• Nenhum resultado encontrado

4) A Ordem Carmelita dos Descalços Seculares – Ordo Carmelitarum Discalceatorum Seculorum – equivale à Ordem Terceira do Carmo dos

1.3 OS CARMELITAS EM SÃO PAULO: O CONVENTO E A IGREJA DO CARMO

1.3.2 Convento e Igreja do Carmo na Rua Martiniano de Carvalho

Os novos convento e igreja do Carmo, na Rua Martiniano de Carvalho54, foram projetados pelo arquiteto polonês Georg Przyrembel (1885-1956). Tendo estudado arquitetura na Alemanha, chegou ao Brasil na década de 1910, instalando- se na cidade de São Paulo. Participante da Semana de Arte Moderna de 1922, Przyrembel era um admirador da arte colonial brasileira, tendo viajado até as cidades históricas de Minas Gerais para conhecer as jóias do barroco mineiro “in loco”, a partir da qual filiou-se ao estilo arquitetônico denominado “neocolonial”. Foi nesse estilo – o neocolonial – que Przyrembel projetou o novo conjunto da Ordem do Carmo, procurando distribuir na fachada elementos da arte colonial brasileira, e internamente, unindo a nova igreja aos exemplares de altares e talhas recuperados do antigo templo em demolição.

54

A Basílica do Carmo está localizada na Rua Martiniano de Carvalho, 114 – Bela Vista – São Paulo / SP.

Figura 38. Detalhe da fachada da Igreja do Carmo da Rua Martiniano de Carvalho

Tais altares e talhas, muito provavelmente exemplares dos séculos XVIII e XIX, de variados estilos e fases, foram removidos da antiga igreja durante seu processo de demolição ao final da década de 1920, transferidos e remontados no templo que seria inaugurado em abril de 1934.

Para se chegar à entrada do templo é preciso subir uma alta escadaria em granito, que ocupa toda a extensão da fachada no sentido horizontal, atingindo um pequeno adro. Observando-se a fachada da igreja (figura 38), temos um frontispício que pode ser dividido, no sentido vertical, em três faixas: a parte central, onde se encontram a portada, as janelas, uma envasadura e o frontão; e outras faixas, simétricas, despojadas de ornamentação, apenas com portas menores encimadas por medalhões.

A faixa central está subdividida, no sentido horizontal, em outras três faixas, sendo toda essa parte central trabalhada em pedra de arenito. Na primeira faixa, a inferior, a entrada principal. Porta central, curva, com colunas de ambos os lados. Entre as colunas, que são de fuste estriado na parte inferior e liso na superior, existe um nicho, onde se encontram as imagens de, à esquerda de quem observa o frontispício, São Bertoldo (?-1187), o primeiro construtor de uma capela no Monte Carmelo, no local onde teria vivido o profeta Elias; e à direita, São Brocardo (1150- 1230), o primeiro superior geral da Ordem, que recebeu a primeira Regra de Santo Alberto.

Na faixa central da portada, janela central com balcão entre volutas sobre a porta principal e duas janelas menores repetem a composição da portada, colunas e nichos da parte inferior. As janelas são decoradas por vitrais. Encimando essa segunda faixa existe um medalhão em relevo de Nossa Senhora do Carmo com o Menino Jesus.

Na terceira faixa, envasadura ovalada na parte central, envasaduras retangulares menores nas laterais, arrematadas por um frontão curvo com um medalhão da Ordem do Carmo, encimado no acrotério por coruchéus e uma cruz. Uma balaustrada arremata toda extensão da fachada.

Do lado esquerdo situa-se a torre reta de quarto faces, arrematadas por balaustrada e campanário com volutas, também coroados por uma cruz. Nas paredes da torre, relógio de azulejos podem ser vistos nas quatro faces.

Adentrando-se o imponente templo da Rua Martiniano de Carvalho, tem-se, no átrio à direita, sob a projeção do coro, o batistério, com as imagens de Cristo carregando a cruz e de Nossa Senhora das Dores. À esquerda do átrio, a escadaria de acesso ao coro e à torre sineira. Entrando pela nave, observa-se ao fundo, o altar mor (figura 39).

Figura 39. Vista da nave da Basílica do Carmo

Segundo Etzel, que colheu depoimentos de antigos frades que participaram da construção da nova igreja, o altar mor é uma conjugação de dois antigos altares: o retábulo-mor primitivo, do século XVIII, na parte inferior, que vai até as cornijas; e acima delas o antigo altar do Santíssimo, também com quatro colunas salomônicas

e o trono onde hoje se vê a imagem de Nossa Senhora do Carmo. Acima das cornijas dessa parte superior está o frontão, que é o mesmo do antigo altar mor. A peça que forma um reposteiro aberto por anjos e que enquadra o sacrário como um baldaquim é recente, feita de gesso.55 Observando-se o altar conjugado, na parte inferior, do lado direito, a imagem do profeta Elias, reconhecível pela espada de fogo; e do lado esquerdo, o profeta Eliseu, com o cajado e a jarra. A imagem da Senhora do Carmo, trasladada em procissão da antiga igreja em 1928, muito possivelmente, é a original do século XVIII (figura 40). Coroando toda a composição, emblema da Ordem do Carmo. Ainda no altar-mor, cadeiral e balaustrada em jacarandá (figura 41).

Figuras 40a e 40b. Detalhe do altar-mor e da imagem de Nossa Senhora do Carmo da Basílica

do Carmo, com elementos originais dos altares da década de 1760.

