• Nenhum resultado encontrado

3.2 Gestão ambiental – aspectos conceituais e instrumentos

3.2.2 Instrumentos de gestão ambiental

3.2.2.1 Avaliação de impacto ambiental AIA

Nos estudos ambientais elaborados para verificar a viabilidade ambiental da implantação de empreendimentos, os impactos ambientais previstos são avaliados de forma a averiguar sua magnitude, abrangência, significância etc., sobre os parâmetros ambientais do meio de inserção.

A AIA é um instrumento de gestão constituído de uma série de procedimentos legais, institucionais e técnico-científicos, que visa a identificar os possíveis impactos decorrentes da futura instalação de um empreendimento, prever a magnitude destes impactos e avaliar a sua importância (GALLARDO; SÁNCHEZ, 2005).

Os Estados Unidos foram os pioneiros nos estudos de avaliação de impactos ambientais, principalmente com a aprovação da National Environmental Policy Act (Nepa) em 1969, que exigia uma declaração sobre os impactos ambientais das iniciativas do governo federal daquele país. Porém, segundo Campos (2001), os primeiros métodos de AIA foram considerados documentos pouco aplicáveis a casos e situações reais.

A partir de 1976, os métodos de AIA passaram por um período de evolução no sentido de melhor compreender as relações de causa e efeito das ações dos projetos e seus impactos

associados, levando em conta a dinâmica dos sistemas ambientais. Ou seja, as avaliações de impactos ambientais tornaram-se mais aplicáveis à realidade (CAMPOS, 2001).

Em muitos países da América Latina e Caribe, de acordo com Vicentini (1999), a avaliação de impactos ambientais está associada, em um primeiro momento, às agências multilaterais de crédito como o BIRD e o BID, que passaram a exigir o estudo de impacto ambiental como pré-requisito para a aprovação de financiamentos de projetos de infra- estrutura. Em 1980, por decisão da ONU, o Banco Mundial passou a exigir a AIA em seus programas de desenvolvimento e meio ambiente, e, em 1982 publicou critérios específicos para a AIA (CLÁUDIO; KONO, 2002).

No Brasil, as promulgações da Lei 6.938/81 e da Resolução Conama 1/86 são consideradas como grandes marcos da política ambiental brasileira, onde a proteção dos recursos naturais e a integração das interfaces do meio ambiente são tratadas nos seus instrumentos. A referida Resolução define que o licenciamento deve ser precedido da elaboração e aprovação de um EIA e um Rima, que fornece subsídios prévios para a avaliação da viabilidade econômica, social e ambiental do projeto proposto.

Dias (2001) destaca que a avaliação de impacto ambiental na legislação federal brasileira consta da Lei 6.803 de 2 de julho de 1980, que estabelece que a aprovação de limites e autorizações de implantação de zonas de uso estritamente industrial terá de ser “precedida de estudos especiais de alternativas e de avaliação de impacto” (Art.10,§§2º e 3º). Estes instrumentos estão vinculados aos sistemas de licenciamento de propostas ou projetos de atividades poluidoras ou modificadoras do meio ambiente a cargo das organizações governamentais dos Estados e, em casos especiais, do Ibama.

No Estado de São Paulo, a Resolução SMA 54/04 dispõe sobre procedimentos para o licenciamento ambiental no âmbito da Secretaria do Meio Ambiente. Além do EIA/Rima, institui o RAP e o EAS como novos instrumentos de AIA para empreendimentos de menor complexidade, onde os impactos ambientais são normalmente reduzidos e pouco significativos.

Atualmente a AIA é um instrumento de gestão ambiental difundido em mais de 100 países e organizações em todo o mundo (GALLARDO; SÁNCHEZ, 2005) e o mais conhecido e praticado no mundo (BITAR; ORTEGA, 1998). A sua complexidade reside na significância dos impactos ambientais efetivos ou potenciais e nas várias formas de participação pública no decorrer do processo de licenciamento (CLÁUDIO; KONO, 2002).

Nos empreendimentos rodoviários, a preocupação com os impactos ambientais ateve- se, até há pouco tempo, à área de influência direta das rodovias. No Brasil, em 1974, o antigo DNER estabeleceu a norma de Procedimento NP-20 que diz respeito ao Projeto de Paisagismo. Esta NP foi posteriormente reformulada e ampliada até que, em 1977, por meio da NP-47-V, o DNER propôs os termos para a Avaliação de Impactos sobre o Meio Ambiente provocados por rodovias (BELLIA; BIDONE, 1993) as quais eram ainda bastante limitadas em termos de abrangência (VICENTINI, 1999).

Assim como qualquer outro empreendimento com potencial de causar impactos sobre o meio ambiente, os projetos rodoviários são submetidos à análise e avaliação dos impactos positivos e negativos quanto à sua abrangência, intensidade, temporalidade, importância etc., levando-se em conta as alternativas de traçado, objetivando viabilizar um projeto com menores custos e o menos “agressivo” possível ao meio ambiente. O EIA/Rima propõe apresentar todas as alternativas estudadas e os processos tecnológicos disponíveis, bem como avaliar as interfaces destes com as características do empreendimento, fundamentadas na viabilidade socioeconômica e cultural de cada uma das alternativas propostas.

A análise de impactos ambientais no setor rodoviário cumpre o papel de identificar, classificar e avaliar as conseqüências ambientais das intervenções necessárias à implantação e operação de projetos com vistas a auxiliar as autoridades públicas competentes na decisão quanto às alternativas de melhor sustentabilidade ambiental, ou seja, na escolha da alternativa locacional e tecnológica que garanta os menores níveis de interferência ambiental dentro dos padrões de qualidade e eficiência exigidos pelo órgão rodoviário (SANTA CATARIANA, 2004c).

De acordo com Boff (2003), apesar do avanço da legislação brasileira no que diz respeito à avaliação ambiental e sua obrigatoriedade para licenciamento de obras em geral e rodoviárias em particular, a experiência adquirida por aqueles que vêm elaborando EIAs e os respectivos Rimas, indica já ser tempo de se promover uma revisão desse instrumento normativo. Criados com a função clara de permitir ao Poder Público tomar decisões sobre as questões ambientais, atuando como mediador dos interesses da população, direta ou indiretamente afetada pela ação em análise, estes estudos têm sofrido visíveis distorções.

Vicentini (1999) descreve algumas deficiências das medidas e especificações ambientais propostas nos estudos de impacto ambiental, fazendo com que, muitas vezes, não sejam efetivamente implementadas, apresentando basicamente dois problemas principais: (i) as medidas ambientais não são detalhadas em um nível adequado de especificação técnica,

projeto, quantificação e orçamento para permitir sua inclusão no contrato de construção e supervisão de obras e (ii) os estudos de impacto ambiental são executados visando a atender apenas requisitos formais de licenciamento e ou aprovação dos empreendimentos propostos e seus resultados não são incorporados aos projetos de engenharia e aos documentos de licitação das obras.

Outro fator que agrava esta situação reside no fato de, na maioria dos Estados brasileiros, os órgãos ambientais não possuírem termos de referência específicos para rodovias e acabam por utilizar termos elaborados para outros empreendimentos, tais como mineração ou hidrelétricas, que possuem especificidades muito diferentes de obras viárias, principalmente por estas constituírem obras lineares.

Nos últimos anos, porém, verifica-se uma evolução na abrangência e aplicabilidade dos estudos ambientais, onde a AIA, de acordo com Sánchez (2006a), apresenta um enfoque mais amplo, dispondo de grande contribuição para a recuperação da qualidade ambiental, e desenvolvimento socioeconômico da comunidade ou da região sob sua influência.