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A política das reformas do ensino na ditadura militar

No documento Tese Doutoramento Petronilia Teixeira (páginas 64-68)

CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Pressupostos históricos e político-legais da educação brasileira

2.1.7. A política das reformas do ensino na ditadura militar

O período da Ditadura Militar (1964-1985) foi um Marco na História do Brasil, pois deixou registrado na memória de todo cidadão brasileiro as marcas da violência e da repressão. Universidades foram invadidas várias vezes por tropas militares, estudantes foram assassinados dentro das Universidades e muitas pessoas foram perseguidas e às vezes deportadas para outro país. Não se podia pensar de forma crítica, pois isto era uma contravenção ao regime estabelecido.

Nos dois períodos em que se divide a política educacional do Regime Militar, o que se configura como objetivo declarado é a busca da equidade social. É claro que esse objetivo foi anunciado de maneira diferente nos dois períodos: no primeiro (1964-1974) – consolidação e auge do Regime - em que foram definidas as reformas de ensino superior e do ensino de 1° e 2° graus, e se visava democratizar o acesso à educação escolar fornecendo a todos igualdade de oportunidades perante o mercado de trabalho.

No segundo período (1975-1985) – crise econômica e crise política -, a política educacional faz críticas contundentes à concentração de renda, faz, igualmente, apelos “participacionistas” e se propõe a ser um instrumento de correção das desigualdades

sociais. O próprio sistema educacional seria assim uma instância de geração de emprego e de renda, assumindo, portanto, a função de aparelho produtivo.

Ao mesmo tempo em que se faziam apelos “participacionistas” e de “educação comprometida com a redução das desigualdades sociais”, o Estado Militar manobrava o tempo todo para evitar que fossem aumentadas as despesas com o ensino. Foi o que aconteceu com a “Emenda Calmon”, que restabelecia a vinculação dos gastos da educação com a receita de impostos arrecadados pelo Estado, desvinculado pelas Constituições de 1967 e 1969.

Apesar da constante valorização da educação escolar, no nível do discurso, o Estado esbarra, em primeiro lugar, em um limite de ordem material: a escassez de verbas para a educação pública. Isso acontece porque, como vimos, o Estado emprega o montante de recursos sob a sua responsabilidade em setores diretamente vinculados à acumulação de capital. Esta é a sua prioridade real, a qual, por sua vez, aponta no sentido da privatização do ensino.

1) Em síntese, a política educacional se desenvolveu em torno dos seguintes eixos: Controle político e ideológico da educação escolar, em todos os níveis. Tal controle, no entanto, não ocorre de forma linear, porém, é estabelecida conforme a correlação de forças existentes nas diferentes conjunturas históricas da época. Em decorrência, o Estado militar e ditatorial não consegue exercer o controle total e completo da educação. A perda de controle acontece, sobretudo, em conjunturas em que as forças oposicionistas conseguem ampliar o seu espaço de atuação política. Daí os elementos de “restauração” e de “renovação” contidos nas reformas educacionais; a passagem da centralização das decisões e do planejamento, com base no saber da tecnocracia, aos apelos “participacionistas” das classes subalternas; 2) Estabelecimento de uma relação direta e imediata, segundo a “teoria do

capital humano”, entre educação e produção capitalista e que aparece de forma mais evidente na reforma do ensino do 2° grau, através da pretensa profissionalização;

4) Descomprometimento com o financiamento da educação pública e gratuita, negando, na prática, o discurso de valorização da educação escolar e concorrendo decisivamente para a corrupção e privatização do ensino, transformando em negócio rendoso e subsidiado pelo Estado. Dessa forma, o Regime delega e incentiva a participação do setor privado na expansão do sistema educacional e desqualifica a escola pública de 1° e 2° graus, sobretudo.

Em se tratando de educação, nesse período, foram criadas duas reformas do ensino brasileiro, a Reforma Universitária legalizada pela Lei nº 5.540, de 28 de dezembro de 1968, fixando normas para sua organização, funcionamento e articulação com a escola de ensino médio. Tinha como objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras, artes e a formação de profissionais de níveis universitários (Art. 1º). Esta reforma procurou expandir o ensino universitário com o mínimo de recursos que lhe era disponibilizado, como também procurou evitar a privatização das universidades.

A outra Reforma foi do Ensino de 1º e 2º graus, através da Lei nº 5.692 de 11 de agosto de 1971, sob a inspiração da Teoria Tecnicista. Reformaram o ensino de 1º e 2º graus, prescrevendo a profissionalização compulsória ao nível de ensino de 2º grau. A Lei de Diretrizes - LD nº 4.024/61 marcou o início da penetração do capital da ideologia norte americana no sistema de educação do Brasil, a Lei nº 5.692/71 consubstanciou tais intentos, fixando as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus, que teria por

objetivo “proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas

potencialidades como elemento de autorrealização, qualificação para o trabalho e o preparo para o exercício consciente da cidadania” (Art.1º).

Estas reformas demonstravam o predomínio economicista nas políticas educacionais, ora vigentes no período. Contemplando tal pensamento, em 1964 a Lei nº 4.440 instituiu o salário educação, principal fonte de recursos advinda das empresas privadas destinados ao ensino primário. Neste período, foi criado também o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), através da Lei nº 5.357/1968,

para o financiamento de todo o sistema de ensino, garantindo-lhe recursos para sua expansão.

Em 1964, com o golpe Militar, o ensino em todas as áreas da educação brasileira passou a ser rigidamente vigiados pelos comandantes das forças armadas. A presença das Forças Armadas, como elemento principal à frente do Aparelho do Estado, determinava o conteúdo e a forma da política educacional no Brasil.

O Estado Militar brasileiro, ao assumir o comando político do país, substituiu as classes sociais que deveriam ser responsáveis pelo processo de transformação, cerceou autoritariamente a possibilidade de participação das camadas populares na formação histórica brasileira. Dessa forma, houve uma assimilação pelo bloco de poder das oposições internas das próprias classes dominantes ou até mesmo de setores das camadas subalternas.

Se por um lado os militares utilizaram a política educacional como estratégia de hegemonia, por outro deixaram de fornecer a escolarização e qualificação dos trabalhadores necessários ao Estado capitalista, privilegiando a classe elitizada em detrimento das classes populares sofredoras da exclusão social.

Pode-se dizer que o Estado Militar procurou atender aos interesses dos capitalistas atuando concomitantemente no âmbito da escolarização, direcionando-a para a tentativa de desenvolver uma mão de obra qualificada necessária à indústria nascente. Dessa forma, ocorreram as Reformas do Ensino Superior em 1968 e, posteriormente, em 1971 a Reforma do Ensino Primário, com o propósito de evitar a participação da sociedade civil, reduzindo possíveis mobilizações em outros setores que não o Militar dominante, para modificar a estrutura de ensino até então em vigor.

No período do Regime Militar a repressão foi fortemente exercida, vigiando-se professores e suas condutas, observando alunos e expulsando os chamados “subversivos”. Todos esses atos eram respaldados na ideologia de Segurança Nacional,

a qual de certa forma funcionava como um movimento anti-intelectual em nome de um anticomunismo propositadamente exacerbado.

A repressão foi tão brutal que resultou na morte e desaparecimento de estudantes, professores, intelectuais, dentre outros da massa de ”subversivos”. O Regime provocou uma grande evasão de críticos, estudiosos e intelectuais para outros países ficando ali exilados. 10

No documento Tese Doutoramento Petronilia Teixeira (páginas 64-68)