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2.3 TENDÊNCIAS EPISTEMOLÓGICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA

2.3.5 A pesquisa Epistemológica em Educação Física

A pesquisa Epistemológica em Educação Física exige, em uma primeira etapa, a abordagem de alguns elementos teóricos que contribuíram para a leitura, a análise e a compreensão do referido estudo, os quais se encontram num período de definição na área de pesquisa. Percebe-se a construção e uma progressão à medida que desvelam seus campos de saberes. Para Sánchez Gamboa (2007), esclarecer esse campo de forças no qual se afirmam novas áreas que possibilitam compreender os estudos desenvolvidos exige, de forma mais intensa, uma reflexão crítica que poderemos encontrar na Epistemologia.

Ao tratarmos sobre a questão Epistemológica da Educação Física, surgem questionamentos que frequentemente se encontram no aspecto do conhecimento relativo a uma definição no campo das ciências.

A Educação Física brasileira, no final dos anos 80 e, sobretudo, no decorrer desse período, nos anos 90, ainda busca se consolidar na pesquisa, especialmente sobre a reflexão relativa à produção do conhecimento, assim como as outras áreas que se encontram numa definição Epistemológica. Percebe-se uma busca por uma definição de cunho científico e uma identificação acadêmica para a Educação Física.

Segundo Betti (2008, p.66), a ciência do esporte caracteriza-se pela:

tentativa de criação de um espaço capaz de reunir toda e qualquer disciplina científica que, de alguma forma, trate de temas referentes ao esporte- teríamos aqui as Ciências do Esporte; b) tentativas de construção de um campo interdisciplinar a partir das ciências do esporte. Neste caso, Gaya (1994) reivindica uma Ciência do Esporte, no singular, ou uma desportologia voltada para as necessidades da prática esportiva.

Bracht (1995, p.45) argumenta que Gaya (1994) estaria vinculado aos anseios de instituições que têm como objetivo o esporte de rendimento: “com isso, subordinada aos seus

códigos e interesses; perderia seu potencial crítico, tornando-se pragmático-funcional; legitimar- -se-ia pela importância do fenômeno esportivo”.

Continuando, Bracht (1995) afirma que [...] as ciências do Esporte não possuem identidade [...] própria: não há autonomia teórica e científica das Ciências do Esporte. Para Santin (1995), não há nenhuma ciência específica do esporte que possa ser identificada ou denominada de Ciências do Esporte.

Devido à fase de transição e às divergências pelas quais estamos passando, em relação ao debate sobre a identidade científica, é

[...] importante perguntar como as Ciências do Esporte estão a reagir ou reagirão a essas questões. É interessante notar que, se por um lado, as Ciências do Esporte buscam satisfazer as exigências de rigor científico do paradigma dominantes, por outro lado, são abalroadas nesse processo, pela crise desse mesmo paradigma. (BRACHT, 2007, p.97).

A década de 1980 foi uma fase pródiga em críticas na esfera educacional e, na Educação Física, foi marcada por propostas com reflexões críticas que passaram a denunciar práticas e metodologias consideradas verdades inquestionáveis, as quais estavam enraizadas na cultura corporal e dos esportes. Os debates vêm se ampliando nas décadas seguintes no número de eventos e na qualidade, tendo receptividade no meio acadêmico da Educação Física. O percurso foi trilhado na busca constante pela maturidade Epistemológica, pela “[...] reflexão crítica e vigilância epistemológica para que cada ciência evolua e garanta sua sobrevivência dentro da estreiteza da Academia.” (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007, p.23-24).

Bracht (1995) afirma que foi um período de intenso movimento entre os intelectuais da área da Educação Física, no qual se percebe uma maturidade acadêmica, o que ocasionou uma análise crítica voltada para seu interior. Essa mudança fez com que os intelectuais explicitassem suas diferenças teóricas e, assim, surgiram teorias explicativas abordadas sob a ótica de diferentes estudos. Continuando em seus argumentos, o autor afirma que “[...] independentemente da matriz teórica que esses profissionais vão adotar pelas ciências humanas e sociais e isso por via do discurso pedagógico.” (BRACHT, 2007, p.24).

