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A personagem como signo narrativo relacional

As personagens trágicas da Arte poética de Aristóteles são de status social elevado, como elevado é o gênero em que figuram. Por isto, são representadas como dignas, nobres, virtuosas. Não se admitia, pois, fazer de um homem comum um herói. A regra da verossimilhança exigia que se atribuísse a heroicidade a um deus, semideus ou herói, homem iluminado ou dotado de forças divinas. Tanto o conceito de tragédia, quanto o da epopéia de Aristóteles, definem o herói, por origem, personagem que pertencia à classe nobre e, nisto, residia a força de suas ações.

O jogo mimético próprio de Viva o povo brasileiro busca verossimilhança centrando a força da personagem em dois aspectos: a) o herói constitui-se em fio condutor da relação de causalidade e, portanto, fio condutor da história e do discurso narrativo; b) por seu poder financeiro e institucional, ambos vinculam-se a atributos como desumanidade, perspicácia e astúcia para a vilania. Se o herói é entendido por nós como fio condutor da história e da narrativa, núcleo com o qual se arma a intriga, servimo-nos de dez diagramas esquemáticos, por meio dos quais pretendemos didatizar a identificação do vínculo mantido pelas personagens, tendo em vista a relação que as une ao nível da história. São selecionadas apenas as personagens mais relevantes, face ao viés temático que as instituem como personagens livres.

Na ordem linear do discurso narrativo, o Alferes é a personagem que aparece primeiro. Entretanto, neste capítulo, como no anterior, optamos pelo critéiro que busca a linearidade da diegese. Neste caso, impõe-se iniciarem as nossas observações pelo caboco Capiroba, centrando-as na sua descendência familiar e cultural, embora a metáfora narrativa, constituída a partir do Alferes, imprima função alegórica à obra, estabelecendo um jogo dialético entre essas duas personagens, antes

almazinhas, depois, não apenas almas sempre reencarnantes daquilo que é

narrado: povo brasileiro, mas também almas da narrativa.

O núcleo dos diagramas será sempre preenchido pela personagem nuclear de sua comunidade. Sejam, pois, os dez diagramas, a seguir registrados, facilitadores da visualização do conjunto das personagens que habitam a diegese em foco, segundo o relacionamento que lhes tenha sido atribuído na unidade narrativa de que fazem parte. A unidade narrativa nuclearizada pelo caboco Capiroba inicia-se pondo-o em foco. Essa técnica é a mesma empregada para a inserção do Alferes e de Perilo Ambrósio.

Diagrama 1: Caboco Capiroba como núcleo da relação entre colonizadores

e escravos, nativos e africanos.

Padres Portugueses Holandeses Eijkman Zernike

Pai negro fugido Mãe índia Muitas mulheres

Capiroba

Historiografia

Muitos filhos

Dadinha sabia tudo, é neta de Vu, avó de Vevé

Turíbio Cafubá + Roxinha Perilo Ambrósio Vevé (Venância)

Nego Leléu Maria da Fé

+

Enquanto o Alferes torna-se herói por nada fazer, Capiroba é localizado por seu “prazer de comer holandeses” e pelas razões de sua preferência pela carne de gente dessa raça: O caboco Capiroba apreciava

comer holandeses ... começou a comer carne de gente depois de uma certa idade, talvez quase trinta anos (VPB, p. 37). Este atributo conferido ao caboco

Capiroba, além de irônico, não se reveste de caráter permansivo, isto é, ele não é explorado como antropófago, em sua origem. A antropofagia, incidindo preferência pelos invasores holandeses, simboliza a fragilidade destes invasores, em relação à força dos portugueses. A história do caboco Capiroba, de qualquer modo, vincula-se ao mito das trevas, como nas trevas vivia o

povo brasileiro, durante o século XVII. Traduzindo melhor, o que se procura representar é a reduzida perspectiva do povo, mais propriamente, do escravo brasileiro, quanto ao seu destino.

Ao apresentar-se como filho de índia com preto fugido e bicho

noturno, que via com os ouvidos, Capiroba tem uma alma que, conforme indicia

o narrador, repetir-se-á, por hipótese, no Alferes: ... a almazinha nasce índio

outra vez ... (VPB, p. 19). Por constatação da Mãe de Santo, Rita Popó, também

Patrício Macário, carrega a história de uma única alma que quer aprender: povo brasileiro, simbolizando sinedoquicamente os habitantes do Recôncavo Baiano, berço da civilização brasileira, porque sede do poder político, religioso, econômico dos primeiros séculos da história da nação brasileira.

