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A personagem Zé do Caixão na teoria do horror

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Capítulo IV – DRÁCULA E ZÉ DO CAIXÃO – O COVEIRO

1. A personagem Zé do Caixão na teoria do horror

A questão da presença do elemento fantástico na narrativa também é intrínseco à personagem Zé do Caixão. Ele se aproveita de todas as chances que tem para desafiar principalmente os dogmas e rituais da religião católica, mas também questiona qualquer outra crença ou superstição. Zé do Caixão em monólogos costuma gritar sua descrença em qualquer força não natural, contraditoriamente, ao mesmo tempo em que pede a estas mesmas forças não naturais provas de sua existência. Esta descrença no não natural impulsiona sua crueldade, pois não acreditando em qualquer tipo de punição divina, sua única preocupação é com a justiça dos homens. Por isso ou tenta disfarçar seus assassinatos, a morte de Lenita com uma picada de aranha e a morte de Antonio como se tivesse caído e batido a cabeça na banheira e se afogado em À Meia Noite Levarei Sua Alma. Ou oculta os corpos de suas vítimas, como as moças mortas pelas cobras e escondidas no lago em Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver.

O elemento fantástico em Drácula, como já visto, se manifesta pela própria personagem, um vampiro, um ser sobrenatural, caracterizando a instância do fantástico

maravilhoso. Já a personagem Zé do Caixão difere, não só de Drácula, como da maioria dos monstros ficcionais, por não ser ele a materialização do elemento fantástico na narrativa, mas por ser um monstro que sofre a ação de forças não naturais. Zé do Caixão é um homem que entra em confronto com o sobrenatural, enquanto que Drácula é o próprio sobrenatural (humanizado) que se confronta com o homem. Quanto a instância em que o fantástico se manifesta veremos que ele passa pelas três possibilidades, puro, estranho e maravilhoso, ao longo da história de Zé do Caixão, enquanto que Drácula sempre está inserido na categoria do fantástico maravilhoso.

Em À Meia Noite Levarei Sua Alma a primeira manifestação do fantástico acontece na seqüência em que Zé do Caixão, em sua casa, ouve as vozes de Antônio e Terezinha. Nesta cena temos uma hesitação sobre a procedência do fenômeno. São realmente vozes que vem do além ou alucinações de Josefel Zanatas? O que denota o fantástico puro, mas nas seqüências finais vemos o fantasma de Antônio oferecendo fogo para Zé do Caixão acender seu cachimbo e logo em seguida a procissão de espíritos. Apesar de Zé do Caixão fugir de maneira delirante, fica instaurado o fantástico maravilhoso. Logo nas primeiras cenas de Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver esta situação se desfaz. O texto em forma de legendas no início é bastante claro. “Zé do Caixão obsecado pelo nascimento de um filho perfeito não exitou em matar. E os seus próprios nervos lhe deram o martírio da alucinação” (DVD – Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver). Instaura-se então o fantástico estranho que acompanha Zé do Caixão em suas alucinações e pesadelos. Porém no final voltamos ao fantástico maravilhoso, já que ao desafiar a existência de deus um raio cai perto do coveiro e ao clamar por mais uma prova os cadáveres de suas vítimas escondidas no lago bóiam, revelando sua culpa perante os moradores da cidade. Em A Encarnação do Demônio o fantástico maravilhoso é reforçado no final, já que outros personagens

humanos também sofrem a ação de espíritos que até então aparentavam ser delírios de Zé do Caixão. O policial Oswaldo é assombrado pelos espíritos das crianças que matou e o padre Eugênio também é perseguido pelo espírito de Zé do Caixão.

A intenção de causar a emoção do horror no público é evidente, tanto para Drácula quanto para Zé do Caixão. A escolha de profanar religiões e crenças consegue impressionar o público brasileiro, católico e supersticioso. A presença de animais peçonhentos e a violência gráfica também reforçam o objetivo de horrorizar e causar repugnância no espectador.

