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2.3 TENDÊNCIAS EPISTEMOLÓGICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA

2.3.4 Tendências Pós-Modernas na Produção do Conhecimento

A sociedade está vivenciando um período de transformações, denominado por alguns intelectuais como a Pós-Modernidade (ou Pós-Estruturalista) e por outros como uma mudança de paradigma. O mundo moderno, que muitos consideravam seguro, liberal, sem instabilidade, foi trocado pelas incertezas, insegurança, mudança, perdas e devaneios.

Segundo Pagni (2006), “a publicação do livro La condition postmoderne de Jean

François Lyotard, em 1979, parece ser um marco do debate modernidade versus pós- modernidade no campo filosófico, na medida em que enuncia o problema do estatuto e,

principalmente, da legitimação do saber na “informatização da sociedade”.

Para Lyotard (1993, p.114), o que acontece é a decadência dos ideais modernos que vislumbraram “a universalização da liberdade mediante o conhecimento para a realização do progresso e emancipação da humanidade do despotismo, da ignorância, da barbárie e da miséria, mas não cumpriu a promessa. Contudo, o perjúrio não foi devido ao esquecimento da promessa; é o próprio desenvolvimento que impede de cumpri-la”.

Se forem legítimas as críticas que o Pensamento Pós-Moderno tece ao insucesso da modernidade, é necessário verificar se os objetivos foram alcançados de fato, de uma modernidade voltada para um progresso orientado pelo desenvolvimento econômico. Percebe- se que a Modernidade possibilitou muitos avanços para humanidade em todos os setores, mas

também criou desigualdade devido a uma distribuição de renda injusta, o que tem ocasionado a miséria para muitos e a riqueza para poucos. A perda do poder da Modernidade e do homem moderno é o fim deste projeto e da história considerada como universal. “A história moderna tem mostrado que todo o discurso emancipatório da Modernidade, na realidade concreta, se mostrou totalitário por intermédio da legitimação universalizante da narrativa” (LYOTARD, 1993b, p. 37).

Porém, para os intelectuais críticos da Pós-Modernidade, ela é considerada o capitalismo tardio, que se vincula com a massificação do consumo, da nova divisão trabalho, o qual amplia as transferências internacionais, a bolsa de valores, as mídias, as tecnologias, a robótica e a automação. O objetivo é a transferência da produção principalmente para os países de terceiro mundo, onde o termo Pós-Moderno é considerado por muitos como a união de alguns fenômenos, como o Pós-Estruturalismo, que deve ser entendido como uma expressão do capitalismo. Segundo Jameson (1997, p.20), “[...] a noção de que o que antes era chamado ora de „pós-estruturalismo‟, ora de, simplesmente, „teoria‟ era uma subvariedade do pós- moderno, ou pelo menos se revela, em retrospecto, como tal.”

Entretanto, nessa tendência encontrei dificuldade na definição e diferenciação do pós- estruturalismo e pós-modernismo, bem como explicitar os binômios pós-modernismo/pós- estruturalismo, visto que em muitas das pesquisas (dissertações e teses) aparecem as definições. Como afirma Silva (1996, p.138).

O campo das ideias pós-estruturalistas/pós-modernistas é difícil de ser definido. Por um lado, não fica nunca clara qual a distinção entre pós-estruturalismo e pós- modernismo, quais características definem uma e outra tendência e nem quais autores pertencem a uma e outra delas, embora, é claro, em última análise eles se definem em relação àquilo que negam ou questionam, isto é, ao estruturalismo e ao modernismo, respectivamente.

No entanto, não é objetivo desta pesquisa traçar uma “definição definitiva” das tendências citadas, justamente por reconhecer que esta linha divisória é teórica e historicamente tênue. Com intuito de esclarecer, na medida do possível, o que é pós- modernidade e qual sua influência na produção do conhecimento, “Em primeiro lugar, pode-se considerar pós-modernismo como um termo mais abrangente que pós-estruturalismo.” (Ibid, p.236). Com certeza haverá quem discorde do apresentado nesta breve análise; contudo, a

nomenclatura em si não influencia nas questões práticas e concretas que o movimento tem sobre a produção científica.

A pedagogia centrada em conhecimentos universais e ideias são colocadas em descrédito pela crítica pós-moderna. Ela mina a possibilidade de formação de um sujeito autônomo, livre e responsável que a filosofia da linguagem permitia por meio da crença no princípio da subjetividade. Faz isso utilizando a linguagem como meio pelo qual se constitui a realidade.