O Caboco Capiroba representa, desse modo, o começo do processo de aprendizagem do povo brasileiro. Morava

no meio das brenhas mais fechadas e dos mangues mais traiçoeiros, capazes de deixar um homem preso na lama até as virilhas o tempo suficiente para a maré vir afogá-lo lentamente, entre as nuvens cerradas de maruins e conchas anavalhadas de sururus (VPB, p. 37).

Tem maior relevância que a sua vida nas trevas e a sua preferência pelos holandeses, a façanha praticada por sua filha mais velha, Vu, que se engravida de Zernike, embora, do ponto de vista temático, o espaço dialógico conquistado por Capiroba seja reduzido. Restringe-se ao que conversara com os dois holandeses que aprisionara e às observações

que fizera à sua filha Vu, que “tratava” de Zernike. Igual relevância tem o diálogo estabelecido pelos holandeses aprisionados, Eijkman e Zernike, a partir do qual se revela o objetivo de tais invasores, que se unem em função dos mesmos interesses: fé em que aqui encontraríamos riquezas, fortunas,

imensas searas, montanhas de ouro e especiarias, felicidade perpétua e paz de espírito (VPB, p. 53).

A representação do povo miscigenado, dada a Capiroba, (nativo e africano) é metaforizada pela realização dramática atribuída a si e reflete-se, ao longo da diegese: no galho da árvore genealógica que reúne Dadinha, Vevé, Dandão, Inocêncio, Merinha, Budião, Dafé, Zé Popó, Patrício Macário, contrapondo ao outro galho, formando a sinédoque narrativa, povo brasileiro.

Se o Alferes, situado na Ponta das Baleias, nasceu na história, para morrer sob a força dos colonizadores portugueses e consagrar-se herói, sem nada fazer, sem nada conhecer, e se também Capiroba nasceu para morrer sob a força do poder instituído, o primeiro é sagrado “herói” compondo a História oficial brasileira, enquanto o segundo corre nas veias do povo. Ambos, entretanto, somam-se à força das ações conferidas a Dafé. Por isso fazê-la lenda, mas apenas Capiroba é fonte da força da vida de Patrício Macário. Por outro lado, se a Perilo Ambrósio foi dada chance para que purgasse e se elevasse em grandeza humana, ele não a aproveitou. Seu caráter continuou inalterado até a morte. Com Capiroba, ocorre o mesmo: seu último

pensamento foi que talvez comesse aquele padre ... chegou a imaginar como teria sido bom se ..., tivessem vindo pra cá desde o começo, e aqui ficado, holandeses superiores (VPB, p. 55-6).

A força temática que perpassa a história associa, portanto, Capiroba a Alferes e a Perilo Ambrósio, para estabelecer o contraste entre as condições étnicas e culturais em que estas personagens acham-se determinadas, elemento que participa da formação da unidade da obra. Ao nível da diegese, entre a história de Capiroba e a do Alferes, situa-se a de Dadinha, bisneta de Capiroba e neta de Vu, entretanto, quando ela estabelece elo entre diferentes histórias, sua função é a de personagem associativa. Desse modo, é nosso alvo a unidade narrativa em que o Alferes é visto como personagem nuclear e, como tal, atua como personagem livre:

Diagrama II: Alferes Brandão, como núcleo da relação entre brasileiros e

portugueses e pela correlação entre historiografia e história ficcional.

Trinta Diabos

Inácio Madeira de Melo João Botas Sousa Lima Gonçalves Ledo Manoel P. da Silva João de Campos General Madeiras

Nesta unidade narrativa, dois arquétipos épicos evidenciam-se. Um renova o arquétipo do herói trágico que tem por destino decair de sua epicidade para crescer em sua humanidade. Entretanto, o Alferes, antes, apresentado pelo narrador como personagem ingênua e inexperiente, para cumprir as regras próprias no rito da heroicização, torna-se ficcional vítima. Ironicamente, termina glorioso e imortal na pseudo história: montando guarda às costas da terra mais

brasileira que existe, foi ceifado pelas garras ímpias e sem misericórdia de Portugal (VPB, p. 15). O outro arquétipo é de natureza temática. O

narrador inova versos por meio dos quais Camões, em os Lusíadas, glorifica símbolos e conquistas do povo português: as armas e os barões

assinalados / Que, da Ocidental praia Lusitana, / Por mares nunca de antes navegados / ... E também as memórias gloriosas/ ... Cantando espalharei por toda parte/ Se a tanto me ajudar o engenho e arte

