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2.1 O cenário brasileiro do transporte rodoviário

2.1.1 Obras de recuperação de rodovias

Dentro do cenário precário da infra-estrutura de transporte no Brasil, as obras de recuperação de rodovias existentes objetivam melhorar a eficiência dos setores produtivos e reduzir o custo do transporte, favorecendo o escoamento da produção nacional e contribuindo para maior competitividade dos produtos tanto dentro do país como no mercado internacional. Estas obras visam, ainda, a melhorar a qualidade das viagens ampliando as condições de trafegabilidade e segurança, por meio da reabilitação da rodovia e do seu entorno.

As obras de restauração e ou recuperação são executadas em trechos onde as condições do pavimento encontram-se em estado avançado de deterioração e os serviços de manutenção não são suficientes para reverter este quadro. Dentre inúmeros fatores, as principais causas do deterioramento do pavimento asfáltico das rodovias brasileiras estão relacionadas (i) ao excesso de volume do tráfego pesado em regiões de intenso escoamento da produção agroindustrial, (ii) a deficiências do projeto construtivo, como o mau

dimensionamento do pavimento ou à ausência de dispositivos de drenagem e (iii) à ausência de conservação e manutenção das rodovias durante a fase de operação.

De modo geral, estas obras incluem atividades construtivas que promovem a recuperação do pavimento das pistas de rolamento, implantação e pavimentação de acostamentos; recuperação de obras de arte especiais e sistemas de drenagem; ajustes geométricos e de traçado; dispositivos de segurança e sinalização; implantação de baias e pontos de parada de ônibus; ciclovias, calçadas e travessias, nos trechos urbanos, entre outros.

No entanto, a gestão ambiental rodoviária, embora muito presente em obras de implantação ou duplicação, constituindo fatores decisivos nos estudos e projetos, ainda é considerada uma variável pouco contemplada nas atividades de recuperação viária.

Este cenário apresentou uma evolução positiva nos últimas décadas decorrente, principalmente, das exigências crescentes dos organismos de financiamento externo, não só quanto à inserção da variável ambiental nos projetos a serem financiados, como também ao aspecto institucional, através inclusive, de compromissos de criação e desenvolvimento de unidades especiais para tratar da questão ambiental nos organismos rodoviários (BRASIL, 2005b).

Os projetos de recuperação viária financiados por agências multilaterais de crédito promovem, além da recuperação estrutural da rodovia, a ampliação das condições ambientais, melhorando a inserção dos empreendimentos rodoviários no meio ambiente em que se localizam, promovendo medidas de proteção e recuperação ambiental, sobretudo, no que se refere aos aspectos do meio físico, como: controle dos processos de dinâmica superficial, estabilidade geotécnica de taludes, restabelecimento da vegetação, readequação e proteção dos sistemas de drenagem natural, minimização dos impactos visuais, gestão de resíduos, efluentes e produtos derivados do petróleo, bem como a recuperação de passivos ambientais, resultantes da construção e operação das vias.

No entanto, por outro lado, em obras de recuperação viária financiadas pelo tesouro nacional ou estadual, ainda são deficientes as atividades de planejamento e gestão ambiental, uma vez que, ainda existem resquícios dos antigos conceitos, onde a forma de gerenciamento destes empreendimentos coloca as questões ambientais como não prioritárias. Nos últimos anos, porém, houve uma evolução significativa neste contexto, onde o tratamento às questões ambientais, principalmente no Estado de São Paulo, obteve resultados positivos. As obras de recuperação viária foram submetidas às atividades de supervisão ambiental periódica, tanto

aquelas sob jurisdição do DER/SP, como as rodovias concedidas a empresas privadas, havendo a contratação de empresas de consultoria especializadas.

As rodovias concedidas contam com cláusulas contratuais onde, além do gerenciamento da estrutura viária, a empresa também é responsável pelas atividades de acompanhamento, monitoramento e supervisão ambiental, bem como a reabilitação ou a recuperação de áreas degradadas e de locais que sofreram impactos ambientais, o que as tornam rodovias com excelentes condições de trafegabilidade e com qualidade ambiental significativamente superior, quando comparadas as rodovias não concedidas.

Por outro lado, nas rodovias estaduais sob jurisdição dos organismos públicos, embora as atividades de supervisão ambiental seja uma constante na maioria das obras de recuperação, são raros os casos onde os passivos ambientais são contemplados nos projetos para recuperação e reabilitação. Tais passivos, constituídos por áreas degradadas, ocupação irregular da faixa de domínio, áreas de conflito de tráfego entre pedestres e veículos, entre outros, verificados com freqüência em muitas rodovias brasileiras, atingem tanto o meio biofísico, como o antrópico e, como enfatiza Moreno (2000), em função da ausência dos órgãos fiscalizadores, nunca houve uma efetiva cobrança dos empreendedores do setor rodoviário, no sentido de que estes passivos fossem recuperados.

Nesse sentido, estudos e projetos destinados às obras de recuperação de rodovias devem ser compatíveis com o meio ambiente natural ou já alterado, onde os conflitos instalados e os passivos ambientais verificados sejam tratados com especial atenção, propondo soluções que garantam a eliminação dos impactos negativos ou a sua redução, melhorando as condições socioambientais da rodovia e do seu entorno.

Muitas são as deficiências construtivas e as negligências ambientais verificadas nestas obras. Por constituírem obras de menor porte e visibilidade reduzida perante os órgãos fiscalizadores, onde os impactos ambientais não são considerados significativos, o acompanhamento e supervisão ambiental não são exigências legais e, portanto, muitos organismos rodoviários deixam para um segundo plano a variável ambiental, atendo-se, na maioria das vezes, apenas na obtenção das licenças e autorizações ambientais específicas.

Embora de menor monta, as atividades construtivas destas obras promovem inúmeros impactos, que, se não controlados na fase de obras, podem evoluir tornando-se significativos, com potencial de tornarem-se passivos ambientais onerosos para recuperação.

A elaboração de projetos que contemplam as questões ambientais, a implantação de atividades de acompanhamento, supervisão e fiscalização ambiental e a adoção de cláusulas

ambientais que façam cumprir os cuidados com o meio ambiente durante as obras, são componentes essenciais para o bom desempenho ambiental de empreendimentos de recuperação viária.

As agências multilaterais de crédito como o BID, BIRD e BNDES, são organismos com grande participação financeira nas obras de recuperação viária. O BID, desde 1961, vem investindo na área de infra-estrutura no país e, em 1965 iniciou os primeiros investimentos nos projetos de ampliação e recuperação de rodovias e nos últimos cinco anos foram investidos aproximadamente US$ 1,5 milhão no setor de transporte no Brasil8.