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As políticas educacionais do Estado Novo

No documento Tese Doutoramento Petronilia Teixeira (páginas 61-64)

CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Pressupostos históricos e político-legais da educação brasileira

2.1.6. As políticas educacionais do Estado Novo

Com a Revolução de 1930 e a constituição de um Estado nacional propriamente capitalista, Getúlio Vargas começa a arquitetar uma grande estrutura burocrática para organizar o ensino em nível nacional. É criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, chefiado por Francisco Campos, que atuou no sentido de centralizar os vários níveis de ensino nas mãos do Ministério.

Neste ínterim começara a surgir opiniões divergentes e as disputas por postos governamentais no interior da Associação Brasileira de Educação (A.B.E), criada em 1924 e que congregava intelectuais de diversos ramos, como médicos, advogados, engenheiros e professores, todos “desiludidos com a República e convencidos de que na educação residia a solução do país” (CARVALHO, 1997, p. 115). A educação, no interior da ABE, adquiriu um discurso cívico, articulando um amplo movimento político, em torno de um programa de construção da nacionalidade.

A Associação Brasileira de Educação (ABE) adquiriu grande importância, como a entidade ligada à educação com maior relevância; suas formulações tinham influência decisiva nas políticas públicas do Ministério voltadas para a educação. A IV Conferência Nacional de Educação foi um reflexo desse cenário. Em uma das mais tumultuadas Conferências promovidas pela A.B. E, em sua palestra de abertura, o chefe do governo provisório, Getúlio Vargas, solicitou aos educadores ali presentes que esboçassem uma pedagogia e uma filosofia da educação que norteasse o governo revolucionário.

Diante do pedido de Vargas, Fernando de Azevedo ficou com a responsabilidade da redação de tal documento, que depois de redigir o texto, repassa-o a um grupo restrito dos renovadores, para consulta; e publica-o na imprensa de todo o Brasil. O documento acabou como um dos mais representativos da história da educação nacional: O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Este documento lança as bases da educação democrática, essencialmente pública, ensino para ambos os sexos, ensino laico, gratuito, com a criação de universidades com autonomia, sem restrições.

O Manifesto dos Pioneiros (em 1932) não foi apenas um documento de cunho político programático, de afirmação de um grupo no interior da Associação Brasileira de Educação – ABE, foi um marco simbólico na redefinição dos padrões científicos e intelectuais até então em voga.

O intuito do Manifesto foi remodelar as bases científicas do trabalho teórico, através do uso de conceitos precisos e tomando a sociologia como recurso analítico, para legitimar a promoção social dos indivíduos, propondo como forma de resolver os problemas das “desigualdades sociais no papel da educação em termos de oportunidades de vida” (WERNECK VIANA, 1997, p. 183). Ao invés de tomar o Estado como promotor de oportunidades, os renovadores - que defendiam a descentralização do ensino, a coeducação e a educação pública, apontaram que era necessário democratizá- lo, dando maiores oportunidades de vida, através da educação, tomada como instrumento de mobilidade social. Nisto reside a importância do conceito de democracia.

De 1930 a 1937, movida pela industrialização emergente e pelo fortalecimento Estado-Nação, a educação ganhou importância, sendo efetuadas ações governamentais com a perspectiva de organizar, em plano nacional, a educação escolar. A intensificação do capitalismo industrial alterou as aspirações sociais em relação à educação, uma vez que nele eram exigidas condições mínimas para concorrer no mercado, diferentemente da estrutura oligárquica rural, na qual a necessidade de instrução não era sentida nem pela população nem pelos poderes constitutivos. Entre 1930 e 1937, o debate político incorporava diferentes projetos educacionais. Os liberais, que preconizavam o desenvolvimento urbano-industrial em bases democráticas, desejavam mudanças qualitativas e quantitativas na rede de ensino público, ao proporem a escola única, fundamentada nos princípios de laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação.

Em 1937, instaura-se o Estado Novo, outorgando ao país uma Constituição autoritária, registrando-se em decorrência um grande retrocesso. Após a queda do Estado Novo, em 1945, muitos dos ideais são retomados e consubstanciados no Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional enviado ao Congresso Nacional em 1948 que, após difícil trajetória, foi finalmente aprovado em 1961 (Lei nº 4.024/61), nossa primeira LBD, promulgada após 13 anos de tramitação.

Os anos de 1930 a 1945, no Brasil, caracterizaram-se como um período centralizador da organização da educação. Não obstante a primeira fase, de 1930 a 1937, não representar ditadura, após o golpe de 1937, o Estado, com a Reforma Francisco Campos (1930) organizou a educação escolar no plano nacional, especialmente nos níveis secundário e universitário e na modalidade do ensino comercial, desatendendo o ensino primário e a formação dos professores.

Durante o Estado Novo, regime ditatorial de Vargas que durou entre 1930 a 1945, oficializou-se o dualismo educacional: ensino secundário para as elites e ensino profissionalizante para as classes populares. As leis orgânicas ditadas nesse período, por meio de exames rígidos e seletivos, tornavam o ensino antidemocrático, ao dificultarem ou impedirem o acesso das classes populares não só ao ensino propedêutico, de nível médio, como também ao ensino superior.

Já no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), sabe-se que no setor educacional, em 1956, a grande ênfase era dada a educação das escolas técnicas profissionais, nas quais se formariam empregados qualificados que se destinariam aos inúmeros setores da produção econômica. A educação profissionalizante serviria para integrar o homem na almejada civilização industrial, uma das metas do referido governo.

Juscelino visualizava um ensino secundário com maiores possibilidades de opções, além da tradicional via de acesso ao ensino superior. Os “estudos predominantemente intelectuais” deveriam ser reservados apenas aqueles jovens que demonstrassem possuir vocação para tal caminho.

No documento Tese Doutoramento Petronilia Teixeira (páginas 61-64)