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A natureza qualitativa (o nosso ―caminho do pensamento‖ inicial) para este estudo relaciona-se com nossas escolhas pessoais e profissionais ao longo de nosso processo de formação. Desde nossa formação escolar, em que nossas preocupações sociais e políticas estavam em ebulição, até a nossa formação acadêmica na Licenciatura em Geografia, preocupada com as dinâmicas sociais e educacionais do espaço; em todos estes âmbitos formativos, a nossa tendência de pesquisa se aproxima da realidade dos sujeitos, da sociedade e dos processos educacionais.

Portanto, a pesquisa qualitativa emerge como parte de nossa essência enquanto pesquisador e enquanto sujeito em constante processo de construção de conhecimento, seja ele científico ou não. Obviamente, apesar de nossa tendência pessoal pela abordagem qualitativa, acreditamos que a abordagem quantitativa também possui igual importância enquanto abordagem para o conhecimento científico, mas não cabe a este estudo, pois nossos pressupostos se aproximam dos sujeitos, suas experiências e seus significados.

Poderíamos enaltecer diversos pressupostos da pesquisa qualitativa tendo em vista autores consagrados no campo da pesquisa educacional como Ludke & André (2011), que destacam a perspectiva do sujeito, ou mesmo Bogdan e Biklen (1994), que explanam acerca da riqueza das experiências e significados dos sujeitos. Ambos discorrem sobre a perspectiva

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qualitativa diante de parâmetros que configuram os sujeitos como sociais, culturais e intencionais.

Para discutir acerca da perspectiva qualitativa deste estudo, dentre tantos autores que tratam do assunto como os citados no parágrafo anterior, escolhemos Minayo (2008) devido à sua sensibilidade ao discorrer sobre a pesquisa qualitativa em uma linguagem clara e aberta que nos despertou olhares significativos ao longo de nossa formação no curso de Mestrado, por meio dos grupos de pesquisa.

Assim como temos demonstrado ao longo deste trabalho, ao colocar nossas inferências, nossos questionamentos, nossas experiências e nossas sensibilidades na escrita desse texto, assumimos que nós, enquanto autores e sujeitos sociais, estamos presentes neste processo e construímos a natureza do mesmo. Para Minayo (2008) esse é um dos principais pilares para a pesquisa de cunho qualitativo: considerar que o autor e o conhecimento científico não estão acima da realidade, mas sim, fazem parte da realidade e são integrados à sociedade.

Portanto, a perspectiva qualitativa nos permite considerar que a construção do conhecimento científico não está isenta de interesses, de pressupostos, de significados, de aspirações dos próprios pesquisadores, bem como da realidade pesquisada. Neste âmbito de discussão as pesquisas qualitativas são

entendidas como aquelas capazes de incorporar a questão do SIGNIFICADO e da

INTENCIONALIDADE como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas (MINAYO, 2008, p.23, grifo da autora).

Neste sentido, a pesquisa qualitativa abarca as relações culturais e sociais mediadas pela contextualização histórica e cultural que se aproximam dos sujeitos e das realidades pesquisadas. Para Minayo (2008) a natureza da pesquisa qualitativa se aproxima da natureza humana pressupondo sua imprecisão, suas especificidades sociais e significados os quais não são representados por padrões ou regras positivistas.

Os equívocos aos quais os pesquisadores qualitativos estão sujeitos referem-se exatamente à cultura positivista de ciência que temos na academia de tomar a realidade e os fenômenos sociais e culturais como totalidades reduzidas a si mesmas, havendo ausência de contextualizações referentes a problemas históricos, culturais e estruturais, correndo riscos no reducionismo (MINAYO, 2008).

Para não incorrer neste risco é preciso pressupor que o ―universo das investigações qualitativas é o cotidiano e as experiências do senso comum, interpretadas e re-interpretadas

pelos sujeitos que as vivenciam‖ (MINAYO, 2008, p.24). Portanto, a nosso ver, a perspectiva qualitativa abrange os pontos de vista dos sujeitos e as relações imbricadas no processo de construção de suas experiências.

Assim, assumindo o ponto de vista dos sujeitos como foco da pesquisa qualitativa assumem-se, também, as reflexões sobre seus valores sociais, culturais e religiosos; suas tradições, crenças e sua identidade nas organizações e estruturas sociais; as interpretações de suas experiências e de seu espaço social; a articulação de seus conflitos e concessões no cerne das relações com outros sujeitos e com as organizações sociais; enfim, assume a investigação sobre a parcela subjetiva da vida humana (MINAYO, 2008).

Para nós, esses pressupostos que se estendem sobre a historicidade e os aspectos significativos dos sujeitos são de plausível interesse visto à discussão da profissionalidade dos professores bacharéis a partir do seu cotidiano, de quem está realmente imerso no âmbito do processo social investigado, na estrutura social da universidade e na prática significativa da docência.

Assumir essa perspectiva significa considerar um complexo conjunto de elementos e expressões humanas sejam nas estruturas, nos processos, nas relações, nos sujeitos, nos significados e nas representações. Fazer uma pesquisa qualitativa

significa enfrentar o desafio de manejar ou criar (ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo) teorias e instrumentos capazes de promover a aproximação da suntuosidade e da diversidade que é a vida dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma incompleta, imperfeita e insatisfatória (MINAYO, 2008, p.42-43).

Neste sentido, corroborando com os pressupostos de Minayo (2008) e assumindo a natureza qualitativa deste trabalho, tomamos como desafio o enfrentamento polêmico de penetrar no âmbito da vida humana, de suas contradições e oscilações, de seus significados e contextos, de suas estruturas e relações.

Portanto, significa assumir também que a pesquisa responderá alguns questionamentos e outros não, reconstruirá e aprofundará tais questões e não terá um caráter conclusivo. A pesquisa qualitativa se configura como um ciclo em que o estudo é um processo provisório que termina em um produto também provisório e que recomeça com as questões não resolvidas, a serem ampliadas, a serem ressignificadas em um desenvolvimento contínuo (MINAYO, 2008).