Também é evidente o horror que as personagens positivas manifestam frente à Zé do Caixão. Suas aparições nos funerais claramente atemorizam os moradores da cidade que se sentem impotentes frente a ele. Esta posição de inferioridade fica muito clara pelo enquadramento da câmera. Nas cenas em que Zé do Caixão aparece junto aos moradores da cidade, ele sempre é focalizado com uma câmera baixa, dando a sensação de superioridade. Suas vítimas reagem com grande pavor a seus ataques, bem como as vítimas de Drácula. Porém, algumas das vítimas de Zé do Caixão parecem de algum modo justificar a crueldade e o mal que sofrem, em contraponto às vítimas de Drácula, que nada fizeram para merecer o mal que se abate sobre elas na forma do vampiro. Laura e Márcia sabem dos sádicos crimes cometidos por Zé do Caixão e assim se tornam cúmplices de sua maldade. As moças seqüestradas em Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver foram selecionadas por serem descrentes de deus, o que também acaba justificando as torturas sofridas por elas.

Esta propensão de algumas personagens reforça a idéia do mal interior que se manifesta na personagem Zé do Caixão. Todo o mal que surge vem do homem, Zé do Caixão (que goza de livre arbítrio para tomar suas decisões), e algumas de suas vítimas até mesmo colaboram para que este mal aconteça. O oposto de Drácula que é a

exteriorização do mal, um vampiro, um ser sobrenatural. Ainda que apareça de forma humanizada ele é completamente exterior ao homem.

Ao posicionarmos Zé do Caixão do lado oposto a Drácula na dicotomia da exteriorização do mal, já evidenciamos que ele não corresponde ao arquétipo do vampiro, pois o mal exterior é um de seus atributos principais. A carta do tarô do horror que cabe para a personagem Zé do Caixão é a carta do lobisomem. Tal qual Jekyll e Hyde, Josefel Zanatas alterna momentos de exagerada polidez (apolíneo) com rompantes de fúria e crueldade (dionisíaco). Ele transita normalmente pela sociedade como um cavalheiro, mas quando pode dá vazão aos seus desejos sádicos. Em À Meia Noite Levarei Sua Alma, durante o jogo de cartas no bar, Zé do Caixão cruelmente decepa um dedo da mão de seu adversário, mas logo em seguida manda chamar um médico e se prontifica a pagar o tratamento. Tenta conquistar Terezinha presenteando-a com um passarinho numa gaiola para em seguida estuprá-la. Em Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver salva uma criança de um atropelamento para depois torturar mulheres em sua câmara de horror. Apesar de Zé do Caixão ser temido constantemente pelos moradores da cidade, seu lado maléfico fica contido para ser liberado nas ocasiões adequadas.

Na classificação dos monstros a personagem Zé do Caixão se encaixa na categoria de monstros originados pela metonímia do horror. Embora as longas unhas lhe dêem um caráter animalesco, Zé do Caixão é um homem de aparência normal. Porém, está associado a uma série de elementos macabros que causam repulsa: caixões, cemitérios, aranhas, cobras, o ajudante deformado, animais empalhados, heresias, o inferno, etc. O sentimento de repulsa não se origina exatamente da personagem Zé do Caixão, mas sim dos elementos impuros que o cercam. Desta maneira, distingui-se de

Drácula que causa a repulsa por si próprio devido a sua origem na fusão de elementos de categorias distintas, assim tornando-o impuro.

Apesar do horror se manifestar explicitamente em relação a ambas as personagens, Drácula, como vimos, opera entre o horror explícito e o horror refinado. Enquanto que Zé do Caixão trabalha sempre o horror explícito no nível da repulsa em seus filmes. A grande quantidade de closes nas aranhas e cobras e o gore nas cenas de tortura ressaltam a intenção de chocar e causar repugnância.

Em relação às condições de produção para a realização cinematográfica, Drácula e Zé do Caixão também se encontram de lados opostos. Enquanto Dracula foi feito como uma grande produção de um conceituado estúdio de Hollywood, os filmes de Mojica são produções independentes de um estúdio brasileiro precário com orçamentos muito reduzidos. Apesar de Dracula ter ousado ao tratar de um tema sobrenatural, contrariando as expectativas das grandes produções que tendem a se arriscar menos, não podemos comparar com a ousadia e a criatividade dos filmes de Zé do Caixão, seja na superação das adversidades técnicas como pela abordagem do gênero horror.