(Camões, s/d, p. 53). Este fragmento que se identifica, na epopéia, como proposição e dedicatória, se complementada com a invocação, tem analogia com a unidade narrativa em que a imagem do Alferes Brandão firma-se como núcleo na narrativa e da diegese. Para comprovação, busquemos um recorte do romance em estudo:

O povo brasileiro se levantava contra os portugueses e discursos caudalosos ribombavam pelas paredes das igrejas, boticas e salões onde os conspiradores profetizavam a glória da América Austral, fulcro do

esplendor, fortuna e abundância. Em toda parte sagravam- se os heróis, em cada dia em cada povoado com as notícias das bravuras voando tão rápido como as andorinhas que passam o verão na ilha (VPB, p. 10).

Essa analogia temática apóia-se mais na relação entre valores simbólicos do que na dos materiais simbólicos. Entretanto, coerentemente com o sentimento de que o povo português era dotado, diante das conquistas territoriais que se ampliavam, projetando a nação portuguesa para além mares, tanto Camões quanto Fernando Pessoa (1969, p. 82) encontraram razões para cantarem a glória de seu povo, nas suas relações com povos de outras nações; Ó mar salgado, quanto de teu sal /

são lágrimas de Portugal! / ... / Valeu a pena? / Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena. Do lado do povo colonizado, a atitude e o sentimento

que referencializa a formulação do seu sentimento nacional, expressa-se, inevitavelmente, por meio de um outro modo narrativo e de uma outra modalidade de linguagem.

O recurso que Ubaldo Ribeiro adota, então, só pode ser aquele próprio da linguagem e do modo irônicos, conforme se observa ao longo do romance e se comprova pelo exemplo retro-transcrito. Aqui, predomina uma outra dimensão, a da espiritualidade mimética como manifestação cultural do povo brasileiro em processo de colonização, elemento de que a mitologia greco-romana não toma parte direta, diferentemente do que ocorre em os

representação simbólica a que nos referimos: na mitologia greco-romana, os deuses e as deusas brigam entre si, além de se organizarem por campo de atuação. O mesmo ocorre no mundo Iorubá ou Nagô, de Oxalá.

Diagrama III: Perilo Ambrósio (P.A.) como núcleo de relações entre

personagens, do ponto de vista da historiografia e da história ficcionalizada.

Perilo Ambrósio

P.A.

Pai: Nhô Felisberto Goés Farinha Mãe: Nhá Ambrosina Goés Farinha irmã:

Inocêncio morto por P.A.

Feliciano língua cortada por P.A. Budião conspiram contra P.A. Dandão Merinha Vevé Nego Leléu Cônego Amleto Horácio Bonfim Dr. Noêmio

Sinhá Antônia Vitória Vasco Miguel Florbela Maria Felicidade Maria

. . .

O Tenente

O Cel. Barro Falcão Lorde Cochrane Gal. Madeira Capitão Tristão Imperador

Imperatriz Criam da fé...

As personagens agrupadas pelo critério historiográfico classificam-se como signos associados, segundo dois motivos distintos. São contrastivos passivos, por um lado, porque evocadas para reforçarem os atributos de Perilo Ambrósio, por outro, têm o objetivo de proporcionar a coesão das relações entre historiografia e história ficcional, por isso, são também signos coesivos. As personagens agrupadas ao nível da história

são signos associados segundo dois critérios: Amleto, nas suas relações com Perilo Ambrósio é personagem livre complexa sucessiva. Estabelece uma rede de relações que inclui as personagens ligadas a Perilo Ambrósio e provoca ou requer como pré-requisito a criação de outras, subjugando- as: Dadinha, neta de Vu e bisneta de Capiroba, Teolina, esposa de Amleto, e Horácio Bonfim, empregado de Perilo Ambrósio, mas subordinado direto a Amleto no controle dos negócios do patrão, por exemplo, evidenciam tais aspectos.