Nesse sentido, Betti (1996, p.31) propõe ampliar o conceito para

a prática das atividades corporais de movimento, concebida como campo de dinamismo social, onde se dá confrontação e a disputa de modelos de prática e no

qual atuam diversas forças sociais (inclusive a comunidade acadêmico-profissional da EF. Uma prática social concebida é quase sinônimo do conceito de “cultura corporal de movimento.

Entretanto, para Bracht (2007, p.147),

a relação pedagógica é (deve ser) uma relação entre sujeitos; deve ser uma relação criativa e criadora [...] a teoria não substitui a prática e vice-versa; cada qual tem sua lógica essas que precisam fecundar-se mutuamente, para uma teoria da prática e para uma prática teorizada.

Reverter à fase das ciências aplicadas e à importância dos movimentos do colonialismo epistemológico poderá fazer com que ocorra um retrocesso no circuito do conhecimento. Nesse aspecto, Sánchez Gamboa (2007, p.27) argumenta:

toma-se como ponto de partida e de chegada, a Educação Física e, com instrumental explicativo ou compreensivo, as teorias oriundas das diversas disciplinas [...] e elabora explicações e compreensões mais ricas e complexas na medida em que tece, em torno de fenômenos concretos, interpretações tencionadas por eixo central, seja este, a motricidade humana, as ações e reações da corporeidade, a conduta motora ou a cultura corporal.

Continuando, Sánchez Gamboa (Ibid), ao explicar a Educação Física como ciência da prática e da ação, diz que ela não se alicerça apenas por ter como ponto inicial e final a motricidade, o movimento humano, a corporeidade ou a cultura corporal, mas também pela natureza da Educação Física.

Podemos, pois que a natureza humana não é dada ao homem, mas é por ele produzida sobre a base da natureza biofísica. Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens (SAVIANI, 1991, p.210).

Continuando, Saviani (1991), argumenta que a forma considerada mais qualificada na construção do conhecimento pode ser por meio da pesquisa científica e estará articulada à Educação Física pela produção da natureza humana, sendo baseada num arcabouço biofísico natural e assim projetando, de forma intensa, outras possibilidades na Educação.

Não podemos pensar em pesquisa e em produção científica em Educação Física que não seja orientada por uma categoria básica, que parta das concepções de homem, as quais

“[...] são categorias ou pressupostos de caráter ontológico, com abrangência ampla e geral, das quais se desdobram outros conceitos que constituem o horizonte interpretativo da pesquisa.” (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007, p.31).

Vamos continuar e acrescentar na reflexão as questões atinentes à Educação Brasileira, procurando investigar hipóteses em relação às teorias,

[...] que sustentam uma perspectiva de trabalho pedagógico- em todas as áreas do conhecimento, e em especial na educação físico-nefasta ao processo de construção de outra formação humana omnilateral e de um processo social revolucionário para superar a lógica de o capital reger o modo de vida. (TAFFAREL; LACKS; SANTOS JÚNIOR, 2011, p.95).

O grande desafio com que nos deparamos no plano teórico e no epistemológico pressupõe ter o compromisso de proporcionar uma base teórica consistente “[...] e epistemológica, reduzem-se as possibilidades de os estudantes analisarem as relações sociais, os processos de poder e de dominação, e de perceberem a possibilidade de trabalhar na construção de uma sociedade superadora”. (TAFFAREL, 2007, p.57).

A pesquisa Epistemológica apresenta inter-relações necessárias com outros campos do conhecimento e, particularmente, com a área da Educação Física. (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007). Nesse sentido, é importante conhecer a trajetória da pesquisa em Educação Física no contexto das políticas Públicas, de ciências e tecnologia, na pesquisa educacional, nas ciências humanas e sociais.