Quanto a questão da existência do subtexto na narrativa de horror vimos que esta não é uma prerrogativa para o gênero do horror. Em muitos casos não existe um subtexto ou uma mensagem que se intenciona transmitir nas entrelinhas, o que se pretende é provocar apenas o horror artístico através do filme de horror. Creio que este seja o caso dos filmes de Zé do Caixão que usamos como referência neste estudo. É claro que se pode fazer uma leitura diferente destes filmes como a que Sganzerla (BARCINSKI; FINOTTI, 1998, p. 11) faz, enxergando nas narrativas de Zé do Caixão uma contestação à ditadura e na sua busca pelo filho perfeito alusões a Nietzsche. Também poderíamos apontar um subtexto religioso, moralizante e conservador que pune aqueles que duvidam da religião católica. Porém não me parece crível que Mojica

objetivasse algo nestes filmes que não fosse o horror artístico. Também não me sinto seguro para concordar que tais leituras sejam realmente um subtexto presente nestas narrativas.

Examinando as estruturas de enredo dos filmes de Zé do Caixão, a partir dos enredos mais recorrentes do gênero, notamos que eles se encaixam nestes modelos, embora não com a perfeição de Dracula. Observamos que o filme com Lugosi corresponde plenamente ao enredo de descobrimento complexo (com quatro movimentos, irrupção, descobrimento, confirmação e confronto), mas que esta estrutura pode acontecer em três, dois, ou até mesmo um único movimento. Diferentemente de Drácula, que depois de sair de seu castelo na Transilvânia passa a agir às escondidas, deixando o desenvolvimento das personagens positivas em primeiro plano, Zé do Caixão é o centro das atenções durante todo o tempo, sobrando pouco espaço para as personagens positivas. O que faz com que os movimentos de descobrimento e confirmação aconteçam muito brevemente em À Meia Noite Levarei Sua Alma, mas ainda assim o enredo do filme corresponde a esta estrutura. Logo no início do filme somos apresentados ao monstro, Zé do Caixão, que come carne de carneiro na sexta- feira santa. No desenrolar da trama fica claro que os moradores da cidade sabem que o coveiro é o culpado das mortes que acontecem, apesar de não terem provas não hesitam em acusá-lo. Assim, não há exatamente a fase de descobrimento. A confirmação acontece rapidamente na cena em que Dr. Rodolfo, ao analisar os laudos das mortes de Antônio e Lenita, constata que não foram acidentes. Mas esta confirmação se restringe apenas à personagem Dr. Rodolfo, pois logo em seguida Zé do Caixão fura seus olhos e o mata queimando-o vivo. Também podemos notar estes movimentos num segundo momento já no final do filme quando Zé do Caixão se confronta com os espíritos. Ele descobre forças não naturais quando ouve as vozes de suas vítimas em sua casa e

confirma a existência destas forças juntamente com o movimento de confronto, ao ver o fantasma de Antônio no cemitério e a procissão de espíritos em seguida.

Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver mistura as duas estruturas, o enredo de descobrimento complexo e o enredo do extrapolador, que também conta com quatro movimentos: a preparação, a experiência, o resultado da experiência e o confronto, e cujo melhor exemplo é Frankenstein (1931). O primeiro movimento acontece quando Zé do Caixão seqüestra as moças para sua experiência, depois passamos para a experiência propriamente dita, testar a reação das moças até identificar uma delas que não tenha medo. Primeiramente um teste de coragem soltando as aranhas caranguejeiras sobre as moças, neste primeiro teste somente Márcia é selecionada, mas falha na segunda prova ao não suportar ver as outras moças serem mortas pelas jibóias. Assim a experiência aparentemente deu certo, Zé do Caixão testou as moças e constatou que nenhuma das candidatas era a mulher perfeita, seu método parece eficaz. Porém, ele descobre que Jandira, uma das moças mortas pelas jibóias, estava grávida. Fazendo com ele tivesse destruído a vida inocente de uma criança. A experiência deu errado e Zé do Caixão passa a lidar com seu resultado, alucinações e pesadelos. Também podemos notar os movimentos de descobrimento e confirmação que ocorrem juntamente quando os moradores da cidade encontram a carta que Márcia escreveu antes de se matar, revelando que o coveiro é o autor dos crimes. Posteriormente temos mais uma vez a confirmação, junto com a fase de confronto, quando os moradores da cidade cercam Zé do Caixão no lago e os corpos das moças flutuam na água à sua volta.

