alcunha de Profeta do Fogo que ele recebeu por sua árdua luta contra a adoração dos deuses pagãos, sendo suas palavras comparadas a um “forno aceso”. O misterioso fim de Elias, com a subida do profeta aos céus em um carro de fogo também é episódio muito representado na iconografia carmelita, com pequenas variações: o carro flamejante com os cavalos, tendo o profeta Eliseu observando a cena e Elias jogando seu manto para o discípulo (figura 9). Seu discípulo e sucessor, o profeta Eliseu, pode ser representado com túnica e manto, ou hábito carmelita, segurando um caneco ou um jarro – alusão a um milagre da purificação das águas de uma fonte de Jericó.

Figura 9. Elias é arrebatado ao céu numa carruagem de fogo,

de Giuseppe Angeli (1740-1755). National Gallery of Art, Washington DC.

Outro episódio muito difundido é a entrega do escapulário a São Simão Stock pelas mãos da Virgem, que tem o Menino Jesus ao colo, em glória sobre as nuvens, cercada de anjos, cena presente em inúmeras igrejas carmelitas (cf. figuras 3 a 6).

As figuras 10 e 11 mostram os inúmeros santos e santas venerados entre os devotos da Senhora do Carmo.

Figura 10. La Fuente Mística. Frei Juan Del Santíssimo Sacramento (1666-1676). Convento de

San Cayetano, Córdoba.

Figura 11. Decor Carmeli. Frei Juan Del Santíssimo Sacramento (1666-1676). Convento de San

Cayetano, Córdoba.

Na figura 10, a Virgem do Carmo, sobre nuvens, coroada e representada na parte superior central da composição, no “campo celeste”, está trajando o hábito de sua ordem, com o brasão ao peito. Está rodeada por anjos e querubins. O ancião ao lado esquerdo, empunhando uma espada flamejante, é o profeta Santo Elias. Do

lado oposto, segurando uma jarra, o profeta Santo Eliseu, pais espirituais da Ordem do Carmo. Abaixo da Virgem, uma fonte, a chamada Fonte Mística de Elias, que teria brotado no local onde Elias teve a visão de Nossa Senhora, no Monte Carmelo, marcando também o local onde teria sido fundado o primeiro mosteiro carmelita. A Virgem, com uma das mãos oferece o Menino Jesus à Santo Alberto da Sicília (?- 1306) e noutra mão, oferece o escapulário à São Simão Stock. Na parte inferior esquerda da composição, santos carmelitas: o religioso com a mitra e o báculo, dominando um lobo, é Santo André Corsino (1302-1374); o religioso com o livro aberto é São Cirilo de Alexandria (375-444), que aplaca Nestório, prostrado ao chão, alusão à deposição do patriarca de Constantinopla ocorrido no primeiro Concílio de Éfeso, em 431; o religioso mais à esquerda, com capacete, é o venerável Pedro Ambianensis. Ao lado direito da composição, as santas carmelitas: a principal santa carmelita, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa Doutora (1515-1582), que com uma lança aplaca um herege; Santa Maria Magdalena de Pazzi (1566-1607) aparece coroada com um coroa de espinhos e segurando um crucifixo; Santa Ângela da Bohemia (1211-1282), coroada, aparece portando o Santíssimo Sacramento num ostensório; e finalmente, ajoelhada próximo da fonte, Santa Francisca de Amboise (1427-1485), duquesa da Bretanha, que renunciou à sua coroa ducal e fundou o primeiro convento carmelita da França.

Na figura 11, numa composição semelhante à imagem anterior, os santos e santas mais conhecidos da devoção carmelita. A Virgem do Carmo e o Menino Jesus, sobre uma nuvem com querubins, banhados pela graça do Espírito Santo, são observados pelos profetas Elias, Eliseu e outros, do lado esquerdo; pelos santos do Carmelo primitivo do lado direito; e na parte inferior mais santos, bispo, papa e as santas carmelitas, todos com seus tradicionais atributos. Ao fundo, abaixo da Virgem, o Monte Carmelo.

A partir da observação e descrição dessas imagens, é possível reconhecer os santos carmelitas que constantemente aparecem nas igrejas da Ordem, sendo os mais importantes, portanto, além da própria Virgem do Carmelo: Santa Teresa de Ávila, ou Santa Teresa Doutora, que sempre é representada trajando o hábito carmelita e segurando uma pena e um livro – numa alusão ao seu título de Doutora da Igreja. Santa Teresa também pode aparecer nas ilustrações e estátuas da Ordem num dos muitos episódios místicos de sua vida – sendo um dos mais utilizados como tema pelos artistas aquele no qual um anjo transpassa uma flecha pelo seu

peito, a Visão de Santa Teresa em êxtase – cuja representação mais conhecida é a escultura de Bernini, do século XVII (figura 12) – ou a cena na qual a religiosa é coroada por Cristo; outro santo carmelita muito invocado é São João da Cruz, que é representado vestindo o hábito carmelita, carregando uma cruz ou um livro; além dos profetas Elias – espada flamejante – e Eliseu – jarro; e São Simão Stock, o santo que recebeu o escapulário e a promessa de Nossa Senhora.

Figura 12. Êxtase de Santa Teresa (1647-1652). Gianlorenzo Bernini.

Igreja de Santa Maria della Vittoria, Roma.

A figura 13 trata-se da reprodução de uma gravura de autoria de A. Diepenbeke e A. Lommelin, numa publicação dedicada ao Arquiduque Leopoldo I da Áustria (1640-1705). Essa imagem exalta a Virgem do Carmo, e glorifica suas numerosas obras e apresenta os membros mais importantes da Ordem. O tema representado também se refere a uma escala da perfeição – com a visão de

Figura 13. Apoteose de Maria – Decor Carmeli,

diversos santos, santas, papas, bispos e reis carmelitas, nos planos terrestre e celeste – e a representação de alguns dos episódios mais importantes da Ordem, como a confirmação da Regra pelo Papa Honório III e a publicação da Bula Sabatina. Nessa composição são reconhecíveis: a Virgem Maria, o Menino Jesus, Santo Alberto da Sicilia, São Simão Stock, São Bertholdo, São Teodorico, São Geraldo, Santo Onofre, Santa Ângela da Bohemia, São Pedro Tomás, Santo Elias, Santo Eliseu, Santa Teresa Doutora, Santa Maria Magdalena de Pazzi, Santo Augustin, Santo André Corsino, Santo Ângelo, São João, São Cirilo de Alexandria, Santo Anastácio, São Dionísio, papa Benedito XII, entre outros.