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As concepções de epistemologia, acima explicitadas oferecem condições para a realização das análises da produção científica. A instrumentalização das categorias oferecidas pela epistemologia exige a organização de conceitos de forma que permitam sua aplicação prática na situação concreta de compreender a produção científica de teses e dissertações objeto deste estudo. Nesse sentido a análise epistemológica se desdobra em instrumentos que buscam, de forma estruturada, recuperar cada produto a ser analizado como uma totalidade. A categoria de paradigma como expressão de um esquema conceitual ajuda a organizar as partes que constituem a obra científica como um todo ou paradigma. Segundo Sánchez Gamboa, a construção de um instrumento de análise epistemológica, supõe a conceptualização de paradigma.

Esquema Paradigmático, como é denominado o instrumento que construirmos, supõe o conceito de paradigma, entendendo este como uma lógica reconstituída ou maneira de organizar os diversos recursos utilizados no ato da produção de conhecimentos. Por isso consideramos que a unidade básica da análise paradigmática corresponde à lógica de um processo de produção de conhecimentos presente em todo processo de investigação científica. (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007, p. 68).

Toda a ciência é baseada em paradigmas e por uma matriz disciplinar que sustenta uma concepção de mundo numa determinada época. Um paradigma possui um modelo de racionalidade no qual se incluem todas as esferas, quer científicas, filosóficas, teológicas, ou de senso comum, como os limites de atuação de determinada área de pesquisa.

Foi Thomas S. Kuhn, que usou o termo paradigma em seu livro “A Estrutura das Revoluções Científicas”, publicado em 1962. Para o autor, paradigma pretende sugerir que certos exemplos da prática científica atual, tanto na teoria quanto na aplicação, estão ligados ao modelo conceitual de mundo dos quais surgem certas tradições de pesquisa. Em outras palavras, uma visão de realidade conectada a uma estrutura teórica aceita estabelece uma

forma de compreender e interpretar intelectualmente o mundo, segundo os princípios constantes do paradigma em vigor. Para Lamar (1998), a concepção “Kuhniana” da ciência no termo paradigma compreendida como modelo influencia o modo de agir dos cientistas. Para ele, incomensurabilidade é, às vezes, comparada a uma dificuldade de comunicação entre teorias, paradigmas ou visões de mundo.

Sobre esse assunto, é importante esclarecer o significado do termo “paradigma”:

Uma teoria científica após ter atingido o “status” de paradigma somente é considerada inválida quando existe uma alternativa disponível para substituí-la [...] Decidir rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro e o juízo que conduz a essa decisão envolve a comparação de ambos os paradigmas. (KUHN, 1994, p.108).

Esse conceito tem para Kuhn vários significados.

Pode-se entender como modelo do qual emanam tradições coerentes de investigação científica, como “fonte de instrumentos”, como “princípio organizador capaz de governar a própria percepção”, como um novo modo de ver e desvelar enigmas “permitindo ver seus componentes de uma nova forma”, como determinantes de grandes áreas de experiência. ( SÁNCHEZ GAMBOA, 1996, p. 53).

Domingues (1986) é um dos pioneiros na pesquisa Educacional no Brasil, sobre a concepção “Kuhniana”- quando aborda sobre o histórico da pesquisa curricular- e apontou três enfoques básicos da pesquisa, de acordo com a sua ligação com os interesses humanos :técnico, consensual e emancipatório e classificou os paradigmas em técnico-linear, circular- consensual e dinâmico- dialógico.

Para Popper (1996), ciência progride por tentativa e erro, por conjecturas e refutações. Apenas as teorias mais adaptadas sobrevivem. Embora nunca se possa dizer com total segurança e certeza que uma teoria é verdadeira, pode-se confiantemente dizer que ela é a melhor disponível, que é a melhor do que qualquer coisa que veio antes.

O positivismo certamente tem papel fundamental no status que conquistou a ciência nos últimos tempos. Quiseram-lhe dar uma aura de religião, caindo no dogmatismo que tanto contestavam; mas, sem dúvida, alcançaram o objetivo de conferir à ciência uma cadeira de honra. A definição de ciência, atualmente considerada como a mais correta e mais aceita, foi

forjada neste movimento. Popper (Ibid), um dos filósofos da ciência mais respeitados, definiu teoria da ciência como um modelo matemático que descreve e codifica as observações feitas, identificando uma vasta série de fenômenos, alguns simplesmente postulados. Para o Filósofo Marxista Kopnin (1978), a ciência necessita de uma reflexão filosófica para responder aos interesses que comandam os processos e a utilização de seus resultados. Ninguém duvida de que a ciência é capaz de servir ao homem, mas ao mesmo tempo, de que é um fato o uso de seus resultados em detrimento da humanidade.

Partindo dessa perspectiva, Sánchez Gamboa (1996) considera que o conhecimento científico é complexo e multidimensional. Disso decorre a importância de um estudo multidisciplinar e a correspondente necessidade de métodos que permitam essa interdisciplinaridade e concebam a ciência como uma práxis histórico-social, determinada pelas condições materiais de sua produção. Sem dúvida um desses métodos é o dialético materialista.

Em relação às concepções de ciências que têm sido identificadas na produção científica, devemos considerar os estudos realizados por Sánchez Gamboa (1982, 1987,1996, e 2008), o estudo realizado por Souza e Silva (1990, 1997) e por Chaves (2005). Os pesquisadores como Faria Jr (1991), Bracht (1990) e Beti (2002) têm contribuído com as abordagens teórico-metodológicas da Educação Física e das Ciências nos Esportes. Os pesquisadores citados analisaram a produção do conhecimento de docentes que atuam nos Cursos e Programas das Universidades Brasileiras.