Por meio do quadro comparativo entre as personagens Drácula e Zé do Caixão, constatamos que apesar da influência na gênese de Zé do Caixão, que resulta na semelhança visual entre as duas personagens (capa e roupas pretas), tratam-se de personagens, e monstros, completamente distintos dentro do gênero horror.

Num extremo temos Drácula, uma personagem sobrenatural que é a exteriorização do mal e uma metáfora para a sexualidade, encarnando o arquétipo do vampiro. Uma personagem essencialmente impura, um monstro de fusão. Que explícita o horror muitas vezes de maneira refinada, apenas sugerindo-o. Numa produção ousada ao tratar o tema sobrenatural apesar de ser realizada por um grande estúdio de Hollywood.

No outro extremo está Zé do Caixão, uma personagem natural. Um homem que sofre a ação do sobrenatural, que dá vazão a todo o mal que existe em seu interior e que não necessita de metáforas para abordar a sexualidade, fazendo-o abertamente. A alternância entre seus rompantes de maldade (dionisíacos) e momentos de tranqüilidade e razão (apolíneos) apontam para o arquétipo do lobisomem. Zé do Caixão é um monstro em que a impureza não está na sua figura, mas sim na associação aos elementos macabros que o cercam, metonímia do horror, e que são explicitados graficamente a fim de horrorizar pela repulsão. Em produções independentes realizadas precariamente, mas ousadas e criativas, e de maneira artesanal, já que a referência comparativa é a indústria cinematográfica de Hollywood.

Em comum entre Drácula e Zé do Caixão notamos apenas as características inerentes à personagens de terror: a reação emotiva de horror nas personagens positivas e os enredos de seus filmes que correspondem as estruturas mais recorrentes no gênero.

Concluindo, a personagem Zé do Caixão não é uma cópia abrasileirada de nenhum dos monstros tradicionais do cinema de horror, mas sim uma autêntica personagem de horror brasileira, cuja originalidade fica evidente quando colocada frente à outras personagens de horror. Notam-se as influências dos modelos ficcionais tradicionais do cinema de horror, mas a marca maior em Zé do Caixão, definitivamente é a de seu criador José Mojica Marins, o que lhe dá uma singularidade ímpar, presente

na verdadeira manifestação artística. A personagem Zé do Caixão não representa apenas o horror brasileiro. Ele próprio é um símbolo do Brasil.

CONCLUSÃO

Antes de adentrar propriamente nas conclusões desta pesquisa, aproveito para fazer algumas considerações finais sobre uma questão que discutimos brevemente, o paradoxo do horror. No primeiro capítulo examinamos o paradoxo da ficção: como as pessoas podem ser tocadas emocionalmente por aquilo que sabem não existir. Porém quanto ao paradoxo do horror, que equivale a perguntar como as pessoas podem ser atraídas pelo que é repulsivo, apenas apontamos os sentimentos catárticos como um indício desta atração.

Carroll ressalta que o gênero horror floresce, sobretudo como uma forma narrativa. Como vimos, as estruturas narrativas mais comuns do gênero, o enredo de descobrimento complexo e o enredo do extrapolador, lidam diretamente com a curiosidade do espectador ou leitor. De modo que o atraente na ficção de horror, de acordo com a proposição de Carroll (1999, p. 258), não é a personagem monstruosa, mas sim a estrutura narrativa em que ela é inserida. O prazer na ficção de horror e o motivo do interesse do público está nos processos de descoberta, prova e confirmação freqüentemente empregados nestas narrativas. “Somos atraídos pela maioria das ficções de horror por causa da maneira como os enredos de descoberta e os dramas de prova excitam nossa curiosidade e provocam nosso interesse, satisfazendo-os idealmente de maneira agradável” (CARROLL, 1999, p. 263).

