CAPÍTULO 2 ABORDAGEM ÀS COMPONENTES DO ESTUDO
2.4. Problemas encontrados no ensino do tema radiações
2.4.2. Problemas encontrados ao ensinar o tema radiações
2.4.2.4. A persistência das ideias comuns entre os alunos
Já se verificou que existiam concepções alternativas sobre radiações mas, serão algumas concepções alternativas mais persistentes do que as outras? Fará alguma diferença o método de instrução usado?
Estudos com concepções alternativas noutras áreas mostraram que muitas preconcepções são resistentes à mudança, pelo menos quando expostos aos métodos tradicionais de instrução (Champagne, Gunstone e Klopfer, 1983).
Será útil analisar se existe alguma estratégia mais adequada para promover a mudança conceptual e averiguar quais são as concepções alternativas e os conceitos em que essa estratégia se deve centrar.
Procurou-se, assim, encontrar as respostas para as seguintes questões de pesquisa: - Qual é o tratamento didáctico proposto para tratar o problema das concepções alternativas?
- Quais são as concepções alternativas e conceitos sobre radiação que são recorrentes entre alunos que estudaram o tema Radiações?
Sugestões da didáctica do ensino das ciências para resolver o problema das concepções alternativas
Strike e Posner (1985) são conhecidos pela importância que dão às concepções correntes dos alunos para gerar novo conhecimento. Segundo estes autores a alteração conceptual assenta em quatro condições que têm de ser cumpridas:
1- deve haver insatisfação com os conceitos existentes 2- o novo conceito deve ser inteligível
3- o novo conceito deve parecer plausível 4- o novo conceito deve ser proveitoso
Segundo Cachapuz (1995), as propostas dos pesquisadores para o tratamento didáctico das concepções alternativas envolvem duas fases articuladas:
a) Desvalorizar a concepção alternativa pondo em evidência as suas limitações e a sua utilidade.
b) Procurar que o aluno reconheça o valor da versão científica.
Esta estratégia, de duas fases, pode ser explorada de diferentes modos. A tabela 2.12 apresenta um resumo das propostas de três investigadores.
Tabela 2.12 – Modelos de para promover a mudança conceptual (Cachapuz, 1995) Modelo de Mitchell
(1984)
Modelo de Nussbaum e Novick (1982)
Modelo de Rowell e Dawson (1983) a) Explicitar antecipadamente aos alunos a natureza de potenciais concepções alternativas pertinentes para o tema em estudo, i.e, tipicamente referidas na literatura ou da experiência pessoal do professor, esclarecendo contradições em relação à versão científica b) Desmontar tais concepções alternativas, eventualmente com o uso de demonstrações experimentais simples, exemplos e contra- -exemplos e sua discutível utilidade face à versão científica.
a) Construir uma situação (“exposing event”) que requeira do aluno o uso de suas
concepções alternativas.
b) Encorajar o aluno a descrever tais concepções verbal e/ou diagramaticamente, assistindo-o nesse processo de modo a alertá-lo para aspectos críticos das mesmas.
c) Encorajar o debate de ideias em que os prós e contras de diferentes concepções alternativas de outros alunos sejam comparados.
d) Expor o aluno a um acontecimento discrepante (“discrepant event”) desenhado de modo a gerar dissonância cognitiva em relação à(s) concepções alternativa(s) existente(s).
e)Procura pelo aluno, com o apoio do professor, de uma solução que satisfaça a nova situação e a sua elaboração.
a) Uso de questões explanatórias para
estabelecer ideias que os alunos consideram
relevantes para a explicação de uma dada situação problema.
b) As respostas dos alunos são aceites provisoriamente sem discussão pelo
professor, analisadas e sistematizadas.
c) A concepção científica é introduzida, articulando-se com informação já
conhecida dos alunos.
d) Os alunos aplicam o(s) novo(s) conceito(s) à resolução da situação problema proposta.
e) Os alunos comparam criticamente os esforços feitos em (a) e (d), sendo assistidos nesse processo pelo professor de modo a evidenciara pontos críticos entre as alternativas em confronto.
Concepções alternativas e conceitos sobre radiações
São apresentados a seguir os resultados de um questionário feito por Eijkelhof (1990) a alunos no último ano da educação pré-universitária, para analisar a persistência de concepções alternativas. Deverá ter-se em atenção que a sequência de concepções alternativas apresentadas não indica a sua incidência.
Concepções alternativas mais persistentes
A. Raios X
1. Os raios X permanecem durante horas no ar numa sala de raios X. 2. Os raios X deviam ser extraídos do ar para reduzir os riscos da radiação.
3. Os raios X permanecem na comida que é irradiada, por isso é perigoso durante algum tempo comer essa comida.
4. Após ter feito um exame com raios X estes raios permanecem no corpo durante meses.
5. Uma das razões porque os raios X são perigosos é por os raios serem transportados para o feto pelo sistema sanguíneo.
6. Os raios X têm efeitos no corpo humano que são muito diferentes dos produzidos pelas radiações nucleares.
7. Os raios X não são usados no tratamento do cancro.
B. Radiação nuclear
1. Após um acidente numa central de energia nuclear a radiação é espalhada pelo vento.
2. A radiação pode ser espalhada pelas correntes dos oceanos. 3. A radiação pode acumular-se no organismo humano.
4. A radiação pode ser armazenada na comida.
5. O período em que a radiação nuclear resultante de uma fonte externa permanece activa num paciente com cancro depende da meia-vida ou duração da irradiação. 6. Pacientes que são irradiados são perigosos para outros.
7. Pacientes a quem foi dado substâncias radiactivas não são perigosos para os outros.
8. Um duche ajuda a lavar a radiação.
C. Radiação natural
1. O corpo humano é imune à radiação natural.
2. Substâncias radiactivas naturais não se encontram no ambiente.
3. A maior parte da radiação que um homem recebe em circunstâncias normais não tem origem em fontes de radiação naturais.
Significados atribuídos aos conceitos científicos
A. Radiactividade
A maior parte dos inquiridos parecia ter a ideia de que o termo radiactividade é sinónimo de radiação radiactiva.
B. Meia-vida
A maior parte dos alunos parecia não ter a noção de que a quantidade da substância radiactiva é reduzida a metade após o período de meia-vida.
Um número considerável de alunos parecia ter a ideia que cada núcleo tem uma certa quantidade de radiação sendo emitida metade dessa quantidade num período de meia- -vida.
C. Contaminação radiactiva
1. A pessoa que é contaminada não contém substâncias radiactivas. 2. A pessoa que é contaminada é contaminada com radiações. 3. A pessoa que é contaminada contém demasiada radiação. 4. A pessoa que é contaminada tem muita radiação no sangue.
D. Dose de radiação
1. O termo dose de radiação significa “quantidade de radiação que é libertada”
2. O termo dose de radiação significa “quantidade de radiação que é realmente perigosa” 3. O termo dose de radiação não significa “quantidade de radiação que é recebida”
E. Limites de radiação
1. Uma dose de radiação de 0,5 Sv pode causar a morte em meses.
2. Só uma dose de radiação maior do que 50 Sv é que pode causar a morte no intervalo de tempo de alguns meses.
3. Desde que alguém receba menos do que a dose permitida anual ele ou ela não corre nenhum risco.
As primeiras duas afirmações referem-se à dose equivalente em que se espera que 50 % da população venha a falecer como consequência de efeitos agudos da radiação.