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2.3 TENDÊNCIAS EPISTEMOLÓGICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA

2.3.2 Tendência Fenomenológico-Hermenêutica

A Fenomenologia de Husserl influenciou a filosofia contemporânea e as correntes do pensamento popular pós-guerra, tais como o Existencialismo e as obras de autores como

através das suas intencionalidades, da consciência e da compreensão da existência através da união da subjetividade e objetividade. Ele propõe que o homem participa do mundo porque já tem experiência para fazê-lo, tal qual um conhecimento científico: “Então digo a mim mesmo: tudo o que é para mim o é em virtude da minha consciência: é o percebido da minha percepção, o pensado do meu pensamento, o compreendido da minha compreensão, o „intuído‟ da minha intuição”. (HUSSERL, 2001, p.97).

A Fenomenologia busca entender o fenômeno em sua essência e compreender a partir das vivências e significações que lhe são delegadas. O homem precisa conhecer o sentido das coisas, mesmo que isso não ocorra imediatamente. A interpretação dos fenômenos, a compreensão e a ciência devem ser o meio de veiculação. Nesta perspectiva, o conhecimento deve ser orientando pela “redução fenomenológica” caracterizada como “objetividade da essência”, isto é, o significado que a consciência dá ao fenômeno realizado. A possibilidade do conhecimento precisa ser da redução fenomenológica.

Este é o segundo passo no método fenomenológico. O primeiro é o do questionamento do conhecimento, o que significa a suspensão, a colocação entre parênteses das crenças e proposições sobre o mundo natural. É a denominada epoché entre os gregos, mas para os antigos a epoché era o cepticismo. A epoché permite ao fenomenólogo uma descrição do dado em toda sua pureza. O dado não é o empírico e tampouco um material que se organiza através de categorias estabelecidas em forma apriorística e intuitivamente. Para Husserl não existem conteúdos da consciência, mas exclusivamente fenômenos. O dado é a consciência intencional perante o objeto. (TRIVIÑOS, 1987, p. 44)

Entretanto, Merleau-Ponty (1971), em sua obra, tece crítica à metafísica cartesiana, a qual separa o corpo do espírito e o sujeito do objeto, o qual está representado pelo objetivismo da ciência e pelo idealismo filosófico, que busca compreender o homem de forma integral; “um ser no mundo que pode ser entendido“ a partir de sua facticidade.

Para quem acompanha esta tendência, a ciência é a compreensão dos fenômenos; a pesquisa é a captação do significado dos fenômenos, saber ou desvendar seus sentidos, satisfazer a necessidade humana de comunicação por meio da interpretação e compreensão. A comunicação é a motriz da ciência hermenêutica- a comunicação e o diálogo- ao contrário das ciências naturais analíticas, que visam o domínio e controle técnico.

O homem é considerado como um fenômeno social, político e histórico. Conhecer é ser mais e isso se dá na relação dialógica entre educador e educando, passando das percepções

aparentes da realidade à percepção crítica e desveladora do mundo.

(SÁNCHEZ GAMBOA,

1996). A tendência Fenomenológico-Hermenêutica está conectada ao interesse dialógico de consenso e, por isso, os resultados são projetados para dar suporte à interação subjetiva pela linguagem e interpretação consensual, propiciando normas e códigos de consenso de atuação entre os grupos humanos. (CHAVES, 2005).

O que caracteriza essa tendência é, especialmente, o uso de técnicas qualitativas e não quantitativas, como narrações, análise de discurso, depoimentos, entrevistas e vivência, preocupando-se com uma argumentação sólida e abrangente sobre o tema como fonte de dados e informações. Busca descobrir quais são os pressupostos ideológicos que estão implícitos no discurso a ser analisado. Confia na capacidade de reflexão do pesquisador, sujeito que interpreta, conhece e dá sentido aos fenômenos e, no processo lógico de interpretação, tem uma “uma maneira de conhecer seu significado que não se dá imediatamente; razão pela qual precisamos da interpretação [...].” (SÁNCHEZ GAMBOA, 1996, p. 120).

Assim, o fenômeno não é isolado e analisado, mas interpretado de acordo com seu contexto. Por isso, essa tendência realiza-se por meio de métodos interpretativos, já que os significados são representados por símbolos, de acordo com a capacidade humana.

Para Chaves (2005, p.27), a relatividade pode ser percebida na tendência Fenomenológico-Hermenêutica:

[...] a verdade é resultado de consensos entre as diversas linguagens ou manifestações do fenômeno ou intersubjetivo entre os vários interlocutores que participam do processo de elaboração do conhecimento. Seu caráter relativo (é verdade para esse momento e para esse de (sic) interlocutores) se faz ainda mais relativo quando o consenso ocorre em um determinado momento, em um contexto ou em um cenário histórico específico (é verdade em um determinado grupo em determinado momento; em outro momento ou contexto é outra verdade, tem outro significado), [...].

A concepção de ciência encontrada nas pesquisas Fenomenológico-Hermenêuticas busca desmistificar e compreender os vários sentidos e significados que se encontram encobertos, desvelar o que se encontra subentendido e interpretar o ser humano em sua totalidade. O homem, nesta tendência, é um sujeito que se relaciona, interage com a sociedade e pode ter um papel ativo em determinado espaço, universidade, escola e clube. A Educação

Física, nesta concepção, objetiva atender aos interesses dos alunos, proporcionar interação do homem com o meio ambiente e buscar novas alternativas curriculares que possibilitem uma visão que possa interpretar o fenômeno humano em movimento.

Para Triviños (1987, p.48-49), a Fenomenologia representa uma tendência entre os méritos a qual parece questionar os conhecimentos do Positivismo. Mas surgem dúvidas em relação ao esquecimento

do histórico na interpretação dos fenômenos da educação, sua omissão do estudo da ideologia, dos conflitos sociais de classes, estrutura da economia, das mudanças fundamentais, sua exaltação da consciência[...]. Autorizam a pensar que um enfoque teórico dessa natureza pouco pode alcançar de proveitoso quando se está visando os graves problemas de sobrevivências dos habitantes dos países do Terceiro Mundo.

As tendências das pesquisas Fenomenológico-Hermenêuticas ainda continuam influenciando um número considerável de pesquisadores. Estudos realizados por Souza e Silva em 1997 apresentam um percentual de 21,62% do total das dissertações investigadas influenciadas por esta tendência. A pesquisa realizada por Chaves (2005), sobre a produção do conhecimento nos estados do Nordeste mostra que ainda continua em evidência, mas que ocorreu redução do número de pesquisas nesta abordagem e que houve uma ampliação nas tendências Crítico-Dialéticas. Isso provém do surgimento de novas tendências na produção do conhecimento no Brasil.