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3.1 A evolução da política ambiental no mundo

3.1.1 A política ambiental brasileira

No Brasil, a política ambiental propriamente dita se desenvolveu de forma tardia se comparada às demais políticas setoriais brasileiras e, basicamente, em resposta às exigências do movimento internacional ambientalista. A visão governamental da época de que a proteção ambiental não deveria sacrificar o desenvolvimento econômico do país, constituiu um dos principais entraves para a inserção do componente da sustentabilidade no modelo de desenvolvimento econômico brasileiro. O governo brasileiro, com vistas no desenvolvimento, incentivava a implantação de indústrias multinacionais em nosso território, ignorando quaisquer sistemas de controle de emissão de poluentes.

A década de 1970 foi marcada pelo significativo desenvolvimento das atividades econômicas no país. A expansão econômica e territorial foi impulsionada por investimentos governamentais de grande monta em projetos de infra-estrutura, dos quais a rodovia Transamazônica e a barragem de Itaipu são ícones (SÁNCHEZ, 2006a).

A posição brasileira na Conferência das Nações Unidas em Estocolmo, em 1972, assim como dos demais países do Terceiro Mundo, foi extremamente defensiva, apontando que os problemas ambientais então discutidos, foram criados pelas grandes potências mundiais, cabendo a estes países resolver suas questões ambientais, e que as medidas propostas para proteção do meio ambiente teriam como objetivo oculto conter a expansão industrial dos países em vias de desenvolvimento.

O Brasil se apresentava ao mundo como possuidor de grandes extensões de terras, e por esta razão, com um grande potencial a ser explorado pelos países desenvolvidos. Acreditava-se que o terceiro mundo representava um estoque do potencial poluidor para os demais países (ZAMBRANO, 2004).

Em 1973, pelo Decreto Federal 73.030/73, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), que se propôs a discutir junto à opinião pública a questão ambiental, fazendo com que as pessoas se preocupassem mais com o meio ambiente e evitassem atitudes predatórias. No entanto, a Sema não contava com nenhum poder policial para atuar na defesa do meio ambiente.

Porém, somente em 1975 a política ambiental foi abordada no planejamento econômico do governo federal, compreendendo três linhas de ação: política ambiental na área urbana e definição de áreas críticas de poluição, política de preservação de recursos naturais e política de proteção à saúde humana. Somente as áreas críticas de poluição foram ratificadas pelo Decreto 76.389/75, que condicionou a aprovação de projetos industriais à observância de normas anti-poluidoras (MAIMON, 1996).

Após o cenário cada vez mais amplo da variável ambiental promovido nas convenções mundiais lideradas pela ONU, o Brasil então se vê diante da necessidade de se regulamentar internamente mediante as questões ambientais. Em 1981, a Lei 6.938, por intermédio da Sema, instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que embora regulamentada apenas em 1990 pelo Decreto 99.274, foi o marco da legislação ambiental brasileira, promovendo a preservação e a recuperação da qualidade ambiental e o mais importante, apresentando diretrizes, conceitos e instrumentos para a sua aplicação e cumprimento.

A PNMA constituiu, a partir de então, o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), que dispõe da estrutura hierárquica do poder executivo na questão ambiental, e instituiu o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental. Por esse Cadastro foram definidos os instrumentos para a implementação da Política Nacional, dentre os quais o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (Sinima).

Foi criado, também, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que tem poderes regulamentadores por meio do estabelecimento de normas e critérios que regulamenta as práticas da política ambiental e estabelece padrões de meio ambiente.

O Decreto 99.274 de 1990, que regulamentou a Lei 6.938/81 e suas modificações posteriores, explicava o procedimento para o licenciamento ambiental, onde o prévio licenciamento de atividades e obras que envolvessem o uso dos recursos ambientais seria feito pelos devidos órgãos estaduais competentes – incluindo o técnico e o político, cabendo ao Conama fixar os critérios básicos exigidos para os EIA/Rima.

No entanto, somente a partir da Resolução Conama 1/86, onde todos os empreendimentos que tivessem potencial de impacto negativo sobre o meio ambiente,

deveriam ser submetidos ao cumprimento do licenciamento ambiental de obras, deu-se início as primeiras atividades e medidas concretas de proteção ambiental no Brasil.

A Constituição de 1988 foi um importante passo para a formulação da política ambiental brasileira. Foi dedicado ao meio ambiente um capítulo próprio, reconhecendo-o como bem jurídico autônomo, dividindo entre ao poder público e a sociedade a responsabilidade pela sua preservação e conservação. Dentre os aspectos que reforçaram a política ambiental, foi a reestruturação dos procedimentos de licenciamento e fiscalização, promovendo maior autonomia aos municípios no campo ambiental, que assumiram, assim, atribuições antes pertinentes aos órgãos estaduais e federais.