Esta teoria esbarra em duas observações. Ao limitar o horror como forma narrativa ficam excluídas diversas outras manifestações artísticas em que ocorre o horror, como a fotografia e a pintura, que não contém, pelo menos de maneira explícita uma narrativa com estes movimentos de descoberta. Da mesma forma vimos que

existem várias narrativas de horror que também não oferecem estes recursos, podendo ser pura irrupção ou puro confronto.

Portanto, somente o prazer proporcionado pelos enredos de descoberta não é suficiente para resolver o paradoxo do horror. Creio que aliando a teoria de Carroll com os sentimentos catárticos e a psicanálise teremos uma resposta mais satisfatória para a questão da atração pelo repulsivo. Na verdade, a visão da psicanálise é o mesmo princípio que estabelecemos no arquétipo do vampiro, sendo ele uma representação de desejos sexuais reprimidos satisfeitos oralmente pelo ato de chupar sangue. Observando o gênero horror por esta visão, podemos entender que os monstros e seus atos destrutivos atraem porque manifestam desejos sexuais do público. Entretanto, estes desejos sexuais são proibidos ou reprimidos, e não podem ser reconhecidos abertamente, necessitando das imagens horríveis e repugnantes para disfarçá-los. De modo que a repulsão do horror é na verdade uma máscara para desejos sexuais que não podem ser reconhecidos.

Somos atraídos pelas imagens de horror porque, apesar das aparências, tais imagens permitem a satisfação de desejos psicossexuais profundos. Esses desejos só poderiam ser satisfeitos de modo aceitável se se desse ao censor a sua parte. Ou seja, a repugnância pelas criaturas de horror é, na verdade, o meio pelo qual – dada uma visão freudiana da maneira como a economia do indivíduo é explicada – se pode obter prazer. (CARROLL, 1999, p. 246)

Acredito que a combinação destas respostas conseguem abranger mais do gênero horror e resolver melhor o complexo paradoxo do horror, do qual partiu esta pesquisa. Passemos agora para a conclusão relativa às hipóteses e objetivos pretendidos neste estudo.

A primeira hipótese, que dizia que a personagem Zé do Caixão se encaixa no quadro teórico-conceitual do gênero horror, foi confirmada. A personagem Zé do

Caixão preencheu plenamente todos os tópicos da teoria do horror no que tange à configuração das personagens. Somente a questão do subtexto no filme de horror não ficou muito clara nos filmes de Zé do Caixão, talvez por este tópico permitir uma leitura muito subjetiva. Ainda assim apontamos algumas possibilidades para esta questão. A confirmação desta hipótese afirma Zé do Caixão como uma autêntica personagem do gênero horror.

A segunda hipótese, que apontava a personagem Drácula como referência central da personagem Zé do Caixão não se confirmou. É possível notar semelhanças entre as duas personagens. Ambas usam capa, se vestem de preto e estão cercadas por elementos macabros como caixões e cemitérios. Também é possível fazer uma analogia entre as duas personagens pela busca da imortalidade, que em Drácula se dá pelo sangue e em Zé do Caixão pela continuidade de sua linhagem. Porém, quando comparados no quadro teórico-conceitual do horror que construímos, as duas personagens se distanciam completamente. Em quase todas as categorias de análise, as personagens se posicionaram opostamente. Examinando a gênese da personagem Zé do Caixão, notamos influências de Drácula, mas constatamos que a referência principal para esta personagem é seu próprio criador José Mojica Marins. Distanciando ainda mais as duas personagens, já que observamos que Bram Stoker não é a referência central na construção de Drácula, mas sim modelos reais e ficcionais. Desta maneira, a personagem Drácula não é a referência central da personagem Zé do Caixão. Não confirmando esta hipótese, afirma-se a originalidade da personagem Zé do Caixão perante Drácula ou qualquer outro dos monstros clássicos do cinema de horror,

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