Com o crescimento da literatura pós-moderna e pós-estrutural nos estudos culturais e educacionais críticos, entretanto, tendemos a nos afastar muito apressadamente de tradições que continuam a ser repletas de vitalidade e a fornecer insights essências sobre a natureza do currículo e da pedagogia que dominam as escolas em todos os níveis. (APPLE, 1998, p.190).

Isso faz que o papel do professor seja modificado; aquele que domina o conhecimento na sua completude e o transmite ao aluno deixa de existir. Parte desse papel pode ser reservada à memória, ao banco de dados e à linguagem. Assim sendo, é necessário repensar não apenas o papel do professor, mas toda a forma como é entendido o sistema educacional. Para Chaves; Sánchez Gamboa (2011, p.84), precisamos nos contrapor [...] “ao determinismo culturalista e o recuo do sujeito e do social introduzidos pelos pós-modernismos [...], não apenas recupera a ontologia, como também, o sujeito (realidade viva) ativo no processo cognitivo e integrante da construção da objetividade".

A teoria reacionária objetiva, de forma sistemática, a alienação e a sustentação do fetichismo do corpo belo, segundo as regras do mercado - um padrão estético preestabelecido que deve ser objeto de consumo da sociedade. Isso satisfaz as necessidades do consumidor de forma momentânea, estimulando novas necessidades e uma cultura insaciável de uma nova cirurgia plástica, um abdômen tanquinho, um glúteo mais saliente, uma nova maquiagem, um novo vestido, um novo par de sapatos, uma nova cor do cabelo. “Para um tipo de sociedade que proclama que a satisfação do consumidor é seu único motivo e seu maior propósito, um consumidor satisfeito não é motivo nem propósito-e sim a ameaça mais apavorante.” (BAUMAN, 2008, p.126).

As tendências pós-moderna que se recusa em revelar o que passou na história acabam deixando as novas gerações sem conhecer a sua história. Elas procuram monopolizar o

conhecimento desconsiderando os demais conhecimentos que orientam a vida cotidiana da grande maioria da população. A Sociedade precisa reagir e impedir que a economia a serviço do mercado transforme e manipule a população [...], “todo numa sociedade de mercado, numa sociedade onde tudo se compra e tudo se vende, inclusive os valores éticos e as opções políticas”. (SANTOS, 2011, p.245).

A tendência pós-moderna tem sido influenciada, em grande parte, pela virada linguística que se apoia em correntes pós-estruturalistas, pós-críticas; as chamadas neopragmáticas têm avançando na produção do conhecimento. É uma tendência que surge como alternativa no campo econômico, cultural, político e acadêmico e tem se apresentado de forma contundente nas pesquisas em Educação Física na região sul.

É uma tendência que não acredita no conhecimento “totalizante”, “valores universalistas” “as histórias grandiosas” “as filosofias essencialistas”, “os determinismos econômicos e materiais”, “os processo históricos, “e com isso rejeita também a ideia de escrever a história”, [...].” (CHAVES; SÁNCHEZ GAMBOA, 2011, p.68).

O discurso ideológico da globalização procura esconder que a riqueza é para poucos, a pobreza e miséria são para muitos, principalmente com a liberdade de mercado, ancorada na ética do lucro. “A liberdade do comércio não pode estar acima da liberdade do humano. A liberdade de comércio sem limite é licenciosidade do lucro.” (FREIRE, 1997, p.146).

Para a tendência Pós-Moderna, a ciência como conhecimento verdadeiro se ancora nos jogos de linguagem, pois todos os discursos seriam considerados como verdadeiros. O homem é um sujeito que se vincula às imagens dos corpos que nos são constantemente apresentados. Nas passarelas da moda, no teatro, na dança, nos esportes, nas revistas, na venda de objetos pela publicidade, nos programas de televisão (principalmente nas novelas), nos filmes, nas ruas, nos parques e nas academias, o corpo, ao mesmo tempo em que se exibe e é exibido, torna-se também objeto de diferentes anseios de desejos. A Educação Física concebe a cultura como lugar de produção de significados sociais, no qual diferentes grupos, situados em posições diferentes de poder, disputam a imposição de seus significados à sociedade de um modo geral.

Fica evidente a influência das tendências da Pós-Modernidade no pensamento político e intelectual brasileiro neste século, no qual a universidade é orientada pelo critério do

trabalho, à tecnologia, à estética, ao esquecimento da história, à ética. Há a busca de atribuir ao monopólio do conhecimento, às ciências modernas e à filosofia ocidental, levando ao abandono das questões humanas.