O Ibama foi criado pela Lei 7.735, de 22 de fevereiro de 1989 e, em 1990 foi criada a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República (Semam), que tinha no Ibama seu órgão gerenciador da questão ambiental, responsável por formular, coordenar, executar e fazer executar a Política Nacional do Meio Ambiente e da preservação, conservação e uso racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos naturais renováveis.

O Ministério do Meio Ambiente foi criado em 1992 e, desde esta data, sua denominação e composição foram modificadas diversas vezes, porém este permanece ainda o mesmo em sua essência.

Em 1997 foi promulgada a regulamentação federal sobre Licenciamento Ambiental (Resolução Conama 237/97) e em 1998, foi aprovada a Lei de Crimes Ambientais no Brasil, onde condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente passaram a ser punidas civil, administrativa e criminalmente.

Na década atual, segundo Zambrano (2004), observa-se a tendência das políticas ambientais para um enfoque integrador: integração do desenvolvimento com o uso sustentável dos recursos; integração dos instrumentos de comando e controle tradicionalmente aplicados ao meio ambiente com instrumentos econômicos; integração dos agentes públicos e privados na gestão do meio ambiente; integração da dinâmica da problemática ambiental local com a global; formação de parcerias; criação e aplicação de instrumentos compartilhados de gestão; e implementação de ações conjuntas de preservação ambiental. Estas se apresentam como as formas mais viáveis de encaminhamento das políticas ambientais nos dias de hoje.

Assim como na esfera global e política, as organizações também se estruturaram e estabeleceram políticas ambientais internas. A Política Ambiental de uma organização é definida em um documento que expressa o conjunto de objetivos, metas, normas e leis, procedimentos, atribuições e responsabilidades que serão implementadas pelos instrumentos

do Sistema de Gestão Ambiental - SGA (FORNASARI FILHO, 2001). No entanto a Política Ambiental das organizações, mesmo tendo seus próprios objetivos, é parte da política governamental (de um estado ou do país) estando subordinada aos objetivos da política maior, devendo-se compatibilizar e integrar às demais políticas setoriais e institucionais desse governo (SILVA, 2002).

Dentro de uma instituição empresarial, segundo Oliveira Filho (2002), é recomendável que uma política ambiental esteja apta a interagir com outras políticas organizacionais, tais como qualidade, saúde ocupacional e segurança, bem como com os valores essenciais e crenças da organização. As crenças e valores são diferentes para cada empresa, sofrendo toda a carga de padrões morais que as coletividades, com as quais interagem, adotam e celebram.

Trabalhando em conformidade com a legislação e a política ambiental, a empresa pode melhorar a sua imagem e ganhar mercados, em função da nova postura ambiental exigida pelos consumidores, além de minimizar as barreiras comerciais não tarifárias no mercado internacional. Estes resultados, porém, não se viabilizam de imediato, há necessidade de um correto planejamento e posterior organização para que a interiorização da variável ambiental na organização possa atingir, em curto prazo, o conceito de excelência ambiental (OLIVEIRA FILHO, 2002).

No setor do transporte, as rodovias, por constituírem obras de infra-estrutura que demandam recursos naturais, intervindo diretamente no funcionamento dos ecossistemas, entre outros motivos, carecem, primeiramente, de uma política ambiental concebida dentro do escopo das atribuições e objetivos institucionais de seus órgãos gestores e da criação de procedimentos e instrumentos que viabilizem o cumprimento desta política (ROCHA, 2006). Felizmente, já ocorreram algumas ações neste sentido. Tem havido tentativas importantes no sentido de adequar as obras rodoviárias à nova conjuntura atual, ao contrário do que acontecia até a década de 1980, quando o aspecto ambiental não era considerado como um todo, envolvendo outros aspectos que não os meramente associados ao corpo estradal, por exemplo: plantio de árvores e proteção de taludes (BOFF, 2003).

Romanini (2000) apresenta inúmeros procedimentos ecológicos que vêm sendo tomados pelos países de todo o mundo no sentido de envolver a política ambiental também neste setor. Envolvem atividades de proteção de ecossistemas que interagem com a rodovia, como o controle da supressão de vegetação e programas de plantio, manejos de incêndio, passagens de fauna e medidas para reduzir a poluição atmosférica, entre outros.

De acordo com o autor, o Brasil, embora muito se tenha evoluído neste sentido, ainda não apresenta uma política ambiental para o setor de transportes com princípios e procedimentos claramente definidos. São poucas as rodovias, sobretudo aquelas concedidas à iniciativa privada, onde o cenário ambiental foi favorecido pelas exigências contratuais e legais.