O que comprova essa descrição dada pelos frades, ainda a partir de Etzel, é o fato do altar barroco do Senhor Morto, o primeiro da esquerda para quem entra no templo, ser do mesmo estilo que os retábulos da capela-mor. Os demais altares laterais são também da antiga igreja, mas devem ser de época muito posterior, pois nota-se uma predominância do estilo neoclássico, provavelmente são do século XIX,

55

ao passo que os altares conjugados da capela-mor e do Senhor Morto sejam, estes sim, originais da reforma de 1760-1770 da antiga igreja.

Ainda ao lado do altar-mor, mais duas imagens sobre mísulas, à direita o beato João Soreth (1394-1471), considerado o fundador da Ordem Terceira do Carmo; e à esquerda, Santa Maria Magdalena de Pazzi (1566-1607), ambos trajando seus hábitos carmelitas e seus atributos.

Dos seis altares laterais na nave da igreja, à esquerda, como já dito, o primeiro altar é o do Senhor Morto, na parte inferior, juntamente com a imagem de Nossa Senhora Aparecida e o Nosso Senhor Crucificado. Este é o retábulo que Etzel precisa como sendo o original do século XVIII (figura 42). Na sequência, lado esquerdo, altar de São Simão Stock e a Visão de Nossa Senhora do Carmo, e por fim o altar do Sagrado Coração de Jesus. Estes dois últimos e os altares do lado direito, todos com traços neoclássicos. Os três altares do lado direito são dedicados, a partir da entrada, à Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Anna Mestra e à São José, considerado também patrono da Ordem Carmelita.

Sob o arco cruzeiro, podem ser vistos dois anjos, que carregam a inscrição Ecce panis Angelorum, factus cibus viatorum, frase extraída de um hino de São Tomás de Aquino, a Lauda Sion, cuja tradução é: “Eis o pão dos anjos, feito alimento dos homens”. Ainda abaixo do arco-cruzeiro, os púlpitos.

Decoram ainda a igreja os quadros da Via Sacra, pintados pelo artista Carlos Oswald (1882-1971) e os vitrais, confeccionados pela tradicional Casa Conrado, de Conrado Sorgenicht, representando diversas passagens da devoção carmelita, como: A descida de Nossa Senhora do Carmo para salvar as almas do purgatório; A publicação da Bula Sabatina; A aparição de Nossa Senhora do Carmo a São Pedro Tomás; A devoção à Nossa Senhora do Carmo desde o Antigo Testamento; Os Carmelitas chegam a Jerusalém são recebidos pelo Patriarca Santo Alberto; e Os carmelitas indo para o Ocidente. As tribunas que ornam as janelas, e as sanefas que decoram as portas e janelas do templo, também são originais da antiga igreja demolida.

Figura 41. Altar-mor da Basílica do Carmo. Montagem com os antigos retábulos da década de

1760 remanejados da antiga capela em demolição e remontados na década de 1930 na nova Igreja do Carmo.

Figura 42. Altar do Senhor Morto na Igreja do Carmo, original do século XVIII.

No coro encontra-se um órgão de tubos construído em 1934 pela fábrica alemã E. P. Walker, inicialmente com 2206 tubos. Em 1955 o órgão foi ampliado para se conseguir uma sonoridade equivalente à 9600 tubos, e reformado em 1981. Encontra-se em perfeito estado de funcionamento, podendo ser ouvido em concertos, festejos em dias santos e cerimônias de casamento.

Quanto às pinturas que adornam o teto da nave e as paredes e o teto da capela-mor, são afrescos realizados entre 1932 e 1934 pelo artista paulistano Túlio Mugnaini (1895-1975), que trabalhou na igreja a convite de Przyrembel.

Para o teto da nave, Túlio representou três momentos da história carmelita (figura 43):

1) na parte central, uma alegoria da Glorificação de Nossa Senhora do Carmo: numa escadaria – a escada da perfeição, das virtudes – os santos, santas, papas, bispos, mártires e beatos carmelitas estão contemplando a visão da Virgem do Carmo – todos eles trajando o hábito carmelita e carregando seus atributos – cruzes, flores, palmas, cajados, etc. Nesta cena, Nossa Senhora do Carmo aparece entre nuvens, entregando o Menino Jesus à Santo Alberto da Sicília e o escapulário à São Simão Stock, observados pelos profetas Elias e Eliseu, rodeados de anjos;

2) na parte inferior do painel central, parte que corresponde à visão a partir da entrada da basílica, a Aparição da Virgem do Carmo: sobre brancas nuvens, a Senhora do Carmo é vista pelo profeta Elias, no Monte Carmelo; e

3) na parte superior do painel central, a representação do Lançamento da Pedra Fundamental da Primeira Igreja do Carmo em São Paulo, em 1594.

Para o teto e as paredes laterais da capela-mor, Túlio pintou: 1) painel do lado direito: Moisés e o milagre do maná; 2) painel do lado esquerdo: o encontro entre Abraão e o rei Melquesedeque; e 3) sobre o altar, no teto, a cena da Multiplicação dos Pães, referência ao sacramento da eucaristia.

Segundo o Prior da Ordem do Carmo de São Paulo, frei Alan Fábio Soares Lima, O.C., a pintura do teto da nave é um dos maiores afrescos religiosos da América do Sul.

Anexo à nova igreja do Carmo, foram construídos o convento e o Colégio Santo Alberto, também segundo projeto de Przyrembel, em estilo neocolonial. Internamente, na parte do convento que pode ser acessada pelo público, existem imagens dos santos carmelitas, azulejos decorativos com os fundadores e principais personagens da Ordem, e fotografias da fachada do antigo convento e igreja demolidos. A basílica do Carmo da Rua Martiniano de Carvalho, o convento e o colégio formam um dos maiores conjuntos no estilo neocolonial do país.

Figura 43. Fotomontagem do afresco do teto da nave da Basílica do Carmo de São Paulo, de