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Análise comparativa dos resultados obtidos neste estudo com os obtidos na

CAPÍTULO 4 CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES DO ESTUDO

4.1. Conclusões

4.1.2. Análise comparativa dos resultados obtidos neste estudo com os obtidos na

I – Contextos e conteúdos

Segundo Membiela (1997), um dos factores que contribui para o sucesso de um

curriculum é a selecção de contextos que abordem temas que sejam importantes nos

dias actuais e na vida futura dos alunos. Ou seja, a motivação dos alunos para aprenderem um determinado assunto aumenta se este tiver utilidade na sua vida e portanto for do seu interesse dominá-lo.

Relativamente ao tema Radiações e Saúde verificou-se que, embora o estudo realizado por Eijkelhof (1990) e o descrito nesta dissertação tivessem sido realizados com gerações diferentes, em países diferentes e numa situação política mundial diferente, em ambos os estudos os alunos manifestavam interesse em estudar aspectos deste tema, nomeadamente os efeitos das radiações e a radioprotecção. O facto deste interesse se ter mantido ao longo das gerações, permite-nos afirmar que a inclusão de uma unidade com este tema nos actuais curricula não será uma questão de moda. A necessidade desta inclusão resulta da constatação da existência de um problema, que é a falta de

conhecimento científico sobre o assunto entre a população estudantil. Este problema

ainda apresenta a agravante de este desconhecimento poder provocar erros de avaliação que poderão colocar em risco a saúde da população.

Como o tema é bastante complexo, os objectivos definidos para essa unidade não deverão ser muito ambiciosos porque se verificou que pode haver alguma dificuldade em lidar com uma quantidade elevada de conceitos, de unidades e de termos médicos (Eijkelhof, 1990). Os objectivos propostos para essa unidade poderiam ser do tipo:

- os alunos devem ser capazes de apreciar sobre a eficácia e as limitações das medidas de segurança em relação às radiações;

- os alunos devem ser capazes de tomarem decisões em assuntos de relevância pessoal e social relacionados com os perigos das radiações.

Embora este tema possa ser estudado em vários contextos, a pesquisa efectuada mostrou que se devem definir critérios para a selecção dos contextos tendo em vista os objectivos pretendidas. No caso das radiações ionizantes os peritos propuseram os seguintes critérios:

- Familiaridade dos alunos com os contextos – deverá dar-se preferência a contextos com os quais os alunos não estejam muito familiarizados, para facilitar a mudança conceptual.

- Grau de conhecimento específico necessário – deverão ser evitados contextos que exijam o conhecimento de muitos conteúdos específicos.

- Deverá dar-se preferência a contextos que permitam fornecer uma visão geral das aplicações das radiações.

Embora estes critérios tenham sido propostos para as radiações ionizantes, parecem ser igualmente válidos para as radiações não-ionizantes.

No caso da radiação ionizante, os contextos que foram considerados mais adequados pelos peritos, para a avaliação das consequências das radiações, na saúde, foram:

Radiação de fundo; Aplicações médicas; Energia nuclear e Armazenamento de resíduos nucleares.

Tendo em conta os aspectos que mais preocupações causam nos alunos inquiridos e os objectivos pretendidos, os contextos que parecem ser mais adequados para serem abordados nessa unidade são os dois primeiros. Os outros contextos poderiam ser utilizados se o objectivo pretendido fosse sensibilizar a população para o interesse de construir uma central eléctrica nuclear em Portugal.

No caso da radiação não-ionizante para além do estudo da Radiação Solar, já prevista no programa de Física e Química A (primeiro ano), talvez fosse interessante abordar as ondas de radiofrequência visto o contexto Telecomunicações estar previsto no programa de Física e Química A (segundo ano) e actualmente haver grande preocupação com os efeitos destas radiações na saúde. No entanto, só depois de se ter construído materiais de apoio e de se ter avaliado os resultados é que se poderá concluir se esta será uma situação adequada para atingir o objectivo pretendido.

Na secção 2.2 foi relatada a opinião dos peritos de radiação sobre os conteúdos que deveriam ser incluídos nos curricula para promover uma avaliação ponderada dos riscos das radiações ionizantes. A tabela 4.1 apresenta um resumo dessas recomendações.

Tabela 4.1- Conteúdos recomendados pelos peritos em radiações para as radiações ionizantes A. Conhecimento básico sobre física atómica e nuclear

- Estrutura do núcleo - Fontes radiactivas - Radiação ionizante - Detecção de radiação - Energia nuclear

B. Conhecimento básico sobre a protecção contra as radiações - Irradiação

- Contaminação

- Efeitos da radiação ionizante - Aspectos de segurança

As conclusões apresentadas na secção 4.1.1. vão ao encontro destas recomendações. O primeiro grupo de conteúdos, Conhecimento básico sobre física

atómica e nuclear, embora não esteja directamente relacionado com a avaliação do risco,

fornece as ferramentas necessárias para que os alunos sejam capazes de seleccionar e analisar informação sobre radiações. O segundo grupo de conteúdos, Protecção da

radiação, está mais voltado para os efeitos da radiação ionizante e, portanto, mais de

acordo com o objectivo pretendido: avaliação das vantagens/desvantagens da utilização das radiações, para a saúde.

A maior parte destes conteúdos está prevista no programa de Física (12º ano). Contudo, atendendo a que o número de alunos que frequentará esta disciplina será em princípio bastante limitado, é aconselhável que se faça uma avaliação das consequências das radiações para a saúde e se aborde as medidas de protecção mais cedo.