A invenção de Perilo Ambrósio como a de Amleto, Bonifácio Odulfo e Eulálio Henrique, do ponto de vista da história, situa-se dentro de uma subordinação estrutural sob duas mediações: o mercado, os estilos de vida e sistema de valores, inerentes ao status social, próprio dos ricos de seu tempo: ricos usurpadores ou ricos por herança, em busca da legitimação de sua condição de superioridade (Bourdieu, 1996, pp. 24-50).

Desse olhar, nota-se que a elevação da importância do capital financeiro e político pressiona o rebaixamento do capital intelectual, social e político, alterando o conjunto de valores existenciais. Na construção das esferas de funções e estados das personagens, estas entram no jogo de relações por intersecção ou contraposição, instituindo uma clara opção pela lógica de universos sociais que emergem de interesses sociais e se submetem a leis históricas. Assim situado, o povo brasileiro representa-se

por três classes: a dos que trabalham, a dos que pensam e a dos que não fazem nada a não ser trapacearem. A primeira, representada pelos escravos, que assumem o mito do trabalho; a segunda, representada pelos líderes populares, Maria da Fé, Júlio Dandão Faustino da Costa; a terceira, pelo clero, Cônego, D. Francisco Manoel de Araújo Marques e Monsenhor Bibiano Lucas Pimentel; além daqueles que representam os patrões e as autoridades do exército e estabelecem a ordem social.

Do lado do segmento que expressa a cultura geralmente atribuída à etnia negra, impõe-se destacarem as relações de Nego Leléu com as personagens com as quais se articula. Uma primeira leitura desta personagem, que pode ser destacada como dotada de função nuclearizadora, requer que se busque Perilo Ambrósio, a fim de que se verifique como fora introduzida a personagem que nucleariza a unidade narrativa referencializadora do próximo diagrama, pois, aparentemente, foi quando Perilo Ambrósio sentiu a boca encher-se de água e de um

gosto acre, pensando mais uma vez na negra Vevé, como estivera pensando o tempo todo (VPB, p. 126), que a narrativa introduz Nego Leléu, velho africano, bem velhote (p. 127).

A função narrativa da personagem é a de socorrer Perilo Ambrósio, que engravida a negra Vevé, filha de Roxinha e Turíbio Cafubá. Nego Leléu deve responsabilizar-se por Vevé e, conseqüentemente, assumir a filha da negra, Maria da Fé, que acaba por adotar como neta. A função e as

relações estabelecidas entre Leléu e Perilo Ambrósio, entre Leléu e Maria da Fé, fazem dele personagem associada complexa. Entretanto, nas relações que mantém com as demais personagens de sua comunidade é personagem

livre simples, em conseqüência de sua liderança sobre todas elas. Nas suas

relações com Maria da Fé e Perilo Ambrósio, entretanto, é personagem

associada, em virtude da preponderância destes sobre Nego Leléu, como

fio condutor da narrativa e da história.

O diagrama a seguir apresentado mostra o conjunto das personagens com as quais Nego Leléu mantém relação, na armação de sua história. Nego Leléu entra na narrativa após Amleto, entretanto o elo que mantém com Perilo Ambrósio situa-se não no plano dos negócios, como ocorre nas relações entre este e Amleto. A motivação que provoca a intersecção entre Nego Leléu e Perilo Ambrósio evidencia representações simbólicas denotadoras do sentimento de posse do senhor sobre as suas escravas e os seus escravos, regra que se aplica às demais personagens com as quais se relaciona, na comunidade que nucleariza. Observar Nego Leléu em suas relações com Perilo Ambrósio é percebê-lo como personagem associada

coesiva, em virtude do motivo temático que os unem: Perilo Ambrósio estupra

a negra Vevé, escrava em sua propriedade, e objeto de desejo obsessivo de Perilo. O Negro Leléu tem de assumir as conseqüências decorrentes da realização do desejo de Perilo Ambrósio.Visto, entretanto, nas suas relações com a comunidade que lidera, Nego Leléu é personagem livre.

