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4) A Ordem Carmelita dos Descalços Seculares – Ordo Carmelitarum Discalceatorum Seculorum – equivale à Ordem Terceira do Carmo dos

1.2 A ORDEM DO CARMO EM SÃO PAULO E O BARROCO

1.2.3 O Barroco em São Paulo

1.2.3.2 Fases da arte barroca religiosa em São Paulo

Após três décadas de abandono, a Coroa Portuguesa iniciou a colonização do território brasileiro. Em 1532, Martim Afonso de Souza fundou a primeira povoação da colônia, São Vicente. Nas décadas seguintes, a procura por metais preciosos levou os portugueses a ultrapassarem a difícil barreira da Serra do Mar, por um antigo caminho indígena chamado Peabiru. Subindo a serra, os portugueses fundaram primeiramente a Vila de Santo André da Borda do Campo (1553), porém em local constantemente ameaçado pelos indígenas da região.

Nessa época, um grupo de padres da Companhia de Jesus, da qual faziam parte o padre espanhol José de Anchieta (1534-1597) e o padre português Manoel da Nóbrega (1517-1570), escalou a Serra do Mar chegando ao planalto de Piratininga, onde encontrou "ares frios e temperados como os de Espanha" e "uma terra mui sadia, fresca e de boas águas". Do ponto de vista da segurança, a localização topográfica da futura cidade de São Paulo era perfeita: situava-se numa colina alta e plana, cercada por dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú.

Nesse lugar, fundaram um colégio para atender à missão jesuíta de catequização dos gentios. Em 25 de janeiro de 1554, Manuel da Nóbrega celebrou a primeira missa no local, num altar improvisado em uma cabana de madeira, de 14 passos de comprimento por dez passos de largura. Ao redor do colégio e igreja

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SALOMÃO, Myriam e TIRAPELI, Percival, op. cit. à nota 15, p. 90.

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jesuítas recém criados iniciou-se a construção das primeiras casas de taipa que deram origem ao povoado de São Paulo de Piratininga.

Em 1560, o aldeamento ganhou o foro de vila, quando foi instalado o pelourinho. Todavia, o isolamento geográfico – marcado pela distância do litoral –, o isolamento comercial, o solo inadequado ao cultivo de produtos de exportação, condenou o vilarejo a ocupar uma posição pouco significante durante os primeiros séculos da colonização.

Em 1681, a Vila de São Paulo já era a principal aglomeração da capitania de São Paulo e, em 1711, a vila foi elevada à categoria de cidade. Nesse período São Paulo era também o posto de onde partiam as bandeiras, expedições organizadas para apresar índios e procurar minerais preciosos nos sertões distantes.

Descobrindo as minas, os paulistas exigiram a exclusividade na exploração do ouro, porém foram vencidos em 1710, com o fim da Guerra dos Emboabas, perdendo o controle das Minas Gerais. O ouro extraído de Minas Gerais seria escoado via Rio de Janeiro para a metrópole. Aos paulistanos, restou fornecer os mantimentos, principalmente ligados à pecuária, aos bandeirantes e homens da cidade que se aventuraram a explorar a região das minas.

O êxodo causado pela febre do ouro provocou a decadência da capitania e, ao longo do século XVIII, esta foi perdendo território e dinamismo econômico até ser simplesmente anexada em 1748 à capitania do Rio de Janeiro.

Em 1765, pelos esforços do governador Morgado de Mateus (1722-1798) foi reinstituída a Capitania de São Paulo e este promoveu uma política de incentivo à produção de açúcar para garantir o seu sustento. A capitania foi restaurada, entretanto, com cerca de um terço de seu território original, compreendendo apenas os atuais estados de São Paulo e Paraná.

Assim, foram fundados no leste paulista as vilas de Campinas, Itu e Piracicaba, onde logo a cana-de-açúcar se desenvolveu. O açúcar era exportado pelo porto de Santos e atingiu seu auge no início do século XIX.

É justamente no período colonial, compreendido entre a fundação da vila e o início do século XIX, que ocorre o auge da produção artística barroca e rococó paulista, seguindo uma linha evolutiva. A falta de uma arquitetura civil, aliada à influência da Igreja sobre a vida dos moradores da cidade, levou a arquitetura religiosa da cidade a ter relevância tanto no contexto social quanto artístico. Esses templos, tanto os da cidade de São Paulo, quanto os das localidades mais afastadas

no seu entorno, conforme o costume maneirista português, seguia o estilo chã, construídos geralmente seguindo a técnica da taipa de pilão ou pedra e cal, de acordo com as conveniências e os recursos disponíveis.

Sobre a evolução da arte barroca paulista, baseando-se nas classificações de Lúcio Costa, Germain Bazin e Robert Smith, e levando-se em conta sua manifestação na arquitetura e ornamentação religiosa, temos as seguintes fases:

1) a primeira fase ligada ao trabalho dos jesuítas, nos séculos XVI e XVII – aí estão as capelas remanescentes do início do período colonial no entorno de São Paulo, como a Capela de São Miguel, em São Miguel Paulista, datada de 1622; a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Embu; a Capela de Santo Alberto (1665), em Mogi das Cruzes; a Capela da Freguesia de Nossa Senhora da Escada, em Guararema, de 1652; as capelas alpendradas de Voturuna (1680), em Santana do Parnaíba e Santo Antônio (1681), em São Roque – capelas estas admiradas e estudadas por Lúcio Costa e por Mário de Andrade para o SPHAN, chamadas de capelas rurais. Os retábulos22 de algumas dessas capelas também foram classificados por Lúcio Costa como maneiristas ou jesuíticos, e são exemplares únicos no país – as jóias de família, motivo pelo qual a arquitetura religiosa e a arte sacra paulista dos seiscentos tem sua importância para a história da arte paulista; 23

2) a segunda fase é a fase negativa, quando houve a debandada dos homens da capitania para as regiões das Minas Gerais, de Goiás e do Mato Grosso – corresponde ao período no qual predominou o estilo denominado por Robert Smith como Estilo Nacional Português, ocorrido durante a primeira metade do século XVIII;

3) a terceira fase corresponde ao período de tentativas de se dotarem as igrejas com altares dourados, de talha dourada, após a febre do ouro – refere-se ao

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A tradição dos retábulos foi trazida pelos artífices portugueses, concebidos para serem postos na capela-mor como o altar principal e centro da atenção visual. A estrutura desses conjuntos deriva dos antigos arcos do triunfo da antiguidade, cuja função era serem marcos de celebração de fatos históricos. Aqui no Brasil, os retábulos foram executados, em sua maioria, em madeira, devido a excelência e qualidade das madeiras aqui encontradas e existência de ouro para ornamentar as talhas.

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período no qual ocorreu o estilo denominado de joanino ou estilo D. João V, caracterizou o período entre 1740 e 1760;

4) a quarta fase refere-se ao período da estagnação das minas e a volta a São Paulo de seus homens, o que caracteriza a fase do “entusiasmo barroco”24 na cidade, quando são reconstruídas e redecoradas as principais igrejas das ordens terceiras, de São Francisco e do Carmo, no último quartel do século XVIII;

5) No final do século XVIII e o início do século XIX, o estilo predominante é o rococó, e logo depois, o neoclássico – que atravessa o período imperial, influenciados pela estética trazida pela Missão Artística Francesa.

1.3 OS CARMELITAS EM SÃO PAULO: