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Métodos e critérios para avaliar o desempenho ambiental

De acordo com os pesquisadores sobre o assunto, a melhor maneira de avaliar o desempenho ambiental é por meio da seleção de indicadores de desempenho ambiental e a elaboração de critérios que permitam avaliá-los de maneira sistemática e contínua. Segundo De Jorge (2001), estes constituem a ferramenta mais adequada para se acompanhar, medir, avaliar e divulgar o desempenho ambiental de um empreendimento, traduzindo de forma resumida e objetiva grandes quantidades de dados ambientais em um número mais restrito de informações significativas.

Para tanto, os indicadores devem apresentar características e atributos que permitam expressar de forma precisa as informações ambientais (DE JORGE, op. cit.). O tipo, a quantidade e os atributos dos indicadores a serem selecionados estão relacionados às metas ambientais estabelecidas, que se traduzem nos resultados almejados, bem como na definição dos processos, atividades ou impactos que se pretende analisar.

Para uma organização que não tenha um sistema de gestão ambiental implantado e pretende avaliar o seu desempenho ambiental, o primeiro passo é identificar o estágio ambiental em que se encontra e verificar quais são os efeitos ambientais provocados por suas atividades e como estes efeitos podem ser monitorados de forma a serem minimizados. Deve- se, portanto, identificar todas as questões ambientais presentes nas atividades ou processos operacionais capazes de gerar impactos ambientais ou que consomem elevada quantidade de recursos naturais.

Para empreendimentos civis, é fundamental o levantamento dos aspectos ambientais significativos que devem ser monitorados durante as obras para evitar ou controlar os possíveis impactos ambientais, assim como identificar os processos construtivos que, a partir das intervenções de obra, apresentem potencial de gerar impactos ao meio ambiente da área de influência do empreendimento.

Rados (2000) descreve a necessidade da empresa ou organização em ter de forma clara e definida, quais são as medidas para os índices que os seus clientes esperam e, qual a importância relativa que elas assumem, sob vários aspectos, por exemplo, efetividade (estamos fazendo o que é certo?), eficiência (estamos fazendo da maneira correta?), qualidade

(é adequado ao uso?), inovação (é capaz de gerar ou criar valor?), produtividade (relação entre valor agregado pelo processo versus o valor do trabalho e capital consumido), qualidade de vida no trabalho (ambiente interno, incluindo não só a legislação de segurança no trabalho) e lucratividade (para empresas) ou orçamentabilidade (para organizações sem fins lucrativos).

A proposta de utilização de indicadores possibilita ainda a adoção de índices que traduzem, a partir de critérios e padrões estabelecidos, como está o empreendimento, os processos industriais ou as atividades de gestão empresarial quanto à variável ambiental. Sánchez (2006a) cita como exemplos o Índice de Qualidade do Ar, onde o CO, SO2, NO2, O3, são alguns dos parâmetros analisados e o Índice de Qualidade da Água, que agrega dentre outros, o pH, DBO e OD como parâmetros.

A ONU, através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), utiliza no seu relatório anual o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), concebido em 1990 para apresentar à comunidade internacional os níveis do bem-estar da população dos países membros. O índice engloba três dimensões: (i) riqueza (renda a partir do PIB per capta), (ii) educação (taxa de alfabetização) e (iii) esperança média de vida (longevidade), variando de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano total), onde a classificação se faz para os seguintes intervalos (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2007/2008):

• IDH entre 0 e 0,499 - considerado baixo; • IDH entre 0,500 e 0,799 - considerado médio; • IDH entre 0,800 e 1 - considerado alto.

Atualmente, é também considerado como uma das variáveis do IDH o Índice de Sustentabilidade Ambiental (ISA), onde o objetivo central é comparar a habilidade dos países membros na proteção do seu meio ambiente, não apenas no tempo presente, mas também para as próximas décadas. Foi criado com base na integração de 76 variáveis em 21 indicadores de sustentabilidade ambiental, que resultam num índice com variação de 0 a 100, sendo 100 a melhor avaliação (MARTINS, FERRAZ e COSTA, 2006). Entre os indicadores, são tomados a qualidade do ar, água e solo, a redução de poluentes, a biodiversidade, a emissão de gases de efeito estufa, a ecoeficiência, a gestão dos recursos naturais e a saúde ambiental.

Para avaliar o desempenho ambiental em empreendimentos civis, Silva (2003) propõe a adoção de indicadores, que para sua mensuração no ambiente, são adotadas medidas métricas qualitativas e ou quantitativas. Para as primeiras, é pesquisado o ambiente e revisto

as características do projeto relativo ao empreendimento, identificando as áreas sensíveis e críticas à ação prevista, qualificando os resultados da ação, tais como, formação de locais de degradação, perda de matas e espécies animais em desconformidade com a lei, alterações no perfil da ocupação agrícola, de mineração e ou interferências em sistemas urbanos, dentre outros.