II – Concepções alternativas/ Problemas encontrados no ensino das Radiações

Existem muitas semelhanças entre os resultados obtidos na pesquisa realizada na literatura e os obtidos no estudo realizado com os alunos portugueses. Este facto parece mostrar que o actual programa não está a ser muito eficaz na mudança conceptual sobre radiações ionizantes. É possível que se venham a verificar problemas semelhantes em relação às radiações não-ionizantes, se não forem definidas estratégias adequadas.

A persistência dessas concepções alternativas parece dever-se a várias causas, desde formas de pensar comuns a vários indivíduos até ao desconhecimento de conceitos. Apresenta-se a seguir uma lista de algumas concepções alternativas e das possíveis causas da sua persistência. Nesta lista foi utilizado a seguinte notação para indicar o local onde foi detectada essa concepção alternativa: (1) – Literatura; (2) -Estudo actual (Questionário, media, manuais escolares)

A – A radiação não é reconhecida como uma entidade com propriedades específicas. - Não é feita a distinção entre substância radiactiva e radiação. (1;2)

- A radiação pode acumular-se no corpo e nos alimentos. (1;2) B – Há uma tendência para substancializar ou “ coisificar” a radiação.

- Referem-se à radiação como “aquilo”. (1)

- Após ser removida a fonte radiactiva a radiação permanece algum tempo. (1;2) - A radiação flutua no ar como uma nuvem. (1)

- Comparam a radiação ao som. (1;2)

- A radiação flúi à volta de um obstáculo como a água à volta de uma árvore. (1) - A radiação pode ser parada com uma contra-radiação (como dois jactos de água que colidem). (1)

- Os ecrãs de chumbo absorvem substâncias em vez de radiações. (2)

C – Há uma propensão para atribuir propriedades absolutas à radiação, em detrimento da análise dos factores e das interacções existentes entre os elementos do sistema.

- A irradiação de um alimento torna-o radiactivo. (1)

- Uma central nuclear de energia pode explodir como uma bomba nuclear. (1)

- A irradiação de uma pessoa faz com que ela fique contaminada radiactivamente. (1;2)

- Após um acidente numa central nuclear de energia o ambiente é semelhante ao de Hiroshima após a explosão da bomba. (1)

- Comparam a radiação ao calor. (1)

- As substâncias radiactivas podem fazer inflamar a roupa. (2)

- As radiações poderão provocar o aparecimento de substâncias perigosas nos alimentos. (2)

- As radiações podem ficar acumuladas nos alimentos. (1;2) - Os raios X absorvidos podem provocar uma explosão. (2) - A água diminui ou destrói as radiações. (2)

D – Os alunos transitam facilmente de um modo de pensar para outro sem disso se aperceberem – associam ou diferenciam com base nas aplicações das radiações. As ideias dos alunos sobre a natureza, propagação e perigo de um tipo de radiação dependem do contexto;

- Não é feita a distinção entre fontes radiactivas e fontes de raios X. (2) - A radiação artificial é muito mais perigosa do que a radiação natural. (1) - A substância radiactiva é sempre perigosa. (1;2)

E – Há uma tendência para usar esquemas de raciocínio lineares causais, com uma direcção privilegiada, para efectuarem previsões.

- As substâncias radiactivas são sempre mais perigosas do que as outras substâncias. (1)

- A radiação leva à impotência. (1)

-Todas as radiações electromagnéticas são perigosas. (2) - As antenas de comunicações móveis provocam doenças. (2) F – Ausência de noção de escala.

- Os limites de radiação são níveis de segurança: abaixo do valor indicado não há perigo, acima desse valor há perigo. (1)

G – Desconhecimento do processo ou do fenómeno envolvido.

- O lixo radiactivo resulta somente de lixo das centrais nucleares. (1) - Após a meia-vida já não existe nenhum perigo. (1)

- A radiação é libertada somente através da fissão nuclear. (1) - Não é feita distinção entre actividade e dose de radiação. (1) - A radiação ionizante pode ser parada por vácuo. (1)

- O bronzeado protege de uma queimadura suplementar.(2)

- Se removermos as substâncias radiactivas de um local fechado elas deixam de constituir um perigo. (2)

- A bata de algodão protege contra qualquer radiação existente num laboratório.(2) - O movimento faz diminuir a exposição. (2)

- A quantidade de ar faz diminuir o perigo. (2)

- Um tecido de algodão é eficaz na protecção contra os raios X. (2)

- A contaminação radiactiva pode ser eliminada por aquecimento ou tratamento químico. (1)

H – Atribuição de características animais ou humanas às radiações. - A radiação agarra-se aos objectos. (1;2)

III – Atitudes dos estudantes em relação aos efeitos que as radiações têm na saúde.

Segundo os peritos (Eijkelhof, 1990) as causas da ansiedade das pessoas relativamente à radiação ionizante são por ordem decrescente de importância:

1- A natureza dos possíveis efeitos; 2- Falta de conhecimentos;

3- Associação com armas nucleares;

4- A radiação ionizante não ser detectável com os sentidos; 5- A influência da cobertura feita pelos media;

6- Falta de confiança nos Governos e nos peritos; 7- A ocorrência de acidentes.

No presente estudo constatou-se que, efectivamente, os alunos estão preocupados com os efeitos das radiações; que desconhecem as medidas de protecção e que existe uma associação das radiações com os efeitos das armas nucleares muito representativa. Não foi possível constatar neste estudo a influência da cobertura feita pelos media.

4.2. RECOMENDAÇÕES E ESTRATÉGIAS PARA ENSINAR O TEMA