Diagrama IV: Nego Leléu, como núcleo de relações entre negros, mestiços

e brancos (protetor dos negros, entre aspas)

Brancos Nego Leléu . . . Negros e Mestiços Barão P. Ambrósio Sinhá A. Vitória Tabelião Dr. Manoel Augusto Dantas,depois, Pedro Manoel Augusto Dona Maria Betânea 4 jovens assassinos de Vevé

No percurso empreendido entre a introdução do Nego Leléu, na narrativa e o seu enterro, o narrador recorre à metalepse, para apresentar a história desta personagem, situando-a desde o instante em que recebera alforria. Ao fazê- lo, institui um aparente hiato na história, que gera ambigüidade: corta-se a seqüência da história de Perilo Ambrósio no momento narrativo em que ele vive mais um estado obsessivo alimentado por seu desejo de possuir Vevé, ao mesmo tempo, instaura-se um efeito discursivo que sugere entender-se tenha Leléu saído da memória de Perilo Ambrósio. Este recurso expressa a aceitação de uma espécie de jogo textual que mascara as relações entre a personagem e o narrador.

Como resultado, Leléu entra na história com características que o aproximam da personagem picaresca. Em seu percurso e nas suas relações com a comunidade que nucleariza, Leléu deve superar desafios: aceitar Vevé; obter

perdão de sua dívida relativa a impostos; educar Maria da Fé e dar-lhe uma escola; vingar o assassinato de Vevé; aceitar perder Maria da Fé, que se transforma em bandoleira. A transformação de um Leléu picaresco, perspicaz, alegre, egoísta, oportunista, em um Leléu sensível, terno, simultaneamente, corajoso e perspicaz, é conseqüência de ter acolhido Vevé, permitindo-se gostar de Maria da Fé:

Nego Leléu, até querendo um pouco virar dois, só lembrava ter-se sentido assim na infância ... embora feliz ou até por isso, enxugou os olhos que lacrimejaram quando lembrou o rostozinho de Dafé ...

Seria verdade que estava mesmo virando dois?... (VPB, pp. 252-3).

Dois mitos acumulam-se em Leléu, em sua trajetória narrada: o do trabalho associado ao acúmulo de riqueza e o do amor, numa peregrinação involuntária, diferentemente dos heróis mágicos e clássicos. Na força desses mitos, firma-se a sua própria força, motivação insuficiente tanto para amparar Vevé, quanto para nortear os destinos de sua protegida, Maria da Fé.

Distintamente de Nego Leléu, Amleto é introduzido na história, como o assessor inteligente que proporciona suporte técnico ao projeto de expansão do capital econômico-financeiro de Perilo Ambrósio. Realiza, como representação simbólica, a dramatização do mulato hábil, inteligente e, por isso, da confiança do patrão. De personagem associada complexa, em suas relações com Perilo Ambrósio e outros empregados, dentre os quais merecem destaque o seu cunhado e Horácio Bonfim, passa a personagem livre, por se transformar

em núcleo de novas relações, reproduzindo e aperfeiçoando as regras da lógica de invenção do primeiro. Inicialmente, Amleto Ferreira é guarda-livros de Perilo Ambrósio. Por origem, é filho de Jesuína, com um inglês, que não conhece. No seu percurso, tem três filhos e uma filha. Fica muito rico. Passa a chamar-se Comendador Amleto Henrique Nobre Ferreira-Dutton, por “benesse” do Monsenhor Bibiano, que se vende. A base das relações representadas tem como critério uma das funções: familiar, política (clero, justiça, militar), econômica ou mista, pela ordem em que aparecem na história. Sirva o diagrama V, para visualização dos figurantes com os quais Amleto se relaciona:

Diagrama V: Rede de relações de Amleto Ferreira, filho de um inglês com a

mulata Jesuína. A base das relações representadas tem como critério:

Instituição

Clero

Cônego Francisco Miguel

Monsenhor Bibiano Lucas Pimentel Polícia

Major Francisco Gomes Magalhães (padrinho de P. Macário) Justiça Dr. Noêmio P. de Oliveira: advogado e comparsa de Amleto AMLETO . . . Família Edísio Emídio Reis cunhados e comparsas de Amleto Perilo Ambrósio

Antônia Vitória: Vasco Miguel Horácio Bonfim e

Maria Dalva Bonfim Joviana (Juvi): cozinheira de Amleto

pais inven- tados

Como personagem de caráter livre, Amleto tem mobilidade própria e é fio condutor de grande parte da história. Supera o patrão, em esperteza e é