Para a forma quantitativa, o autor propõe a medição dos valores e índices (variações das medidas) dos elementos que são parte do ambiente analisado. São valores da escala dos impactos sobre os fatores, já antes qualificados, permitindo, segundo a situação e a disponibilidade, antecipar ações de quanto e quais os valores que sofrerão alterações pela implementação do projeto desejado.

Para que se obtenham estes números ou índices, é necessário definir o impacto do empreendimento sobre o ambiente, o que implica em estabelecer uma base de dados para que se possa recebê-los, analisá-los e interpretá-los, sendo que estes fatores podem ser classificados em: fixos (condições hidrológicas, topográficas, meteorológicas, entre outros), os que podem ser modificados em larga escala pela ação do homem e, os variáveis (localização, escala, ações antrópicas, época, reações do meio, dentre outras), que podem também ser alteradas pelas nossas decisões ou pelas pressões que causam em nossa civilização (MÜLLER, 1995).

Os índices de desempenho necessitam ser compreendidos sistematicamente como um conjunto de medidas que possibilitem visualizar, analisar e melhorar os fatores que condicionam a qualidade ambiental do empreendimento. De acordo com Silva (op. cit.), estas medidas necessitam ser expressas por um número e um sistema métrico, indicando respectivamente a magnitude, “o quanto” e o seu significado, “o que”. Freqüentemente são usados indicadores multidimensionais, tais como, proporções ou razões de duas ou mais unidades fundamentais (kilômetro por litro, horas trabalhadas por número de acidentes), devem ser expressas por unidades que possam ser mais bem entendidas por aqueles que irão delas se beneficiar para a tomada de decisão.

Para a avaliação de desempenho são propostas quatro etapas: (i) coleta de dados; análise dos dados; (ii) avaliação das informações; (iii) relatório e comunicação do desempenho ambiental, que serão detalhadas no próximo capítulo.

Capítulo 5

INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

AMBIENTAL EM OBRAS RODOVIÁRIAS

Este estudo propõe-se a apresentar um instrumento de ADA de obras rodoviárias a partir de indicadores que permitam avaliar os resultados da interação entre as atividades construtivas e o meio ambiente.

Como referências conceituais foram consideradas as diretrizes da norma NBR ISO 14031: 2004 (ABNT, 2004b), adaptadas às características dos empreendimentos civis, onde os indicadores selecionados permitem identificar se as medidas preventivas e corretivas implantadas durante as atividades construtivas estão sendo eficazes quanto ao propósito de evitar ou minimizar os impactos ambientais.

Além disso, a proposta para ADA de obras rodoviárias tem o intuito de:

• verificar o atendimento a requisitos legais ambientais, bem como a especificações técnicas ambientais de órgãos rodoviários;

• melhorar a qualidade ambiental das obras e verificar o cumprimento das condições estabelecidas em planos e programas ambientais;

• auxiliar as construtoras em suas atividades de gestão ambiental;

• zelar pela proteção dos ecossistemas e dos recursos naturais, cumprindo o disposto na legislação federal e estadual;

• apresentar subsídios aos órgãos rodoviários e empresas de consultoria para avaliar o desempenho ambiental das empresas construtoras.

Embora inspirado na NBR ISO 14031:2004, o desenvolvimento do método proposto teve também como base outros instrumentos e metodologias aplicadas em atividades rodoviárias, de mineração e empreendimentos correlatos.

Trabalhos anteriores de autores como De Jorge (2001), que propõe uma metodologia para avaliação de desempenho ambiental para empreendimentos civis e de mineração, Carvalho (1999), Grigoleto; Silva (2008), Ridente Júnior (2008), e Romanini (no prelo), que

desenvolveram procedimentos para avaliar o desempenho ambiental de empreendimentos rodoviários, foram revistos.

Para estabelecer um critério de avaliação e escolher os atributos relevantes, foi inicialmente realizada uma revisão bibliográfica sobre o assunto, seguida de consultas a documentos técnicos, tais como manuais, laudos e relatórios de supervisão, monitoramento e acompanhamento ambiental das obras rodoviárias do Estado de São Paulo (rodovias estaduais, Rodoanel Mário Covas), Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul (rodovias federais e estaduais), Rio de Janeiro (Arco Rodoviário), e rodovias federais como trechos da BR 101, disponíveis nos arquivos de órgãos governamentais do setor de transportes.

As atividades de supervisão ambiental realizadas pela autora durante as obras do Programa de Recuperação de Rodovias (e de estradas vicinais) do Estado de São Paulo – Etapas I, II e III, e a duplicação da BR 101/Sul, no Rio de Janeiro, forneceram subsídios importantes para o desenvolvimento do método proposto. O acompanhamento sistemático e periódico das atividades construtivas em rodovias localizadas em diferentes compartimentos geográficos possibilitou verificar os principais impactos ambientais decorrentes das intervenções de obra, principalmente aqueles relacionados aos aspectos dos meios físico e biótico.

As fontes pesquisadas indicam que os problemas mais freqüentes em obras rodoviárias, tais como degradação de recursos ambientais, conflitos com comunidades lindeiras, alteração dos processos de dinâmica superficial, entre outros, são decorrentes, em sua maioria, da ausência, ineficiência ou descumprimento das medidas propostas nos planos e programas ambientais (Plano Básico Ambiental, Plano de Controle Ambiental, Plano Ambiental da Construção e outros), elaborados durante a preparação dos estudos ambientais necessários para a fase de licenciamento ambiental (ou posteriormente, pelas construtoras ou empresas de consultoria contratadas, quando o empreendimento não foi submetido ao licenciamento prévio).

Diferentemente da NBR ISO 14031: 2004, onde as empresas, sobretudo do setor industrial, são tidas como exemplos para as diretrizes de ADA, o instrumento proposto foi direcionado às atividades relacionadas a empreendimentos civis, onde, além de avaliar o desempenho ambiental da empresa construtora, é verificado também o desempenho do empreendimento diante das questões ambientais.

Assim, a empresa construtora também é avaliada, uma vez que, o resultado do desempenho ambiental das obras está diretamente relacionado à postura da construtora

mediante as suas ações e iniciativas tomadas durante as atividades operacionais, responsáveis, muitas vezes, por degradações e danos ao meio ambiente.

De Jorge (2001) salienta que, embora o empreendimento seja o responsável pelas alterações ambientais, é no comportamento gerencial da empresa construtora, na grande maioria das vezes, que se reflete a qualidade ambiental das obras. A empresa, e particularmente o seu corpo gerencial, pela sua postura, são os responsáveis pela forma como as ações e atividades operacionais do empreendimento se desenvolvem e influenciam a magnitude dos impactos ambientais.

As empresas construtoras são responsáveis pelo gerenciamento ambiental dos empreendimentos a elas designados. Assim, quando se avalia a qualidade ambiental das obras e o desempenho ambiental alcançado, também se está avaliando o atendimento aos compromissos ambientais e legais assumidos pela construtora na sua contratação.

A introdução de métodos para avaliar o desempenho ambiental de obras rodoviárias, vem cada vez mais, tornando-se instrumentos essenciais para o gerenciamento ambiental e financeiro dos contratos entre organismos rodoviários e empresas construtoras, onde cláusulas contratuais, muitas vezes atrelam o pagamento das medições mensais ao cumprimento de requisitos ligados aos aspectos ambientais. Além disso, como já mencionado anteriormente, agentes financeiros domésticos e internacionais têm colocado exigências de desempenho ambiental nos contratos firmados como condicionante para o desembolso de parcelas de financiamentos aprovados.

Embora a aplicabilidade deste instrumento não esteja condicionada à existência de um sistema de gestão ambiental, os resultados do desempenho ambiental alcançados dependem, em grande medida, do adequado uso de instrumentos de planejamento e gestão ambiental durante as etapas construtivas.

Para tanto, atividades de acompanhamento, monitoramento e supervisão ambiental devem ser realizadas durante todo o ciclo de vida do empreendimento por profissionais de alto conhecimento técnico e experiência nas questões ambientais de empreendimentos rodoviários.

O método proposto poderá ser utilizado por diferentes organismos, públicos ou privados, que tenham como objetivo avaliar o desempenho ambiental de seus empreendimentos. Foi desenvolvido para a fase de execução de obras rodoviárias e direcionado para as atividades de reabilitação ou recuperação de rodovias existentes.

No entanto, tal instrumento pode ser ampliado ou alterado para atender outras fases do ciclo de vida de empreendimentos viários, como a implantação de novos sistemas ou durante a sua operação. Embora específico para obras rodoviárias, poderá ainda ser adaptado para outros tipos de projetos de infra-estrutura e, de acordo com suas características e complexidade, os indicadores de desempenho ambiental sugeridos, poderão ser ampliados ou excluídos.

Os resultados do desempenho ambiental das obras podem ser divulgados às partes interessadas e utilizados pelos responsáveis pelo gerenciamento rodoviário para, entre outros objetivos, atestar a conformidade ambiental dos seus empreendimentos.